A fuga foi, muito provavelmente, a parte mais desorganizada do plano. Eles não haviam imaginado que o simples ato de fugir pudesse ser tão difícil quanto foi. Cada herdeiro saiu correndo para uma direção da Floresta Encantada, se separando e se tornando vulneráveis.

Scarlett só notou esse pequeno detalhe depois de correr alguns quilômetros. Porém, para ela, isso não importava. Separando-se ou não dos outros, ela teria que rumar para seu esconderijo para soltar a jovem Lexi. Bem, Fanny também deveria estar lá, mas de algum modo ela fugira.

Utilizando os códigos que há muito tempo ela decorara, abriu a porta secreta de seu esconderijo - não tão - particular e...

Havia soldados de copas congelados por todos os cantos.

Scar sentiu a cor esvair-se de seu rosto. Se os fiéis guardas da Rainha de Copas estavam naquele estado, significava que a Rainha do Gelo estivera por lá. Claro que, como já lhe dissera sua avó, a Rainha Elsa era muito mais misericordiosa e sábia que sua antecessora, mas isso nada impedia que ela estivesse ajudando na busca pela princesa desaparecida.

Apavorada com a ideia de que seus amigos pudessem se meter em uma enrascada maior, ela correu rumo à floresta, em busca de Alexia.

***

– Por esse lado! - gritou Nina enquanto arrastava Fabrinny para dentro da floresta.

– Mas por quê? - Fanny tropeçava nos próprios pés, sorrindo de orelha a orelha - O outro caminho é mais colorido!

– Olha, Fanny, - Nina certificou-se de que não havia ninguém por perto antes de se apoiar numa árvore para tomar fôlego - o caminho colorido é perigoso, ok? Não vamos por lá.

– Mas tem tantas flores! - a ruiva suspirou dramaticamente antes de começar a saltitar em volta da nova amiga - Eu adoro flores! Elas são tão amigáveis e falantes!

Ignorando os comentários sobre plantas com capacidade locutora, Nina concentrou sua magia num ponto fixo sob seus pés e liberou ondas de energia consecutivas em diversas direções. A chapeleira, ao sentir as pequenas vibrações que passavam por debaixo de seus pés, começou a rir.

– Que divertido! - a jovem deitou-se de barriga para baixo - Grama gentil! Acariciando meus dedinhos!

Os comentários animados não tiraram por um segundo a concentração da aprendiz de feiticeira. Mandando cada vez mais e mais ondas, apenas esperava que seus companheiros entendessem seu recado.

Nina manteve-se daquele jeito por alguns segundos a mais, até que conseguiu o efeito desejado e o feitiço entrou numa espécie de piloto automático, reproduzindo por si só as vibrações necessárias. A primeira a aparecer na clareira foi Piper, que guiava Luminne por entre as árvores.

– Argh! - a flautista praguejou ao ver a amiga - Eu odeio quando você faz isso!

– Oi, Nina. Oi, Fanny. - Lumi cumprimentou as duas, virando-se logo em seguida para Piper - Eu ainda não entendi o que está acontecendo.

– Essas cócegas estranhas nos pés das quais você estava reclamando há apenas alguns segundos era um feitiço de nossa amiga aqui. - a morena indicou a feiticeira com a cabeça - Odeio feitiços de localização.

Como Luminne parecia tão confusa quanto Fanny, Nina explicou:

– São como as ondas magnéticas de um imã. Eles atraem o objeto desejado até o ponto fixo de onde partem as partículas de poder liberado.

– E é um feitiço horrível! - exclamou Piper se apoiando ao lado da melhor amiga - Você sabe como isso me deixa enjoada...

– Nem me fale. - comentou Kain, que aparecera do nada segurando uma Jamie semiconsciente - A gente estava correndo quando essas vibrações começaram. Essa pirralha tropeçou numa raiz e bateu com a cabeça na pedra.

Como em resposta, Scarlett saiu do meio das árvores de repente e tropeçou, caindo em meio ao grupo.

– O chão... Tava... Tremendo. – a ruiva ofegou enquanto se levantava – Guardas... Congelados... Alexia...

– Scarlett? Do que você tá falando? – perguntou Lumi, confusa.

– Os guardas conseguiram invadir o esconderijo. – Scarlett respirou fundo – Quando entrei lá eles estavam congelados. Sem sinal da Alexia.

Foi quando uma voz conhecida veio de algum lugar acima do grupo, fazendo com que todos se sobressaltassem.

– Estão procurando por mim? – Lexi sorriu do alto de um dos galhos do grande carvalho que se estendia acima dos herdeiros. Ao seu lado uma loira encarava os jovens com uma expressão indecifrável.

***

– Meu nome é Sophia. Princesa do Gelo. Filha da Rainha Elsa de Arendelle. – a garota se apresentou, encarando os outros a sua volta.

Alexia tentava contar a história do “Grande Salvamento Gelado” da melhor maneira que podia, fazendo seus floreios e colocando a loira como uma espécie de heróina. Sophia não sabia ao certo o que achar daquilo, mas preferiu se manter calada tentando absorver o máximo daqueles jovens que pareciam ter a mesma vontade que ela de sair daquele mundo injusto.

– Aí a gente ouviu passos... Como a gente achou que fossem os guardas, subimos na árvore e esperamos. – finalizou Alexia, com um sorriso no rosto.

Todos ficaram calados por alguns segundos, sem saber ao certo o que dizer, até que Jamie, que acordara durante a narração, quebrou o silêncio:

– Mas então... A gente vai olhar aquele livro ou não?

Os herdeiros se entreolharam e Kain, que carregava o livro, o abriu, folheando algumas páginas.

– Deixa eu ver isso... – Nina esticou o pescoço, tentando ver por sobre o ombro do pirata – Uhmmm... Acho que... – a garota estalou os dedos e, como se uma rajada de vento tivesse surgido do nada, as páginas do Livro de Feitiços começaram a passar sozinhas até finalmente pararem – Aqui.

A página tinha as bordas cobertas de desenhos minimamente detalhados e as palavras pareciam ser de alguma língua antiga que Kain não entendeu, porém Nina não pareceu surpresa.

– Latim. – a garota sorriu, tirando o livro das mãos do garoto – Aqui tem algumas especificações bem loucas... Uhmmm... – Nina passou os dedos pela página – Luz solar. – um breve olhar para o céu – Confere. Praticante ativo de magia. Confere. Núcleo mágico... Xii... Isso vai ser problema...

– Núcleo mágico? – perguntou Alexia, franzindo as sobrancelhas. Como Nina pareceu concentrada demais em sua leitura, foi Lumi que respondeu:

– Um lugar onde a magia seja bem forte. Tem um desses na Terra do Nunca. Fica no coração da ilha. É como se fosse o lugar de onde vem toda a magia que o cerca. – a filha de Peter Pan deu de ombros.

– Mas nós não temos tempo para irmos até a Terra do Nunca. A gente teria de passar pela Baia das Sereias e tenho certeza que aquelas mulheres-peixe já devem ter ficado sabendo do desaparecimento da Alexia. Se a gente aparecesse lá seria sorte se não fossemos afogados. – Kain opinou de cara amarrada.

– Verdade. – Nina finalmente se pronunciou, fechando o livro – Mas acho que deve ter outro núcleo... A Terra do Nunca é longe demais para fornecer magia para a Floresta Encantada, por exemplo. Talvez a gente tenha de ir para o País das Maravilhas, mas...

Antes que a garota pudesse terminar a frase, um barulho vez o sangue dos herdeiros gelar. O último som que eles queriam ouvir naquele momento e também o último que eles esperavam ouvir.

O som de cascos contra a terra.

A Guarda da Rainha se unira à caçada.

Eles estavam fritos.

***

Para Johnathan Hunter aquele dia não tinha como ser mais ordinário. Ele acordara tarde e passara na casa de Laurie para colocar tônico no shampoo da garota e pegar alguns doces na cozinha, depois decidira por dizer aos pais que estava indo caçar quando na verdade iria somente se sentar na sombra da maciera de sempre para ler um livro qualquer. Totalmente normal até que...

– Wooooooooow... – de repente o filho do Caçador ouviu uma estranha voz vir de cima do grande muro da Vila Secundária.

Lá em cima, uma garota de cabelos cor-de-laranja tentava se equilibrar na ponta dos pés, um sorriso estampado no rosto.

– Fanny! Você é maluca?? O que você tá fazendo aí em cima?? – outra voz veio detrás do muro, esta era mais firme do que a da ruiva, e parecia irritada.

– É o caminho mais rápido, Jamie! E cavalos não escalam muros! – respondeu a tal Fanny se virando ligeiramente para trás. John ficou um tanto surpreso pela garota ainda não ter percebido sua presença.

Houve um longo silêncio, até que o tropel de cavalos pode ser ouvido.

– Ela está certa! O muro é nossa melhor defesa! Vamos! – uma voz diferente da primeira foi ouvida e logo em seguida uma garota morena e alta surgiu voando por cima da grande estrutura que cercava a Vila secundária.

– Vocês são muito lerdas! – John reconheceu imediatamente a voz da filha do Rumplestilskin.

– Ah, não...

– Impulse*!

A última coisa que John se lembra antes de apagar foi uma massa cor-de-fogo atingindo sua cabeça e depois tudo ficou escuro.