Lúcia estava tão revoltada quanto eu. Conseguia ver suas narinas soltando fumaça. Ela me levou até a quadra, até Lúcia ver Leo. Tentei segurá-la ou acalmá-la, mas Lúcia queria explodir a cara dele em um soco. Ela o empurrou contra a parede agarrou na gola de sua camiseta. Nunca vi ela tão zangada, dava até vontade de rir, mas não queria estragar o momento sério.

—A culpa é sua!— gritou Lúcia

—O que eu fiz dessa vez?— debochou Leo

—Fala pra sua namoradinha pra ela deletar a porcaria do vídeo que ela fez!

—Perdi esse capítulo da novela... Que vídeo?— perguntou Leo

—Catarina humilhou a Monalisa, e o que mais eu quero é afundar a cara dela, mas enfim... Exija para ela apagar essa merda!

Leo me olhou com pena, como se eu fosse um cachorrinho de pata quebrada ou algo do tipo. Voltamos para a sala e ficamos por horas em silêncio profundo.

Eu nunca desejei tanto a minha casa silenciosa, onde eu podia chorar sem ninguém me perguntar: "O que foi?". Eu iria comer algumas porcarias para afogar as minha mágoas, só precisava de um sorvete com flocos.

Estava saindo da escola quando fui parada por Leo. Ele mexia nos cabelos da nuca, uma das mãos estava no bolso, sempre com o olhar desviado. Leo estava corado e um tanto incerto ou nervoso. Aí tem coisa... Lembrei-me quando ele ficava agitado quando queria me falar algum segredo, ou quando ia me dar um pedaço de bolo que roubou da vizinha da minha avó.

Mas aquilo agora não importava mais. Aquelas lembranças pra sempre irão ficar no meu coração, mesmo ele não se lembrando de nenhuma delas.

—Eu falei com Catarina...— disse ele

—Legal... Agora estou com pressa.— respondi. Continuei andando

—Ei...— Leo agarrou meu pulso novamente, mas logo soltou— Não quero que fique chateada.

—Por que?

—Porque não.— ele ficou mais vermelho ainda— Quer almoçar comigo?

—Isso foi bem direto.— consegui rir

—É... Eu sei.— Leo quase conseguiu rir, mas saiu como um sorriso

Eu estava quase reconhecendo o Leo que conheci a seis anos. Ele me levou num restaurante de comida barata mas muito boa, era um dos meus restaurantes preferidos. Sentamos próximo a janela e comemos em silêncio. Mesmo não dizendo nada, era como se o próprio silêncio já dissesse tudo.

Talvez tenhamos mais diferenças do que semelhanças... Ele parecia odiar o amor, ele era impaciente, ele era controlador. Eu sempre acreditei no amor, sou paciente, sou tímida... Talvez não existe esse negócio de alma gêmea ou coisa do tipo, porque eu pensava que Leo era a minha, mas depois de seis anos, vejo que as pessoas mudam, que esquecem. Mas é claro! O esquecimento é inevitável.

—Posso te falar uma coisa estranha?— falou ele, expulsando meus pensamentos

—Diga...

—Promete que não vai se assustar?— assenti com a cabeça— Eu tenho um desejo de proteger você... De estar ao seu lado.

—Eu?— ri

—Esse seu colar...— Leo apontou para o cadarço/aliança— Me traz algo familiar. Algo de um sonho que tive.

Sonho? Não importava, eu estava sentindo o meu coração à mil por hora. Me proteger? Aquilo foi estranho e fofo ao mesmo tempo. O que aconteceu com as memórias dele? Nossas lembranças, nossas risadas... Para onde foram? Eu estava curiosa ao respeito de Leo. Queria dizer: "Sou eu! LISA! Você não está se lembrando de mim?!". Mas no mínimo ele iria achar que eu sou drogada ou coisa do tipo.

Será que... Meu Leo estava voltando? Eu estava enganada, nós temos uma semelhança: eu tenho vontade de protegê-lo também...

Credo, isso está parecendo uma novela! Leo e eu saímos do restaurante e ele foi me deixar em casa. Ele deu um aperto de mão e se foi, assobiando. Meu Deus! O que acabou de acontecer aqui?! Eu queria muito para de falar com ele... Mas ele sempre me dá um motivo à mais para falar com ele...

Um sonho? Ele não se lembra... de nada mesmo? Talvez eu deva perguntar para alguém íntima dele, menos Catarina, por que né... Os pais dele acho... Deitei-me na minha cama e sonhei acordada. Lúcia havia me mandado um SMS agorinha e dizia: "Monalisa amiga, você está bem?". Acho que eu estou muito bem... Como uma como uma simples conversa pode mudar tanto assim o meu dia?

No dia seguinte, fui para o colégio mais animada. Catarina estava com um megafone e com panfletos nas mãos. Ela me olhou e deu risadinhas com as "amigas" dela. Achei Lúcia e ela me perguntou:

—Hoje já está autorizado os cartazes de presidência. Você trouxe algum?

—Hm? Eu não sabia... —confessei

—Melhor já ir trazendo amanhã— ela olhou para trás, olhando os panfletos— a concorrência este ano vai ser difícil.

Leo passou por mim e virou o rosto, mas pude ver um sorriso dele.