No dia seguinte, enquanto caminhava para sua primeira aula do dia, Sherlock encontrou John no corredor.

John acenou na sua direção. Como ninguém de além de Molly falava com Sherlock, ele não pensou que John estava acenando para ele.

– Oi – John disse quando Sherlock passou por ele.

Um pouco confuso, Sherlock apenas acenou discretamente com a cabeça sem parar de andar. Ao entrar na sala, sentou-se no lugar de costume, perto da janela.

– Onde você estava ontem? – perguntou Molly, surgindo sabe Deus de onde.

– O que?

– Ontem. – Molly repetiu. – Nas terças você fica na biblioteca depois da aula estudando biologia.

– Eu fui para casa mais cedo – Sherlock mentiu.

– Mas você não estava no ponto de ônibus. Nenhum dos três.

– Fui andando – Sherlock rebateu.

– Mas... – Molly começou a falar mas Sherlock não estava mais ouvindo.

Ele não sabia se estava surpreso ou assustado com Molly por ela saber melhor a agenda dele, do que ele mesmo. Pensando bem, era sim um pouco assustador.

Pouco tempo depois o professor chegou e Molly teve que se afastar. Sherlock poderia contar para ela que tinha entrado na equipe de atletismo, mas tudo que ele não precisava naquela hora, era Molly sentada na arquibancada “torcendo” por ele enquanto ele treinava.

O dia seguiu normal até a hora do intervalo. Sherlock não gostava de ficar no refeitório e não podia ficar na biblioteca porque sabia que Molly estaria lá e ele não teria paz. Os alunos tinha permissão de sair da escola durante o intervalo, mas não tinha nenhum lugar que Sherlock desejasse ir. Então ele escolher a parte menos movimentada do pátio. Sentou na grama, ao lado de uma arvore, esperando que a sombra a arvore o escondesse um pouco.

Sherlock estava tão concentrado lendo seu livro, que não percebeu a pessoa que se aproximava até que ela já estivesse a um metro de distancia.

– Oi Sherlock – disse John parando ao seu lado.

– ...olá... – Sherlock respondeu e voltou a olhar para seu livro.

– Hum... nós vamos naquela lanchonete nova que abriu no final do quarteirão. – John disse.

Sherlock tirou os olhos de seu livro e encarou John, esperado que aquilo tivesse um proposito ou se era apenas desperdício de tempo.

Diante do silêncio constrangedor de Sherlock, John perguntou: - Você quer ir?

– Não – Sherlock respondeu calmamente. Então ele se lembrou que o que era considerado “calmamente” para ele era interpretado como “grosseira” para os outros.

Sempre acontecia isso. Sherlock tinha o dom de ofender a qualquer com a frase mais simples. E não fazia por mal. Mas era assim que seu cérebro funcionava.

– Não, obrigado – Sherlock repetiu.

– Você não é de conversar muito, não é? – John comentou.

Sherlock adorava conversar. Sempre tinha conversas interessantes e intensas... Consigo mesmo. Dentro de sua cabeça.

Agora o que Sherlock não era bom, era em se comunicar com os outros humanos.

Mais uma vez, Sherlock apenas encarou John. E percebeu que gostava de fazer isso, porque John se sentia desconfortável. Mas dessa vez, enquanto encarava John, Sherlock percebeu algo diferente.

Os olhos de John eram claros. Não escuros como Sherlock pensava. Sherlock possuía uma incrível memoria fotográfica, e ele tinha certeza que os olhos de John Watson eram escuros.

– Bem, eu vou indo então.... – John disse se afastando -Até amanhã no treino.

Sherlock observou John se afastar.

O que foi aquilo?

As pessoas não tentavam se aproximar de Sherlock, muito menos convida-lo para almoçar. A verdade era que naquela escola ninguém gostava de Sherlock e Sherlock não gostava de ninguém. Era um fato solido e conhecido. E mesmo que John estivesse ali a apenas dois meses, ele já tinha percebido isso.

Sherlock chegou a conclusão que John só fez isso porque ambos estavam na equipe de atletismo e sentia a obrigação de ser “legal” com Sherlock.

Mais tarde, ao chegar em casa, Sherlock encontrou sua mãe trabalhando no jardim.

– Como foi o treino hoje? – ela perguntou.

– Hoje é quarta-feira. Não tive treino. – Sherlock respondeu.

– Ah sim. Me esqueci disso. E como vai Greg? Não é legal ter um amigo de infância junto com você na equipe?

Sherlock já tinha passado tantos anos tentando explicar a sua mãe que Greg Lestrade não era seu amigo, que já sabia que não valia a pena tentar mais uma vez.

– Vou entrar – disse Sherlock indo em direção a porta.

– Não se esqueça de levar Redbeard para passear – sua mãe disse.

– Mycroft não fez isso? – Sherlock perguntou.

– Sherlock! Seu irmão não está em condições de fazer coisas desse tipo! – sua mãe começou a falar, e Sherlock a ignorou, entrando em casa.

Pegou Redbeard e a coleira e logo saiu.

Ele andava, distraído com seus pensamentos, que levou um susto quando sentiu alguém pegando em seu ombro. Ele se virou assustado e viu John.

De novo, John.

Ele estava com o uniforme da equipe de atletismo e estava ofegante, o que queria dizer que John treinava até fora da escola.

– ...oi... – John disse entre respirações pesadas.

Sherlock detestava que o tocassem. Ele realmente se sentia desconfortável com isso.

– Olá – Sherlock respondeu enquanto Redbeard se aproximava de John.

O que era estranho, porque Redbeard era tão antissocial quanto Sherlock.

John se abaixou e começou a fazer carinho em Redbeard.

– Qual é o nome dele?

– Redbeard.

– Você mora por aqui? – John perguntou.

– Sim. Aqui perto – Sherlock respondeu vagamente. Ele não iria dar seu endereço para John.

– Legal. Eu também. Quer dizer, não aqui perto exatamente, mas aposto que minha casa não deve ficar muito longe da sua.

Sherlock não respondeu. O que dizer? “Legal”? “Interessante”? Era melhor ficar calado.

– Quando o campeonato se aproximar, nós poderíamos treinar por aqui – John comentou.

– Não vou participar do campeonato – Sherlock disse.

– O que?

– Não vou participar do campeonato – Sherlock repetiu.

– Não, eu ouvi....Por que?

– Não me parece algo importante – Sherlock disse. – Ou interessante.

– O campeonato é importante! Para toda a equipe!

“Como explicar para John que Sherlock realmente não se importa com a equipe, sem parecer mal-educado?” Sherlock pensou.

– Tenho certeza que todos vocês vão se dedicar bastante e vão se dar muito bem sem mim – Sherlock comentou.

– Sherlock, tudo o que eu fiz o dia inteiro, foi tentar me aproximar de você e ser seu amigo... – John começou. – Mas você não facilita as coisas. Você tem esse tipo de campo força ao seu redor que repele todas as pessoas... Eu tenho certeza que você é um cara legal e que mesmo que você não seja... tudo mundo merece ter amigos. Você realmente quer ficar o ano inteiro na equipe de atletismo e nunca conversar com ninguém?