A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 17
A resposta vai até você


Notas iniciais do capítulo

' Ser ajudante de maluco é dahora. ' — X.



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Capítulo XVII — A resposta vai até você

∴ 16/03/16 

X's POV

Irado. Genial. Mara. Que saudades de uma adrenalina como essa. Já fazia alguns meses que eu não saía por aí para fazer algo que me metesse em encrenca. Afinal, como alguém pode viver uma vida feliz sem ter o medo de se ferrar em algum momento, não é mesmo?

Isso fazia parte de mim. Fazia parte do meu ser vivo. A vontade de visitar lugares novos sendo notada por todos. Ser lembrada por coisas fascinantes que eu de uma hora para a outra decidia fazer, sem me importar em acabar com a minha miserável vida ou coisas do tipo.

Poderia até ir para a prisão, não importa. Já fugi de duas. Dei uma risada maléfica e mental enquanto subia pelos degraus da escada de madeira.

 O carinha estava entrando no quarto de Amon. Acho que era lá que ele tinha guardado as suas bugigangas que trouxera de sua casa. Era noite quando ele chegou e eu não prestei atenção, mas tinha certeza que devia ter um pouco de tralha legal ali no meio.

— Ei, cara. — O chamei. — O que é que você está fazendo, indo pro quarto do meu camarada?

Ele passou pela porta e se virou para mim.

— No outro quarto ficamos eu, a Ju, Peagá e Lavy. — Respondeu fazendo gesto com a mão indicando quantidade e depois um no estilo Shrug. — Ficou muito cheio para que eu pudesse guardar as minhas coisas que não houvessem necessidade de permanecer no quarto.

Era verdade. Depois que quatro novos companheiros de lar chegaram, a casa realmente tinha ficado com muito menos espaço do que tinha quando eu achara ela abandonada.

— Certo... — Entrei junto com ele, esbarrando em seu ombro. — Eu te ajudo.

Já estava pegando uma mala qualquer que eu achei totalmente fechada, provavelmente era aquela.

— Não, moça. — Ele veio até mim e pegou a alça da minha mão, levantando a bolsa nas costas. — Pra que eu vou deixar você carregar esse peso?

Fez uma careta. Talvez estivesse realmente pesada e ele estivesse mostrando a língua com os olhos caramelados virados para cima a fim de disfarçar o esforço.

— E eu posso ajudar em alguma coisa? — Arregalei os olhos, entortando a boca para cima e batendo as mãos de lado na coxa.

O rapaz pensou um pouco antes de responder. Com certeza alguém que estava acostumado a trabalhar sozinho não era familiarizado a receber propostas prestativas.

— Sim, claro. Escolha uma roupa leve do seu armário e a traga para o outro quarto. — Apontou para o quarto em que ele tinha passado a noite. Me perguntei se isso era algum tipo de cantada, se pá era impressão minha. Mas se fosse uma, teria sido quase boa. — Vou costurar fibras.

E saiu pela porta, caminhando com passos a mais por conta da bagagem nas costas.

Fui para o meu quarto. Precisava escolher alguma coisa leve, o que não era difícil já que eu só usava roupas do tipo.

Abri o armário. Ele precisava de uma daquelas faxinas básicas. Desde que voltara para casa não tive disposição o suficiente para limpá-lo, mas prometi a mim mesma que se saísse viva daquela missão suicida, o limparia sem reclamar. Igualmente, o mecânico da casa falou a mesma coisa sobre consertar a campainha, que desde antes de eu encontrar a casa ela não funcionava.

Uma das minhas camisetas favoritas passou na frente da minha visão. Tinha listras azuis e brancas na horizontal e mangas curtas. Para combinar ou mais pela minha preferência mesmo, também peguei um gorro dessa vez com listras pretas e brancas que eu tinha desde a minha infância. Será que dava pra proteger a minha cabeça com aquilo?

Quando eu passei pelo corredor, pude ouvir a voz de um homem, vinda da sala.

— Já começou cagando, seu filho de uma puta? — Acho que o dono era o garoto que eu tinha esquecido o nome, já que não lembrava mesmo de ter escutado aquela voz. Era grave, mas não era de Amon. Muito menos de Ty, que eu sabia que estava no outro quarto e não tinha uma afinação baixa, de qualquer maneira.

Algumas risadas histéricas vieram depois, mas essas eu sabia os donos. Lavínia que sempre ria daquela maneira e um dos garotos novos, Riko, que sempre soltava esses ruídos estranhos pela boca.

Entrei no quarto de porta amarela e lá ele estava. Com várias linhas de costura espalhadas pelo chão, junto com um tecido de uma mistura entre branco e prateado. Com a agulha entre os dentes, me chamou com a mão.

 — Vou precisar fazer alguns ajustes na sua camisa, tudo bem? — Acho que foi isso que ele disse, porque com aquilo entre os dentes não deu pra entender direito.

Acho que ele percebeu pela minha cara de confusa. Só entreguei a roupa e o jovem já pôs o instrumento de costura em mãos.

— Encher o tecido com camadas de fibras de polietileno. Acho que só duas já conseguem dar pro gasto, não acha?

Devolvi o gesto em Shrug.

— De cinco toneladas eu não entendi nem uma grama do que você disse, mano. — Uma risada sincera saiu das minhas cordas vocais, o que fez ele sorrir de orelha a orelha.

Ty levantou a minha camisa, enquanto se sentava no chão, apoiando as costas na base da cama. Mostrou-a para mim.

— Essa belezura aqui vai receber um material sintático que vai impedir que balas ultrapassem o seu fígado, digamos assim. É pouco eficiente para lâminas, então você vai ter que tomar um cuidado aí.

Ao ouvir a palavra "lâmina", meus olhos correram soltos pelo o quarto procurando uma certa coisinha.

— Você disse que tinha uma espada! Cadê? Posso ver?

O homem estreitou os olhos para mim, desconfiado. Algumas pessoas se incomodavam com o meu jeito totalmente cara de pau de pedir as coisas, mas eu nunca liguei para o que elas pensavam. O máximo que eu receberia seria um "não", então o que custava eu pedir?

— Embaixo do beliche. — respondeu com nada mais que essas exatas palavras.

Fui até o local indicado e lá encontrei uma bainha prateada com detalhes dourados na ponta. Ela guardava uma daquelas espadas antigas de samurai. A observei, levando alguns segundos a mais para ter coragem de pegá-la e visualizá-la fora de sua capa.

— Cuidado. — O dono alertou. — É mais fácil de se machucar com isso aí do que com qualquer arma automática que você tenha visto na sua vida.

Enquanto eu a balançava um pouco, o costureiro começou seu trabalho. Sobrepondo o tecido que estava espalhado no chão em cima da camisa, ele foi passando a linha com a agulha pelas pontas, se certificando que a tal da fibra sintética estivesse presa o bastante.

— Sua amiguinha Lavínia me contou algumas coisas sobre você. — Disse após algum tempo. — Avisou que você é super alegre.

Guardei a espada em sua casinha de couro. Ty virou o olhar para mim por dois segundos e deu um sorriso muito pequeno que quase passou despercebido.

— Ela disse que você costuma estar sempre contando piadas. — continuei. — Mas você chegou aqui há quinze horas e até agora eu não ouvi nenhuma.

Ele abaixou um pouco mais a cabeça, acho que tentando se concentrar no que tinha que fazer. Usei esse espaço de tempo para deitar na cama em que ele estava apoiado, ficando perto da cabeça dele. Acho que era o travesseiro da Julieta o que eu usei para apoiar o meu queixo.

— É... — O cara concordou. — Esses últimos dias foram meio chocantes para mim, então não tenho pensado nesse tipo de coisa.

Lembrei do momento em que o próprio contou que tinha perdido a mãe quando dois desconhecidos invadiram seu lar.

— Ah, é. Verdade. — Fechei os olhos um segundo, lembrando um pouco do meu passado. — Foi mal.

Tomei coragem e mexi no cabelo dele, o bagunçando um pouco mais do que já estava bagunçado, algo que eu queria fazer desde a hora em que o vi pela primeira vez. Esperava receber uma reação adversa, já que normalmente pessoas com cabelo chamativo não gostam de contato, mas como ele não se importou, eu continuei mexendo até que sem querer comecei a fazer carinho.

— Esses ninjas que você falou no café da manhã... Eu tenho certeza que eles fazem parte da gangue que queria me "adotar".

— Você tem um rosto maluco. — Gargalhei e concordei com o que ele disse sobre mim. — Mas eu não acreditaria se me dissessem que você é "da pesada".

Fiz um barulho modesto com a boca, metida.

— Eu nunca matei ninguém. — Menti. — Eu sou só uma traficante que já foi pega duas vezes.

— Ah. — Acho que ele ficou um pouco frustrado. — Então se nos atacassem na Rua Abelha Negra, você não revidaria?

Agora ele tinha me posto em uma armadilha. Levantei da cama e fiz uma pose de gangster na frente dele.

— Mas é claro que eu revidaria! — protestei, arregalando os olhos na cara dele e pus minhas mãos na cintura, fingindo estar brava. — Tá me chamando de frouxa?

Ty levantou os braços como em uma rendição. Cheguei mais perto dele e sentei do seu lado.

— Eu sou a Princesa do Tráfico, querido. — Não tinha aguentado ficar em pé por tanto tempo. Minha cabeça estava pesada. — Qualquer um que se meta comigo vai levar chumbo.

E assim o carregador de malas rompeu em risadas, provavelmente sendo um dos momentos mais divertidos que ele teve depois de ter perdido um pedaço importante da sua família. Gostei disso, tinha o feito rir de verdade.

— É, mas eu acho que essa tal da "Princesa do Tráfico" não dormiu perfeitamente bem essa noite, hein. — Agora seu cabelo estava com uma aparência muito mais louca. — Durma mais um pouco enquanto eu continuo costurando aqui.

Ele estava falando a verdade, eu ainda estava com sono. Resmunguei um "ok" e ao invés de ir para o meu quarto ou me jogar em alguma das camas por perto, me ajeitei para repousar minha cabeça na sua coxa.

Não sei como que ele estava trabalhando agora, mas meu cafuné com certeza estava sendo retribuído pela sua grande boa vontade.

[x]

Ed’s POV

Andei de um lado para o outro.

Em todo esse tempo livre que eu passava enfurnado na casa do Kito, ocupava grande parte dele com leitura. Livros, jornais, matérias na internet... Nada prendia minha atenção em meio a tantas notícias catastróficas que o jornal local tanto mostrava, portanto fiquei muito surpreso ao ler um nome conhecido. Douglas Wyles. Um antigo vigilante. Apressei-me a ler a pequena matéria, que não ocupava nem mesmo um quinto da folha. Era o obituário. Notificava, simples e diretamente, seu assassinato.

Isso tinha me feito levantar em um pulo, inquieto. Minha mente subitamente ficara a mil, acostumada a ligar peças. Por que Douglas teria sido atacado? Alguma rixa? Um assalto que deu errado? Ele era um homem que saberia se defender, mesmo depois de ter ficado um tempo parado. Então o que ou quem teria a capacidade para pegá-lo dessa forma? Só poderia ser alguém poderoso e influente. Meus inimigos de longa data foram os primeiros a chegar em meu pensamento. A Máfia certamente poderia ter enviado alguém com habilidades boas o suficiente para render meu velho amigo.

Se a Máfia tinha ido atrás dele, deveria haver um porquê. E se isso tinha relação com os ex-vigilantes, poderia estar conectado ao que aconteceu há alguns dias na casa do Kaine. Isso não significa que eu seria o próximo? Afinal, quando Kaine foi capturado eu também estava lá. Seria um plano eficiente capaz de derrubar dois coelhos em uma única cajadada.

Seria um problema se soubessem em que local eu estou ficando. Não quero trazer problemas para o Fadul. Por outro lado, não posso mais fingir que isso não tem a ver comigo e que posso ficar quieto. A Máfia é o governo. E o governo pode me atacar quando bem entender. Basta ter informações o bastante. O único jeito de me equiparar a eles enquanto estou sozinho é ter vantagens quanto a informações.

Dirigi-me ao quarto principal, pertencente ao dono da casa, e liguei seu laptop. Pouco depois, já acessando a internet, comecei a buscar por detetives e hackers com muita credibilidade. O primeiro nome que me chamou a atenção foi Francesco, mas ele trabalhava mais com invasões estilo do Anonymous. Dani e Nike eram outros muito bons. Estava seriamente cogitando a possibilidade de contatar Dani, que tinha muito crédito como detetive, quando a tela se encheu de mensagens. Tentei pará-las, o que se mostrou impossível. Em busca de um hacker, eu fui hackeado. Muito bom.

De Berílio para VOCÊ, dizia a primeira.

Por que continuar procurando — A mensagem acabava assim, sendo completada por uma pouco distante – alguém para seus serviços — Mais uma interrupção – quando a resposta...

JÁ ESTÁ AQUI?, essa pipocara em caixa alta.

Você gosta de mágica? Então — Outra mensagem surgira. – Ligue para mim!

Um número se fez visível, provavelmente de um telefone descartável qualquer. É. Se Berílio queria atenção, ele conseguiu. Espero que ele seja capaz de me ajudar.

Peguei o telefone sem fio, discando o número com certa pressa, antes que a tela pudesse apagar ou qualquer coisa do tipo. Nunca se sabe o que diabos esses caras fazem no nosso computador.

— Alô?

— Em que posso ajudá-lo, senhor Ribs? - perguntou, em um tom divertido.

[x]

Esse era, possivelmente, o local de trabalho do Mágico. Berílio, o Mágico. Isso era o mais perto que eu chegaria de seu nome verdadeiro. Uma sala com parca iluminação, muitos baralhos aparentemente caros empilhados organizadamente, fotos e teias de informação, três computadores, mais monitores e muitos cabos. Suspeito que um deles era de guitarra.

Normalmente hackers trabalham anonimamente ou por encontros em locais públicos, afinal são associados online. Essa é a vantagem de ser ambos ratos virtuais quanto detetives. Um moquifo só seu.

Observei meu empregado. Utilizava uma camisa branca com estampas relacionadas à mágica e sua barbicha dava a sua expressão um ar mais maroto. Ainda assim, óculos escuros cobriam seu rosto, de forma misteriosa. O máximo que poderia supor é que não passava dos 28 anos. Talvez 26.

— Não está meio escuro para esses óculos? - inquiri.

— Precisamente.

Estranhei sua resposta, no entanto ignorei isso, enquanto me sentava em um puff macio que ficava no chão.

— Vamos ao trabalho?

— Oh. Acho que você não contava com toda essa habilidade da minha parte, não é? - Ele rebateu, sem modéstia. - Já me adiantei. Estava esperando você chegar para continuar o serviço, mas por ora já tenho alguns dados sobre o Senhor Wyles.

Ajeitei-me melhor no puff, interessado.

— A câmera da rua de trás captou duas figuras. A qualidade dela é péssima, porém consegui utilizar alguns programas e melhorar em muito a qualidade. Utilizando boas fontes e conhecidos vantajosos, com alguma busca consegui descobrir a identidade de ambos.

— E então?

— O baixinho gordo se chama Santiago e é chefe de uma sessão do governo. Não sei qual sua função lá, pouco se sabe dessa área, e ainda assim ouvi dizer que sua sessão mexe com coisas perigosas e pessoas problemáticas sempre acabam caladas. O rapaz com ele se chama Luciano, tem apenas 29 anos e já trabalha junto com a Máfia há um tempo. O codinome é Moustache, você já pode imaginar o porquê.

Certo, isso não ajudava em muita coisa, entretanto era mais informação do que eu poderia conseguir sozinho em meses.

— Algo mais?

— Não muito. Não sei o que exatamente eles foram fazer lá. Talvez algo relacionado a esse blog cujo domínio pertence a Wyles. O último post, datado do mesmo dia de sua morte, e na realidade os do último mês também... todos tratavam sobre críticas ao governo. - Fiquei curioso e Berílio logo mostrou também estar, pelo mesmo motivo. - Não entendo o porquê disso agora, parece que há anos atrás ele tinha outros blogs que tratavam do mesmo tempo, mas ficaram todos inativos em–

— Agosto de 2011.

— Isso. - confirmou, claramente surpreso. - Algo em especial nessa data? - senti meus músculos enrijecerem.

— Não.

— Sr. Ribs... Se quiser um trabalho bem feito, preciso que seja sincero comigo e não esconda nada que possa ser impor–

— Minha mulher morreu e eu entrei em coma.

Falei da maneira mais ríspida que essa frase poderia ter sido pronunciada. O rapaz levantou seus óculos, o olhar sério e momentaneamente absorto em dor. O olhar de quem entendia. Por um segundo, desejei que ele tivesse ficado apenas sem graça. Essa dor não deveria assolar alguém tão jovem. Embora eu não fosse tão mais velho, sabia o quão desgraçado isso era.

— Me perdoe.

— Tudo bem. Por que não continuamos com o trabalho? Vejamos em que posso ser útil. - Eu me levantei.

Ele assentiu, balançando os cachos longos.

Isso seria cansativo.


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Notas finais do capítulo

É realmente muito bom dividir capítulos com o Jr ou escrever com auxílio, recomendo seriamente escrever assim asijdija ♡
Reviews? ✨
Boo.

(08/03/2016)



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