Filhos da Guerra escrita por Anna_Rosa


Capítulo 2
Coragem




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“Coragem é o medo aguentando um pouquinho mais - Thomas Fuller”

Eu os vejo chegar, mas nem sempre os vejo partir. Eu conheço cada um que entra pelas portas da minha sala no começo, eu mal reconheço aqueles que saem no final. Eu acompanho essas crianças lentamente se tornando soldados, o brilho no olhar dando lugar ao vazio, e me pergunto porque realmente continuo aqui, porque ainda sou parte disso?

No fundo da minha mente uma vozinha diz, de forma acusadora, que é porque sou covarde de mais para enfrentar as ordens dos Comensais que hoje dominam essa escola, que sou covarde para me por frente a uma dessas crianças e me recusar a continuar com isso. Mas eu tento, a todo custo calar essa voz, eu busco uma razão a cada dia, eu não posso deixar esse lugar.

Hogwarts, o lugar que cada criança em meu mundo almejava chamar de lar, hoje é o desespero de cada jovem que adentra essas portas, não há mais seleção, o escritório do diretor é proibido, dementadores guardam as entradas e toda e qualquer matéria ensinada aqui é voltada as artes das trevas. Eu ensino feitiços, e já não me orgulho disso, pois sei que cada coisa que os ensino hoje, eles usaram para matar alguém amanhã. Seja por vontade própria ou obrigação. Sei que no fundo, assim como eu, eles não tem escolha, mas não deveria haver algo mais além de seguir ordens?

Alguns dizem que eu me arrisco, outros fingem não ver o que eu faço, alguns poucos apoiam com fervor, mas ninguém tem realmente coragem para falar em voz alta, o que é uma benção. A cada dia, a cada mês, a cada ano, eu os ensino coisas terríveis, mas é ao por do Sol e ao alvorecer daquelas manhãs em específico que eu entendo o porque ainda estou aqui, é nessas noites que a voz em minha cabeça se cala e sinto um orgulho preencher minha alma. Pois, bem de baixo do nariz, e nesses momentos eu tenho coragem de dizer, inexistente de Voldemort, eu mostro a essas crianças a beleza que existe na magia, é aqui que eles aprendem a se defender do mal, é aqui que eles executam feitiços simples, onde podem sorrir, onde eu posso mostrar como a vida deles deveria ser. É aqui, bem debaixo dos olhos dos comensais que esses jovens bruxos e bruxas, forçados a crescer tão rapidamente encontram coragem para continuar nossa luta, é aqui que a resistência se reaviva e a esperança mantém seu brilho.

Hoje é um desses dias, a clareira enfeitiçada no meio da floresta brilha com pequenos escudos e animais de magia azulada, eu sei que é difícil para eles, ninguém aqui teve uma história completamente feliz, mas eles estão ali, na minha frente, juntando as gotas de alegria e bons momento e com um arco de magia, conjurando pálidos patronos, pequenas chamas de luz azul em meio a escuridão que o mundo bruxo se encontra.

As vezes é difícil saber qual criança ajudar, elas mudam ao chegar aqui, e nem sempre podemos esperar para saber qual delas é confiável. Na maioria das vezes eu me culpo por ter de escolher entre eles, e quando eu o faço, eu me odeio ainda mais, me odeio porque aprendi a reconhecer o olhar no rosto de cada de um, me odeio por saber quem retirar do grupo que nunca aprendera a fazer um patrono, mas acima de tudo, me odeio porque ao separa-los eu os estou vendo como soldados do exercito de Voldemort e não como crianças que merecem respeito e proteção. No fundo eu sei que isso precisa ser feito, que estou salvando ao menos alguns deles, que alguns realmente chegam aqui como pequenos comensais da morte, mas isso não diminui a dor e a culpa que sinto.

Duas das crianças menores estão olhando para mim agora, eu devolvo seu olhar e eles me sorriem com encanto ao apontar algo, acompanho seus dedos e sigo seus olhares ainda tão infantis e sorrio com orgulho e admiração ao ver o patrono dela bater as asas ao ser perseguido pelo pequeno patrono quadrúpede dele. Me demoro um momento a mais os observando, eles são primos, chegaram aqui juntos a quase seis meses, eles provavelmente não tem a mais ninguém. Uma criança puxa minha manga e aponta alguém no final da clareira, imediatamente a puxo para trás de mim e me preparo para lutar, mas reconheço aquela sombra, então tranquilizo as crianças antes de me aproximar.

Ele tem a minha idade, talvez um ano mais, esta usando as vestes dos comensais de elite, mesmo não tendo mais do que 25 anos. Ele segura meu ombro e sorri, há um vazio triste em seu olhos que provavelmente se reflete nos meus, ele esta observando as crianças que se tornam mais nítidas com o ameaçar do nascer do Sol, é hora de voltar para o castelo. Ele segue na frente, nem sempre podemos contar com uma proteção ao voltarmos, e ele estar aqui indica que algo está mudando, que estaremos a salvo por mais um dia, que eu os manterei seguros por mais uma semana, mais um ano quem sabe...

Quando a última criança esta em relativa segurança e eu o vejo partir em direção ao escritório do diretor para o relatório da manhã, são suas palavras que me acompanham e calam aquela voz que teima em voltar. É a voz dele dizendo com uma ternura que a muito não ouvia, que embora eu diga que minha força vem daquelas crianças, é na verdade minha coragem e bondade que as faz lutar, que dá a elas uma razão para seguir, que é a minha coragem que o faz continuar forte nessa batalha. E com suas palavras ecoando em minha mente é que eu acredito que estou fazendo o certo e aceito que por pior que tudo esteja, que por mais erradas que sejam as circunstâncias, eu estou no lugar certo.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que é uma história meio confusa, cheias de 'e se', mas sua opinião é muito importante, então, se quiser deixar um comentário, ficarei realmente feliz ^^



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