Sherlock estava parado no corredor, perto de seu armário arrumando seus livros dentro da mochila, quando viu John no final do corredor.

Ele andava com calma, sorrindo e cumprimentando a todos. E todos os cumprimentavam de volta. Sherlock achava incrível como alguém podia ser tão sociável como John.

A medida que John se aproximava, Sherlock começou a fingir que estava procurando algo muito importante na sua mochila, uma tentativa de evitar falar com John.

O problema era que Sherlock queria falar com John. Pelo menos uma parte dele queria. Outra parte não queria, porque sabia que seria estranho.

– Oi Sherlock – disse John parando ao seu lado.

– Oi – disse Sherlock ainda mexendo em sua mochila.

– Como foi seu final de semana? – John perguntou.

Foi incrível, com seus pais pegando no seu pé e seu irmão mais velho o fazendo de empregado. Melhor impossível.

– Bom – Sherlock respondeu. – E o seu? – lembrou-se de perguntar.

– Foi legal. Qual aula você tem agora?

– Bio... Biologia – Sherlock respondeu.

– Eu também. Vai para a sala agora? – John perguntou sorrindo.

John, sempre sorrindo. Por que ele sorria tanto?

– Não – foi a resposta imediata de Sherlock. – Quer dizer... eu tenho que passar em um lugar antes...

Por que ele disse isso?! Ele não nenhum outro lugar para ir antes da aula! Por que ele não poderia calmamente andar até a sala de aula com John??!

– Ok então, te vejo depois – John disse se afastando.

E agora, o que Sherlock faria?

Sem muita escolha, Sherlock se viu andando até a sala da Molly.

– Oi – Sherlock disse ao encontra-la na porta.

– Oi! – disse Molly surpresa. E confusa. Mas feliz.

– ... tudo bem...? – Sherlock perguntou sem muita vontade.

– Sim. E você?

– Bem – Sherlock respondeu olhando ao redor.

Algumas pessoas olhavam para ele e Molly desconfiadas. Mas Sherlock resolveu ignora-las.

– Hum... – começou Sherlock pensando em algo para dizer, já que ainda faltavam 10 minutos para a aula começar. – Como foi o seu final de semana?

O rosto de Molly se iluminou ao ouvir a pergunta. Ela começou a falar sem parar e automaticamente Sherlock se desligou. Ele estava preso dentro de sua mente, apenas lembrava-se de balançar a cabeça nos momentos certos, fingindo prestar atenção.

Quando Sherlock deu por si, o sinal já tinha tocado e ele ainda estava na sala de Molly. Deus amado, ela nunca parava de falar?

– Nossa Molly , que incrível – Sherlock comentou pegando sua mochila – devíamos conversar mais vezes. Te vejo depois – e saiu da sala.

Assim que se encontrou no corredor, Sherlock se arrependeu de suas palavras. Agora ele tinha certeza que Molly não o deixaria em paz tão cedo e ele era o próprio culpado.

Não. John era o culpado.

“Você realmente quer ficar o ano inteiro na equipe de atletismo e nunca conversar com ninguém?” A voz de John ecoou em sua cabeça.

Naquela hora, Sherlock não sabia o que dizer. Então apenas inventou que tinha que ir para casa e não deu uma resposta para John.

E desde então, Sherlock tinha começado a evitar John. Ao mesmo tempo que não queria evitar John.

Sherlock estava confuso. Sherlock não gostava de se sentir confuso.

Mas ele não tinha tempo para pensar sobre isso. Já estava atrasado para a aula.

Sherlock chegou na sala na mesma hora que o professor. Ele recebeu um olhar surpreso do professor, e depois do resto da sala.

Como não tinha amigos, Sherlock sempre chegava cedo em todas suas aulas. Tinha apenas um lugar disponível, no fundo da sala, e para a sorte de Sherlock, longe de John.

Sherlock sentou-se e abriu seu livro em uma pagina qualquer, enquanto o professor distribuía as provas que os alunos tinham feito na semana passada. Sherlock tinha tirado a nota máxima. Outro resultado de não ter amigos, é ter um monte de tempo livre para estudar.

A aula passou rápido, especialmente porque ficou divagando, rabiscando seu caderno. Quando a aula acabou, Sherlock se surpreendeu com o resultado de seus rabisco. A folha estava cheia de “J” em diferentes estilos e tamanhos.

Por que diabos Sherlock tinha feito isso. Sem pensar duas vezes, Sherlock fechou o caderno e o jogou dentro da mochila.

– Como você foi na prova? – John perguntou aparecendo do seu lado.

Sherlock odiava quando isso acontecia. Quando John simplesmente surgia ao seu lado. Isso fazia com que Sherlock se sentisse desprevenido, vulnerável.

– Fui bem... – disse Sherlock mostrando sua prova para John. – Não estava difícil.

– Nossa, você muito bem – John disse ao ver a prova de Sherlock. – Mas eu acho que algumas pessoas acharam a prova meio complicada – John mostrou sua prova, com uma nota que Sherlock desconhecia. Era possível tirar uma nota tão baixa?

– Tem outro prova mês que vem, você consegue recuperar a nota – Sherlock disse pegando sua mochila.

– É... acho que sim – disse John. – Bem, até mais tarde no treino.

Sherlock nunca admitiria, mas até que a equipe de atletismo era... legal, de certo modo. Sherlock nunca participava das conversas, mas sempre as ouvia e sempre fazia diversos comentários mentais.

– Eu sei que todos estão cansados, mas vamos fazer mais um treino de revezamento e vocês estão dispensados. – disse o treinador. – A ordem vai ser Anderson, Greg, John e Sherlock.

Sherlock se posicionou no seu lugar e esperou. Assim que percebeu John se aproximando, começou a correr. John lhe entregou o bastão e Sherlock completou o resto do percurso.

Ao passar pela linha de chegada, Sherlock estava ofegante e cansado. Mas se sentia bem. Outra coisa que ele jamais admitiria, era que ele gostava de correr. Ele não era bom na modalidade de saltos, mas era bom em correr.

Ele gostava de como se sentia enquanto e depois que corria. Era como se o caos na sua mente se acalmasse por um tempo.

Todos foram para o vestiário, mas Sherlock ficou mais um pouco na pista. O treinador pensava que era porque Sherlock queria treinar mais pouco e sentia orgulhoso, mas tanto Greg, quando John, sabiam que era porque Sherlock não gostava de entrar no vestiário com os outros meninos. Ele se sentia violado. Além de não ter o mínimo interesse em ver Greg Lestrade sem roupa.

Quando percebeu que todos já tinha ido embora, Sherlock foi para o vestiário. Tirou a roupa e deixou a água morna cair na sua cabeça.

Tudo andava meio bagunçado ultimamente. Sherlock queria colocar tudo em ordem, mas ele não sabia como. E ele só conseguia encontrar um culpado para isso: John Watson.

Ele foi a única mudança que ocorreu em sua vida ultimamente, então ele deveria ser o culpado do que quer que estivesse acontecendo com Sherlock.

Sherlock saiu do banho, secou-se e vestiu-se. Seu cabelo estava molhado e fica caindo em seu rosto toda hora.

Quem sabe se Sherlock ignora-se John de vez, isso o ajudaria?

– Oi – disse alguém do lado de fora do vestiário.

O coração de Sherlock deu um pequeno salto ao perceber que era John, mas Sherlock ignorou esse detalhe, atribuindo-o ao susto que acabara de levar.

– Você percebe que diz isso muito para mim? – Sherlock perguntou.

– O que?

– “Oi”

– Minha mãe me deu educação, desculpa se isso te incomoda – John disse rindo.

– Pensei que todos já tivessem ido para casa – Sherlock disse, mais uma vez tirando o cabelo molhado do rosto.

– E foram. Eu fiquei... porque... eu queria te pedir um favor...

– Um favor?

– Eu sou terrível em biologia, e eu sei que eu vou mal na próxima prova, e se eu for mal na próxima prova, talvez eu tenha que deixar a equipe de atletismo. – John disse uma palavra atrás da outra, rápido, sem parar para respirar.

– Onde você quer chegar com isso? – perguntou Sherlock encarando John.

– Você é bom em biologia.

– E...?

– Sherlock você me ajudaria a estudar? – John perguntou de uma vez.

– Oh... – Sherlock disse surpreso. Ninguém nunca o pedira ajuda antes. – Eu... hum... é que...

Ele não sabia que dizer. Parecia que o apocalipse estava se iniciando dentro de sua cabeça. Então, antes que ele falasse algo idiota, ou grosso, Sherlock ouviu as palavras deixando sua boca:

– Sim, claro.