A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 15
Encontrando a Jovem Guarda


Notas iniciais do capítulo

' De repente, todo mundo quer tocar no instrumento do Ty. ' — NETO, Lomba.



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Capítulo XV — Encontrando a Jovem Guarda

∴ 15/03/16 

Julieta's POV

Palavras enchiam minha cabeça com pensamentos, enquanto estava sentada em frente à lareira da casa abandonada de X.

Pobre menino já perdeu tanto. Prisão nos leva a ter espanto.

Essas palavras eram cantadas em minha mente, com direito a métrica e sonoridade, como se fosse uma música. É verdade que eu era uma cantora e tals. Já lidei com inspirações que vinham subitamente, mas essa era diferente. Eu não tinha motivo pra pensar nela. Ela simplesmente apareceu, me infernizando um dia inteiro.

E isso não era o pior. As frases tinham de fato um significado. Ao invés de as coisas acontecerem e a criatividade vir por elas, a criatividade veio e as coisas aconteceram daí. Era estranho, como algo totalmente suspeito parecia se encaixar de um jeito mágico.

Acho que só uma pessoa entenderia minha inquietação, mas ela estava perdida e eu tinha que encontrá-la.

O que me leva até hoje, quando uma nova estrofe musical invade o meu cérebro, podendo me dar uma pista do que fazer.

"Velho lar

Não há ninguém

A encontrar

Ou será... Que tem

Tenho que tentar"

— Que melodia boa. — A menina de cabelo longo e negro chegou até onde eu estava. — Foi você que fez?

Distraída, assenti com a cabeça sem pensar.

— E essa letra aí? — Ela era curiosa demais. — De onde vem?

— Não sei, Morgana. — respondi. Não sabia mesmo. — A ideia decidiu se mostrar para mim e veio.

A jovem revirou os olhos.

— Já te disse que você pode me chamar pelo meu apelido, July. — Ela pediu, pegando nas minhas mãos. — Depois de tanto tempo conversando sobre música, eu já a considero minha amiga.

Assenti novamente, sem graça. Um leve sorriso se formava na minha mente. Ela era uma moça legal e de bom gosto musical, além de saber cantar sobre o que entende.

— Você fica mais bonita de cabelo solto. — Ela observou, olhando para o meu cabelo. Usava-o solto em casa, à vontade.

Fiquei um pouco envergonhada, como de costume quando recebia um elogio.

— Obrigada... Gana. — Ela sorriu.

— Mas esse lar aí que você disse... — A Srta. Martins voltou ao velho assunto. — Ele é onde? Por acaso tem alguma coisa a ver com uma antiga casa?

Não tinha uma resposta explicativa para ela, mas uma coisa eu tinha certeza.

— Não acho que tenha a ver com a minha vida. — afirmei. — Talvez tenha algum significado escondido, não sei.

Os olhos da morena brilharam.

— Sério? Me fala, guria. — pediu. — Me conte sobre sua vida. Pode ser uma conversa interessante.

— Eu não falo sobre minha vida com ninguém. Mas não é como se fossem privacidades que nunca serão reveladas. Eu só nunca conto, entende? Você também deve ter seus segredos...

— Eu não tenho segredos. — A morena ajeitou o cabelo com orgulho. — Tenho coisas ocultas. É diferente.

Trocamos risadas, achei a dela engraçada, mas não comentei.

— Ontem você me disse que era de uma banda junto com a Lavínia. Me leva aonde vocês ensaiam? Eu sou curiosa para ver como que é!

O local de ensaios. A garagem. A casa. É óbvio!

Só uma pessoa do meu círculo de amigos me entenderia. E ela estava justamente no lugar que a minha misteriosa estrofe me dizia para ir.

— É claro! — respondi, mais pensando na minha descoberta do que na pergunta da menina, de fato. — O velho lar. Onde não há ninguém. É óbvio que eu te levo lá!

Morgana riu, talvez feliz em ter me ajudado com alguma coisa.

[x]

Lomba's POV

— Sério que vocês jogam essa coisa aí? — Botei minha opinião para fora, finalmente. Já estava a segurando há uns 40 segundos.

Riko olhou para mim, chateado. Aparentemente, em poucos segundos de jogo, o garoto já tinha conseguido amar a atividade. Seu personagem recebeu uma porrada forte por seu dono ter deixado de prestar atenção na televisão.

— Por que você não dá uma chance? É leg- OPA! — Seus olhos negros viraram para a TV novamente, um pouco risonho, enquanto se ajeitava no sofá.

O serzinho de macacão vermelho jogou um bastão na direção de um outro personagem que parecia um anjo e o fez voar pela tela.

— Cagão! — O garoto chato e certinho gritou. — Como você pôde ser tão cagão?! Não tem nem dois minutos de partida!

Ty Kabroom, que também estava no sofá com um controle na mão, deu uma risadinha, também sendo arremessado para fora da zona de combate do videogame.

— Sorte de principiante. — De repente não estava mais tão sorridente, e sim, decidido.

O jovem sortudo ria mais que todos, ganhando todas as primeiras lutas com facilidade, como se já jogasse há anos aquela bosta.

Observei a ridícula diversão deles, desejando que eu tivesse algo mais útil e prazeroso do que aquilo para fazer.

Em alguns minutos, Marteleto chegou a um estado em que não conseguia parar de gargalhar com as expressões que os dois mais velhos faziam quando perdiam de uma maneira estúpida.

O artista de garagem, levemente irritado com as gargalhadas, jogou almofadas no rosto do meu amigo de manicômio. O que me fez lembrar de quando o garoto implicava com Gaya.

Sentei-me na mesa, me perdendo em pensamentos e lembranças fúteis de quando Gaya nos visitava para contar sobre a vida dela e Riko fazia algum comentário sarcástico, a sacaneando. Talvez ele tenha aprendido comigo, porque eu fazia a mesma coisa. Só que pior.

Uma saudade da mulher veio à tona. Não só dela, mas um pouco também daquele Centro Psiquiátrico de Merda. Alvorada nada mais era que um nome totalmente não criativo para um local em que guardavam gente com problemas mentais.

Ou gente tão inteligente, que não é adequada ao padrão.

A minha cabeça agora estava preenchida por imagens daquela mulher de jaleco branco colado rente ao corpo, aquele tecido que eu até então não tinha totalmente certeza se era seda ou linho, andando de um jeito diferente que eu achava demais, óculos ressaltando seu olhar cansado e entediado que me dava vontade de admirar a noite inteira deixando-os mais intensos ainda.

Gaya Maluf. Ya. Maluca Gaya.

Aliás, de maluca essa garota tinha tudo. Aguentava ficar em um lugar recheado de lunáticos e gente estressada com a ajuda de nada mais nada menos do que um livro qualquer. Bastava sentar para ler, que sua tensão e seu limitado estresse se esvaía. Além de que resolveu se meter comigo por nenhuma razão, apenas veio. Talvez a atmosfera do lugar estivesse a transformando.

Meus pensamentos desnorteantes foram interrompidos por um som angelical.

— Que bosta de campainha é essa, seu famosinho sem noção? — Tentei não gritar, falando em um volume que só os três no sofá escutariam.

O jogo pausou. Peagá se levantou preocupado e foi andando até a cozinha, onde ficava a porta de entrada.

— Cuidado, amigo... — O alaranjado falou baixinho, preocupado.

O metido a intelectual deu uma olhadinha pela janela quebrada com medo de ser visto por quem estava do lado de fora e de repente sua expressão suavizou. Nisso, eu e os outros dois já estávamos perto dele.

— Ela veio até aqui. — Ele sorriu. — Que maravilhosa!

— Quem? — Ty estava aflito, um pouco curioso.

A mão do magrelo foi até a maçaneta, abrindo a porta. Demos de cara com duas mulheres. Uma moreninha que parecia ter pego um bronzeado e uma outra negra. As duas me pareciam levemente familiar, principalmente a morena, que jogou para mim um olhar de ódio e nada mais fez.

Riko olhou para mim rindo e apontando para ela. Fiquei sem entender, então só deixei a sensação estranha para escanteio.

— Quem? — repeti a pergunta, não sendo igualmente ignorado.

— Julieta! — O dono da casa abraçou a negra, como alguém que não a via há anos.

— Que campainha amável. — A outra mulher disse, com gostar, esquecendo de mim e de Riko. — Ela tem um barulhinho agradável.

Botei minha opinião para fora novamente. Quem era essa garota que aparentemente ninguém conhecia e veio chegando com esse assunto do nada?

— O quê? Ela tem um som totalmente frouxo!

As duas mulheres olharam para mim, mas a morena, com aqueles olhos expressando ódio, desviou o olhar logo, não ligando para mim.

— Fico feliz que vocês estejam bem, garotos. — A tal negra que se chamava Julieta comentou. — Foi bem tensa aquela invasão.

— Relaxa. — Ty a tranquilizou. — A gente estava numa boa, chegamos aqui fácil.

— É... — Riko começou, rindo. — A gente só teve que falar com um tal de Salgadinho!

E então começou uma crise de riso mais uma vez, Peagá olhando para ele como alguém que já estava acostumado com isso.

— E quem é você? — Ty perguntou para a morena e só então pude perceber que ele já a observava há alguns segundos.

A garota prontamente estufou o peito para se apresentar.

— Eu sou uma nova amiga da July e da Lavínia. — Julieta sorriu, talvez feliz em ter sido citada pelo apelido. — A cada conversa com ela, mais eu quero conhecer a banda de vocês. É nessa casa que vocês ensaiam?

O alaranjado olhou para a amiga esperando alguma resposta e ela apenas assentiu com a cabeça, transmitindo confiança.

— Claro, claro. Eu te mostro a garagem, é por aqui.

E lá estávamos em um tour novamente, passando pela outra porta da cozinha, acessando a escadinha que levava ao G2 e encontrando os instrumentos.

Uma bateria se localizava atrás de uma dupla de guitarras e um baixo, acompanhados de um tripé com microfone já conectado a um fio, como se estivessem esperando alguém para brincar com eles.

— Por favor não mexam nas guitarras e no baixo. — Ty pediu, sorrindo de lado, desconfortável. — Meu irmãozinho odiaria se ocorresse algum acidente com os bebês dele.

Riko olhou para mim, pronto para fazer algo proibido. Porém, dei uma encarada e ele percebeu que não era uma boa mudar os instrumentos de lugar.

Passei um tempo sentado no chão, olhando para o teto, entediado, esperando que o tour acabasse e eu pudesse beber alguma coisa deliciosa da geladeira, mas não esperava que alguma coisa nova aparecesse desde a última vez que olhara, que fora há uns vinte minutos atrás.

— O toque da campainha é um trechinho de uma das nossas músicas. — Ty sentou no banquinho de baterista enquanto dizia isso para a morena. — Uma das músicas que eu fiz. Se chama Esta Ações.

Peagá chegou perto do amigo com um violão preto e o entregou. Nisso, Julieta sorriu, adivinhando o que viria a seguir e puxou o magrelo para o cantinho, afim de conversar a sós.

O metido a violonista contou que o nome talvez não deixasse muito claro que a canção dele era sobre as quatro estações, mas na minha cabeça isso era bem óbvio. Esperava que ele não começasse a cantar sobre o outono ser sempre igual e as folhas caírem no final, ou algo igualmente tão clichê.

Eu, Riko e a menina do bronzeado observamos Ty dedilhando algumas notas em seu violão. A música parecia ter tirado um pouco a adrenalina do meu parceiro, enquanto a garota apenas apreciava a melodia com um sorriso no rosto.

Já eu, preferi não comentar nada para não causar uma confusão desnecessária, até porque se Ty ficasse furioso comigo, eu seria enxotado dessa casa sem graça e teria que voltar a acordar vendo o sol nascer quadrado.

Quando o músico chegou na parte que era tocada na campainha da casa, Riko e a menina deram uma risada, recordando do som.

— Você ainda não me disse seu nome. — Ty disse para a morena, novamente um pouco curioso.

— Ah, desculpe. — Ela deu outra risada, ajeitando o cabelo. — Meu nome é Morgana, mas pode me chamar de Gana. Você é o Ty, que eu sei. A July gosta muito de você.

Mais outro sorriso de orelha a orelha, só que agora vindo do alaranjado.

Julieta se aproximou novamente da gente, querendo dar alguma informação importante.

[x]

Peagá's POV

Entreguei o violão velho do meu amigo para o próprio. Me lembrava do dia em que ele havia apresentado para a banda a nova composição dele. Tinha adorado a suavidade da canção e agora queria ouví-la de novo, mas minha velha amiga Julieta me puxou pelo braço até a nossa mesinha de reuniões.

— Preciso falar com você, Peagá. — olhou para mim intensamente, um assunto sério chegando.

Arrumei a gola da minha camisa.

— Pode mandar.

— Lembra que, na sexta, a gente conversou sobre aquela coisa estranha?

Não lembrava, na verdade.

— Que coisa estranha?

— Aquele sonho esquisito, seu bobo. "Pobre menino já perdeu tanto. Prisão nos leva a ter espanto."

Engano meu, lembrava sim.

— Ah, sim. — Pus a mão na testa. — Sonhou com essa frase de novo?

— Não, não. Dessa vez foi diferente, foi outra frase.

— E qual foi? — Não sei se estava no clima para conversar sobre aquilo, mas estava interessado.

Ela diminuiu mais a voz, mesmo que a canção do Ty não deixasse os outros escutarem nossa conversa.

"Velho lar. Não há ninguém a encontrar. Ou será que tem? Tenho que tentar." — Ela fez uma careta. — Nossa, pondo seguida assim ela é estranha. Cantando, ela fica mais legal.

— Tá. — Queria a importância daquele diálogo. — Mas e daí?

— Você não vê, cabeça de laranja? — Que apelido, hein. Só porque eu amava suco de laranja? — Isso obviamente significa alguma coisa!

Arqueei as sobrancelhas. Minha amiga estava ficando maluca?

— Menina, você pode ser mais clara, por favor?

— Presta atenção! — Ela pegou uma caneta qualquer que estava em cima da mesa e um bloco de papel. — Nossa, que caneta velha. A tinta está acabando.

Fizemos sinal de que não importava. E não importava mesmo. Ela começou a anotar palavras que eu ouvi nos últimos dias e aquilo que ela falava até poderia fazer algum sentido.

— Pobre menino já perdeu tanto, certo? — Ela repetiu e eu afirmei com a cabeça. — E se Ty fosse esse menino? Ele não perdeu a mãe? Ele não perdeu o irmão? Ele não foi preso? A gente não ficou surpreso quando descobriu?

As coisas se conectaram na minha cabeça, com a ajuda da ligação desenhada no papel.

— Esse menino pode ser outra pessoa, também. — Foi como se uma lâmpada tivesse sido acessa no meu cérebro. — Esse menino também pode ser o Beno! Ele passou pelas mesmas coisas! Quem sabe ele está preso em algum lugar como o Ty esteve...

— Garoto, é por isso que eu gosto de conversar com você. — July sorriu para mim. — Nosso raciocínio é muito melhor quando estamos juntos. Eu não tinha pensado nisso até agora. A gente tem que achar o nosso baixista preferido.

Me lembrei do que ela havia falado antes.

— Sim, sim. Mas, e essa nova frase? Você a entendeu?

— Ah, é. Entendi completamente. — Ela também tinha esquecido. — Eu já vim aqui anteontem para procurar por vocês, mas acho que vocês não estavam em casa ainda. Por isso "não havia ninguém a encontrar". Mas quando eu conversei com a Gana sobre o nosso local de ensaios, o lugar que representa o nosso "velho lar" simplesmente me apareceu como sendo aqui.

Não sabia ainda quem era Gana, mas talvez fosse a amiga que chegou junto com ela.

— July, já te disse o quanto você é inteligente?

Ela sorriu, acanhada.

— É isso! Até agora as duas frases fizeram sentido para mim. Talvez isso seja um dom. Talvez seja coincidência. Mas por que não aproveitar?

— Você está certa. — concordei. — Se vier mais uma frase a sua cabeça, pode ser que ela nos ajude a descobrir o que fazer. Portanto, quando ela vier, me avise. Vamos descobrir o que ela significa juntos!

Levantei minha mão no alto e ela aceitou o Hi-5.

— É claro. Mas agora precisamos levar vocês para um lugar mais seguro que aqui.

Assenti novamente com a cabeça, esperando para saber qual era o lugar quando estivéssemos todos juntos. Ela me puxou pelo braço novamente e me levou até as outras pessoas, logo após Ty passar por todas as Esta Ações.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAH, feels. Meu primeiro capítulo no novo arco~!
Jr
:270 (18/02/2016)



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