APOCALIPSE escrita por Thaís Carolayne


Capítulo 10
Família Gaimon




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Catelyn se arrastou para longe da moita e correu de volta para a pensão. Ofegante, subiu as escadas, virou no corredor e entrou com voracidade no quarto de Kann.
Kann pulou da cama passando a mão em uma de suas espadas alertado. Percebeu que Catelyn estava com uma careta com os olhos cheio d'água. Ela correu e o abraçou.
— Catelyn, o que foi?
— Eles estão juntos, Kann. Agustina e Don!
Kann suspirou e a abraçou de volta dando tapinhas na cabeça dela.
— Calma, calma.
Depois de um tempo Catelyn se acalmou. Kann fez ela sentar na cama enquanto ele puxou a cadeira que tinha no quarto e ficou de frente pra ela.
— Eu sabia que ele não me amava, mas eu tive esperanças de quando ele me buscou na igreja. Antes tivesse me deixado casar com você!
— O Don te salvou de um destino injusto, Catelyn. Se você fosse minha esposa eu faria de tudo pra te deixar feliz, mas iríamos morar sob o teto do meu pai. Uma mulher que cresceu rodeada de amor e cuidados não deve ficar na presença dele.
— Seu pai é uma pessoa ruim?
— Sim, ele é. Don me inspirou muito. Ele primeiro me desafiou no torneio por sua mão, depois te resgatou na igreja. Aquilo me deu coragem de finalmente sair das garras do meu pai.
— Me conte mais.

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Kimberley era a filha mais nova de uma rica família da cidade Drinarg. Ela tinha finalmente completado dezessete anos, a idade mínima permitida para os joves se casarem. Kimberley era apaixonada por um empregado da família, Aithar. O rapaz era forte devido os serviços pesados e era apenas dois anos mais velho que ela. Ele cuidava dos cavalos, mas nunca teve coragem de se declarar pra ele.
O observava de longe enquanto ele escovava a crina de um garanhão castanho. Respirando fundo ela foi até ele.
— B-Bom dia, Aithar! - Disse ela já corando.
Ele se virou pra ela e deu-lhe um sorriso brilhante.
— Bom dia, senhorita Kimberley.
— É um cavalo bonito.
— Foi a última compra do seu pai. Se chama Dodain.
Ela ficou em silêncio, sem saber o que falar com o rosto corado. Aithar percebendo algo deu alguns passos em sua direção.
— Senhorita Kimberley, gostaria de me dizer alguma coisa?
Ela levantou o corpo exaltada, abaixou a cabeça.
— Eu gosto de você. - Murmurou ela.
Aithar se aproximou mais dela.
— Desculpe, senhorita, mas meus ouvidos são muito bons.
Kimberley o fitou constrangida.
— A senhorita toparia me ver no rio hoje às onze da noite?
Kimberley sorriu.
— Sim, eu estarei lá.
Kimberley se virou e saiu correndo de volta pra sua casa. Sabia que seu pai não a permitiria namorar com um simples empregado, mas o que importava? Naquele momento ela estava feliz como nunca. Depois pensaria nos problemas.

A noite jantava com seu pai e sua mãe. Suas irmãs todas já estavam casadas e fora de casa. Terminou de comer o mais rápido que pôde.
— Papai, mamãe, se não se importarem, eu vou me retirar para o meu quarto. Me sinto muito indisposta hoje.
— Pode ir, querida. - Disse a mãe quase de forma automatica.
Kimberley subiu para o seu quarto, escovou os cabelos, passou um batom avermelhado e bateu perfume. Quando era a hora saiu pela janela e desceu pelas decorações da parede. Ela correu até o rio que ficava à cerca de 1 km da casa dela. Quando chegou lá Aithar já estava lá. Ele a recebeu com um abraço.
— Eu temi que não viria, senhorita.
— Não há nada nesse mundo que me impedisse de vir.
Ele a beijou e os dois riram juntos.
Os encontros de Kimberley com Aithar duraram cerca de seis meses. Durante o dia quando seus caminhos se crusavam eles sorriam um para o outro. Quando o pai de Kimberley fazia grandes festas eles fugiam juntos para o rio ou para o pomar e quase todas as noites eles se viam.
Em uma dessas noites Aithar se deitou com Kimberley, e ela achando que não poderia o amar mais do que já amava, se viu enganada.
No outro dia, acordou feliz, ainda sentindo o calor do seu amado em suas entranhas, desceu animada para o café da manhã, quando se deparou na cozinha com visitas. Era um homem de uns 40 anos com um rapaz, ambos de cabelos cor de areia. Eles estavam sentados a mesa com os pais de Kimberley.
— Que bom que acordou, Kimberley. - Disse seu pai. - Esse é Moine Gaimon, lorde do leste, e seu filho Cristiano.
Kimberley conhecendo a etiqueta que haviam lhe ensinado a vida toda, pegou na saia e se curvou os comprimentando. Moine foi até ela, puxou sua mão e beijou.
— Como dizem os boatos, a senhorita é muito linda.
— Obrigada, senhor.
— Kimberley, o senhor Gaimon veio aqui pedir a sua mão para seu filho.
— O quê?
— É claro que aceitamos. Não é uma honra? A filha mais nova será senhora do leste.
— Não!
Todos a encararam chocados.
— Eu não quero!
— Kimberley, querida, não se recusa um pedido do nosso lorde. - Disse a mãe sem jeito.
— EU RECUSO! - Kimberley se virou e saiu correndo pela porta que dava para fora.
— Eu lamento muito pela falta de educação da minha filha, senhor Gaimon.
— Sem problema. As virgens tem o mau hábito de serem selvagens, mas senhor Rorgo, espero que ela vá essa semana para meu castelo, para que todos os preparativos do casamento seja arranjado. Posso contar com isso?
— Com certeza, meu senhor. - O pai se curvou.

Kimberley correu feito louca para o estábulo, chegando lá gritou por Aithar. Escutando os gritos ele correu para ver o que era.
— Senhorita, o que houve?
— Aithar! Meu pai me prometeu em casamento!
— Sério?
— Sim! Por favor, não deixe isso acontecer, se case comigo!
Aithar ficou paralisado por um tempo e Kimberley se desesperava em ver sua falta de reação.
— Quem é seu noivo, senhorita?
— O filho do lorde Gaimon.
Primeiro Aithar pareceu não acreditar, depois soltou uma risada.
— Senhorita, eu não posso ir contra o lorde. Ele me mataria!
— Nós podemos fugir! Vamos para o norte, ouvi dizer que o lorde do norte é justo!
— Me desculpe, eu não vou me arriscar.
— Mas a gente não se ama?
— Amor? Senhorita, foi muito bom o que tivemos, mas chamar de amor é exagero.
Kimberley ficou em choque.
— Você mentiu pra mim?
— Senhorita, por favor, eu preciso voltar a trabalhar. Não me procure mais.
— Você me paga, Aithar!
— Do que a senhora está reclamando? Você se tornará a senhora de todo o leste, enquanto eu continuarei a limpar bosta de cavalo!
— Eu preferiria ser uma empregada do seu lado do que ser senhora sem você!
— Claro, dizer é fácil.
Kimberley saiu dali arrasada.

Na semana seguinte Kimberley foi enviada para o castelo do senhor Gaimon. Ela foi bem recebida pelas empregadas, foi lhe dado um quarto exclusivo. Foi o prazo dela chegar que a decoração do casamento começou a ser discutido, o vestido de casamento, e os convidados. Porém a opinião de Kimberley não era importante e ela não conseguiu escolher nada. O seu vestido, apesar de muito elegante, foi escolhido por seu futuro sogro.
Um dia ela almoçava com a presença de Moine e Cristiano. Juntando toda sua coragem ela colocou os garfos de lado.
— Senhor Gaimon, eu preciso lhe contar uma verdade.
— Diga.
— Eu não sou pura. Quando ainda morava com o meu pai fui violentada por um de nossos empregados.
Cristiano a fitou chocado, Moine terminou de mastigar sua comida calmamente, colocou o garfo de lado e voltou sua atenção pra ela.
— E você está grávida. - Não foi uma pergunta.
— Não, senhor, eu não engravidei. Mas também não acho justo esconder isso do senhor. Percebi que o senhor acreditava na minha pureza, e não quero mentir. Na época eu não tive coragem de contar ao meu pai, tive medo dele me mandar embora de casa.
— E você acha que vamos te aceitar sendo uma impura? - Gritou Cristiano.
— Façam o que quiserem comigo, meus senhores. Me prendam, me batam ou me mandem de volta para o meu pai. Eu só pesso uma coisa. Por favor, punam o homem que me humilhou.
— Devido a sua sinceridade, Kimberley, seu pecado será perdoado. O casamento acontecerá e o homem será punido. Porém você dirá a todos que é virgem.
— Sim, meu senhor. Eu agradeço muito.

A noite estava escura. Aithar estava cansado do longo dia de trabalho. Deitou em sua humilde cama, quando bateram na sua porta. Quando ele abriu a porta tinham quatro zarakis do leste com um lampião.
— Você é Aithar?
— Sou eu sim, o que houve?
— Venha conosco. E se você quiser manter sua cabeça colada no pescoço, vai ficar em silêncio.
Aithar foi levado até o castelo de Moine. No pátio principal estava o lorte, seu filho e Kimberley.
— Esse é o homem que a violentou, Kimberley?
Kimberley se arrependeu do que fizera no momento que viu Aithar, mas voltar atrás agora poderia valer sua vida.
— Sim, meu senhor.
— Kimberley? - Gritou Aithar. - O que está fazendo? O que está acontecendo?
Um zaraki acertou um murro no estômago de Aithar e ele perdeu o fôlego.
— Isso é o que acontece quando um empregado acredita que pode tocar um nobre. - Disse o zaraki.
— Senhor... - Disse Aithar com dificuldade. - Eu não fiz nada.
— Acabe com isso. - Mandou Moine.
O zaraki ergueu a espada e atravessou a barriga de Aithar. Kimberley segurou o grito e as lágrimas. O zaraki retirou a espada e sangue jorrou da boca de Aithar, então ele tombou e não levantou mais.

O casamento finalmente aconteceu. Kimberley não se sentiu feliz desde a morte de Aithar, mas fez tudo que lhe foi ensinado. A festa durou por dois dias. Kimberley fingia sorrisos e gentilezas. Várias pessoas ricas vieram lhe parabenizar. Seus pais que foram ao casamento pareciam erradiar de orgulho pela filha ter se tornado a senhora do leste. Suas irmãs mais velhas a olhavam com inveja.
Na noite de lua de mel Kimberley esperava ansiosa sentada na cama pelo seu marido. Ela tinha medo, mas era sua tarefa.
O marido entrou no quarto com violência. Olhou para ela com desprezo, tirou as roupas e se jogou na cama.
— Apague as velas. - Mandou ele.
— M- Meu senhor, vai se deitar comigo?
Cristiano a olhou irritado.
— Você acha que vou me deitar com você? Uma mulher suja? Eu só me casei com você porque meu pai me obrigou. Se eu soubesse antes que você não era virgem eu teria impedido esse casamento a qualquer custo!
Kimberley corou. Não sabia se se sentia aliviada ou envergonhada. Ela se levantou calmamente, apagou as velas e se deitou do lado do marido.
— Não encoste em mim. - Vociferou ele.
— Sim, meu senhor.
Os dias se passaram. O sogro parecia não notar a presença de Kimberley, enquanto o marido a humilhava verbalmente sempre que tinha a oportunidade. Kimberley achava conforto nas empregadas que cuidavam dela.
Alguns meses depois Kimberley lia um livro no seu quarto quando Cristiano entrou cambaleando de bêbado.
— Você! Sua mulher desgraçada! Nem pra ser esposa serve!
Kimberley se levantou e se encostou na parede com medo do seu marido.
— Me desculpe. - Murmurou ela.
— Eu sinto vontade de transar, e só tenho você, que é uma suja!
— M- Meu senhor... - Ela tremia. - Se quiser ter outras mulheres, eu ficarei em silêncio.
Ela mal terminou a frase Cristiano lhe acertou um tapa a derrubando na cama. Ela chorou assustada.
— Que tipo de homem acha que eu sou? - Cristiano a agarrou pelas pernas e a puxou. - Você é minha mulher, então é você que deve me satistazer!
— Por favor, meu senhor! - Ela se debateu.
Cristiano acertou outro tapa nela, novamente a derrubando. Cristiano a puxou pelo cabelo e ali naquele momento a estuprou.
Quando Cristiano saiu do quarto se deparou com duas empregadas que estavam de frente a porta. Ele xingou e saiu pisando pesado de lá.
As empregadas entraram correndo e colocaram Kimberley em seu colo, a consolando. Kimberley nunca chorou com tanta dor.

Do resto daquele dia Kimberley não saiu do quarto. Suas queridas empregadas tentou alimenta-la sem sucesso. Tudo que conseguiram foi dar um banho na patroa. Foi a única coisa que fez naquele dia com vontade, enquanto as lágrimas lhe escorriam pelo rosto.
No dia seguinte se vestiu e foi até seu sogro, aos prantos. Agarrou-lhe pelas roupas.
— Senhor meu sogro! - Disse ela em desespero. - Seu filho me estuprou!
Kimberley escutou o estralo alto em seu ouvido, caiu no chão de joelhos, em seguida sentiu a dor queimar seu rosto e as bochechas sangrarem por dentro no lugar que ela foi apertada contra os dentes. Ela olhou chocada para seu sogro.
— Não faça escândalos, mulher! Que tipo de senhora é você?
Ela não conseguiu clarear os pensamentos para responder.
— Você está cumprindo com os deveres de uma esposa! Fique quieta e sirva o seu marido.
— Mas... meu senhor...
— Cale-se e saia daqui. Não quero mais ouvir seus disparates.
Kimberley se levantou ainda sem saber ao certo o que estava acontecendo e saiu dali sem sentir nada, sem ver nada, sem ouvir nada.

O tempo passou. Kimberley agora usava vestidos de gola e mangas longas para esconder os hematomas que seu marido lhe deixava na pele. Em festas e eventos Kimberley fingia estar feliz, mas seus olhos tristes não enganavam. Os empregados e empregadas sabiam de seu sofrimento, as pessoas sabiam, mas ninguém fazia nada. Uma vez ou outra ela tentava fugir para o norte para conseguir abrigo com a família Andalusian, mas era sempre capturada, e ela apanhava muito nesses eventos. Mesmo assim, mesmo apanhando até quase a morte, ela tentava.
Kimberley já não sabia mais o que era felicidade ou até mesmo tristeza. Sentia constantemente a sensação de torpor. Dois anos depois de seu casamento engravidou do seu primeiro filho, Kann. Quando descobriu que estava grávida parou de fugir, por medo de apanhar e fazer mal ao seu filho, mas por sua sorte, Cristiano diminuiu a violência quando descobriu da gravidez da esposa. Quando Kann nasceu as violências voltaram. Passado-se mais dois anos nasceu seu segundo filho, Hardal.
Kimberley gostava de passar o tempo com os seus filhos no jardim do castelo. Contava a eles o quanto gostava de andar a cavalo, mas desde que se casara, as oportunidades de sair do castelo foram muito poucas.
Quando Kann tinha seis anos seu avô morreu e Cristiano se tornou oficialmente lorde do leste.
Kann e Hardal eram testemunhas próximas dos maus tratos de sua mãe. Kimberley não queria que seus filhos vissem isso, mas na furia de Cristiano, nem sempre dava para evitar.
Quando acontecia Kimberley ia com eles até o jardim.
— Meus queridos. - Ela os abraçava. - Vocês devem crescer e ser gentis. Devem ser melhores que o pai de vocês.
— Por que o papai faz isso com você? - Perguntou Kann já com 8 anos.
— Eu não sei, meu bem. Papai é mal.
Hardal que gostava muito do pai, contou pra ele o que a mãe havia lhes dito. Kimberley ficou dois meses proibida de ver os filhos depois de levar uma surra violenta.

 

 


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Notas finais do capítulo

Pessoal, me desculpem terminar o capítulo aqui, mas tá ficando muito longo. Continuo no próximo. 



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