Alguns dias já haviam se passado desde o começo do ano letivo inglês. Uma amizade estava se formando entre Dorcas e Lilian. Mesmo Evans tendo confiscado diversos maços de cigarro de Doe, e insistindo para que ela acabasse com o vício, e Dorcas a ignorando quando a amiga começava a tagarelar sobre saúde e regras.

– Lily, sabe quando sai o jornal da escola? – pergunta Dorcas enquanto ela e Evans andam pelo castelo, em direção à aula de poções.

– Não sei Doe, mas porque está preocupada com isso? Não me diga que você lê aquele monte de lixo?

– Claro que não leio, mas Skeeter escreveu uma reportagem sobre mim, e não quero que as pessoas leiam.

– Não podemos fazer nada para impedi-las de ler, mas podemos dizer que não é a verdade, se for o caso.

– E você acha que alguém nos daria ouvidos?

– Bom, é claro que os seguidores daquela cobra não, mas boa parte dos estudantes nem lê esse jornal.

– É, espero que sim – diz Doe descrente.

As duas chegam à sala de poções e sentam-se juntas.

– Agora vamos prestar atenção, nada de conversar – Lilian fala sério, mas Dorcas ri.

Alguns andares abaixo da sala de professor Slughorn, a primeira edição do jornal da escola já estava sendo impressa e Rita estava eufórica com a possibilidade de ver Dorcas destruída. Skeeter era secretamente apaixonada por Black e já tentara acabar com seu namoro mais de uma vez. Usou todo o seu talento de investigação e manipulação para finalizar essa reportagem. Seria a fofoca do ano, em sua concepção. Pegou uma das edições já impressas e leu para si mesma.

“ Órfã, pobre, mestiça, alcoólatra, fumante, sem graça e mal-educada. Esses são apenas parte dos adjetivos usados pelos alunos de Hogwarts para descrever Dorcas Meadowes. Para alguns é a querida artilheira do time de quadribol Grifinória. Posto claramente só conseguido devido à amizade com o capitão do time James Potter.

Como é de conhecimento geral, os pais de Meadowes foram assassinados no começo desse ano. O que poucos sabem é que sua família tinha certa inimizade com os duendes de Gringotes e por isso guardavam sua – grande – fortuna em um cofre no sótão de sua mansão. Os terríveis assassinos levaram o cofre consigo e destruíram tudo o que sobrou da mansão e tudo o que restou à coitada Doezita é o que estava em Hogwarts.’ Pobrezinha’ você deve estar pensando. Como ela sobreviveu tanto tempo sem um centavo? Pois então, é bem aí que essa reportagem começa.

Todos que foram à festa de verão de James Potter esse verão perceberam que Meadowes estava morando com seu, então, namorado Sirius Black na casa dos Potter e claramente sendo sustentada pelo namorado. E também puderam perceber que ela andava ao lado de Black como um cachorrinho ao lado do dono, e mal deixava o coitado respirar. Em uma das poucas vezes que ele conseguiu escapar das garras da namorada, o brilhante batedor do time de quadribol da Grifinória confessou:

“Ao descobrir sobre a morte de seus pais, Dorcas decidiu ir embora de Hogwarts, mas eu a impedi. Ela passou uma semana sem ir às aulas, gastou quase todo o dinheiro que ainda tinha em cigarros e bebida. Andava sempre bêbada e chapada. Eu estava preocupado com ela, mas ela só me deu ouvido quando foi parar na enfermaria. Mesmo assim continuou bebendo e fumando bem mais do que as outras garotas. Pelo menos voltou a frequentar as aulas. Ela se tornou uma namorada possessiva e ciumenta. Tentei terminar algumas vezes, mas ela sempre dava um jeito de me atrair. Tinha pena de Doe e ela tem pena de si mesma. Sei que está sendo difícil para ela, mas todos temos nossos problemas.”

Com um olhar mais atento, percebe-se o quanto ele está desesperado para se livrar da garota. Tire suas próprias conclusões sobre as técnicas que Dorcas usava para seduzir o, antes, maior galinha de Hogwarts.Por quanto tempo isso vai funcionar? Como ela vai se sustentar depois?

Suspeitas de que ela comande um negócio ilegal de drogas e bebidas correm por esse castelo. Cabe aos monitores e professores investigarem e punirem tamanha irresponsabilidade.

–foto tirada por Sirius Black durante a comemoração da vitória da Copa das Casas 1976. A foto mostra os efeitos de drogas e bebidas, por isso este jornal aconselha a todos a não se drogarem.

Mil beijinhos! Vejo vocês na próxima fofoca!

–Rita Skeeter.”

–Perfeito! – comemora Rita.

No outro dia de manhã, devido à colaboração dos elfos domésticos do castelo, cada dormitório possui um exemplar do jornal.

Marlene Mckinnon era uma bruxa sangue-puro, cuja família era bem ligada aos Potter. Era artilheira da Grifinória ao lado de Dorcas e dividia o dormitório com ela, Emmeline Vance e Lilian Evans. Acordava mais cedo do que suas companheiras para fazer alguns exercícios aeróbicos e às vezes rever a matéria do dia anterior. Naquela manhã, logo que acordou, Marlene viu o exemplar do jornal jogado no chão, já iria jogá-lo no lixo quando viu a foto de Dorcas na capa. Tinha sido amiga de Dorcas desde a infância e só parou de conversar com ela porque Meadowes começou a agir estranha. Mesmo assim, se interessou pela reportagem.

Ao terminar a leitura, ficou chocada. Esqueceu-se momentaneamente da recente inimizade e acordou Dorcas.

– Doe, acorda! Olha o que aquela Sonserina escreveu sobre você! – ela chacoalhava a menina ainda meio grogue.

– Oi? Isso é jeito de acordar alguém? Que horas são? – Dorcas olhava confusa ao redor, não sabia o que estava acontecendo, nem porque Marlene estava falando com ela, após tantos meses ignorando sua existência.

– Doe, você tem que ler isso! Acorda!

– Ok! To acordada, mas não o suficiente para ler nada.

– Então eu leio pra você, mas não dorme!

– Uhum.

Marlene leu toda a reportagem, parando de vez em quando para adicionar seus próprios comentários. Dorcas começa a chorar na declaração de Sirius. Emmeline e Lilian acordam com a bagunça e se sentam em volta da cama de Dorcas.

– Aposto que ela inventou tudo isso, Six nunca diria isso! – diz Emmeline em defesa de seu amigo.

– Não mesmo! – concorda Marlene.

– Se tratando dos amigos de Potter, eu não duvido de nada – diz Lilian.

– Evans, só porque eles pegavam no pé do Ranhoso, não significa que eles sejam monstros.

– Pois saiba Marlene, que a própria Doe ouviu Black conversando com Skeeter.

– É verdade isso Doe? – pergunta Emmeline.

– Sim – responde Dorcas e em seguida narra o episódio da festa.

As garotas a encaram chocadas por alguns segundos.

– Mas você também né Dorcas? Transar com o Six no meio da festa – diz Marlene, acusatória.

Meadowes da de ombros.

– Doe, você já tentou perguntar pro Sirius qual era esse tal motivo? – pergunta Lily.

– Não Lil, e nem vou perguntar, seja qual for o motivo, ele deveria falar comigo antes de me expor dessa forma.

– Bom, se fosse eu, perguntaria – diz Emmeline e as outras concordam.

– Acontece que eu não sou assim – retruca Dorcas.

– Você prefere perder as pessoas à ferir seu orgulho? – acusa Marlene.

– Se as pessoas querem falar comigo, elas que venham me procurar,

– Você está sendo infantil. Já se perguntou por que me afastei de você? – nesse momento Marlene encara Dorcas.

– Por que você é apaixonada por Sirius e eu comecei a namorar ele? – Dorcas olha debochada para Mckinnon.

– Cala a boca! – Marlene cora.

– Diga se não é verdade – desafia Dorcas.

– Não foi por isso que eu parei de falar contigo! Parei por que você é egoísta, só quer chamar atenção! Quando seus pais eram vivos, você queria chamar a atenção deles, por que não estavam nem ai pra você. Começou a namorar Black pra mostrar pra todos, o quanto é rebelde. Começou a dar pra ele por que seus pais proibiram o namoro. Esqueceu que era pra mim que você contava tudo o que fazia com Six? Só estava querendo me fazer inveja. Pois saiba que eu tinha pena de você. Quando seus pais morreram, você só não morreu de overdose pela graça de Merlin. Tudo por que se sentia culpada de não tê-los respeitado! Agora você é uma drogada, bêbada, e ainda perdeu o namorado. Não sei se seu Siriquito te contou isso, mas ele só começou a ficar com você porque eu não quis dar pra ele, e ele queria me fazer ciúmes – Marlene já estava chorando.

Dorcas levantou de sua cama e saiu correndo do dormitório antes que as lágrimas começassem a cair.