APOCALIPSE escrita por Thaís Carolayne


Capítulo 9
Passado




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Don estava deitado sobre o feno dentro de um largo celeiro. O sol vermelho da tarde descia no horizonte, a luz opaca entrava entre as aberturas das tábuas.


Genin ainda estava desacordado ao lado dele. Sua respiração estava suave.


Os cidadãos da vila An usaram carroças para trazer Genin e também trouxeram Agustina desacordada.

Kann bateu na porta e entrou.

— Don, estou entrando.

— Olá. - Don se sentou.
 Kann sentou ao lado dele.

— Eu vim ver Genin. Ele salvou minha vida.

—Estou orgulhoso dele. - Don sorriu.

— Me desculpe. Se eu fosse mais forte não teria colocado a vida do seu amigo em risco.

— Não se culpe por isso. Eu também não fui forte o suficiente pra proteger Agustina e Catelyn. Se você não estivesse lá estaríamos em grandes problemas.

Os dois ficaram ali parados, sentindo o ar esfriar em volta deles na medida que o sol ia desaparecendo, escutando o som suave da respiração de Genin.

— Se você quiser ir ver Agustina, eu fico aqui de olho no Genin.

Don acenou pra ele.

— Eu quero sim.

Don bateu na porta do quarto em que estava Agustina. Uma das suas cuidadoras mandou entrar.

No quarto da pensão havia duas curandeiras cuidando de Agustina. Uma mulher mais velha e uma adolescente, que provavelmente era sua aprendiz. De móveis havia a cama de casal que Agustina estava deitada, um criado de madeira amarela com um lampião apagado e uma bacia de água. Havia também uma cadeira e uma mesinha, com panos sujos que as cuidadoras tinham tirado das feridas de Agustina. Catelyn tinha puxado a cadeira para perto da mesa e estava sentada lá. Ao entrar Catelyn se levantou.

— Don, pode me acompanhar?

Don seguiu Catelyn para fora do quarto e puxaram a porta.

— As mulheres estão trocando as ataduras da Agustina agora. Você não pode entrar e ver ela... - Catelyn corou.

— O quê?

— E- Eu não sei... Se você... já viu Agustina... nua...

Dessa vez foi Don quem corou.

— Não! E- E- Eu... Nós não somos assim.

— Ah.

Houve um momento constrangedor de silêncio.

— Lá na Passagem de Pedra... - Continuou Catelyn. - Foi muito perigoso.

— Sim. Desculpe não ter ficado do seu lado.

— Está tudo bem, Kann estava lá.

— Eu acho que daqui pra frente, talvez as coisas fiquem mais perigosas. Catelyn, você tem certeza que deseja ficar comigo? Se quiser eu posso pedir pro Genin te levar de volta.

— Eu sei que ás vezes sou um estorvo pra vocês, mas eu quero continuar. Don, eu quero continuar porque apesar dos perigos, eu estou me sentindo muito viva.

Don sorriu pra ela.

— Eu acho que sei o que você quer dizer. E você não é um estorvo.

Nesse momento as mulheres saíram do quarto.

— Terminamos os curativos. Voltaremos de madrugada para dar remédios para evitar infecção e dor. Don e Catelyn agradeceram e as mulheres quese retiraram em seguida.

— Eu vou ver como está Genin. - Disse Catelyn também saindo dali. Não queria ser testemunha da preocupação que Don tinha por Agustina.

Don entrou no quarto. Agora o lampião na comoda estava aceso, já que a noite finalmente havia chegado. Agustina estava deitada na cama inconciente. Havia curativos em grande parte de seu rosto. Ataduras enroladas no pescoço, e braços. Don não podia saber do resto pois ela estava coberta por um lençol fino, mas Agustina também tinha ataduras na cintura e nas pernas. Seu cabelo havia sido queimado e estava todo despontado e desfigurado.

Don se sentou de frente para Agustina. Sentiu vontade de acariciar o rosto dela, mas temeu a machucar ainda mais. Ele ficou muito tempo ali em silêncio observando a bruxa.

Mais tarde na noite a pensão serviu jantar para todos e Don foi dormir ao lado de Genin, enquanto Catelyn ficou com Agustina.

Don acordou na manhã seguinte com Genin lambendo o seu rosto. Don riu e abraçou a grande cara do amigo, lhe acariciando atrás das orelhas.

O sol já brilhava do lado de fora e uma fina camada de poeira flutuava no ar, sendo iluminada pela luz que entrava pelas frestas da madeira.

Don saiu acompanhado de Genin. Do lado de fora estava Catelyn, Kann, Jena e Fiona. Quando viram Genin de pé todos vieram recebe-lo com alegria.

 

Naquela mesma noite mais uma vez Don estava sentado ao lado de Agustina. Agora que Genin estava bem ele se sentia bem o suficiente pra ficar com Agustina agora.

Don se levantou e foi até a janela se apoiando no beiral. A lua já estava alta no céu. Era uma lua crescente.

— Você sabia que a lua crescente é a melhor para as bruxas fazerem grandes feitiços?

Don se virou aliviado.

— Agustina. - Don se sentou navamente de frente pra ela.

Ela estava sentada na cama olhando pra ele com o seu sorriso gatuno.

— Que dor!

— Você ficou muito ferida.

— Eu usei muita magia contra a Sefiza e mais ainda para curar Genin. Falando nisso, como ele está?

— Está ótimo. Obrigado por isso.

— Bem... Sobre meu corpo.

Agustina estendeu as mãos e fechou os olhos. Um brilho lilás surgiu de suas mãos e em seguida rodeou o seu corpo. Em poucos minutos o brilho sumiu, então Agustina começou a tirar as faixas e os curativos. Na sua pele já não havia mais nenhuma queimadura. Era como se nunca tivesse se machucado.

— Meu cabelo não tem concerto. - Disse ela choramingando. - Tem uma faca na minha bota. Você pode pegar pra mim?

Don obedeceu. Agustina fez um espelho mágico flutuante na sua frente e cortou o cabelo cuidadosamente. Agora seu cabelo estava na altura do pescoço e uma franja na altura das sobrancelhas.

— Eu gostei. - Disse Don.

Agustina sorriu de forma mais gentil pra ele agora.

— Por que sempre quando acordo você está aqui?

Don não respondeu. Agustina ficou de frente pra ele agora, pôs a mão no seu rosto e lhe deu um beijo. Don a retribuiu de forma gentil. Agustina se afastou com o rosto baixo. Don ficou a observando. Ela se levantou.

— Vamos lá fora?

Os dois saíram. Catelyn que estava indo para o quarto de Agustina os viu saindo e se escondeu atrás da porta. Os dois passaram para fora. Um pouco depois Catelyn foi atrás.

De fora da pensão a noite estava clara e fresca. Agustina conduziu Don até a cerca atrás da pensão. Eles pularam a cerca e se sentaram. Abaixo deles dava pra ver a vila An iluminada por toxas a óleo.

Catelyn se esgueirou para trás da cerca e ficou atrás de uma pequena moita, que a escondia se ela ficasse abaixada.

— Don, me desculpe. Eu vou te contar tudo que houve e porque eu vim parar aqui.

"Há muito tempo, na época do mundo antigo havia muita tecnologia, energia elétrica e internet. Isso tudo seria considerado hoje magia, mas não era. Era tudo feito pela mão do homem. As pessoas eram tão populosas quanto formigas.

Então os humanos descobriram uma força, uma energia invisível que fluia em todo o mundo e em tudo que havia no mundo. Lhes deram o nome de Vitae. Hoje nós os conhecemos como espíritos. Esses espíritos eram responsáveis por manter o equilíbrio do mundo e por sua proteção. Mas os humanos não estudaram os Vitae o suficiente pra saber disso e fizeram o que eles mais desejavam naquela época. Começaram a transferir parte dos Vitae para armas e objetos. Fizeram o que nós conhecemos hoje como Artefatos. Em seguida começaram a transferir não somente parte dos Vitae, mas ele todo para armas. Foi o que houve com sua espada negra. Aprisionaram a Vitae Mortem na espada. O espírito da morte.

Depois pensaram que se armas mágicas já eram boas, imagina pessoas com poderes mágicos. Transformaram pessoas em Artefatos. Foi o que houve com Sefiza. A transformaram em um Artefato vivo. Aprisionaram nela Vitae Ignis, o espírito do fogo.

E eu... me transformaram em Inanes... o vazio. Me transformaram em um Artefato que absorve o Vitae de tudo e qualquer coisa."

— Você está me dizendo que é da época do povo antigo?

— Sim, eu sou.

— Quantos anos você tem então?

Agustina riu.

— Eu não sei. Faz tempo que perdi as contas. Talvez uns mil anos.

Don ficou mudo.

— Mas como eu tinha te dito, os Vitae eram guardiões do mundo e mantinham o equilíbrio. Da mesma forma que os humanos exploravam os poderes do Vitae, o mundo se distruia. Tempestades, terremotos, vulcões. Morriam milhares de pessoas pelo mundo.

"O grande final aconteceu quando aprisionaram o espírito da morte na espada. A morte ficou furiosa, e rugiu para todos os Vitae livres restantes. Então o véu que separava o nosso mundo de outros mundos foi desfeito e os mundos se misturaram. A geografia do mundo foi alterada, criaturas que conhecíamos só em contos de fadas surgiram do nada, e criaturas da qual nunca ouvimos falar. Eram tantos que por mais que as pessoas lutassem, não era o suficiente.

Quando eu percebi o que estava acontecendo eu fugi para Pharrel. A cidade que morava minha mãe e meu namorado. Lá, usando os poderes que eu tinha adquirido eu consegui salva-los junto com um pequeno grupo de pessoas. Foi quando eu comecei a ser chamada de Bruxa de Pharrel.

Os anos foram passando, e então percebemos uma coisa. Minha mãe envelheceu e morreu, então meu namorado começou a envelhecer, enquanto eu ainda mantinha a mesma aparência. Ele também envelheceu e morreu. Eu fiquei com ele até os seus últimos instantes.

Mesmo com a morte de meus entes queridos, eu decidi ficar em Pharrel e proteger as pessoas que viviam lá.

Com os anos passando, não sei se por piedade dos Vitae ou por apenas uma coincidência, as criaturas de outros mundos foram diminuindo e diminuindo, até ficar como está agora, e a vida humana ficou mais fácil de se recuperar.

Passado muito tempo, Pharrel estava se reconstruindo quando Wendell apareceu com um exército. Ele queria me levar pra ser uma arma dele. Ele matou todos de Pharrel, e eu fugi.

Então quando fiquei em segurança conversei com os Vitae pra saber como eu poderia acabar com tudo isso. E eles me disseram para libertar os Vitae presos. Por isso fui até você, atrás de sua espada.

Entende agora, Don? Eu não posso ficar com você. Eu não quero ver mais uma pessoa querida morrendo."

Don segurou sua mão.

— Você vai voltar a envelhecer se os Vitae forem libertados?

— Sim, provavelmente.

— Então vamos liberta-los. Juntos.
Agustina sorriu pra ele e deitou a cabeça em seu ombro.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.

Comentem, falando o que acharam.

Se tiver algum erro na escrita ou algo assim, comentem também me corrigindo.



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