APOCALIPSE escrita por Thaís Carolayne


Capítulo 7
Chama Ardente




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A noite estava silenciosa na Floresta Tsubami. Todos já haviam se retirado para seus aposentos. Don estava em sua cama, olhando para o teto pensativo. Corroído pela ansiedade ele se levantou, colocou a espada Apocalipse na cintura e saiu de seu quarto. Do lado de fora do corredor estava tudo silencioso. Apenas algumas tigelas com óleo iluminavam o local com um fogo brando e tremulante. Ele caminhou em silêncio até a porta do quarto de Agustina e empurrou com cuidado. A porta não fez barulho. Ele observou que ela ainda dormia tranquilamente. Puxou a cadeira que estava ali perto e se sentou. Não soube dizer quanto tempo se passou, estava começando a cochilar quando viu ela se sentar na cama. Os longos cabelos caíram sobre a camisola que as callas haviam lhe vestido.

— Don... - Ela olhou pra ele.

Don ficou sem fôlego por um momento.

— Estamos em uma casa das callas. - Ela disse.

— Sim. - Disse ele finalmente conseguindo falar. - Nagara nos abrigou.

— Tivemos muita sorte de encontrá-la. Essa floresta é perigosa a noite.

Don concordou acenando com a cabeça. Agustina o olhou com curiosidade.

— Por que está no meu quarto, Don?

Don corou.

— E- E- Eu perdi o sono!

Agustina mostrou seu sorriso gatuno.

— Então veio para o meu quarto.

Don se levantou da cadeira coçando a cabeça, embaraçado.

— Eu estava preocupado com você. Dormiu muito e não acordava, mas agora que vejo que está bem, eu já posso ir. - Ele ia em direção a porta quando Agustina pediu para ele esperar. Ele se virou pra ela com o rosto ruborizado. Ela mostrou um sorriso mais gentil agora.

— Venha aqui. - Ela abriu os braços mostrando espaço na cama pra ele.

— O quê? - Ele conseguiu ficar mais vermelho.

— Deite aqui comigo. Agora que eu dormi tanto eu vou precisar de ajuda pra dormir de novo. - Don se aproximou com cautela. Tirou Apocalipse da cintura e pôs sobre a cadeira que estava sentado antes. Sentou de lado na cama. - A não ser que queira passar a noite toda acordado comigo. - Disse Agustina com os olhos castanhos brilhando.

Don congelou, tentou falar algo, mas nada saiu de sua boca. Agustina riu e o abraçou.

— Você é mesmo uma criança, Don.

— N- N- Não sou...

Ela se deitou e acenou para que ele se deitasse também. Dessa vez ele foi mais rápido para não parecer tão ingênuo pra ela. Eles ficaram de frente um para o outro. Agustina colocou a mão sobre o rosto de Don e o observou em silêncio por um momento. Don a fitava de volta, observando o formato dos olhos dela, as linhas dos lábios, o formato do nariz, sem dizer nada, até perceber que Agustina mostrava um olhar triste.

— Você está bem? - Perguntou ele.

Ela se aconchegou nele colocando o rosto contra seu peito.

— Estou. Vamos apenas dormir.

Na manhã seguinte Catelyn acordou animada. Saiu de seu quarto saltitante, viu Kann na frente dela. Ele quando a viu a agarrou e colocou seu rosto contra o seu peito.

— Booom dia, Catelyn! - Era quase um grito, seguido de uma risada forçada. - O dia está lindo hoje!

— Bom dia! O que foi com você? - Ela o afastou e viu Agustina e Don atrás dele. Estavam de frente para o quarto de Agustina. - Agustina! Você acordou! - Ela correu até ela. - Como você está?

— Estou bem. - Sorriu Agustina. - Me sinto muito descansada agora.

As duas foram andando em direção ao salão deixando os rapazes para trás.

— Eu não sabia que você era tão carinhoso, Kann. - Disse Don.

— Não é isso. O que você tem com a Agustina afinal?

— O que eu tenho? - Don corou. - Eu não sei.

— Você sabe dos sentimentos da Catelyn sobre você, não sabe? Não poderia ser mais cuidadoso?

Don parou e o encarou.

— Eu sei.

— Ela quase viu você sair com a Agustina juntos do quarto.

— Eu e a Agustina não fizemos nada...

— Não me importa se fizeram ou não. Se não quer nada com a Catelyn, pelo menos seja claro com ela. Você a resgatar do casamento dela deve ter a enchido de esperanças.

— Sim, é verdade. Eu farei isso.

Nagara recebeu a todos no salão com um grande café da manhã, até Genin comeu até não aguentar mais. Ela os carregou de comida e água para a viagem e assim que estavam prontos Nagara os guiou pela floresta. Depois de algumas horas de viagem chegaram ao final dela. Se depararam com um grande vale verde, com algumas árvores espalhadas no caminho. Ao longe no horizonte podiam enxergar montanhas.

— Obrigada por toda a ajuda, Nagara. - Disse Agustina.

— Não é preciso agradecer. Vão agora, pois a jornada de vocês é longa.

Já era mais de meio dia quando Don e seu grupo avistaram uma vila ao longe, ao pé da passagem de pedra.

— Aquela é a Vila An. Podemos achar uma boa refeição por lá hoje. - Disse Agustina de seu cavalo.

— Isso é muito bom. Faz tempo que não comemos direito. - Disse Catelyn animada, atiçando o cavalo a andar mais rápido.

Chegaram lá já era uma hora da tarde. A vila ainda estava movimentada aquela hora. Os cidadãos andavam de um lado pro outro, indo em bancas de legumes, grãos e carne. Também haviam barracas de roupas e utensílios de casa.

Agustina lembrou Catelyn de comprar alguma coisa pra elas depois de acharem um lugar para comer.

A vila An era um lugar muito movimentado. Além de produzir mercadoria para os próprios habitantes da vila, também vendiam e compravam muito dos fazendeiros aos arredores. Não teriam notado a entrada do grupo se não fosse Don montado no seu manue gigante. Todos ficavam apavorados diante a imagem do grande animal. Jamais haviam visto um domesticado.

— Teria sido melhor ter deixado Genin do lado de fora da cidade? - Perguntou Don para Agustina.

— Os habitantes daqui não são hostis. Vão temer um pouco o Genin, mas não vão nos fazer mal. Venham. - Continuou ela. - Tem um lugar bom pra gente comer aqui.

Chegaram de frente a um grande casarão de madeira, com dois andares. Haviam varias janelas por toda a construção com cortinas gastas por trás delas. A porta grande e larga estava aberta para um grande salão. O barulho que vinha lá de dentro era de risadas e música.

Deixando Genin e os cavalos do lado de fora entraram. Não foram muito notados pela maioria de homens lá de dentro. Andaram até o balcão. Havia uma linda mulher atendendo o balcão. De cabelo loiro e olhos azuis, usava um vestido lilás com azul. No momento ela servia cerveja a um homem que sorria pra ela, visivelmente encantado por sua beleza, e ela apenas sorria com simpatia de volta.

— Boa tarde, Jena.

— Agustina! - Exclamou a moça com alegria. - Que bom te ver por aqui. Então você realmente conseguiu atravessar a floresta morta! Fico muito feliz!

— A floresta morta? - Exclamou o homem do lado. - Ninguém nunca voltou dela. Além de demônios naquela floresta, há manues enormes, devoradores de homens.

Mais dos clientes do lugar começaram a prestar atenção neles.

— Pois bem, eu atravessei a floresta. - Disse Agustina orgulhosa. - E lá achei esses fiéis companheiros.

Todos exclamaram surpresos, prestando atenção no grupo de Agustina.

— Como é do outro lado? - Perguntou um homem.

— E verdade que tem tesouros inestimáveis na terra de lá?

— Por que ninguém voltava? Vocês matavam as pessoas?

Enquanto as pessoas enchiam os três de perguntas Agustina pediu Jena para lhes preparar o almoço.

— Não somos selvagens! - Disse Kann consternado. Os homens riram do sotaque diferente dele. - Do outro lado há grandes cidades. Existe um povo grande e bem educado. É verdade que lá temos muitas riquezas, mas está na posse dos senhores do lugar.

— Há reis do outro lado?

— Quase isso. - Disse Kann. - Somos governados por quatro lordes, mas nenhum é senhor do outro.

— E da mesma forma que daqui ninguém voltava, do nosso lado também não conseguíamos atravessar a floresta. - Disse Catelyn. - Agustina foi a primeira forasteira a entrar e nós fomos os primeiros do vale a sair.

A conversa com os novos chegados ia animada quando um velho senhor entrou e disse em voz altiva.

— Não é verdade que vocês foram os primeiros do vale a sair.

Todos olharam pra ele.

— Papai. - Chamou Jena. - Não atrapalhe a diversão deles.

— Houve um homem que passou por aqui anos atrás. - Continuou ele. - Muito parecido com esse rapaz. - Apontou para Don. - Porém mais velho.

Don se levantou de sua cadeira atordoado.

— Você falou com ele, senhor? Ele disse como se chamava?

— Eu me lembro, pois na época eu fiquei muito curioso em relação a ele. Walles era seu nome.

— Pra onde ele foi?

— Ele disse que estava em uma jornada muito perigosa, por isso devia comer muito. Me disse que tinha um belo filho e não aguentaria vê-lo morrer. Me diga, rapaz, é você filho dele?

Don refletiu por alguns instantes.

— Sim, eu sou. Meu nome é Don Walles.

— Entendo. Seu pai não me disse mais nada. Partiu em seguida, rumo a passagem de pedra.

Don se curvou diante do senhor.

— Muito obrigado pela informação, senhor. Seria uma honra saber o nome do senhor, que tanto me ajudou.

— Oras, não precisa ser tão formal. Meu nome é Ricardo Barton.

Jane bateu palmas pra chamar a atenção para si.

— O almoço de vocês está pronto, por favor, venham se servir.

As pessoas do bar já se acalmaram um pouco em relação aos novos visitantes. Don e os outros comiam satisfeitos a refeição que Jane tinha preparado pra eles. Ela fizera uma tigela de legumes frescos cozidos, carne frita de peixe e pão, regado com bastante cerveja. Se concentravam na deliciosa comida a sua frente quando uma mulher de cabelos negros entrou no bar. No momento que foi vista todos pararam atônitos, menos Don e os outros por não saberem de quem se tratava. Ela caminhou altiva até o balcão, bateu na mesa, fazendo que todos pulassem sobressaltados e finalmente chamando a atenção do grupo.

— Estou de volta. - Disse ela com uma expressão rigorosa no rosto.

— Bem vinda de volta. - Disse Jena de modo simpático do outro lado do balcão.

— Quem é ela? - Perguntou Catelyn se sentindo intimidada por ela.

— É a Fiona. - Disse Agustina sem tirar a atenção da comida a sua frente.

— Parece que todos respeitam ela por aqui. - Disse Kann.

— Sim. Ela é uma maga. Usa um artefato perigoso. Todos confiam nela como a protetora da vila. Realmente é uma mulher muito poderosa.

Fiona se virou novamente para todos.

— Escutem. Eu preciso de ajuda. - Houve silencio no salão. - A nossa Flauta foi roubada. - Houve choque e barulho no salão entre todos. Don e os outros escutavam sem entender muita coisa. Quando as pessoas se acalmaram Fiona voltou a falar. - Eu vi a ladra que o fez. Eu tentei impedi-la, mas fui derrotada.

Mais uma vez murmúrios de exaltação. As pessoas não imaginavam como sua maior guerreira teria sido derrotada.

— Mas Fiona... Se você não pôde com eles, como nós conseguiríamos?

— Talvez com a ajuda de todos possamos-

— Você sabe dizer quem era a ladra? - Interrompeu Agustina. De inicio Fiona a fitou de cara feia e suspirou.

— Foi a Chama Ardente do reino de Wendell.

Todos exclamaram.

— Quem? O quê? - Perguntava Don confuso.

— Você sabe que levar homens comuns só lhes trariam a morte. - Riu Agustina.

— Eu sei que é um risco! - Gritou Fiona. - Mas não podemos deixá-la com a Flauta.

— O que é a Flauta?

Fiona hesitou.

— Você é a Bruxa de Pharrel que todos falam?

— E se for?

— Se for eu não preciso me explicar pra você. - Disse Fiona indo em direção a ela nervosa. - Pois eu sei da sua reputação, você vai querer a Flauta?

— É verdade que eu não costumo fazer as coisas de graça, mas tem algo que me interessa mais do que sua flauta. A Chama Ardente. Você fica com sua flauta e eu fico com a maga.

Fiona parou centímetros do rosto de Agustina, que não parecia nenhum pouco intimidada.

— Você sabe que me levar é a melhor chance que você tem. Nenhum homem ou mulher aqui é páreo para o poder da Chama Ardente.

— Muito bem. - Bufou Fiona se afastando dela. - Você pode vir comigo. Estarei com o meu cavalo aqui na porta as três da tarde. Não há tempo a perder.

Fiona se retirou do salão muito irritada com a arrogância de Agustina.


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Notas finais do capítulo

Uma curiosidade sobre esse trecho da história é que Jena e Fiona são um casal.



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