—O que você quer?

—Eu... Você é novato não é?

—Você já me viu aqui?— perguntou ele

—Não...— respondi, meio sem jeito

—Então eu sou novato!

Isso sim foi uma facada na goela. Aqueles olhos... Não estava mais reconhecendo o garoto pelo qual me apaixonei, quando era apenas uma menininha. Mas o que houve com ele? Com o seu sorriso? Seu jeito alegre de ver o mundo? Não, eu exijo uma explicação, mas agora, como eu sou a pessoa mais chorona do mundo, estava sentindo um nó na garganta.

Apenas me retirei, deixando Leo com sua ignorância sozinhos. Lúcia me encheu de perguntas, mas não estava afim de responder nenhuma, então disse a ela: "Preciso de uns minutos para refletir.". Talvez horas... Lúcia é a melhor amiga do mundo. Quando digo a ela que preciso de um tempo, ela não força a barra, não insiste. Ficamos sentadas no banco ao lado da nossa sala de aula.

—Amiga... Eu vou comprar um refrigerante. Quer alguma coisa?— perguntou Lúcia

—Não. Estou bem, obrigada.

—Eu volto num instante!

Fiquei sentada sozinha. Eu conseguia sentir Leo olhando para mim do outro lado do corredor. Por que ele mudou tanto? Por que o meu Leo não volta? Senti um aperto no peito e nó na garganta do choro ameaçando a vir. Até que não aguentei e simplesmente desabei. Escondi meu rosto por trás as minhas mãos, que se molhavam por conta das lágrimas que escorriam na minha face. Abracei os meus joelhos, a ultima coisa que queria era que me reconhecessem, debochariam da minha cara por ser fraca o suficiente por chorar no colégio. A maioria das meninas não choram no colégio, tentam se manter fortes, por conta de uns meninos estúpidos que tem por aqui. Um grupinho bully que intimida as pessoas, odeio gente assim.

Senti um pano na minha mão. Olhei entre meus dedos para saber o que era, e para minha surpresa, era Leo. Ele estava estendo um pano para mim, mas claro que ele não olhava para mim. Peguei o pano e limpei meu rosto, ainda desconfiada. Leo me deixou com o seu paninho da glória e se foi. Não dá pra entender esse garoto!

Logo Lúcia chegou, mas o sinal tocou e nós entramos na sala. Sentamos e me cobri com o capuz do meu casaco.

—Monalisa... Você está bem amiga?

—Sim... Eu só fiquei decepcionada.

Nossa conversa foi cortada pelo professor de biologia entrando na sala. Ele chegou na sala, assim, do nada e foi logo escrevendo no quadro: "Façam duplas e eu quero uma palestra sobre o que vocês acham da humanidadeser humano.". Então tá né. Leo sentou com a garota, que de acordo com os meus cálculos, é namorada dele, o que fez meus olhos doerem.

Sentei com Lúcia e batemos o lápis no papel... Lúcia participou da competição de redação do colégio e tirou primeiro lugar. Fizemos o nosso discurso e sem querer mostrar superioridade nem nada, mas ficou muito bom.

Parecia que Leo e a namoradinha iriam falar também para a sala. Olhei para Lúcia e ela me deu uma risada.

—Se você quer saber o nome dela, é Catarina.— disse Lúcia

—Dela quem? Não sei do que você está falando...— menti

—Aham, tá certo.— riu ela— Nós vamos ter o melhor discurso da sala! Conte comigo!

O professor pediu para alguma dupla se manifestar, e adivinha quem foi primeiro? Leo e Catarina claro! Ele subiu no palco da sala, ia representar a dupla. Leo limpou a garganta e começou:

—O ser humano é uma criatura incrível. Com apenas 10% da capacidade cerebral, nós fizemos religiões, ciências e muito mais... Sim, ele o animal mais incrível da natureza.

A voz dele era tão suave e amena, ao mesmo tempo grossa, era como um som delicado no meio de uma confusão. Difícil de explicar, mas todos os alunos ficaram boquiabertos com a segurança de falar do garoto. Já vi que a turma irá votar nele para presidente de classe. Fiquei com vergonha do nosso discurso, talvez esteja uma bostinha comparado ao dele, mas não desisti. Levantei o braço e subi no palco.

Segurei a folha de papel insegura, limpei a garganta e comecei:

—Err... Bem... O ser humano é um...— eu estava nervosa— Desculpa Lúcia, mas não dá pra fazer isso.— soltei o papel das minhas mãos— O ser humano é um ser racional? Pode ser, mas não é o que parece!

Leo me olhava sem piscar e Clarice tentava chamar a atenção do garoto, mas ele não parecia interessado. Me senti um pouco especial, mas logo tirei essa ideia da cabeça. O cara foi o maior ignorante contigo Monalisa! Especial pra quem? Pra sola do sapato dele?

—Nós estamos acabando com a nossa própria casa!— continuei— Destruindo florestas e matando sua própria espécie, para mim, isso não é ser racional e... Desculpem... É isso.

Todos me olhavam como se eu fosse louca. Abaixei a cabeça, envergonhada. Então ouvi palmas, gritos, assobios e a sala gritando: "Acorda mundo! Acorda humanidade!". Levantei a cabeça e sorri. Meu Deus! Isso sim foi a melhora no meu dia.