Laços escrita por Darlan Ribeiro


Capítulo 27
Capítulo 2 x 3




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Konrad

Já eram sete da noite e Konrad havia terminado de planejar suas aulas. Já que ele era o novo professor de Cálculo da faculdade da cidade. Não foi muito difícil conseguir o emprego com o seu excelente currículo. Já que suas aulas já estavam planejadas, ele decidiu sair para dar uma volta pelo centro da cidade.

Morar com Gustavo estava sendo uma experiência incrível. Dois homens morando em uma casa, com certeza era sinal de zona de guerra aos olhos das mulheres. No entanto ele e Gustavo não eram aquele tipo de homem, pois a casa sempre estava um luxo. Já fazia três meses que os pais de Gustavo haviam comprado um sitio no interior do estado do Rio de Janeiro e haviam se mudado para lá. Mas eles faziam questão de aparecer às vezes para ver como estava tudo. E ali estava o motivo para os dois manterem a casa sempre limpa. O senhor e senhora Domingues faziam questão de fazer uma visita surpresa. Então a casa tinha sempre de estar impecável.

Konrad tomou um banho rápido, vestiu uma roupa leve e foi para um dos bares mais frequentados de Nova Friburgo, o chamado Kalil. É claro que até chegar ao local ele teve de enfrentar um pequeno engarrafamento. O dia começava a escurecer a noite continuava fresca. A noite estava propícia para um Chope. Ele começou a pensar em quem ele poderia ligar para chamar pra beber com ele e decidiu ligar para Noah. Ele ligou para o telefone residencial de Noah. Que atendeu ao telefone na segunda chamada.

– Alô! – falou Noah do outro lado da linha

Konrad percebeu que a voz do amigo estava meio que cansada, sua respiração estava descontrolada como se ele estivesse exausto.

– É o Konrad falando. – se apresentou –, aqui está a fim de sair pra beber comigo hoje?

– Só dizer a hora e lugar!

– Estou indo agora para o Kalil.

– Vou tomar um banho, pois acabei de chegar da academia e lhe encontro daqui a meia hora.

– Fechou!

– Até então.

Meia hora também havia sido o tempo que Konrad havia calculado pra sair daquele inferno de engarrafamento que tinha no viaduto. Enquanto estava parado no engarrafamento ele olhou pela janela do carro e viu o lugar onde havia morado por vinte e dois anos. O chamado morro do Cordoeira, sua infância e adolescência estavam ali. Mas ali não estavam somente lembranças boas. Ali também estava o seu pesadelo. Um passado que ainda o atormentava, desde a morte de seu irmão mais novo. Ele não conseguia por os pés naquele lugar. Mas ele sabia que mais cedo, ou mais tarde. Ele teria de ir até lá e fincar uma faca no passado, no pesadelo que o assombrava. Logo ele foi tirado de sua onda de pensamentos por um som irritante de algum motorista com a mão pressionada sobre a buzina. E aquilo o estressou.

– TÁ COM PRESSA? PASSA POR CIMA COLEGA. – gritou Konrad colocando a cabeça pra fora pela janela do carro.

No mesmo instante o motorista nervosinho parou de buzinar.

– Babaca! – falou Konrad sozinho.

Meia hora depois Konrad conseguiu sair do engarrafamento. Ele estacionou o carro na rua de trás do supermercado Floral. Quando chegou ao Kalil, notou que Noah já estava lá. Ele usava uma camisa de malha cinza e uma bermuda xadrez azul.

– Faz muito tempo que você chegou? – perguntou Konrad, cumprimentando o amigo com um abraço e aperto de mão.

– Cheguei faz uns dez minutos! – respondeu Noah

Um garçom se aproximou da mesa para fazer o pedido. Os dois pediram chope, o que dava a entender que a noite seria longa e proveitosa.

– E como estão às coisas Noah? – perguntou Konrad, a fim de dar início a conversa.

– As coisas estão muito bem. Pelo menos pra mim eu sei que estão. – disse Noah com um sorriso meio que tímido

– Você está bem realmente, você está mais pra cima. Pelo visto o Lucas vem lhe fazendo bem. – comentou Konrad com certa malicia em ver o amigo ficar sem graça.

O que de certa forma deu muito certo, pois Noah além de ficar vermelho de vergonha, se engasgou com a própria saliva.

– Eu não entendi a parte do Lucas. – falou ele, tentando entender uma conexão. Quando a conexão já estava mais que evidente.

– Seu piranha! Todo mundo sabe que vocês dois estão afim um do outro.

– Sabem?

– Cara tudo ficou muito claro para o pessoal do Grupo. Na festa de natal na casa da Bia. O jeito com que ele lhe olhava, a maneira com que ele lhe abraçou na hora em que você lhe entregou seu presente. Lucas gosta de você e você dele.

O garçom chegou com as duas taças de chope. Estava tão gelado que parecia congelar cada órgão de seus corpos.

– Vocês vão querer comer alguma coisa? – perguntou o garçom.

– Uma porção de asinhas recheadas. – pediu Noah.

– Elas levarão vinte minutos para ficarem prontas. – explicou o garçom

– Tudo bem! – disse Konrad

O garçom anotou o pedido e saiu.

– Creio que o Grupo está muito interessado na minha vida amorosa. – disse Noah tomando mais um gole de sua bebida. – Mas e você Konrad, ainda não conheceu ninguém? Nenhum boy que tenha lhe chamado atenção?

– Você sabe como é complicado encontrar alguém que queira um relacionamento sério nesse nosso meio. E eu não quero sair ficando com qualquer um. Tenho certeza que na hora certa. Tudo vai acontecer. – disse Konrad olhando para um aglomerado de pessoas, que esperava o sinal se fechar, para que pudessem atravessar.

A conversa estava muito boa, quando foi interrompida por um homem, que usava uma camisa polo verde escura e calça jeans. O homem se aproximou da mesa e cutucou Noah no ombro.

– Oi Noah! – disse o homem.

Noah reconheceu o homem de imediato, era Enzo Montes, irmão mais novo de sua melhor amiga Yasmim Montes. Toda a família Montes vinha de uma linhagem de médicos muito bem sucedidos na cidade. Enzo era cirurgião obstetra e estava cuidando da gravidez de Beatriz e sua irmã era uma excelente cirurgiã.

– Enzo, o que te traz aqui numa terça à noite? – perguntou Noah.

– Só aproveitando o que a noite tem de melhor para oferecer. – respondeu Enzo.

Noah ouviu Konrad pigarrear de leve, como quem diz: Você não está se esquecendo de nada?

– Enzo... Este é meu amigo Konrad, chegou ano passado depois de uma longa temporada em Londres.

Os dois apertaram as mãos e Konrad sentiu uma imensa atração por Enzo. E não tinha como não se sentir atraído. Enzo parecia ser um deus grego, alto, olhos zuis, cabelos negros e um corpo malhado, sem falar que era médico.

– Acho que já o vi em algum lugar. – disse Enzo fazendo um esforço para tentar se lembrar de onde o tinha visto.

– Talvez no seu consultório, eu levei Beatriz umas duas vezes para fazer o pré-natal. – comentou Konrad.

– Exatamente! – afirmou Enzo.

– Por favor, sente-se com agente. – convidou Konrad.

Os Três ficaram ali bebendo por horas, Noah e Konrad decidiram exagerar bastante na dose da Tequila. Já Enzo ficou apenas no refrigerante, pois estava dirigindo.

Konrad se sentiu agradecido por estar novamente em casa, junto de seus amigos, pois fazia anos que ele não sabia o que era sair pra beber e ficar de porre. E ele sabia que isso com os seus amigos era como se fosse uma lei. “Saiu pra beber, tem que ficar de porre”. Era isso o que tornavam as noites especiais com os amigos.

Enzo viu que tinha um celular em cima da mesa vibrando.

– Tem um celular vibrando, acho que é o seu Noah. – informou ele.

Noah pegou o celular e colocou o visor quase que colado nos olhos para ver quem estava ligando.

– É o Lucas, preciso atender. – disse ele, se levantando e afastando-se um pouco da mesa.

– Quem é Lucas? – perguntou Enzo.

– Lucas é o novo amor do Noah, só que ele ainda não aceita isso. – respondeu Konrad.

– Huumm.

O papo se estendeu por mais algumas horas, mas estava na hora de ir embora. Konrad, não estava em condições de dirigir e para Noah não tinha problema nenhum já que ele morava cerca de dez minutos dali a pé.

– Eu vou chamar um taxi para você Konrad. – informou Noah.

– Obrigado! – ele agradeceu.

– Não precisa. Eu o levo em casa. – disse Enzo, verificando se as chaves e a carteira estavam em seu bolso, – sem nenhum problema.

– Tem certeza? – questionou Noah.

– Tenho. – afirmou Enzo, já com as chaves nas mãos. E olhando fixamente para Konrad que estava sentado na cadeira quase que caindo para o lado, – eu o deixarei em casa com segurança.

– Obrigado, fico lhe devendo essa. – disse Noah.

Enzo deu duas tapinhas nas costas de Noah e foi na direção de Konrad, tirou o copo de tequila que estava em suas mãos.

– Hora de ir cara. – disse ele levantando e jogando o braço esquerdo de Konrad sobre seus ombros, na tentativa de ancora-lo.

– Eu vou pagar a conta. – disse Noah.

– Até mais vê! – se despediu Enzo

– Valeu pela noite, amigo. – disse Konrad com a voz totalmente embriagada.

– Até mais rapazes; - se despediu Noah, dando um leve sorriso por ver Konrad naquela situação.

Enzo foi levando andando com muita cautela, porém sua cautela não foi o suficiente para impedir que Konrad tropeçasse umas quatro vezes. Assim que chegou ao carro. Enzo o sentou cuidadosamente no banco de carona, colocou o sinto de segurança e inclinou um pouco o banco. Numa medida de tentar impedir que ele vomitasse no carro.

– Que situação deplorável. – comentou Konrad, quando Enzo ia fechando a porta do seu lado do carro.

– Relaxa... Todo mundo já passou por isso. – falou Enzo, tentando o fazer se sentir normal com aquela situação.

***

Ele estacionou o carro em frente à garagem da casa de Konrad e viu a quão linda ela era.

– Linda casa. – o elogiou.

– Sim, mas não é minha. – disse Konrad, se desprendendo do sinto, – essa casa é dos pais do meu amigo Gustavo. O cara com quem estou morando.

– Entendi... Então é isso. – falou Enzo, olhando rapidamente para a rua e se voltando para olhar Konrad.

No entanto na hora em que se virou para ele, foi surpreendido pelos lábios de Konrad tocando os seus. Os lábios de Konrad levavam ainda um pouquinho do sabor da tequila, mas o beijo era bom. Enzo então deixou se envolver por aqueles lábios suaves aos seus. Deixou-se levar pelo frescor daquele beijo, que poderia se dizer roubado.

O beijo cessou e conforme os lábios foram se afastando. Os olhos se encaravam fixamente, sem pestanejar. Era os olhos cor de mel de Konrad encarado, o oceano dos olhos azuis de Enzo.

– Me desculpe... Eu não sei o que deu em mim. – se desculpou Konrad abrindo a porta do carro e saindo, mas ele sentiu Enzo segurar seu braço.

– Quando poderei sentir esses lábios colados aos meus novamente? – perguntou ele ainda o segurando.

– Talvez numa próxima vez, em que eu não esteja bêbado. – respondeu Konrad.

– Então posso concluir que será muito em breve. – disse Enzo soltando seu braço e lhe dando um sorriso afetuoso.

Konrad devolveu o sorriso e saiu do carro e agradeceu pela carona. Enquanto abria o portão da casa, ouviu Enzo ligar o carro e assim partir estrada a fora.

Ele entrou em casa e foi se escorando pelos moveis do corredor até chegar à sala, quando chegou à sala viu Gustavo deitado em um dos sofás vendo TV.

– Onde você estava? – perguntou Gustavo se levantando para ver o amigo.

Konrad levantou uma das mãos e fez um sinal para Gustavo como quem diz: espera só um segundo que já vou te dizer.

E então veio a resposta de uma maneira nada convencional.

– BLLLAAARRRRGGGGH.

Um jato nojento com uma cor meio que laranja foi o que saiu da boca de Konrad caindo direto no tapete de cor marfim que estava na sala.

– Sério? – indagou Gustavo olhando aquela coisa no chão com muito nojo no olhar

– BLLLLLAAAAAAUUU. – respondeu Konrad de maneira direta e sucinta que conseguia naquele momento.

Dessa vez Gustavo tentou se afastar o máximo possível daquele nojo que se espalhava pelo chão.

– Diz pra mim que acabou? – perguntou seu amigo, não esperando ouvir muito menos ver outro jato de vomito em resposta.

– Acabou. – respondeu Konrad limpando a boca com a costa das mãos, – mas eu acho que estou apaixonado.

Konrad foi escorregando suas castas pela parede até ficar totalmente sentado no chão.

– E quem é o cara, por quem você se apaixonou? – perguntou Gustavo indo em direção ao seu amigo para ajuda-lo, mas tomando cuidado para não pisar no vomito.

– Ele se chama Enzo. – respondeu Konrad sorrindo.


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