Pronto, a muralha estava em pé! Firme e forte com toda a sua brutalidade.

Foram longos meses até a conclusão da minha obra, vários operários deram vida a minha imaginação, e aos vários desenhos feitos por mim para aprimorar o projeto, resultando nessa bela coluna de pedras bem distribuídas.

Desci a escada que me havia levado até o topo para colocar a ultima pedrinha chave, tendo assim a obra por concluída.
Lindo, magnífico.
Estava simplesmente entusiasmado com meu grande feito.

Quando coloquei meus pés no chão aproveitei para soltar um grande suspiro de contentamento.

Minha muralha! Pensei enquanto me afastava alguns passos para contemplar.

­–Sai da frente, sai da frente! Abra caminho para o grande Conde Alwyn! -Senti meu corpo sendo empurrado para a esquerda sem qualquer cuidado e por fim jogado ao chão.

Como fui pego de surpresa pelo malandro do servo do Conde, cai com tudo; fazendo da minha dor sua alegria.

–Mas é um estabanado! – riu o mesmo.

Contive-me para não seguir em frente e atacar o homem que destruiu meu momento grandioso com uma de suas palhaçadas... Principalmente por este ter o dobro do meu tamanho e contar com alguma graça com o Senhor que poderia ordenar minha execução, então resignei-me a levantar e a retirar a terra acumulada no meu traje.

Depois fiz uma breve referencia ao dono daquelas terras.

–Minha muralha. – Disse com ar de contentamento Conde Alwyn. – Já estava em tempo de ser concluída! Agora sim aqueles bárbaros de merda iram me deixar em paz.

Levantei minha cabeça da breve reverencia, com uma sobrancelha arqueada.

A muralha é minha! – gritei em pensamento.

–Não ficou boa garoto? – perguntou ao filho.

–Sim pai, grande trabalho.

–E não foi? – riu. - Agora finalmente terei paz! Irei tirar umas férias, essas muralhas me envelheceram alguns anos.

Passou a mão nos cabelos já grisalhos, seus olhos azuis brilhavam com a oportunidade de descansar depois de tanto “trabalho”.

–Você está ótimo, nunca esteve tão bem. – disse a esposa do Conde.

Era mentira, o Conde podia contar com uma grande quantidade de terra e muitos servos fies ao seu dinheiro, porém beleza já era algo bastante diferente. E ele não a tinha.

–Querida, não questione minhas necessidades. Férias é tudo o que preciso. -olhou reprovando as palavras da esposa, que permaneceu em silêncio.

–Vamos caçar? –disse o filho, já se afastando com a família.

–É algo a se pensar.

Deram alguns passos adiante, indo embora.
Tão desagradáveis, nenhum reconhecimento pelo meu trabalho!
Foi quando o Conde finalmente virou e reparou na minha figura.

–Você! Venha aqui.

Andei em passos largos, ansioso pela conversa que viria.
Agradecimentos, agradecimentos. Finalmente, agradecimentos.

Eu estaria dançando feliz se isso não fosse extremamente perigoso para o meu pescoço.

–Seu nome?

–Jorge. Jorge Neiame SENHOR.

Ele não falou nada, apenas me encarou por alguns segundos.

Comecei a ficar nervoso quando o vi analisando minhas roupas. Me olhou de baixo a cima, e seu desprezo pelas minhas vestes sujas me deixaram encabulado.

–Jorge, não precisamos mais dos seus trabalhos aqui. Espero que amanhã mesmo você deixe a província.

–Mas senhor....

–Converse com meu servo sobre o seu pagamento.

Continuou sua caminhada feliz, me deixando com o mesmo servo que havia me levado ao chão no momento anterior.

Ele me caçoou um pouco, depois retirou parte do que me era por direito e me expulsou “amigavelmente” daquele lugar.

Peguei meu pequeno pagamento e me pus a caminhar, rumo ao desconhecido futuro.

Infelizmente, nada era muito agradável a um Artista lixo.

Idade das Trevas.