– Já estamos bem afastados, agora fala.

– Na verdade não posso falar. Pelo menos não agora.

– OQUE? como assim não pode Nina? - Perguntei indignado.

– Você só precisa saber que vou precisar da tua ajuda. É muito importante pra mim.

– Pode pelo menos falar do que se trata?

– É uma coisa que to tentando fazer dar certo há muito tempo.

– Mais alguma coisa! vai mesmo me deixar curioso?

O sinal havia tocado. Acho que agora seria aula de Física, a matéria que quase me fez repetir no nono ano. Talvez a que eu mais odeie.

– Se eu te falar o que quero você nunca vai topar.

Ela disse já no meio do corredor e seguiu para a sala de aula junto com os outros alunos que subiam e desciam as escadas. Eu precisava de um tempo sozinho para organizar as ideias.

Assim que chegamos em casa fomos tomados por explicações. Ele estava sem camisa(Não posso deixar passar em branco que várias pessoas o olhavam na rua com um olhar estranho. Me senti muito incomodado com isso) e uma cara de quem comeu e não gostou.

Quando Will saiu é claro que eu tive que explicar para minha família curiosa. A sala explodiu em risadas que só pioraram aquela noite para mim. Caio e Bernardo não fizeram questão de esconder o riso, mas pelo menos os adultos se seguraram e Isabel até ficou preocupada comigo.

Enquanto caminhava até a sala vi Daniel, o caçula do diretor que quase me surrou no meu primeiro dia, mas fiquei espantado com sua atual situação. Ele estava cheio de hematomas, com olho roxo e não me surpreenderia se tivesse perdido alguns dentes. Assim que me viu saiu correndo como se tivesse visto um fantasma. É irônico ver um agressor espancado, mas como diz a lei tudo que vai volta.

A sala ainda estava meio vazia e felizmente o professor ainda não tinha chegado. Me sentei na carteira de sempre, com os gêmeos um de cada lado e Nina na frente.

– Onde vocês estavam? - Perguntou o gêmeo sorridente.

– Eu e Nina fomos beber água só.

– Já comentou com ela sobre o episódio do cachorro quente? - Preciso dizer quem foi que disse isso? esse é o gêmeo que gosta de jogar as coisas na cara.

Eles também ficaram sabendo. Contei por mensagem e eles fizeram questão de mandar áudios de suas risadas.

– Do que ele ta falando Cadu?

– NADA! Olha, a professora ta entrando - Preciso lembrar de estrangular Sócrates depois.

A professora de Física era meio estranha. Seu nome era Regina se não me engano. Alta, cabelos artificialmente ruivos e uma aparência meio descuidada. Ela era magra demais, alguns de seus ossos ficavam destacados na pele e Regina me assustava ás vezes com seus olhares mortais quando alguém interrompia sua aula.

– As provas do segundo bimestre aconteceram daqui há duas semanas então sugiro que vocês comecem a estudar. Quem ficar de recuperação terá que passar o mês de Julho inteiro comigo e com os outros professores. Boa sorte, por que vocês vão precisar.

Desespero. Eu ainda não havia entendido nada da maioria das matérias. Não quero ficar o mês inteiro olhando para a cara de morcego dessa mulher! meu deus, o que eu vou fazer?

–-

Já estava na hora do intervalo. Tentei ao máximo prestar atenção na primeira aula e nas horas duas também, mas logo surgia uma coisa totalmente diferente na minha mente como um bolinho de laranja em uma tarde nublada.

Meus amigos entraram na fila para comprar o lanche enquanto eu comia sem fome o Doritos que trouxe de casa.

O terceiro ano estava entrando na cantina agora e eu não demorei para avistar Will. Eu precisava me desculpar já que naquele momento eu estava envergonhado demais para me importar com qualquer outra coisa.

Assim que me aproximei ele fechou a cara então pelo jeito ainda estava fulo comigo.

– Olha, eu queria me desculpar por ontem ta?

– Tanto faz - Mesmo com aquela resposta eu sabia que ele se importava.

– Eu me diverti muito sabia?

– A noite teria sido perfeita se você não tivesse vomitado em cima de mim.

– Desculpa! não foi minha intenção.

– Desculpas não vão trazer o dinheiro que gastei com aquela blusa.

– Hã...a sua calça era muito bonita.

– Pelo menos nela você não vomitou, Carlos Eduardo - Pelo jeito ele não vai me perdoar tão cedo.

– Não é só você que se ferrou sabia?

– Como assim?

– As provas vão começar daqui duas semanas e eu não sei nada, nadinha! eu vou ficar de recuperação em todas as matérias!

– Eu te ajudo Cadu.

– Meu pai vai arrancar meu cor...Oque?

– Sei o que você ta aprendendo de cor. Eu posso passar na sua casa no final de semana pra te ensinar. Aceita? - Pelo menos ele não está mais bravo.

– Você? sabe a matéria toda?

– Qual o problema? - Perguntou bravo.

– Nenhum! obrigado Will, você é minha salvação - Disse eufórico e o abracei.

– Ta bom, já pode me soltar agora.

Depois disso voltei para minha mesa feliz da vida. Não iria ficar de recuperação e meu coro permaneceria intacto.

O intervalo passou arrastado com as mesmas piadas da parte de Michelangelo e a ironia de Sócrates. Nina apenas observava seu ''crush'' do outro lado da cantina. Ela havia falado tanto dele nos últimos dias que eu já sabia várias coisas sobre ele.

Já no final quando todos estavam voltando para classe e Nina não estava mais comigo(acho que ele gosta muito de Nina desde que ela me deu uma bolada) Enzo veio falar comigo.

– Oi pequeno. Tudo bem?

– Sim, agora eu to ótimo - Corei por que isso provavelmente soou como uma cantada e eu na verdade me referia á ajuda de Will - Enzo você sabe quem foi que bateu no Daniel?

– Sim. Fui eu que bati nele - Disse como se aquilo fosse completamente normal.

– OQUE? POR QUE? - Perguntei espantado.

– Por que ele quase te bateu! eu não podia deixar barato. Você é meu amigo Cadu, eu sinto necessidade de te proteger.

Com aquelas palavras fiquei imensamente feliz mesmo ainda estando assustado por ele ter espancado o irmão.