A Vida de Uma quase Cinderella escrita por Pri Reis


Capítulo 3
Mil Tentativas




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É claro que uma dose de sono resolveria muito mais o meu problema do que uma dose de whisky, eu só queria manter minha mente ocupada com qualquer coisa, e se fosse preciso, até com ressaca, obviamente o que não aconteceu (para a minha infelicidade). O nascer do sol sempre anuncia um novo dia, com esse pensamento tomei coragem de seguir Janeiro que estava meio destruído mas não inacabado.

Os dias iam passando e eu era sempre tomada por aquela vontade que só aumentava. Uma coisa que eu aprendi comigo mesma é que se eu desejo, eu não posso ser provocada, às vezes até um olhar é capaz de me cegar com tentação. Devia ser uma regra: garotos sem camisa não podem passar ao meu lado.

– Por que ele é assim? – Bufei para Natália enquanto eu o mirava do outro lado da piscina.

– Eu que pergunto, o que você viu nele? – Ela repetia essa pergunta indignada com a situação. – Vocês cresceram juntos! – Ela dava ênfase.

– Será que ele já percebeu? – Eu tentei focar na pipa que cobria o céu só para disfarçar. Tentativa falha.

– Não, imagina... – Ela zombou minha cara. – Você só não para de olhar.

Mas é claro, como eu deixaria de olhar? Na verdade, nem eu sabia o que me atraia nele, só sei que com exceção da Natália, metade das meninas na piscina estavam babando cloro de tanto que olhavam.

A pior parte em ser amigo há muito tempo de alguém é que quando você sente desejo pela pessoa, você não sabe se é correspondido. Já perdi a conta de quantas amigas (isso, mulheres) ficaram na “friend zone” porque o maldito não queria estragar a amizade. QUERIA ACRESCENTAR: não é estragar a amizade, é só deixar mais interessante. Ao invés de só sentar e rir da vida, a gente ri e se pega, soa bem mais divertido que uma amizade comum. Éramos amigos há tanto tempo que eu não conseguia decifrar os sinais dele, até porque ele não deu nenhum, mas convenhamos que como mulheres SEMPRE esperamos que até o “oi” seja um sinal. Ele parecia ser inalcançável, e por isso a minha dúvida de sempre, POR QUE RAIOS A FERNANDA SE EU TÔ AQUI? Calma, respira, tá tudo bem (só que não).

– Ela já foi embora? – Eu indaguei.

– Eu não a vi mais... – Natália deixou um suspense no ar.

Não adianta mentir que eu faria alguma coisa, porque eu realmente não faria. Continuaria ali, parada, pamonha só o observando passar toda hora. Já tinha virado costume reservar algumas horas do meu dia para ver esse canalha passar e se esbanjar com tanta beleza (que só eu via pelo jeito). Janeiro não tinha como se afundar mais, e eu achei que só ia piorar quando alguns dias depois da minha chegada na praia, Natália foi embora. Eu estava sozinha, iludida mas o pior de tudo: encalhada e recalcada. Típica vida de adolescente, ou no caso só a minha vida era assim.

“Nossa, que saúde” – digitei na conversa com Mateus. NÃO, É MENTIRA QUE VOCÊ VAI MANDAR ISSO NÉ PRISCILA? Para, assim você nunca vai conquistar o garoto. Mas quem disse que eu preciso conquistar? Eu só queria aproveitar um pouco do que ele tem em abundância. Será? “Enviar”, agora já foi. Bloqueia, desbloqueia, bloqueia, desbloqueia, online, bloqueia, não calma, desbloqueia, digitando: LÁ VEM – “Obrigado”. SÓ ISSO? Eu decretava meu óbito ali mesmo. Queria me trancar no quarto e nunca mais sair, eu podia ter levado um fora mas não um seco OBRIGADO. É claro que o ego dele estava nas alturas agora, devia estar se sentindo a última bolacha do pacote mesmo com um elogio vindo de uma plebeia como eu. Agora sim eu precisava daquela ressaca para esquecer esse momento embaraçoso do ano. Era só Janeiro e parecia que minha lista de desastres só aumentava. Esse momento só não estava pior porque eu escolhi um belo dia para mandar essa mensagem e me arriscar: o dia que ele ia embora. É claro que foi algo constrangedor, ele já ficou com amigas minhas, eu já fiquei com um amigo dele, me senti quase tão atirada quanto a Valesca cantando “quero te dar”, mas nessas horas cabia o sábio conselho da minha avó, antes de casar passa. Entendeu Deus?

Agora era oficial: eu estava sozinha, iludida, constrangida e encalhada. Só queria sentar na areia, ouvir as ondas quebrando, encher a cara e cantar pra lua. Fui tomada por um sentimento que apertava meu coração, muito pior que amor, paixão, era a maldita CARÊNCIA. Minha carne estava com sede, eu estava com sede. Homem, que raça cafajeste. Quanto menos eu penso, mais eu preciso. E quanto mais eu penso, MAIS AINDA EU QUERO. Tem alguma coisa errada nessa balança.

E quando eu achei que tinha um fim... Só começou.


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