Laços escrita por Darlan Ribeiro


Capítulo 6
Capitulo 1 x 6




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Gustavo
Já fazia quinze minutos que Gustavo, estava ali parado em frente ao Centro Médico esperando Sophie sair do consultório. Ele aproveitou o tempo para comer um podrão uma espécie de cachorro quente. Enquanto se deliciava com seu cachorro quente, parou para olhar para o antigo teleférico da cidade. Já havia se passado três anos, desde a tragédia que havia assolado a cidade de Nova Friburgo. Foi uma noite de horror, onde a escuridão se apoderou completamente da cidade. Ele sentiu um calafrio passar por suas espinhas só de relembrar os gritos daquela noite macabra.
Sophie estava vindo, graciosa como sempre, porém o seu olhar estava caído, os olhos estavam vermelhos. O que significava que ela estava chorando. Ele não iria perguntar o porquê dela estar chorando, não era de sua natureza. Todo mundo tem seus motivos para chorar. Contam o motivo para aquilo se quiserem. Ele jogou o resto do cachorro quente em uma lixeira que estava próxima a seu carro.
– Porque demorou tanto? – perguntou ele
Ela o olhou com um olhar de quem estava furiosa. Ele só não queria transformar aquilo em seu problema
– Eu estava terminando de ver algumas palestras sobre confiança e paixão. – respondeu ela.
Gustavo sabia como aquela noite provavelmente terminaria. Então ele simplesmente levou Sophie para a casa dela. Assim que chegaram ao portão de sua casa, ele deu a ela um beijo de boa noite.
– Você não vai entrar? – perguntou ela
– Hoje eu vou para minha casa, estou cansado. Hoje foi um dia corrido. – falou ele e logo em seguida bocejando.
Ela deu de ombros, fechou a porta do carro e seguiu para dentro de sua casa. Ele ficou surpreso por ela não ter brigado e nem criado em uma tempestade num copo d’água. Gustavo seguiu para casa de seus pais onde morava. Seus pais sempre foram controladores, seu pai não confiava nele e sua mãe era protetora demais. Isso o deixava em uma confusão de sentimento pelos pais, ele não sabia se devia odiá-los ou ama-los.
Seu pai estava na frente da garagem lavando sua moto, Gustavo teve de buzinara duas vezes para que seu pai tirasse a moto da frente da garagem para que ele pudesse guardar o carro. Seu pai tirou a moto relutante. Gustavo não se importou com a cara feia do pai.
– Como foi o dia na fábrica Gustavo? – perguntou Anselmo, na intenção de provocar o filho.
Gustavo sabia onde o pai queria chegar. No entanto ele não iria cair no seu jogo de provocação.
– Foi muito bom pai, hoje eu tomei posse de sua sala. Tive que mandar fazer uma faxina para tirar o cheiro de velho. – respondeu Gustavo.
Aquilo foi o suficiente naquele momento para deixar seu pai calado. No entanto haveria o troco, ele só tinha que estar preparado para hora que seu pai decidisse agir. Quando entrou em casa viu sua mãe no escritório.
– Oi mãe! – disse ele indo em direção para abraça-la e dar-lhe um beijo.
Ele não pode deixar de notar que sua mãe, levou um pequeno susto quando ouviu sua voz. E como ela havia se apressado para desconectar o Pendrive do computador.
– O que você anda fazendo ai nesse computador dona Márcia? – perguntou Gustavo brincando com sua mãe.
Ela colocou o pendrive no bolso da calça,
– Nada meu filho!
– Olha se forem fotos de homens pelados, pode deixar eu lhe entendo. Afinal papai está velho, as coisas caem nesse período da velhice.
– Me respeite menino. – falou Márcia dando um tapinha no braço de Gustavo, mas não deixando de sorrir.
Gustavo saiu do escritório abraçado com sua mãe. Ela lhe deu um beijo no rosto e seguiu para cozinha e ele seguiu para seu quarto que ficava num cômodo fora da casa. Ele dizia que ali ele tinha mais privacidade, uma ilusão que ele mesmo havia criado. Já que seus pais também tinham a chave de seu quarto. Ele trocou de roupa e foi para o Terraço ler um pouco ou conversar um pouco com os amigos via internet. Ele acessou o Skype e viu que seu amigo Konrad estava online e resolveu conversar um pouco com ele.
– E ai Konrad, como você tá? – perguntou Gustavo.
Konrad, não respondeu nos primeiros cinco minutos. Enquanto isso Gustavo foi procurando pela internet musicas para baixar. Ele adorava ter uma grande variedade de musicas no carro para ouvir. A página do Skype começou a piscar o que significava que alguém estava falando com ele. Konrad havia mandado uma solicitação para que eles conversassem via webcam. Gustavo aceitou no mesmo instante. E lá estava Konrad com os seus cabelos negros com mechas louras, seu rosto moreno e seus olhos cor de mel.
– Estou bem mano, e você? – perguntou Konrad ajeitando os óculos sobre o rosto.
– Eu estou bem, agora sou o Diretor geral de produção da FHSM. – comentou Gustavo.
– Que da hora Gustavo, seu pai deve ter ficado orgulhoso. – falou Konrad, não contendo o entusiasmo por ver a vitória do amigo.
Gustavo teve vontade de dizer que seu pai havia ficado orgulhoso dele, mas Konrad saberia que ele estava mentindo.
– Você conhece o meu pai. – falou ele.
– Conheço, mas pensei que ele ficaria feliz pelo homem que você esta se tornando. Você está assumindo o cargo que foi dele por anos. – falou Konrad
– Meu pai nunca sentirá orgulho de mim Konrad. – disse Gustavo não escondendo a dor que aquelas palavras lhe causavam.
Gustavo sabia que Konrad queria estar ali para poder conversar e aconselha-lo. No entanto um oceano se colocava entre eles. E tudo o que podiam fazer um pelo outro era dizer que tudo iria ficara bem.
– Gustavo, tenho de sair aqui, tenho uma palestra daqui a 20min. – disse Konrad. – Nos falamos mais tarde.
– Até meu amigo! – se despediu Gustavo.
A imagem de Konrad sumiu. Gustavo agora via a si próprio na tela do computador e se perguntou se aquele era mesmo, Gustavo Domingues. A imagem de sua mãe brotou do lado da sua. Ela estava atrás dele com um copo cheio de um liquido verde.
– O que foi mãe? – perguntou ele fechando o notebook
– Eu fiz suco de abacaxi com couve e decidi trazer um pouco pra você. É uma receita que vi num programa de culinário hoje de manhã. – explicou ela
Gustavo não simpatizou muito com a aparência do suco, mas o que aquilo poderia lhe causar. Talvez uma dor de barriga nada grave. Ele tomou o suco todo, estava delicioso por sinal, quase não sentia o gosto da couve. Sua mãe o olhava de uma maneira que ele não conseguia distinguir. Mas parecia ser ternura.
– Olho pra você e ainda vejo o meu pequeno Gustavo, o menino travesso e energético. Que não conseguia deixar de me fazer sorrir um segundo sequer. – ela comentou, enquanto fazia carinho no rosto do filho.
– Mãe, agora não é uma boa hora. – repreendeu Gustavo, solenemente.
– Eu sei que seu pai tem sido duro com você. E ele não vai parar até que prove a si mesmo que estava certo. – falou Márcia
Gustavo sabia que o pai era exatamente assim. Ele sempre o colocou contra a parede. Sempre o forçou vê que ele estava errado e que o pai estava certo. Noah costumava dizer que seu irmão Diogo e seu pai nunca deveriam se encontrar, pois eles poderiam juntar forças para ver qual seria a melhor maneira de tortura-los ainda mais. O que infelizmente não aconteceu. O pai dele trabalhava com o irmão de seu amigo.
– Sabe que nada do que eu faça, nunca estará bom para o papai. – disse Gustavo.
– Chegou a hora de você se impor Gustavo. Mostrar a seu pai que você cresceu, mostre que ele é quem está errado dessa vez. – incentivou sua mãe.
Ele não sabia se ela estava falando sério, ou se estaria tentando vê até onde iria à vontade do seu filho de ser impor ao próprio pai.
– E como eu vou fazer isso? Meu pai parece saber qual será meu próximo movimento a todo o momento. – disse ele passando a mão entre os cabelos.
Márcia pegou o copo e se levantou, foi até o filho e lhe deu um beijo na testa.
– Primeiro pare de tentar surpreender seu pai e comece a surpreender a si mesmo, comece percebendo o potencial que há em você. Então você irá provar ao seu pai que ele estava errado sobre você. – sugeriu Márcia.
Gustavo ficou pasmo com o conselho de sua mãe. Ele nunca pensou que um dia fosse ouvir aquelas palavras dela. Ela parecia estar confiante nas palavras que dizia.
Ele abriu o notebook e começou a jogar um game online, ele não percebeu que já estava tarde. Seu celular tocou era uma mensagem de Beatriz, ele pensou que fosse um convite para beber na quarta ou fazer alguma coisa na sexta, porém a mensagem foi ainda mais perturbadora.
André está de volta à cidade e Noah já se entregou novamente aos seus encantos
Aquilo realmente era mal. No ano em que André partiu sem nem mesmo se despedir de Noah, tudo ficou um caos por uns meses. Gustavo havia presenciado o amigo se afundar em um profundo abismo de solidão, desespero e abandono. Ele era um dos poucos amigos que Gustavo podia chamar de irmão. Os dois haviam passado momentos muito divertidos juntos. Como quando ele decidiu assumir para o Grupo sua homossexualidade, todos aceitaram de bom grado sua opção. A partir daquele dia Gustavo sentiu o maior orgulho em ter Noah como seu amigo.
Gustavo prometeu a si mesmo, que nunca mais iria deixar alguém ferir Noah. Aquele que tentasse ferir seu amigo veria como as coisas funcionavam entre eles. Porque uma coisa eram eles ali dentre o Grupo se ferir, outra coisa era alguém de fora querer ferir um deles. Gustavo não podia fazer nada no momento só podia esperar os próximos capítulos. Ele tomou uma ducha rápida comeu um sanduiche e se deitou na cama, a fim de esperar o sono chegar até ele.
***
Gustavo acordou no mesmo horário de sempre as 6hrs da manhã. Tomou um banho demorado e se vestiu para o trabalho. Ele foi para cozinha tomar café, sua mãe estava já à mesa se deliciando com um bolo delicioso de aipim.
– Bom dia mãe! – o saudou.
– Bom dia filho! – retrucou sua mãe. – Dormiu bem filho?
– Sim!
Gustavo reparou que seu pai não estava na mesa. Aquilo era incomum seu pai sempre tomava café com eles.
– Onde está papai? – perguntou Gustavo.
– Seu pai saiu cedo, falou que tinha algo para resolver. – respondeu Marcia.
Gustavo não perguntou mais nada, ele tomou uma caneca de leite com chocolate. Ele não podia chegar atrasado à fábrica afinal ele era um dos diretores. Deu um beijo em sua mãe e partiu em mais uma jornada. Levava apenas 25min de sua casa até a fábrica FHSM, dependendo do transito. A fábrica ficava no distrito de Conselheiro Paulino e era enorme a fabrica parecia ser um distrito dentro de outro distrito.
Assim que chegou a fábrica algo chamou sua atenção. O carro de seu pai estava na vaga que deveria ser sua. Gustavo apertou as mãos sobre o volante de tanta raiva que percorria por seu corpo naquele momento. Seu pai o estava provocando além da conta. Estava passando dos limites. Ele procurou um lugar para estacionar o carro. Antes de sair do carro respirou fundo e se olhou pelo retrovisor.
– Eu tenho que me surpreender primeiro. – disse ele a si mesmo pelo reflexo do espelho retrovisor.
Ele saiu o do carro e seguiu para o edifício principal da fábrica. O prédio consistia em três andares, havia a recepção, no primeiro andar era onde ficava o RH dentre outros departamentos menores, no segundo era onde ficavam as salas dos diretores da fábrica e no terceiro ficava o presidente e o vice-presidente da fabrica. Assim que chegou ao segundo andar, Emília que era a recepcionista do segundo andar estava se servindo de um café. Ela ficou pálida assim que o viu.
– Bom dia Sr. Gustavo, seu pai está em sua sala. Eu pedi para que ele esperasse o senhor chegar, porém ele disse que o senhor não se importaria. – falou a Emilia entre gaguejo e medo.
– Todo bem Emília. – disse ele a fim de deixa-la calma.
Ele não podia dizer se o dia seria bom ou ruim. Pelo que ele podia entender, o seu humor para aquele dia seria definido a partir da conversa que teria com seu pai dentro daquela sala.
A sala de Gustavo tinha uma janela que dava diretamente para a ampla sessão de produção da fábrica e seu pai estava ali olhando aquele setor que por anos esteve em seu controle.
– O que você está fazendo aqui pai? – perguntou Gustavo fechando a porta.
– Bom dia pra você também filho. – falou Anselmo sem ao menos olhar para o filho.
Gustavo colocou sua carteira e suas chaves do carro dentro de uma gaveta que ficava acoplada a sua mesa.
– Você não tem mais permissão para entrar nesta sala como bem entende. – advertiu Gustavo
– Não venha me dizer o que eu posso e o que eu não posso fazer aqui dentro. – retrucou Anselmo e dessa vez se virando para ver o filho.
– Me desculpe, mas parece que você não entende que isso aqui não é mais da sua conta. – disse Gustavo segurando seu par de óculos.
– Eu vim à fábrica para conversar com o seu superior, sabe lhe dar uma dica. – falou seu pai indo a sua direção.
Depois de tantos anos, Gustavo estava sentindo-se acuado pelo seu pai. Ele estava ainda mais imponente sobre ele. Gustavo estava com medo.
– O que você veio falar com o Sr. Helio? – perguntou Gustavo com medo da resposta.
– Eu sugeri a ele, que exija um aumento de 25% na produção, é claro, sem perder a qualidade. – falou Anselmo.
Gustavo não podia demonstrar fraqueza perante o seu pai, não podia o deixar sentir que estava com medo. Mas eram 25%, isso era muita coisa. Ele não sabia se iria dar conta. No entanto ali estava a oportunidade de se surpreender e de surpreender seu pai. De mostrar ao seu pai, o quanto ele sempre esteve errado em relação ao seu filho.
– Você tem quatro meses, para provar que é melhor do que eu filho. – falou Anselmo.






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