Cheguei em casa um pouco mais tarde, minha sala queria me parabenizar sobre o meu discurso, que mesmo criticando a humanidade, fazia todo o sentido do mundo. Lúcia ficou muito orgulhosa de mim, disse que eu "arrasei geral". Meu professor chamou eu e Leo para tirar uma palavra. Ele sugeriu que eu e ele nos candidatássemos para a presidência da sala, pois a gente falava muito bem. Eu nem achei má ideia, mas competir com Leo era marcar derrota. Dês de criança, ele tinha essa mania de querer vencer a qual quer custo. Depois eu peguei minha mochila e cutuquei o ombro de Leo. Ele se virou e eu entreguei o pano que ele me deu mais cedo, porém eu havia lavado ele no banheiro. Leo me olhou torto e fez um gesto tipo: "Pode ficar com ele...". Enfiei o pano no bolso. Ele sorriu e disse olhando para o cordão da "aliança":

—Que objeto interessante.

—Algum interesse em objetos velhos?— perguntei

—Não... Ele é só muito nostálgico. Aliás... Qual é o seu nome?

Aquilo doeu mais do que um tiro pra mim. Meu nome?! Como assim ele não sabe?! Eu pensei que Leo tivesse lembrado de mim após ver a "aliança". Queria tanto bater nele como o César bate no macaco lá do Planeta dos Macacos. Mas apenas suspirei, meio impaciente e disse:

—Monalisa.

A pupila dele dilatou. Ele fez uma cara de dor e cambaleou, Leo colocou a mão na testa e pediu para eu me afastar. Então tá né! Saí da frente dele e atravessei o corredor irritada. Uma menina veio correndo até mim e entregou um papel. Levantei uma sobrancelha, mas a menina só me entregou o papel e voltou a correr. Dei de ombros e abri o papel, curiosa. "Afaste-se de Leo! Eu tenho uns colegas aqui que podem fazer sua vida um inferno!". Ãããã... Será possível que eu não posso nem conversar com alguém que a criatura já pensa besteira? Criança você não passou da sexta série?

Enfim, cheguei em casa e estava silenciosa como todos os dias ás 12:30 da manhã. Preparei meu almoço e logo o comi. Era tão chato ter uma vida sozinha dentro de casa... Fui dormir um pouco e acordei um pouco tarde.

Ás 19:00 meus pais chegam. Eles me veem e me cumprimentam, até minha mãe falar:

—Como foi o colégio hoje?

—Tudo normal.

—Conheceu alguém?

—Não, só eu e Lúcia, como todos os anos. Mas entraram três alunos novos na sala.

Aí eu me toquei que eu nem vi o terceiro aluno. Bem, jantei uma pizza e fui me deitar. Leo... Será que eu ainda vou vê-lo me chamar de "Lisa" novamente? Será que eu vou vê-lo com aquele sorriso no rosto e os olhos azuis brilhantes? Nem com o cadarço ele se lembrou de mim... Será que aconteceu alguma coisa à suas memórias? Gostaria de saber, mas pelo que vejo, nem o reconheço mais.

Pela manhã, acordei e tomei um banho demorado. Vesti-me com o uniforme ridículo da minha escola, calcei o tênis e comi torrada com Nutella de novo. Bom dia o escambau... Cheguei no colégio e me esbarrei em quem? Leo claro! Que coisa mais clichê. Ele estava pálido e trêmulo, talvez não estivesse se sentindo bem. Tirei seu cabelo cacheado da testa e senti ele mais quente que uma fornalha.

—Deus! Você está ardendo em febre!— berrei

—Quieta!— ele agarrou meu pulso— Eu sei...

Estávamos muito próximos, sentia a respiração dele quente bater no meu rosto. Virei o rosto e perguntei, tentando falar o mais baixo possível:

—E por que veio ao colégio?

—Isso não é da sua conta.— os olhos dele me congelaram

—Então dá para me soltar?

Leo olhou para a mão dele no meu pulso e retirou rápido, como se queimasse. Mas na realidade, que se queimava era eu, nunca vi uma pessoa tão quente quanto ele. Catarina o levantou, puxando-o pela gola da camisa. Leo estava tão fraco, não estava entendendo. Catarina deu um beijo em Leo. Meu coração vacilou, fiquei paralisada. Não chore, não na frente deles... pensava comigo mesma. Catarina soltou Leo e disse, olhando para mim como se eu fosse uma mendiga no chão:

—Oh... Eu atrapalhei alguma coisa?

—Sai daqui Catarina— Leo a empurrou e entrou no colégio

Olhei para o chão, não querendo acreditar no que eu vi. Fiquei com dificuldade de respirar. Lúcia chegou saltitando, quando me viu no chão, correu até mim e estendeu a mão para mim e eu me levantei.

—Monalisa! O que aconteceu?— perguntou ela

—Leo, Lúcia... Foi ele.

Entramos na sala e sentamos no canto de sempre. Sabe o que foi maior do que o meu ódio? A vontade de estrangular Catarina! Aquela barata nojenta... Por que eu estou dizendo isso afinal? Leo nem se lembra de mim... Não se lembra da nossa promessa, que ele parece que quebrou uma 500 vezes. Quer saber? Não dá pra confiar em ninguém mesmo! Como o Leo fez isso comigo? Eu fugi dos garotos na esperança de vê-lo novamente...

Eu passei tanto tempo pensando em 100 formas de matar Catarina, que o sinal do intervalo já havia tocado, e eu estava cheia de fome. Talvez potes de sorvetes de flocos, chocolate, Doritos e alguns refrigerantes, me façam esquecer esse pé na bunda que eu levei, mas no momento, só vou comer um sanduíche natural. Lúcia foi comigo na cantina e ficamos na fila de quilômetros.

Senti um cutuque no meu ombro, virei-me e era Leo. Ele estava com um sorriso irônico no rosto, o que me deu raiva no primeiro momento.

—Você pareceu se incomodar com aquele beijo...— soltou ele

—Vai pro inferno...— murmurei, irritada

Puxei Lúcia pelo braço e saímos da fila. Ela olhava para trás, querendo saber a reação do garoto. Que raiva! Ele acha, que eu fiquei com ciúmes? Dele? É, eu fiquei mesmo e daí?

Chegou a aula de educação física, fui tomar um banho no banheiro feminino. Estava querendo limpar esses pensamentos da minha mente. Senti uma mão me puxando para fora do box, me fazendo cair no chão. Agarrei minha toalha e me enrolei, era Catarina e companhia (Como assim?! Eu estou na porcaria desse colégio a sete anos e ela já fez quatro amigas?! Eu só tenho a Lúcia!). Ela estava com um celular, me filmando, "A pobre garotinha indefesa no chão do banheiro!", e detalhe, ela estava rindo!! Tentava me afastar delas, mas sempre se aproximavam.

—Se aproxime de Leo— disse Catarina—e esse vídeo vai parar no YouTube...

Ótimo! Estava me sentindo tão humilhada, tão indefesa que gritei. Lúcia entrou no banheiro e se assustou com a cena. Ela jogou uma embalagem de shampoo nelas, e Catarina e companhia se afastaram como gatos raivosos.

Lúcia me ajudou a levantar. Agarrei ela e a abracei.

—Eu estou aqui amiga...— disse ela

Fiquei tão... triste. Como uma pessoa é capaz de fazer isso com outra só por causa de um homem? Lúcia amaciava meus cabelos, tentando me consolar. Eu já chorei tanto que as lágrimas acabaram, estava apenas deprimida. O que eu fiz pra ser castigada desse jeito?