Laços escrita por Darlan Ribeiro


Capítulo 5
Capítulo 1 x 5




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Noah

Já eram três da tarde, Noah havia acabado de corrigir as provas. Quatro alunos teriam de fazer a prova de recuperação. Ele agora iria tomar um banho e descansar um pouco tirar aquele sono da tarde, porém seus planos foram interrompidos ele até chegou a ouvir seu cochilo da tarde lhe dizer: Adeus, enquanto a campainha de sua porta era tocada freneticamente. Ele chegou a pensar que fosse algum vizinho passando mal ou, algum amigo que estava pelo centro com vontade de fazer o numero dois e decidiu dar uma passada na sua casa para usar o sanitário. O que acontecia quase sempre.
Assim que abriu a porta ficou surpreso por vê de quem se tratava. Era Flávio o seu melhor amigo. Os dois não eram amigos desde infância. Eles haviam se conhecido na escola enquanto Noah estava cursando o ultimo ano do ensino médio e Flavio o primeiro. Os dois começaram a conversar pela rede social e o papo foi ficando mais frequentes na escola. Ambos haviam passado momentos incríveis juntos e riram bastante. O que fez a cumplicidade dos dois aumentar ainda mais a cada ano que se passava.
O que foi to mal vestido? perguntou Flavio se analisando para vê se tinha algo de errado consigo mesmo.
Não o babaca. falou Noah, puxando o amigo pra si e dando um abraço nele.
Os dois se abraçaram com tamanha força que parecia que um ia quebrar os ossos do outro. Aquilo fez com que Noah lembra-se a primeira vez que os dois haviam se abraçado. Flavio iria embora por um ano para estudar no Canadá e quando os dois foram se despedir. Logo ele que sempre foi durão e seco abraçou o amigo como se fosse o ultimo abraço. Mas agora ali estavam eles novamente se abraçando.
Vamos entre! convidou Noah. Vou apenas trocar de roupa.
Flavio era bonito não era malhado, mas tinha um corpo esbelto a sua forma natural. Ele trajava uma camisa social vinho, calça jeans e sapa tênis. Ele se acomodou no sofá enquanto Noah foi até o quarto se trocar.
Quando foi que voltou do Canadá? perguntou Noah.
Ele se perguntou se aquele ano seria o ano de voltar pra casa, o primeiro a retornar foi André. Gustavo havia ligado para ele domingo dizendo que Konrad também estava voltando ao Brasil e agora Flávio estava ali bem diante dele.
Voltei semana passada, só não o procurei antes, pois estava cheio de coisas para resolver. Como me instalar novamente na casa dos meus pais, o fuso horário também que ainda to me acostumando novamente, dentre outras coisas. explicou Flavio
Noah ouviu sua barriga roncar, ele olhou para seu amigo pedindo desculpas, mas o seu amigo também parecia estar com fome.
Vamos fazer um lanche? o sugeriu
Você ainda sabe fazer aquele misto quente? provocou Flávio
Noah levantou as sobrancelhas, como se alguém duvidasse de sua pessoa.
Nunca perdi o jeito.
Os dois seguiram para a cozinha. Noah sempre adorou sua cozinha por ser bem espaçosa. Ele havia terminado de pagar a ultima parcela de sua cozinha planejada naquele começo de ano. Ele pegou a sanduicheira enquanto Flávio ia ao armário pegando os ingredientes para fazer o misto quente.
Noah colocou a água para o café no fogo. Ele sempre gostou de fazer o café a moda antiga. Com o bom coador de café. Aquilo era o que realmente dava o sabor ao café, assim ele pensava.
Seu apartamento ta do jeito que você sempre quis brother. comentou Flavio.
Eu fiz o que pude. se gabou ele.
Enquanto ele ia coando o café, Flavio ia vigiando o misto quente e pegando as canecas para o café e os pratos para porem o misto quente. Finalmente ficaram prontos, ambos estavam com muita fome e enquanto comiam não falaram muito.
E ai Noah. Pegando muitas mulheres. Imagino que um professor como você. Desperta o interesse de muitas alunas. comentou Flavio.
Tudo pareceu ficar distante naquele momento. Noah sentia uma angustia enorme no peito por não poder contar sobre sua homossexualidade ao melhor amigo. Afinal Flávio sempre foi machista, ele não sabia qual seria sua reação. E o mais difícil era ter que esconder a paixão que ele sentia pelo amigo. Ele sabia que Flávio estava noivo, sua noiva Mariana, havia se tornado uma grande amiga dele. E sempre que ela queria um conselho sobre como lidar com Flavio era a ele que ela recorria. Aquilo o fazia se sentir anda mais sujo.
Não tenho tido tempo para garotas no momento. respondeu ele numa tentativa mórbida de mudar de assunto.
Ele percebeu que Flavio não havia ficado satisfeito com a resposta, mas também não iria se aprofundar no assunto. Isso era o que fazia a amizade dos dois ser ainda mais fiel. Ambos sabiam quando um ou outros não estava a fim de dar continuidade a uma determinada conversa.
Mariana ficou no Canadá? perguntou Noah
Não, ela e a família dela vieram para o Brasil. respondeu Flavio pousando a caneca na bancada.
Veio passar férias, isso é legal. falou Noah com um sorriso no rosto.
Quase isso.
Dessa vez Flavio olhava para o amigo, com um olhar de quem estava à procura das palavras certas. Ele sabia que o amigo iria entender. O problema é que ele ainda não havia assimilado aquela informação.
Fala logo Flavio. pediu Noah
Eu e Mariana vamos nos casar daqui a cinco meses. disse ele quase como quem estivesse indo para a forca ou cadeira elétrica.
Que ótima noticia mano, fico muito feliz por você. Comentou Noah, não deixando transparecer um pouco do desapontamento em ouvir aquilo.
Ele sempre quis saber qual seria a sensação de saber que a pessoa que na qual você está apaixonada vai se casar com outra. E ali estava ele sentindo a sensação e era ruim, parecia como se por dentro de você. Tudo estivesse se deteriorando. Como se você fosse ficar oco.
Obrigado amigo! disse Flavio. Mas eu gostaria de saber se você gostaria de ser meu padrinho de casamento?
Então ali estava a pergunta que acontecia dentre uma e um milhão de situações como aquela. Noah teve vontade de responder não, pois não sabia se conseguiria suportar aquilo. Entretanto ele tinha de fazer aquilo pelo seu melhor amigo, seria um hipócrita se não aceitasse.
Eu fico lisonjeado com o convite. respondeu Noah.
Dessa vez foi Flavio quem tomou a iniciativa de abraçá-lo. Noah viu a lágrima escorrer pelos olhos de Flavio, como se estivesse rolando de seus olhos. Flavio estava realmente chorando. No entanto ele não conseguia descobrir qual o motivo.
Você sempre foi mais do que um amigo pra mim. disse Flavio.
Noah se afastou dele e o encarou. Seus olhos também começavam a se encher de lágrimas.
Somos irmãos. concluiu ele.
Flavio apenas concordou balançando a cabeça e depois enxugando as lágrimas com a manga da camisa. Os dois voltaram para a sala e decidiram jogar um pouco de vídeo game como nos velhos tempos.
Eles ficaram tão entretidos jogando, que nem perceberam que havia anoitecido e já estava ficando tarde. Noah ouviu alguém bater na porta e então foi atender. Era André, ele havia se esquecido de que Andre iria dormir em sua casa naquele dia.
André se inclinou para dar um selinho em Noah, mas ele se esquivou deixando-o um pouco confuso. André olhou por cima dos ombros de seu amado e viu que ele estava com visita.
Acho que cheguei num momento impróprio. ele comentou.
Não, que isso. falou Noah tentando parecer calmo.
André entrou e foi até Flavio para cumprimenta-lo. Os dois deram um aperto de mão.
André. se apresentou ele
Flavio.
Os dois pareciam já se conhecer, no entanto não sabiam de onde. Flavio se levantou pronto para ir embora.
Noáh acho que já vou indo. Esta tarde. disse Flavio apalpando os bolsos.
Tudo bem! concordou Noah.
Os dois dessa vez deram apenas um aperto de mãos. Noah o acompanhou até a porta. Flavio deu um aceno de mão para André que estava na porta da cozinha, encostado na parede vendo alguma coisa em seu celular. André respondeu o gesto da mesma maneira.
Você pode almoçar comigo e Mariana na quarta, para conversarmos sobre os padrinhos? perguntou Flavio
Claro, vai ser ótimo! respondeu Noah.
Eu ligo para dizer o horário e local.
vou aguardar então e mande um beijo para Mariana.
Vou mandar. Até amigo.
Até.
Noah ficou esperando Flavio entrar no elevador. Assim que ele entrou. Fechou a porta.
***
André estava na cozinha, ainda se perguntando o porquê de Noah não o ter lhe beijado. Será que ele já havia feito alguma coisa de errado, ou talvez aquele fosse um de seus antigos casos.
Acho que sei bem o que você esta pensando nesse momento. supôs Noah pegando as canecas que estavam na bancada.
André agora estava tirando as cervejas da sacola e as guardando na geladeira. Ele olhou para Noah com o olhar de quem estava esperando uma explicação.
E ai, o que estou pensando? provocou ele.
Noah colocou as canecas na pia e foi andando na direção de André. Ele o abraçou e apoiou sua cabeça em suas costas. Ele sentiu as mãos de André pousar sobre as suas, elas estavam um pouco geladas, mas era bom sentir aquela sensação.
Olha pra mim! pediu ele
Os olhos de André estavam vidrados no rosto de Noah, sua barba estava feita, seu cheiro exalava tranquilidade e ponderação seus lábios estavam trancados esperando o momento certo para se abrir.
André, aquele cara é meu melhor amigo. começou Noah. Ele chegou semana passada do Canadá, vai se casar daqui a cinco meses e me convidou para ser seu padrinho de casamento.
Eu só não entendi uma coisa. comentou André ajeitando um dos cachos de cabelo de Noah.
E o que foi? perguntou Noah
Porque você não me deu o selinho, assim que cheguei? perguntou ele.
Antes de responder, Noah se afastou dele e foi andando em direção a pia e apoiando suas mãos sobre ela.
É complicado. falou ele.
Dessa vez foi André quem o abraçou por trás e deu-lhe um beijo na nuca.
Então descomplica. pediu André
Então tudo para Noah pareceu se tornar confuso. Pessoas vivem guardando segredos, segredos que às vezes os levam a ruína. No entanto algumas preferem morrer a contar a verdade. Ele se viu numa encruzilhada que ele mesmo havia traçado para sua vida. Tudo estava tão intenso naqueles últimos dias. Sua vida amorosa, profissional, até mesmo a familiar. Tudo estava indo rápido demais. E ali agora estava ele num caminho onde ele poderia continuar com a mentira de ser heterossexual e manter sua amizade com o melhor amigo. Ou dizer que era gay e perder o seu melhor amigo pra sempre.
Flavio não sabe que sou gay. falou Noah
André o apertou com mais força contra si mesmo. Afinal ele sabia como era difícil contar para amigos que tem uma visão totalmente diferente daquilo que você realmente é. Ele virou Noah fazendo com que eles ficassem frente a frente. Então deu um beijo bem caloroso, sentindo o aroma de café que brotava de sua boca.
Amor você vai saber o momento certo para contar a verdade a ele. falou André e logo em seguida dando um beijo na ponta do nariz de Noah
Noah apoiou sua cabeça no peito de André sentindo sua respiração. Os dois estavam se dando uma nova chance apesar de tudo o que havia acontecido. Ele conseguia ver em André a vontade de fazer com que dessa vez desse certo. De que a paixão estava aflorando para eles mais uma vez
Tomara amor. disse Noah o abraçando como se sua vida dependesse daquele abraço.
***
André havia ido colocar o carro na garagem, já que o carro de Noah ainda estava na revisão. André viu um carro estacionar do lado dele. Ele reconheceu a figura que saia do carro era Diogo Honório, irmão mais velho de Noah. Diogo o reconheceu de imediato e não pareceu ficar feliz em vê-lo.
André. disse ele fechando a porta do carro.
Se havia uma pessoa que na qual André e todos os amigos de Noah sentiam medo. Era Diogo. Ele nunca deixou de mostrar sua proteção exacerbada e um pouco exagerado pelos irmãos. Até mesmo quando Sandra era viva, todos os outros quatro irmãos temiam mais o irmão mais velho do que os próprios pais. André sabia o quanto ele era exigente principalmente quando se tratava de Noah.
Olá Diogo. cumprimentou ele.
Diogo foi até a porta malas do carro e pegou um grande embrulho, pelo tipo de embrulho parecia ser um quadro ou algo do tipo, mas aquilo não lhe dizia respeito.
O que você está fazendo aqui? perguntou Diogo intrigado em saber a resposta.
Acho que já sabe. respondeu André tentando se mantiver firme, o que era difícil quando se estava sozinho com Diogo.
Ele viu o irmão de seu namorado andando em sua direção. Totalmente imponente, como se não temesse ninguém. Como quem esmaga qualquer um que ficasse em seu caminho.
_ Vamos até aquele banco ali, quero contar-lhe algo André. disse Diogo.
Os dois seguiram até o banco de uma pequena praça; e ficou ali sentados um do lado do outro. Diogo colocou o embrulho do seu lado. Cruzou os braços e ficou olhando por um tempo o céu que estava estrelado. Algumas pessoas estavam voltando para casa depois de um longo dia de trabalho. As lojas começavam a fechar suas portas, estudantes seguiam para seus cursos ou estavam voltando depois de um longo dia. André só o observava e esperava ouvir o que ele queria lhe dizer.
Sabe por que me preocupo tanto com meu irmão? perguntou Diogo se virando para olhá-lo com aquele seu olhar frio.
Não! respondeu André diretamente.
Assim que entrei na faculdade, Noah estava com quatorze anos, ele estava na sétima série e começaria a trabalhar naquele ano. Eu já estava em São Paulo, quando ele me ligou para dar a notícia. Nunca senti tanto orgulho dele, como senti naquele dia e ele vem me surpreendendo cada vez mais.
André não sabia onde Diogo queria chegar contando aquela história pra ele, mas ele se interessou ainda mais pela história.
_ Ele pegava no trabalho todos os dias as sete da manha de segunda a sexta e saia às onze e meia, para correr até em casa tomar um banho, almoçar e ir para escola. Sem falar que algumas vezes depois que saia da escola. Ele voltava para a confecção onde trabalhava e trabalhava às vezes até as oito ou nove da noite. E mesmo assim mantinha suas notas com excelência acima de oito. Todo o pagamento dele, ele dava a minha mãe e pedia para que ela depositasse em minha conta. Sabe por que André? perguntou Diogo enfim.
André não sabia o porquê, mas queria saber o motivo de Noah fazer tudo aquilo, se matar de tanto trabalhar e depois depositar todo o dinheiro que ganhava para seu irmão.
_ Não faço a menor ideia. ironizou Andre
Diogo lançou o mesmo sorriso que Noah tinha o costume de dar, quando era provocado ou se sentia intrigado em fazer algo.
Ele dizia a mamãe, que aquele dinheiro era pra eu poder sair, me divertir. Não deixar de fazer as coisas que eu gostava de fazer. A final ele sabia que minha mãe e meu avô depositavam apenas a grana contada, para o aluguel do apartamento onde morava, passagem e para fazer as compras do mês e pagar as despesas. concluiu Diogo
André não tinha o que falar. Afinal ele não sabia que a família deles já havia sido pobre. Quando ele conheceu Noah, sua família era dona de um dos maiores impérios de confecção de Nova Friburgo a Azyam Lingerie. Eles sempre agiram de forma simples, menos Diogo que fazia questão de ostentar todo o dinheiro que ganhava com sua carreira prestigiada como engenheiro mecânico.
Eu não sabia disso. disse André completamente surpreso.
Diogo se espreguiçou no banco e se levantou pegando o embrulho e o entregando a André.
Agora você entende o porquê da minha proteção quanto ao meu irmão? perguntou Diogo ainda segurando o embrulho.
Sim, eu entendo e acho lindo o seu carinho pelo seu irmão. falou André olhando Diogo com admiração.
Novamente o sorriso se manifestou no rosto de Diogo. André pensou em retribuir o sorriso, mas se lembrou de que Diogo nunca fora de dar sorriso. Então se conteve em não sorrir.
Não ache lindo o meu carinho pelo meu irmão. falou Diogo dando duas tapinhas no ombro de André. Porque se você fizer meu irmão sofrer novamente. Dessa vez quem vai atrás de você; sou eu.
Está me ameaçando Diogo? perguntou André com medo da resposta.
_ Estou lhe aconselhando. disse Diogo dando as costas para André e seguindo em direção ao seu carro.
***
Quando André chegou ao apartamento, Noah estava sentado no sofá com o notebook aberto, deveria estar conversando com algum amigo, mas não se interessou em saber quem era ou o que fazia.
Seu irmão Diogo, mandou-lhe entregar isso. disse ele mostrando o embrulho.
Noah deixou o computador de lado rapidamente e foi correndo para vê do que se tratava. Ele rasgou o embrulho com tamanha veracidade. E lá estava uma foto dos cinco irmãos Honório na beira da piscina um em cima do outro de barriga para baixo.
André o deixou curtir a foto e foi até o banheiro lavar o rosto, as últimas palavras de Diogo ainda o perturbavam. Ele não queria e nem podia colocar a palavra Do mesmo a prova.


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