A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 16
Sanduíches resolvem fazer uma reunião


Notas iniciais do capítulo

' Corto a voz de ontem. Quero ouvir o amanhã que o vento traz. ' — RÁ, Amon.



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Capítulo XVI — Sanduíches resolvem fazer uma reunião

∴ 15/03/16 

Amon's POV

O meu primeiro dia de trabalho havia sido ótimo.  Queria chegar logo em casa para que pudesse contar a X que tinha adorado o ambiente e que continuaria dando o meu melhor naquela loja de jogos. O lado ruim é que eu demoraria três meses para receber o primeiro salário, mas pelo menos receberia dos três ao mesmo tempo.

Uma senhora tinha puxado assunto comigo há alguns minutos sobre como a passagem do ônibus tinha aumentado tanto nas últimas semanas. Eu apenas concordei com ela usando a cabeça, como sempre. Tinha dificuldade em manter assunto com as pessoas. Com exceção de minha especialidade, é claro: Joguinhos.

Me levantei do assento e pedi licença à senhora para passar e poder fazer sinal sonoro, para que o motorista soubesse que eu queria saltar do veículo. Fiquei na dúvida se me despedia dela, então só dei um pequeno sorriso. Fui retribuído com outro, junto de um "Fique com Deus".

O ponto em que eu saltava não era tão longe do meu novo lar. Então, em poucos minutos, alcancei a grande porta de cor marfim.

Antes de tocar a campainha, ouvi um grito super alto e histérico vindo do lado de dentro e algumas vozes masculinas. O que era estranho, já que eu era o único homem da casa, até onde eu achava.

Toquei a campainha. Nenhum som saiu dela, talvez estivesse com defeito. A campainha não funcionou. Hmm. Decidi dar batidas fortes da porta.

— Ah, deve ser o Amon! — Agora era a voz da pessoa que eu ganhei mais intimidade nos últimos dois dias. A porta se abriu e era ela mesma. — Koé, cara!

— Oi. — respondi, logo recebendo um cafuné rápido no meu cabelo cheio de cachinhos.

— Gente nova, esse é o Amon. Ele é legal. — X saiu da frente e eu pude ver quem estava na sala.

Primeiro rapaz: Ele era o mais notável, portanto foi o que eu vi primeiro. Com seu cabelo negro e curto balançando, o garoto corria de um lado da cozinha até o outro, pegando muita comida com os braços.

Segundo rapaz: Estava isolado de todos, em um canto perto da porta. Na base da escada, o loiro apoiava um pé na parede, não se importando se ia sujá-la.

Terceiro rapaz: Um pouco alto. Acho que o que mais chamava atenção nele é que usava óculos grandes e possuía um corpo muito estreito. Ele sorria ao lado da dona do grito histérico que tinha ouvido do lado de fora da casa:

Lavínia, ainda gritando um pouco, abraçava o quarto rapaz, que eu primeiramente o vi de costas e só pude notar seu cabelo que beirava a cor laranja, mas ainda podia se dizer que era uma cor de castanho bem estranha.

 Morgana e Julieta também sorriam, enquanto sentadas em um dos dois sofás velhos e mal tratados da casa de X. Em poucos segundos, todos olharam para mim.

— E aí, moço! — O quarto rapaz veio até mim, estendendo a mão. — Você que é o Amon, então... Eu sou o Ty. — Ele sorria enquanto eu apertava sua mão.

O rapaz dos óculos grandes deu um aceno pra mim e eu retribuí.

— Aquele lá é o Peagá. — Ty comentou, apontando pro garoto. — Ele é meio calado, mas é bem legal. Me disseram que você também é meio calado, — Ele deu uma risadinha, "tossindo" o nome de Julieta. — então vocês devem se dar bem, talvez.

Olhei para o jovem recostado na parede.

— Esse é o Lomba. — As apresentações de Ty ainda não haviam terminado. — Ele é meio louco, que nem aquele esfomeado lá.

O meu novo colega dono de olheiras abaixo dos olhos castanhos apontou para o cara da cozinha, gritando seu nome: Riko.

Riko ouviu o chamado e trouxe bastante comida para a mesa, começando a comê-la logo em seguida.

— Prazer. — Ele disse de boca cheia.

Assenti com a cabeça, dando um sorriso leve. X viu que eu estava meio confuso e explicou.

— São nossos novos "parasitas". Esse barraco está ficando cheio de gente irada!

Ela parecia animada, então não via motivos para eu não ficar também. Nessa hora, Ty e Peagá já haviam voltado a conversar com Lavínia e explicavam sobre uma fuga de prisão ou algo assim.

Deve ser aquela que eu tinha pouco ouvido falar por X, no dia em que nos conhecemos, dois dias atrás. Decidi que não estava realmente curioso, então subi para o andar de cima, passando por Lomba. Trocamos olhares, como se fosse um "Boa noite".

A subida me trouxe mais exaustão e então eu fui para o banheiro tomar um banho.

Já eram 23h e eu fui dormir em um dos quatro quartos da casa, tentando não pensar na mulher que eu estava me apaixonando.

O dia acordou muito cedo para mim. Não consegui dormir direito, então de madrugava eu já estava de pé.

Mesmo no escuro, percebi que haviam duas pessoas no mesmo quarto que eu, mas não me preocupei em ver quem era.

Desci as escadas e fui ver se tinha algo bom passando na TV. Acabei deixando o controle de lado quando cheguei a um canal de desenho animado. Fiquei o vendo por horas, até que o Sol nasceu e as primeiras pessoas foram chegando à sala, todas sonolentas.

Quer dizer... Quase todas.

— Gente! — Lavínia foi a quinta a descer, depois de Ty, Peagá e Riko. — Vamos animar essa casa!

A loira correu até a cozinha e encheu uma xícara de café, pegando uma cerveja dentro da geladeira. Ela não iria...

— Ty! Ty! Ty! — correu até o amigo, sentado no sofá conversando com Riko. — Vamos comemorar! Que você chegou! Vamos! Que você apareceu! Que você não morreu! Que você não está preso! Vamos!

Ela arrastou um copo grande para o garoto a fim de lhe dar bebida.

— Lavínia, você sabe que eu não quero. — rejeitou. — Eu vou jogar videogame com o Riko.

— Onde eu encaixo esse fio? — Peagá perguntou com um cabo HDMI na mão.

— Um lado na TV e o outro atrás do console, duh.

— Mas não tem buraco desse tipo na TV.

— Oxe...

— Deixa isso pra lá, cara. — Lavínia voltou a colocar o copo na frente de Ty. — Bebe logo, vai. Vamos começar o dia feliz.

— Não deixo, não. Eu tenho uma solução. — Ty se levantou e foi até o cabo HDMI, o pegando e o levando para o andar de cima.

— E vocês dois? — A guitarrista estava ficando muito agitada. Bebeu mais um gole da mistura que ela tinha feito com cerveja e café. — Vocês bebem?

Não falei nada, só balancei a cabeça negativamente. Riko pareceu estar na dúvida, então pegou o copo.

Mal tinha colocado a bebida na boca, cuspiu tudo para fora como em um jato.

— Que horrível! — Ele mostrou a língua. — O que tem pra comer? — E foi pra cozinha, fazer o café da manhã junto com Peagá.

— Mas que horror... — A loira terminou de beber, mas logo pôs mais de cerveja na xícara. — Reprovar uma coisa deliciosa dessas...

Dei de ombros e continuei no meu canto, pensando se os jogos que os meninos iriam jogar eram novos ou não. De qualquer jeito, eu tinha que me atualizar para virar um balconista perfeito, então se Ty conseguisse um cabo certo, eu pediria para jogar.

— Ô, Nômade! Tá me olhando por quê?

Não tinha percebido que enquanto pensava no meu trabalho, estava com meus olhos direcionado à jovem tomando seu "café da manhã".

— Não importa. 'Tá calor. — Ela comentou antes que eu respondesse alguma coisa, retirando a camisa que usava, mostrando seu top sutiã preto.

Não estava surpreso ou sem graça. Já tinha me acostumado com esse jeito de Lavínia pelos últimos dias de convívio na mesma casa.

Eram 10h30 da manhã, quase hora de eu sair para almoçar e trabalhar, quando X, Morgana e Julieta desceram pela escada.

— E aí, galera? — A de cabelo arroxeado cumprimentou. — Cadê as batalhas que vocês ontem falaram que ia ter agora de manhã?

Peagá veio para a mesa da sala, trazendo seu prato com um sanduíche.

— Aparentemente, Ty trouxe o cabo errado e está lá em cima tentando consertar.

— Bom dia, gente! — Agora o próprio Ty descia as escadas correndo, com um cabo diferente na mão.

— Esse puto me acordou! — Lomba vinha atrás dele, reclamando.

— Já pedi desculpas! Quem mandou ficar no quarto em que estavam os meus apetrechos?

Como sempre, tentava entender qual eram os assuntos das conversas sem perguntar nada.

— Conseguiu, cara? — Riko perguntou, já tirando o cabo da mão do amigo e dando uma risada estranha.

— Eu usei o pedaço de um outro fio para emendar nesse, assim criando um novo que servisse para resolver o problema. — O alaranjado explicou.

— Ty, Ty... — Lavínia se pronunciou. — Sempre com essas suas invenções malucas.

— Lavy! — Julieta gritou. — Já está enchendo a cara essa hora da manhã, garota?

— Deixa ela. Ela faz o que ela quiser. Vida dela, problema dela. — X a advogou, enquanto ia até sua cliente. — Me dá um teco.

Aquela casa estava virando uma bagunça. Tanto falatório logo de manhã. Ainda bem que sairia de casa em pouco tempo.

O videogame foi ligado por Riko, mas ninguém tinha ido jogar ainda. As pessoas tinham feitos sanduíches que nem o de Peagá por preguiça e tinham se sentado na mesa para comer, como se nós fôssemos civilizados.

Eu e Lomba ficamos em cadeiras separadas, porque eu já tinha tomado meu café e o loiro simplesmente não queria comer nada por enquanto.

 — Gente, eu tenho uma ideia. — Ty, que estava sentado na ponta, começou.

— Sobre aquilo? — Peagá terminou seu sanduíche, interessado. Não sabia o que era "aquilo".

— Sim... — Ty tirou um pedaço de papel do casaco verde que estava usando. — Sir K. Rua Abelha Negra, 42.

— E o que é isso? Ou "aquilo"? — Julieta estava tão curiosa quanto eu.

Ty primeiro abaixou o papel na mesa e algumas pessoas se apoiaram para ver o que estava escrito. Quando chegou minha vez, vi que era o endereço que o garoto havia falado. Depois se preparou para responder.

— Os assaltantes que causaram a morte da minha mãe e o desaparecimento do meu irmão. — Tinha acompanhado essa história pelas conversas com Lavínia e Julieta, então já sabia. — Eles admitiram seus crimes na delegacia e agora estão presos. Sentenciados a alguns anos de cadeia.

— E o que esse bilhete tem a ver? — Lavínia fez a próxima pergunta.

Algumas pessoas estavam prestando atenção no assunto profundamente, como, por exemplo, Morgana. Mas Riko era o maior exemplo de dispersão, pois apenas se preocupava em devorar o que estava no seu prato. De vez em quando pegava um pedacinho da comida dos outros. Peagá, se posicionou mais à frente em sua cadeira e ajudou na explicação.

— Com base nas coisas que o Ty falou que os assaltantes deixaram escapar no dia do assassinato, eu e ele achamos que esses dois caras vestidos de ninja trabalham para alguém. Para alguém maior e provavelmente mais perigoso.

Uma batida se fez ouvida na mesa. X lembrara de uma coisa.

— Sim! — Ela disse prolongadamente. — Eu sei quem são esses caras! São um grupo de ladrões aí super grande que uma vez já me chamaram pra fazer parte.

— E você aceitou? — Ty estava surpreso, mas acho que poucas pessoas perceberiam isso pela sua expressão.

— Claro que não. Eu sou a Princesa do Tráfico, querido. Eu trabalho sozinha.

Lomba fez aspas com as mãos logo depois de ela dizer "trabalho", mas acho que só eu, por estar ao seu lado, notei.

— Eu acho que esse Sir K deve ser o chefe. — Ela coçou a cabeça. — Pelo o que eu me lembro de alguns anos atrás, ele parecia ser um cara bem organizado e perfeccionista.

— A gente também acha! — Ty exaltou um pouco a voz, animado e sorrindo para X. — Esse lugar deve ser o endereço da base deles ou alguma coisa do tipo.

— Tá ok, mas eu não entendo ainda o porquê de você ter começado esse assunto. — Julieta cortou os dois.

— A esfera. — Ele respondeu apenas com isso e eu percebi que até seu amigo magrelo não tinha entendido.

— O quê? — Morgana finalmente falou alguma coisa.

— Eles vieram atrás de uma esfera que a gente guardava há muito tempo. Pouco vi dela. No momento em que ela apareceu na minha frente já havia sumido levando meu irmão junto.

— Ah, então foi assim que ele sumiu? — A morena parecia também ter visto a história nos noticiários, como eu. — Sumiu por causa de uma esfera?

— Ela parecia mágica, sei lá. Não sei dizer. A única pessoa que sabia sobre ela morreu, okay?

— Ok, desculpa. — fechou a boca de novo.

— Essa deve ser a tal "bolinha diva" que a Jan nos falou, mas como assim mágica? — Acho que Peagá fingiu não ter ouvido essa parte da história ainda, mas não tinha certeza.

O baterista alterou a expressão ao ouvir o provável nome de outra amiga deles.

— Já disse que não sei nada sobre ela, cara. — Ty continuou e mudou o semblante novamente. — E é por isso que eu tenho um plano.

— Visitar o endereço. — Julieta se pronunciou enquanto prendia o cabelo em um coque. — Conhecer esse K. Descobrir o que é essa magia. Tentar achar pistas sobre o paradeiro do Beno. Faz todo o sentido.

— Isso!

Não conhecia o Beno ainda, mas o garoto Kabroom desaparecido parecia ser muito importante para eles.

— Bonita ideia, cara. — Peagá elogiou. — Mas você não acha que pode ser perigoso? Se meter com uma gangue de bandidos armados...

— É por isso que eu quero a ajuda de vocês, amigos. — respondeu sorrindo. — Eu quero ir até esse local preparado para lutar.

— Genial! — X exclamou. — 'Tô dentro!

— Eu também! — Lavínia, já meio alterada por tanta cerveja, se animou do mesmo jeito para a aventura.

 Cinco segundos com todo mundo em silêncio. Nesse curto espaço de tempo pensei no perigo que o pessoal correria, pensei se deveria ser útil para alguma coisa, pensei no que aconteceria se tudo desse errado. Será que K era um cara tão mau assim? Será que poderiam conversar com ele em paz ou teriam que lutar para o que queriam?

— Mais alguém? — Ty olhou para cada pessoa que estava por perto, fazendo um sinal um pouco decepcionado para Riko. X estava indo nessa missão enrascada e eu não queria que nenhum mal acontecesse a ela.

Era isso. Já havia tomado minha decisão. Se alguma coisa ruim ocorresse, eu seria o primeiro a tentar salvá-la. Levantei minha mão, indicando que topava me arriscar.

— Certo. — Ninguém mais se pronunciou. — Amon, Lavínia, X e eu. Quatro penetras em seja lá que lugar é esse. — sorriu, por fim.

Se levantou da cadeira, mas ficou parado em pé no mesmo lugar.

— Porém... Eu preciso de alguns dias para montar armas e transformar roupas nos melhores escudos contra tiros e facas.

— Armas? — X perguntou, revirando os olhos cor de mel. — Tem algumas aqui em casa.

Ty chegou até ela e encarou suas pupilas.

— Com certeza nenhuma delas chega aos pés da minha espada, não é mesmo?

— Isso é o que vamos ver! Eu vou te ajudar.

— Toda ajuda é bem-vinda. — disse, terminando seu discurso e subindo pelas escadas com seu sanduíche.

— Cara, isso vai ser irado! — X gritou ao passar por mim para seguir o garoto.

— É. Talvez seja mesmo. — Minha primeira fala do dia não era muito animadora.


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo inteiro em um só POV em muito tempo! Aeeeeee
Jr
:258 (25/02/2016)



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