Índigo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 10
Capítulo 10




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– Nenhuma queixa? Nada?
– Nada, Angel.
– Isso é muito bom, Russel! Fizemos um pedido antes deles. Isso significa que temos chances, não é?
– Sempre há uma chance. Nenhum caso está perdido. Mas, Angel... Eu acho que a falta de preocupação deles se deve ao fato de que THE ainda não passou uma noite inteira longe de casa. Ele sumiu pela manhã. Talvez estejam achando que ele pode voltar.
– Mas eles estão esperando demais. E mesmo que eles estejam preocupados, não registraram isso.
– É por isso que estamos na vantagem. Mas não sei por quanto tempo. A opinião dos pais biológicos vale mais.
– Mas temos tanta coisa a nosso favor... Temos o pedido, o depoimento de THE, temos suas marcas para provar que ele foi agredido. Mas... Russel... Será que eles podem fazer com que isso se volte contra mim?
– Talvez. Está falando das marcas, não é? Bom, a perícia sabe identificar essas coisas. Eles tem pessoas especializadas em fazer uma criança se confessar, falar a verdade. Esses profissionais vão saber que THE não está mentindo.
– Você disse talvez...
– Ah, bom. Alguns profissionais acham que existem crianças que, mesmo sob pressão, não falam a verdade por estarem sendo ameaçados. Mas eu acho que THE sabe convencer as pessoas.
– Eu também acho. E acho que ele não herdou isso dos pais, porque os Hall-Ether são péssimos mentirosos.
– Então a verdade será arrancada deles. E a verdade é que você é uma mãe muito melhor do que eles dois juntos. Mas eles tem uma coisa a favor deles.
– A favor deles? O que é?
– Você não tem a guarda do THE, Angel, nem a autorização dos pais para que ele fique sob sua tutela.
– Isso complica muito, não é?
– Em parte. Você pode justificar isso com a agressão sofrida por ele. Mas talvez isso seja difícil de aceitar para o juiz. Afinal, isso é lei, para a justiça é injustificável.
– Bom, eles também vão ter que justificar a agressão. E a justificativa “ele contou a verdade para a psicóloga” não é muito boa.
– Com certeza não. A seu favor de novo. É bem complicado, Angel. Não tem como prever quem vai ganhar nesse ponto do processo. Temos uma boa vantagem, sim, mas o simples fato de eles serem os verdadeiros guardiões de THE para a justiça já é uma vantagem para ele. Como eu disse, é cedo para saber.
– Me mantenha informada.
– Farei isso.
Acompanhei Russel até a porta e atendi mais uma de minhas crianças.

Mais tarde, eu e THE nos arrumamos.
– Aonde vamos?
– Vamos conhecer uns amigos.
– Que amigos?
Coloquei THE sentado no sofá. Ele precisava saber.
– THE... Preste atenção, está bem? Nem todas as crianças são iguaizinhas às outras.
– Nenhuma criança é igual à outra.
– Eu sei, eu sei... Crianças tem características que variam de uma para uma, mas se compararmos, conseguimos encontrar características muito parecidas. Mas existem crianças diferentes, especiais. Elas realmente se destacam em relação às outras.
– Tá... Mas o que isso quer dizer?
– Olhe, você sabe que eu tenho alguns estudos em andamento. Eu tenho um sobre uma teoria sobre essas crianças. Elas são chamadas de índigo.
– Índigo? O que é índigo?
– Índigo é azul. Um tom de azul. Mas crianças índigo se refere à aura. Meio que é a cor da alma.
– Então... Elas brilham em azul?
– Não! Não, THE, você não entendeu...
– Eu entendi. Você que não entendeu o que eu quis dizer. Não quis dizer que elas realmente brilham... Quis dizer que elas podem emitir uma tênue luz azul.
Me surpreendi com THE, tão pequeno, usando uma palavra como “tênue”. Ainda mais para definir exatamente o que as índigo podem fazer.

– Talvez. Mas essa aura azul só pode ser enxergada por quem também é índigo.
– Então eu sou índigo?
Hesitei.
– Não era bem assim que eu ia contar.
– Eu sou índigo. Maneiro. O que isso quer dizer?
– Calma, calma. Como exatamente você chegou a essa conclusão?
– Simples... Eu enxergo as outras índigo. De vez em quando, eu olho para uma criança e vejo que ela é meio azul... Mas isso dura alguns segundos. Como aquele garoto maluco que foi no seu consultório hoje...
– O Henry? Henry Dizim?
– Esse mesmo.
– Ele foi quem me disse que você é índigo. Quando foi lá hoje.
– Então vocês conversaram sobre mim. Interessante. È ele o “amigo” que nós vamos visitar?
– Ele e a amiga dele, Lizzie, vão nos receber.
– Isso vai ser divertido.

Foi bem difícil de encontrar.
Se Henry e Lizzie queriam se esconder, estavam se saindo muito bem.
O lugar não poderia ser mais escondido.
Eu e THE ficamos bastante apreensivos ao entrar em um pequeno beco na parte sul da cidade. Tínhamos ido até uma área próxima de carro, mas resolvi deixá-lo em um lugar com mais pessoas e aparentemente seguro. O beco era como qualquer outro de noite: sujo, escuro, assustador, ligeiramente úmido e sujeito a se tornar a casa de criaturinhas nojentas. Tivemos que pular uma enorme poça de alguma substância desconhecida. As janelas nos prédios que cercavam o beco estavam escuras em sua maioria, mas havia lâmpadas fracas iluminando um ou outro cômodo de apartamentos aleatórios. A maioria das cortinas estavam fechadas. Não me parecia um lugar muito apropriado, mas Henry me garantira que era seguro.
“Nunca aparece ninguém por ali”, dissera. “ E isso significa que é seguro?”, eu perguntara. Em resposta, ele afirmara: “Sim, se o 'ninguém' inclui ladrões, sequestradores, ninjas do Tetsu No Ken e outras pessoas más”.
Mesmo assim, se sentir completamente segura naquele lugar era difícil. Pela reação de THE, se agarrando em mim a todo tempo, era fácil perceber que ele também não estava acomodado.
Felizmente, nada nos incomodou até chegarmos a uma caçamba de lixo. Ela era velha, enferrujada e suja. Havia alguns resquícios de tinta azul desbotada, mas ela praticamente perdera sua cor original.
Abri a caçamba, revelando o leve odor de lixo (nada extremamente forte), que indicava que a maioria das sacolas continha embalagens e papéis higiênicos, sem quase nenhum resto de comida (os que tinham não estavam estragando). Parecia recém colocado, e não havia nenhum sinal da formação de chorume.
– Acho que é seguro – disse em voz baixa para THE.
– Seguro? È lixo! Nadar no lixo não é seguro.
– Fique calmo. Não vamos nadar no lixo. Henry disse que isso é lixo cenográfico, feito para as pessoas acharem que isso é uma caçamba convencional.
– Eu não a entrada de um esconderijo secreto.
– Isso. Vamos entrar.
Segurei THE no colo para que ele conseguisse subir, e nós entramos.


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