A Vida de Uma quase Cinderella escrita por Pri Reis


Capítulo 2
Janeiro




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Resolvi deixar 2013 em 2013. Aquela velha frase clichê “ano novo, vida nova” (amém). Aliás, você nunca sabe o que esperar da vida até ela te surpreender. O ano anterior tinha sido tumultuado, tantas coisas aconteceram de uma vez sem eu esperar que agora eu temia pelo novo ano que se iniciava. Ano que começava com 10x mais pressão, nova faculdade (de novo), novos amigos, mudança, expectativas corrompidas, vontade sucumbidas, desentendimento, choro, coração quebrado e para evitar tudo isso resolvi me desapegar das roupas que marcaram esses dias, perfumes que me lembravam outros perfumes, músicas que me lembravam sorrisos, até mesmo o batom que me lembrava outras bocas. Comecei tudo de novo, de novo. Só levei comigo uma única característica: ser fã (agora vocês não vão entender, mas mais pra frente vai ficar claro porque isso é tão importante para mim).

A melhor parte de Janeiro é estar na praia. Eu costumo a contar os dias para o ano novo justamente por isso: praia. É quando as pessoas que eu amo estão no lugar que eu amo, celebrando uma nova fase. A sensação de olhar para o mar e imaginar a imensidão da vida é única. A diferença é que como filha de pais separados, escolher datas importantes se tornou uma obrigação na minha vida: natal com um, ano novo com outro e esse ano novo eu tinha passado com meu pai de uma maneira bem tradicional: na igreja. É claro que ao mesmo tempo que queria estar com meus amigos na praia, estava com o homem mais importante da minha vida, e o único, realmente o ÚNICO. O que me fazia entrar em desespero as vezes e me fez acrescentar mais um pedido na minha lista de início de ano “esse ano vou arrumar um namorado”. Bom, no momento meu único desespero mesmo era não estar na praia com meus amigos, e nem por isso, eu só ia perceber como isso teria sido importante para mim alguns meses depois...

Se tem uma coisa que é preciso ser dita aqui é sobre meu pai. Nenhum homem é perfeito, aliás o ser humano não é perfeito, procuramos a todo tempo sermos impecáveis em nossas ações mas maioria das tentativas são falhas. Meu pai. Apesar das nossas diferenças, ele é o homem que eu mais admiro na minha vida (óbvio que essa decisão nem precisou ser pensada 2 vezes), mas você só dá valor depois que perde. Precisei ver meu pai sair de casa para entender o que eu sentia por ele: um amor inexplicável.

Fazendo parte do meu ano novo, no 2º dia de 2014, meu pai me deixou na rodoviária para eu seguir meu caminho à beira do mar. Assumo que foi com muito aperto no coração que deixei meu pai na cidade dele para me encontrar com minha mãe que já estava no litoral. Na verdade, eu não sabia o que esperar muito desse verão, meus amigos já tinham voltado para a capital depois da queima de fogos, mas eu sabia que coisas boas aconteceriam porque uma grande amiga tinha permanecido lá e ela, melhor que qualquer um, sabia das minhas aspirações pro ano que começava. Cabe a mim dizer que não só ela estava lá (com muita certeza eu estava ansiosa para vê-la) mas também tinha mais alguém...

Cheguei” – mandei uma mensagem para ela, assim que coloquei os pés na areia.

Eu tinha crescido naquela praia, o apartamento que tínhamos era uma herança deixada pelo meu falecido avô materno. Uma praia humilde, simples, mas eu encontrava ali todas as minhas forças nos momentos fracos. Continua sendo meu refúgio, mas agora com inúmeras lembranças.

– Tenho tanta coisa para te contar! – Natália me abraçou

Olhando para o mar, ela foi me atualizando dos ocorridos do ano novo. Lembro que maior parte para mim não fazia muita diferença, mas eu continuava com as expressões de surpresa “uau” “como assim?” “não acredito”. Eu só queria saber mesmo o que me interessava. Foi quando ela soltou o que eu queria ouvir e ao mesmo tempo não.

– Isso mesmo amiga. – Ela disse em um tom indignada – O Mateus pegou a Fernanda. – Ela repetiu.

– O que? – Eu tentei não parecer surpresa mas como não sou estudante de teatro, muito menos uma atriz de Hollywood, consegui transparecer meu desespero em minha fala.

– Mas relaxa... – Ela percebeu que tinha algo errado. – Ele estava mais bêbado que tudo. Você sabe como ele é... – Ela tentou quebrar o gelo.

Eu sei que ele é um garoto que chama atenção, é daquele que passa e atrai todos os olhares, querendo ou não, as garotas vão olhar e se derreter. Ele não usa perfume francês, nem sapatos italianos, não é fluente em 5 línguas, muito menos sabe diferenciar azul claro e azul bebê e eu também sabia que eu não tinha chance alguma com ele, eu tinha certeza disso. Eu sempre fui uma menina atrapalhada e pra falar bem a verdade, não esperava que os homens se atraíssem por algo em mim. Mas mesmo me colocando tantos defeitos, por que ele escolheu justo ela? Não conseguia digerir bem essa informação.

– Eles estão se falando? – Eu tentei não mostrar interesse no assunto mas minha amiga sabia que por dentro eu estava me corroendo para saber todos os detalhes.

– Cada um no seu canto... – Ela me afirmou.

Eu tentei aceitar a situação. Aliás, nós éramos amigos desde sempre, e eu preferia que continuasse assim. Ele nunca faltou respeito comigo e eu nunca com ele, lógico que temos nossas brincadeiras e ele parece que ama me dar apelidos e me xingar. É sempre “trouxa”, “babaca”, “idiota”, “ridícula”. Tava bom demais para quem esperava algo além, né? E pode parecer um comentário maldoso, mas me confortava saber que logo ela iria embora. NÃO, ela não estava atrapalhando as coisas. A lei da vida é uma só e é melhor seguirmos para não quebrarmos muito a cara.

Aquela noite tinha ficado atenta em todos os movimentos de ambos. Parecia obsessão, mas não era. É coisa de menina, não sei explicar, só sei que fico nesse modo de ação, observando e esperando algo acontecer. E como esperado, milhares de coisas se passavam pela minha cabeça. Será que eles esperavam todo mundo dormir para se encontrarem? Será que eles se esbarravam escondido nos corredores? Será que eles iam para o famoso “zerinho” matar a vontade? O que acontecia se ambos estivessem no elevador? Acho que eu tava ficando louca. “PARA! Você não tem nada a ver com a história. Fica na sua”. Naquele momento eu tinha algo muito mais importante para me preocupar e que eu tinha deixado na capital, sozinho e indefeso (ou talvez não), mas que tinha roubado 100% de quem eu sou e tomado meu coração. 2014 mal começou e eu já tô assim... Deus, você tá me ouvindo?


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