A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 13
A mente mente


Notas iniciais do capítulo

' E agora? ' — KABROOM, Ty.
' Caga na mão e joga fora. ' — ESTÊNDIDO, Peagá.



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Capítulo XIII — A mente mente

∴ 14/03/16 

Ty's POV

Quatro policiais andando pela cidade, como se não tivessem nada para fazer. Ou pelo menos é o que eu esperava que as pessoas pensassem ao nos ver.

Quando na verdade eu e meu grupo de malucos estávamos disfarçados com uniformes roubados da polícia, rumando a pé para o único lugar que achávamos ser seguro.

Pois é. "Achávamos".

Ao quase virar a esquina da minha rua, consegui notar um carro da polícia parado em frente a minha casa. Sendo assim, os quatro recuaram.

— Qual é o plano agora, sabichão? — O resmungão do Lomba perguntou.

Fiquei calado. Aparentemente, meu amigo empresário estava pensando em alguma solução.

— Que maravilha. — O loiro continuou, sarcástico. — Desde ontem, estamos andando do centro da cidade até esse bairro no fim do mundo para quando chegar aqui...

— Cala a boca. — O amigo adolescente dele mandou, logo em seguida fazendo um barulho de soco com a boca e rindo, como se adorasse quando alguém é xingado.

— Cala a boca, você! — Lomba rebateu. — Seu gordo. Duvido que você não esteja insatisfeito também.

Olhei para Riko. O garoto era magro, ou pelo menos era para alguém com 15 anos. Por que Lomba o chamara de gordo? Ele claramente era muito mais gordo do que o garoto.

Peagá virou a esquina.

— Seu maluco, volta aqui. — Falei, mas acabei percebendo o porquê de sua ação.

O carro de polícia tinha ido embora enquanto nós discutíamos.

— Vamos. — O empresário chamou. — Eu quero beber meu suco de laranja o mais rápido possível.

— Como é que você sabe que os filhos da puta não vão voltar? — Lomba queria meter seu nariz cheio de espinhas onde não era chamado novamente.

— Simples. — Peagá apontou para o lugar onde antes estava o veículo. — A viatura tinha um número pintado na lateral.

Ele tirou do casaco do uniforme um walkie talkie e prosseguiu:

— Eu liguei para o número através desse aparelho e fingi uma voz, querendo parecer um tal de Salgadinho. Eu apenas disse para os meus "parceiros" irem para outro lugar, mostrando que eu tomaria conta dessa rua hoje.

Riko começou a rir novamente, enquanto andávamos até a minha casa.

— Te confundiram com um tal de Salgadinho? — Ele riu mais ainda. Esse era pirado mesmo.

Depois de três dias, a polícia ainda não havia dado a ordem de mudar a cena do crime. A janela da cozinha continuava estilhaçada e assim tivemos um modo para entrar na casa.

Logo que adentramos, os dois loucos andaram pela casa à procura de um banheiro.

Olhei para o relógio da cozinha e vi o horário 7h13. Isso explicava o fato de não haver nenhuma pessoa na rua para observar quatro policiais idiotas pulando uma janela.

— Temos um problema, Ty. — Peagá me chamou. Ele apontou para o porta-chaves que fica ao lado da porta que dá para a garagem. — Alguém roubou os seus "legos".*

— Relaxa. — Fiz um sinal de indiferença com a mão. — Eu tenho chaves daqui de casa escondidas por precaução. Minha mãe sempre roubava as que ficavam dando sopa.

Meu amigo demonstrou uma expressão pesada.

— Me desculpa, Ty. Eu não queria fazê-lo se lembrar da mulher magnífica e gente boa que era sua mãe.

Lembrei do dia em que ela se mudou para o céu. "Se pelo menos eu estivesse com a minha..." Abandono o pensamento. Fiquei feliz pelos elogios, podendo soltar um pequeno sorriso sincero.

— Relaxa, moço. — Falei de novo. — Só de estar de volta pra casa eu já lembro dela. Além disso, eu já estou superando a sua morte. Foi para proteger os filhos dela, afinal.

— Tenho pena do Beno também. Será que ele já soube?

— Seja qual for o lugar do mundo que ele esteja, ele já deve saber, sim. — Peguei meu casaco verde escuro que estava jogado na mesa de jantar e o vesti no lugar do casaco policial que havia acabado de tirar.

Enquanto o moço pensava em alguma coisa para responder, eu fiquei imaginando em que local da minha casa aqueles dois malucos estavam aprontando. Se ainda estavam no banheiro ou se agora já estavam quebrando alguma coisa valiosa. Torcia para que não estivessem em um lugar em específico.

— Se não souber, a gente vai ter que contar pra ele. — Peagá abriu minha geladeira e roubou uma caixa com suco de laranja. — Não vai ser uma cena muito legal de se ver.

Peguei dois copos e pedi que entornasse um pouco de suco para mim também, o calor que passamos nas últimas horas estava de matar, até mesmo para um cara friorento como eu.

— Obrigado. — Disse enquanto íamos para a sala sentar no sofá e descansar um pouco.

O empresário pegou o controle da TV e a ligou, dando de cara com o canal de notícias.

Notícia mais quente que esse clima, cidadãos. — A famosa repórter Mendel estava ao microfone. — Foi afirmado hoje uma reviravolta na lista de criminosos dessa semana.

Me interessei pela reportagem e comecei a prestar mais atenção.

Os famosos músicos Kabroom foram considerados inocentes. — Mendel continuou. — Isso se deve a uma voluntária auto-acusação da parte de dois homens. Eles afirmam que eles foram os verdadeiros culpados pelo assassinato de Cloud Kabroom, mãe dos irmãos.

— Eita, velho. — Um sorriso se abriu em meu rosto. — Agora sabemos que Beno não está preso.

— Meus parabéns, homem. — Peagá falou. — Parece que agora você não é mais um procurado.

Porém... — Mendel ainda não havia terminado a reportagem. — Um dos jovens, Ty Kabroom, fugiu da prisão com dois outros criminosos super perigosos, mas mesmo assim ainda não está na lista negra da lei. Ou seja, se virem Lomba Neto e Riko Marteleto por aí... — A foto dos dois malucos foi posta no noticiário. — Podem denunciá-lo à polícia que estará garantida a recompensa de vocês.

— Finalmente! — O loiro dos olhos azuis gritou de algum lugar da casa se aproximando.

Rapidamente, Peagá desligou a TV para Lomba não saber sobre o assunto.

— Que calor que estava lá fora, hein. — O adolescente estava com uma roupa fresca que provavelmente roubara do armário de Beno.

Olhei para Peagá. Peagá olhou para mim. Nós dois olhamos para o garoto.

— O que foi, gente? — Lomba perguntou. — Que cara horrorosa é essa a de vocês?

Eu e Peagá trocamos olhares novamente. Não sabíamos o quê fazer.

Moustache's POV

Meu domingo tinha sido um dia entediante. Havia passado todo o tempo de trabalho sentado na minha cadeira do escritório.

A notícia ruim: A minha segunda-feira estava tomando o mesmo caminho.

A notícia boa: Eu estava com uma grande jarra de suco de uva, o aproveitando o máximo possível para não ser um dia totalmente desperdiçado.

Uma esperança me veio quando subitamente a porta do meu escritório se abriu fortemente.

Infelizmente, era apenas o meu colega de trabalho Otelo. Ele usava o seu usual moicano como corte de cabelo ainda, o que ele dizia que o deixava mais charmoso.

Otelo era o mais próximo de amigo que eu tinha no local. O homem que eu considerava tanto uma boa pessoa quanto meu chefe.

— Moustache. — Ele me chamou.

— Moica. — Chamei de volta.

Apesar de nos conhecermos fora do lugar, éramos obrigados a nos chamar pelos nossos codinomes na Máfia. O Governo sempre advertia a gente de que poderia haver um dia em que algum de nós fosse grampeado e assim possa ter sua identidade e as de vários outros reveladas.

— Arrume sua postura. — O negro continuou. — O Santiago está chegando por aqui e parece que vocês vão ter que fazer alguma coisa.

— Aleluia. — Comemorei enquanto me ajeitava na cadeira. Guardei a jarra com suco no frigobar e fiquei apenas com o copo em minhas mãos. — Obrigado por me avisar.

— De nada, Lu- — Ele às vezes não conseguia evitar. Eu confesso que eu também não. Dei um pequeno sorriso. — ... Moustache. A gente se vê por aí. — Ele saiu pela porta.

Não muitos segundos depois, um homem meio gordinho e baixinho apareceu no meu escritório fumando seu charuto.

— Vejo que você nunca vai me dar esse seu chapéu, hein? — Ele riu enquanto tossia um pouco.

Observei que tinha deixado meu chapéu coco com tira branca em cima da mesa.

— Desculpa, chefe... Mas não vou mesmo não. — A minha relação com Santiago não era formal e tampouco severa. Éramos realmente bem chegados, mas eu ainda não sabia seu nome verdadeiro e também não me recordava se ele conhecia o meu.

— Deixemos pra lá o blá blá blá. Temos uma memória pra brincar.

— Sério? — Me animei. Agora que minha terça feira se tornaria finalmente interessante.

— É. Um tal de Douglas Wyles tem postado publicações em seu blog difamando o Governo. Então a Máfia me deu a missão de ir com você alterar os pensamentos do playboy.

Era isso mesmo. Às vezes eu recebia a tarefa de mexer com a mente das pessoas. Meu dever era pôr um capacete na cabeça da pessoa escolhida e através de uma máquina eu conseguia fazer com que ela pensasse o quê eu quisesse. Nunca procurei saber como a Máfia tinha uma tecnologia absurda daquelas porque sempre tive medo do que aconteceria comigo se eu descobrisse.

— Quando iremos, senhor? — A empolgação ainda estava me contagiando, como uma criança dando corda em um brinquedo querido.

— Tarde da noite, agente. — Ele explicou, soltando uma baforada de fumaça depois de ter tirado o charuto da boca novamente.

Aquilo se tornaria uma missão. Missões são importantes. Mas essa missão tinha um quê maior de especial. Com ela, eu talvez me tornasse uma pessoa maior na Máfia. Para uma promoção dessas, a única coisa que me faltava era a coragem de matar uma pessoa.

Ou seja, todas as últimas missões tinham sido especiais. E eu tinha fracassado no meu objetivo em todas elas.

A oportunidade de tirar a vida de alguém só vinha quando o Plano A não funcionava. E claro que o Plano A era, segundo o que Santiago me explicara naquela tarde, colocar o capacete alterador de memórias na cabeça do playboy enquanto ele estivesse dormindo em sua cama.

"Mas e se ele não estiver em casa, senhor?" Ficara curioso.

"Ele vai estar. Invadimos a casa dele enquanto ele estava no trabalho e lemos sua agenda. Nada programado para hoje, mas ele tem algo de manhã cedinho, então presumo que vá se deitar cedo."

"Certo, mas se ele acordar com nossa visita?"

"Se esse infortúnio acontecer, e eu espero que não aconteça, teremos que colocar em ação o Plano B." Parecia que ele tinha uma resposta pronta para qualquer pergunta que eu fizesse.

Não perguntei qual era o Plano B, já era óbvio em minha mente. Assassinar o sujeito.

Entramos pela porta dos fundos da casa. Usamos um silenciador para atirar na fechadura, até porque a segurança da moradia não era lá essas coisas.

— Gostou da sua nova arma, Moustache? — Meu chefe perguntou, dando uma nova olhada no que trouxera comigo naquela noite de trabalho.

Magnífica. Esplêndida. Maravilhosa. Guardaria-a na minha casa como se fosse uma caixa de suco de uva.

Era uma nodachi. Um tipo de espada japonesa que eu babava muito o ovo. Era uma coisa linda. Majestosa e silenciosa. Algo que só a Máfia poderia providenciar para mim.

— Gostei, claro. — Respondo, dando um meio sorriso, sem jeito. — Ela é muito bonita. Estou ansioso para usá-la.

Solto as primeiras palavras que vêm na minha mente, não me importando em jogar junto uma mentira no final.

— Interessante esse seu desejo, amigo. — Ele inclinou a cabeça para frente como se fosse me dar um conselho. — Mas não acho que é hoje que você vai usá-la pela primeira vez.

Enquanto cochichávamos, subíamos os degraus da escada com o máximo de cuidado possível para não fazer nenhum barulho até que chegamos ao corredor central do segundo andar.

— Espero que você lembre do plano muito bem. — Santiago cochichava pela última vez. — Porque a partir daqui: Silêncio!

Fez um gesto com o dedo como se estivesse passando um zíper pela própria boca e em seguida apontou para a segunda porta à direita.

Entendo o recado. Ele acha que sou mais gatuno e cuidadoso, então vou na frente para abrir a porta sem fazer ruídos.

Devagar, a porta se abre e frestas da luz do corredor entram no quarto do homem azarado da vez.

Observo por um tempo. A cama, bem no meio, tinha um senhor de meia-idade dormindo, sem nada o cobrindo. Para a direita havia um armário e uma porta que provavelmente dava em um banheiro. Para a esquerda havia uma mesa com um computador em cima. Provavelmente o mesmo que Douglas Wyles usava para publicar em seu blog.

Quando Santiago entra, me agacho para apanhar o capacete na minha mochila. Retiro e o coloco na minha própria cabeça. Meu chefe está com o que iremos colocar na cabeça de Wyles. Sendo assim, ele também abre sua mochila, mas seu zíper faz barulho demais.

Douglas levanta com um pulo da cama, sonolento, mas não o suficiente para não enxergar os dois intrusos em sua casa.

— Quem são vocês? — Ele fica confuso, mas não assustado. Sua mão se arrastava devagar até a escrivaninha do seu lado esquerdo.

Acho que estava na hora de acionar o Plano B.

Santiago sacou sua pistola de seu paletó, mas o nosso cliente percebeu rápido demais. Com um pulo, se jogou da cama até em cima de meu chefe e o derrubou no chão, fazendo a pistola deslizar para algum canto escuro do quarto que eu não conseguia enxergar.

— Agente Moustache! — O baixinho gordinho grita. — Faça alguma coisa, seu imbecil!

"É agora! Vou me promover." Saco a nodachi da bainha, seguro-a com as duas mãos e me aproximo do inimigo para lhe decapitar com minha nova espada totalmente afiada.

Mas alguma coisa me impede. Algo dentro de mim me faz não completar a ação. E esse foi o meu erro do dia. Foi a brecha que Douglas conseguiu.

O playboy-meio-idoso me deu uma rasteira esticando a perna para trás e eu caí no chão.

Ele vem pra cima de mim para encher a minha cara de socos. Recebo o suficiente para saber que ele já havia entrado em uma luta milhares de vezes. E estava em forma para a idade dele.

Pow.

O homem cai no chão, criando uma poça de sangue ao redor da sua cabeça. Santiago havia lhe acertado um tiro na nuca, matando Douglas Wyles.

— É, Moustache... Hoje realmente não foi seu dia.

∴ 15/03/16 

K's POV

A entrada da delegacia era realmente bonita. Achei interessante o caminho da rua até a porta da frente ser limitado por moitas de uma cor verde bem viva. Isso sem contar com a arquitetura do local, que continha uma recepção logo de início levando a outras torres de comando.

Mas o meu objetivo naquele local não era admirar sua beleza.

Direcionei-me ao balcão para falar com a recepcionista. A mulher loira mexia em vários papéis ao mesmo tempo enquanto falava ao telefone, parecendo muito ocupada.

Sentei-me na primeira cadeira que vi e esperei.

— Boa tarde, senhor. — A moça cumprimentou. — O senhor veio fazer algum boletim ou denúncia?

— Opa. — Me animei, levantando sem me importar com meus cabelos longos e negros que caíram na frente de meu rosto. — Boa tarde, jovem.

A mulher aparentava ter mais idade do que meus 25 anos, mas não me custava nada usar um bom vocativo.

— Nenhuma das duas coisas, na verdade. — Esqueci que eu estava com a palavra. — Eu vim fazer uma visita.

A moça afastou alguns papéis e pegou um caderno laranja e branco de algum lugar debaixo do balcão.

— Qual o nome do sujeito? — A loira perguntou, pegando também uma caneta.

Fiquei na dúvida se ela estava se referindo a mim ou aos meus servos não tão queridos mais.

— Miguel Castilho e Carlos Siqueira, por favor. — Batuquei com os dedos da mão enquanto a mulher anotava no caderno que tinha visita.

— E seu nome é?

Já estava com aquela resposta na ponta da língua.

— Rafael Kayser.

Ela anotou meu nome e fechou o caderno, logo em seguida pegando o telefone de novo e discando um número.

— Oi, Hugo. Sou eu de novo. Tem como você vir até aqui e acompanhar o senhor Kayser em uma visita? Eu estou meio ocupada. — Ela sorriu pra mim, me transmitindo confiança. — Obrigada.

[ ... ]

Hugo andava mais à frente do que eu. Ele possuía um corpo mais alto e mais forte que o meu, mas tínhamos o mesmo jeito largado de andar.

— Aqui já é o refeitório, senhor Kayser. — Ele avisou, apontando para uma mesa. — É ali que você encontrará seus amigos.

Logo vi os dois paspalhos sentados em uma mesa com quatro lugares, brigando por um sanduíche.

— Larga ele, mané. — O loiro disse. — Não é porque você está com mais fome do que eu que pode ganhar o meu sanduíche de graça assim.

— Você me chamou de quê? — Carlos jogou uma expressão séria para o outro, com a ajuda de seus olhos azuis. — Há dois dias atrás me servia e hoje já está com essa bola toda?

— É claro, mané. — Miguel respondeu. — Agora que a gente está preso, não existe mais isso de subordinação.

Tossi enquanto me sentava à mesa para eles perceberem que eu estava ali. Os dois olharam para mim curiosos.

— Então você é a visita. — Carlos observou.

— Quem é você? — Miguel questionou.

Dei uma risadinha marota e abri meu paletó para mostrar meu broche para eles. O broche era feito de três pequenos triângulos de metal formando a cabeça de um rato.

Miguel estava sem palavras.

— Sir... — O de olhos azuis suspirou. — É você mesmo? Você veio nos salvar? Você é o Senhor Rato?

— Somos todos, Cerúleo. — Respondi, satisfeito por me reconhecerem facilmente.

— Nos desculpe, Sir... A gente foi obrigado a isso, Sir... Você veio nos salvar, não veio?

— Como assim "obrigados"? — Estreitei os olhos. — Você está me dizendo que vocês realmente vieram parar aqui de propósito?

— Ela nos obrigou a isso, Sir... Aquela garota é um monstro! — Cerúleo fazia gestos enquanto explicava e Milho apenas concordava.

— "Ela" quem? — Estava começando a ficar com raiva.

— Eu não sei, ela simplesmente brotou no QG procurando por você, Sir...

— O quê?! — Minha expressão estava realmente séria agora. — Como ela descobriu o nosso endereço? O que vocês fizeram, seus tolos?

— A gente não sabe! De alguma maneira ela sabia que nós éramos os culpados pelo assassinato da mulher lá.

— E ela nos sequestrou! — Milho interviu.

— E nos torturou! — Cerúleo continuou. — Até a gente dizer a verdade!

Minha vontade nesse momento era de dar um tapa na cara daqueles dois panacas, mas tinha certeza que alguém notaria e eu entraria em encrencas.

— Seus burros! Que bagunças vocês fizeram quando tudo deu errado? O que vocês disseram?

Um olhou para o outro antes de responderem.

— A verdade... — Sussurraram em uníssono.

Estava me tornando um homem impaciente, isso é tudo que podia perceber.

— Essa garota! Quem ela é? Ela sabe sobre a encomenda?

— Ela sempre sabia quando a gente deixava faltar alguma informação, Sir. — Cerúleo se desculpou de novo. — E ela ficava usando aquela garra estranha lá que parecia uma pata de gato enquanto nos dava choque em uma cadeira que ela chamou de Cadeira do Dragão, ou algo assim.

— Assustador. — Milho não queria lembrar.

— Chega! — Bati na mesa e instantaneamente me senti vigiado, voltando a agir calmamente. — Não quero mais saber de vocês. Vocês desonraram a nossa família de ladrões.

Levantei e fui embora, deixando os dois agentes confusos.

Hugo me esperava na porta do refeitório para me guiar novamente até a recepção.

— Não precisa. — Avisei para ele, dando um sorriso. — Eu conheço o caminho do mesmo jeito que conheço minha perna. — Dei uma batidinha na minha coxa.

Sendo assim, o homem foi embora me deixando livre para sair também, mas não o fiz.

Acontece que infelizmente não são apenas dois dos meus agentes que foram pegos algum dia e postos na prisão.

Porém, as novas circunstâncias da situação me faziam ver um lado positivo em ter um outro dos meus aprisionado.

O agente estava em uma mesa solitário, com a cabeça abaixada e com um sanduíche metade comido na mão.

Me sentei como se estivesse fazendo uma segunda visita.

— Acorda, esqueleto hipnotizado! — Bati com os dedos na mesa para libertá-lo de seus sonhos.

O homem moreno acordou levemente sonolento.

— Meu senhor! — Ele ficou alarmado ao me ver, confuso. — A que devo sua ilustre visita?

Meu caro, Watson... — O chamei pelo seu sobrenome. — Você deve saber que eu sempre te achei um dos meus mais eficientes contatos.

Espantando o sono, Watson concordou ligeiramente com a cabeça.

— Pois bem. — Continuei meu pedido. — Mesmo estando aqui na prisão e justamente aproveitando isso, eu tenho uma missão para você.

E lá estava eu, criando mais uma cicatriz para as minhas costas.

— FIM DO PRIMEIRO ARCO


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Notas finais do capítulo

*É preciso clicar no link 'porta-chaves' para entender a piada.
Jr
:370 (28/01/2016)



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