– Não esperava que vocês fossem virar amigos, ele não gosta de nenhum dos meus colegas que eu apresento - Bernardo disse levando a colher de iogurte á boca.

– Não somos amigos. No máximo conhecidos e talvez nem isso.

– Então por que ele te convidou pra um encontro? - Caio perguntou com um sorriso travesso.

– ISSO NÃO É UM ENCONTRO! - Gritei irritado.

– Aquele parque de diversões é o lugar favorito do Will no mundo todo. Ele nunca sai com ninguém, por que sairia com alguém que não gosta? Sim, isso é um encontro.

– E você também considera ele por que corou quando eu disse aquilo e não desgruda os olhos do relógio - Caio completou.

– TÁ! Não precisam falar mais nada.

Já passou do horário e eu estou ficando nervoso. Será que ele desistiu de sair comigo e simplesmente não se deu o trabalho de avisar? Eu espero qualquer coisa vinda do Will. Ás vezes parece que começamos a nos dar bem, mas poucos minutos depois ele fecha a cara e se afasta de mim.

Bernardo e Caio não puderam deixar de fazer piadinhas. Isso que significa ser irmão mais velho? ser zuado por tudo principalmente pelos micos? pelo menos é melhor do que ser filho único.

Dessa vez me arrumei rápido. Coloquei uma blusa folgada que gostava muito, calça jeans e tênis. Nada muito enfeitado, mas não estava mal vestido. Nunca fui de ficar horas parado de frente ao espelho, ás vezes saio de casa sem pentear o cabelo com ele todo embaraçado e rebelde.

A campainha finalmente tocou e eu fui correndo pelas escadas até a porta. Quando abri lá estava Will, com um seu estilo despojado e o típico sorriso no rosto. Mesmo que isso esteja na lista de coisas que nunca vou falar em voz alta, ele está lindo.

– Você demorou muito! já tava pra ter um infarto.

– Mas são 15:10! - Ele disse dando uma risada nasal*

– Ah,entendi. Vamos então? - Ele assentiu e avisei para os meninos que estava saindo.

Já andando na calçada Will se abaixou um pouco e colocou a boca perto do meu ouvido.

– Você está tão fofo tampinha. Da vontade de te comer todinho sabia?

Nem preciso falar que core até a raíz dos cabelos.

–-

O parque era grande, gigantesco aliás. Will fez questão de pagar as entradas que era dez reais cada e depois de muito debate concordei contanto que eu comprasse algo para nós dois comermos.

Os olhos castanho esverdeados brilhavam como diamantes enquanto andávamos pelo parque. Bernardo disse que o parque de diversões é o lugar favorito do Will e isso era inquestionável agora. Desde pequeno nunca gostei de parque de diversões por que tenho medo de altura e levando em conta que a maioria dos brinquedos envolve alturas elevadas e rodar até vomitar foram poucas as vezes que visito um lugar como esse.

Primeiro nós fomos em uma barraquinha. Era de acertar dardos nos balões e Will se mostrou muito bom em pontaria. Acertou todos e pôde escolher um prêmio.

– Quer escolher o prêmio?

– Sim! - respondi sorridente.

Escolhi um hipopótamo verde muito bonitinho. Adoro bichinhos de pelúcia, o cheiro de novo deles e como são fofinhos e macios. Tenho vários e era só com eles que brincava quando era menor.

Fomos no bate-bate que eu até gosto, a roda gigante que apesar do medo de altura eu também gostava por causa da vista. Depois paguei dois cachorros quentes para nós e sentamos em um banquinho para comer.

Ele praticamente devorava o lanche, nem sei como não se engasgava. Procurei comer o meu devagar por que sei que uma hora ou outra ele vai querer ir em um brinquedo estilo ''rodar até vomitar''

– Will, posso perguntar uma coisa?

– Já perguntou, diz logo de uma vez! - Eu estava meio receoso. Ele poderia ficar nervoso, mas aquela questão já estava me matando de curiosidade.

– Por que você e o Enzo se odeiam tanto?

Will parou de comer e ficou sério. Seus olhos me queimaram com um olhar frio e eu me xinguei internamente por ter estragado um momento tão bem. Ele estava me tratando tão bem até então, devia ter pensado melhor antes de perguntar.

– Não é da sua conta! - Disse simplesmente e depois agarrou minha mão - Vamos na montanha-russa agora.

– M-montanha russa? - Meu estômago revirava só de pensar nisso.

– Qual o problema? relaxa, a montanha-russa daqui vai bem devagar.

Sabia que mesmo se falasse alguma coisa ele me arrastaria até lá, eu querendo ou não. Apenas concordei e senti novamente o frio na minha barriga que dessa vez dizia que eu iria me ferrar.

–-

– DEVAGAR O CACETE!

– POIS É, EU MENTI PRA VOCÊ! RELAXA, NÃO É NADA DEMAIS!

– NÃO É NADA DEMAIS? MINHAS ENTRANHAS VÃO VOAR PRA FORA!

– APENAS RELAXA E CURTE A VOLTA!

Apavorado, assustado, vendo a vida passando pelos meus olhos e muito puto com o William. Essa é sem dúvida a montanha-russa mais alta que eu já vi na minha vida e também a mais rápida. O frio na barriga permanece e tudo o que eu tenho pra me proteger é Jimmy, o hipopótamo verde.

Will parece gostar muito dessa montanha-russa. Grita em euforia, coloca os braços pra cima e fala palavrões. Já eu nem consigo organizar meus pensamentos direito de tanto medo que sinto agora.

Quando ela finalmente parou eu quase beijei o chão. Depois desse dia acho que nunca mais chego perto de uma montanha-russa. Will me traumatizou, é a segunda vez que ele mente pra mim e e fico apavorado logo em seguida.

– Isso foi bom demais! a adrenalina, a velocidade. Podemos ir de no...Cadu? você ta legal? ta mais branco que papel.

– E-eu to bem. Vamos sentar? - Todos os músculos do meu corpo estavam tremendo sem parar.

– Tudo bem, vamos sentar ali um pouco.

O céu tinha passado de azul para um roxo quase negro. Passamos horas no parque e só agora que percebi isso. Sentamos em outro banco que estava ali por perto.

– Nunca levei ninguém nesse parque, você é o primeiro. Me diverti muito com você Cadu. É um pouco cedo, mas posso dizer que você é muito gente boa.

– Você também é legal Will - ''mesmo com todas as suas mudanças de humor repentinas'' acrescentei mentalmente.

Talvez fosse efeito da visão ainda meio turva, mas ele estava chegando perto. Dessa vez não tinha nenhum milho pra tirar do meu rosto ou qualquer outra coisa. Ele ia me beijar mesmo? as borboletas passeavam pelo meu estômago. Já estava fechando os olhos.

Como nem tudo é perfeito é claro que o cachorro quente tinha que dar sinal de vida. Pelo jeito não eram borboletas.

– PUTA MERDA CARLOS EDUARDO! VOCÊ VOMITOU NA MINHA BLUSA NOVA!