Somos um caso perdido. escrita por gabbecarruthers


Capítulo 6
Eu não ligo.


Notas iniciais do capítulo

ooooi. Gente, esse capitulo ta enoooooooooorme, e eu simplesmente amei. :3



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Fico olhando para a tela do meu computador, sem saber se abro ou não o e-mail. Percebo que passei a ultima semana esperando por qualquer sinal de vida dele, e agora que tenho, o que mais desejo é que ele realmente estivesse morto, como já estava dentro de mim. Resolvo abrir o e-mail por pura e simples curiosidade.

‘’De : Jonathan Morgans

Para: Keyla Morgans

Assunto: saudades.

Olá filha, sei que sai da sua vida de modo bruto, mas isso não tem nada a ver com você. Foram... problemas entre sua mãe e eu, ela me escondia coisas, coisas que eu merecia saber, coisas que você também merece saber. Meu amor, eu não te abandonei, como você deve pensar, eu nunca te abandonaria. Porem, morar com sua mãe não era mais uma opção. Quando descobri o que ela escondia de você, ameacei contar tudo, e ela ameaçou fugir com você para que eu não tivesse mais nenhum contato com você. Essas coisas são serias demais para se contar por um e-mail. Vou te mandar uma encomenda que talvez chegue semana que vem, junto com uma carta. Eu preciso te ver, minha filha. Por favor, me perdoe.

Seu pai. ‘’

Leio e releio o e-mail umas mil vezes, tentando absorver tudo aquilo. Que coisa era essa? Mentiras? Fugir comigo? Encomenda? Como assim? E como assim precisa me ver? Paro de ler e me deito olhando para o teto. Se meu pai foi embora por causa desse segredo, eu quero saber o que é.

Fico ensaiando o que dizer até a hora em que ouço a porta da frente sendo aberta, meu coração acelera, mas eu não sei porque. Talvez seja porque eu estou prestes a perguntar pra minha mãe qual a mentira que fez meu pai nos deixar. Vou até a sala e a olho por um momento, minha mãe é linda, sempre foi. Uma mentira fraca não faria meu pai deixar uma mulher como minha mãe. Os cabelos castanhos ondulados brilham como estrelas, no reflexo da lâmpada no teto, o seu corpo não foi feito, foi moldado, pois é simplesmente perfeito, só o fato de ficar próximo a ela faz com que qualquer um esqueça a raiva, e não é diferente comigo. Parece magica.

–oi mãe. – digo e me aproximo dela para abraça-la. –como foi no trabalho? – pergunto. Ela me abraça forte e depois se afasta.

–ah, normal. Filha, seus olhos parecem distantes, o que você tem? – ela pergunta preocupada.

–nada, mas eu gostaria de fazer uma pergunta.

–claro, pode falar. – ela se senta no sofá e me convida para sentar ao lado dela. Sento-me e levo os joelhos ao peito, abraçando-os em seguida, como um escudo.

–eu... – paro antes de falar qualquer coisa, eu não posso perguntar isso a ela, ela não vai me dizer. – é meio complicado... – digo, tentando inventar alguma coisa. – eu conheci um cara na escola, e ele é o meu único amigo até agora, mas hoje quando um cara me chamou pra sair, ele não deixou que eu fosse e ainda deu um jeito de espantar o cara. E eu não sei porque ele fez isso. O que você acha? – pergunto. Eu disse a primeira coisa que apareceu na cabeça, e minha mãe sempre foi liberal com esses assuntos, então não me incomodo de falar sobre isso com ela. Ela abre um sorriso de orelha a orelha e seus olhos brilham.

–querida. – ela começa. – ele está com ciúmes.

–mas ele nem me conhece. – digo confusa. – porque sentiria ciúmes de mim?

–quando você conhece alguém que te atrai, você sente ciúmes, ainda mais quando vocês se tornam próximos. – ela diz. – não precisa de muito tempo pra se apaixonar por alguém, ainda mais por alguém como você.

–como eu? – pergunto.

–você é uma garota linda, inteligente, divertida e muito cativante. – ela diz. – qualquer um se atrairia por você, é... Quase um dom. – completa hesitante. – mas agora, eu tenho que te falar uma coisa, mas não sei se você vai gostar.

–fala, ta me deixando curiosa. – digo sorrindo.

–então vou ser direta. O que acha de fazer um intercâmbio? – pergunta. Intercâmbio? O que? Minha mãe ficou maluca. Ela nota meu olhar confuso e continua : - só ano que vem, é que abriu uma agência de intercâmbio perto do meu trabalho e eu queria ver se você iria querer, você faz uma prova e, se você se sair bem, poderá escolher o país que quiser. – ela diz. – e já que seu inglês é fluente... – ela deixa as palavras no ar e me olha.

–eu... acho que é uma boa ideia, seria bom pra mim... – digo. – no ano que vem? Ultimo ano de escola? – pergunto e ela assente com a cabeça. – tudo bem, eu quero. – digo.

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Deitei-me na cama e encarei o teto, meu novo teto. O meu antigo teto era muito diferente desse, tinha estrelinhas que brilhavam no escuro por todo ele e varias marcas das bolinhas que eu jogava nele. Ainda é estranho olhar para esse teto e não ver as marcas do tempo dele, é estranho olhar pro meu quarto e não ver a minha antiga parede, minha antiga janela, meus antigos moveis, minhas antigas lembranças. Eu não tenho lembranças nessa vida nova, nesse quarto novo. No meu antigo quarto tudo me lembrava alguma coisa; minhas fotos me lembravam momentos com minha família e meus amigos; minha janela me lembrava o dia em que eu fugi de casa para ir em uma festa com a therese, minha melhor amiga; meu guarda roupa me lembrava o dia em que eu e minhas amigas tiramos todas as roupas de dentro dele e fizemos um ‘’desfile de moda ‘’ . e, pela primeira vez desde que sai de lá, me permiti sentir saudades de tudo aquilo, de todos eles, dele.

Abracei meu travesseiro e deixei as lagrimas caírem, pensando no rosto de therese quando entrei no avião com minha mãe, no rosto de Amanda, minha prima que cresceu comigo, que estava chorando agarrada a Jonathan, seu namorado. E pensei nele, em James, que estava me encarando sem expressão alguma no rosto, distante de todos, sussurrando ‘’ não me deixe ‘’ enquanto minha mãe segurava minha mão e me fazia entrar naquele maldito avião.

– James, a única pessoa que eu me permiti amar. – disse em um sussurro, mas algo dentro de mim completou sozinho: antes de conhecer Damien. Reprimi esse pensamento e continuei a chorar baixinho, enquanto os rostos de meus amigos iam passando em minha mente como uma forma de masoquismo. Demorei mais no rosto de James, tentando lembrar-me de cada detalhe, os olhos verdes brilhantes, o cabelo preto caindo na testa, as pequenas sardinhas que salpicavam seu rosto, o brilho de seu sorriso, o sabor de seus lábios... Tudo aquilo que formava meu primeiro amor. Uma pergunta emergiu da escuridão da minha mente: qual será o sabor dos lábios de Damien? E custei a reprimi-la. E foi com esses pensamentos e com lágrimas nos olhos que eu adormeci.

Acordei com o barulho do despertador tocando, olhei as horas no relógio e vi que eram 6:15 da manha. Levantei- me e fui até o banheiro, tomei banho e escovei os dentes embaixo do chuveiro. Deixei que as gotas passeassem pelo meu corpo enquanto lavava o cabelo, sai e sequei-me. Vesti uma blusa branca e uma calça jeans preta, coloquei meu casaco e peguei a mochila, fui até a cozinha onde minha mãe estava, dei um beijo em sua bochecha e peguei uma maça.

–bom dia. – disse.

–bom dia, não vai tomar café?

–não, estou atrasada, demorei demais no banho.

–ah, tudo bem. Cuidado filha, até mais tarde. – ela disse e me deu um beijo.

–até. – digo e vou até a porta. Abro-a e vejo um carro parado em frente a minha casa, não um carro qualquer, mas uma nada humilde Z-4 . Quase caio pra trás quando Damien se levanta do banco do motorista e me chama.

–entra ai, fadinha! – ele grita.

–Damien? – pergunto. – que banco você roubou? – pergunto.

–haha. – ele diz. – entra logo. – forço meus pés a saírem do lugar e ando até o banco do passageiro. Mas antes que eu tenha chances de abrir a porta, Damien se levanta e da a volta no carro, para de frente pra mim e abre a porta.

– obrigado. – digo. Sinto meu rosto esquentar e sei que estou da cor de uma pimenta.

–não precisa ficar vermelha, fadinha. – ele diz enquanto passa a mão nas minhas bochechas. – eu que sou das antigas. – ele ri e eu o acompanho. Ele volta ao banco do motorista e eu me sento ao seu lado.

–nossa. – deixo escapar e sinto meu rosto esquentar mais ainda. – quer dizer... Esse caro é incrível. – digo. Ele da uma gargalhada gostosa.

–eu também acho. – ele diz. – e com você dentro dele ele fica perfeito. – seu sorriso é radiante, e seus olhos estão brilhando como os de James brilhavam quando olhava pra mim, como se pudesse ver minha alma. Meu rosto esquenta mais e arrisco um sorriso, seus olhos prendem os meus e não consigo desviar o olhar, até que me forço a dizer:

–vamos nos atrasar pra escola.

–-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Chegar na escola no carro de Damien foi uma experiência única, as garotas me olhavam como se quisessem arrancar minha cabeça, ainda mais depois que ele passou o braço pelos meus ombros e me deu um beijo na bochecha. Meu rosto ficou vermelho pela milésima vez no dia, e não são nem 7:00 ainda. Ele ri e começa a enrolar os dedos no meu cabelo.

–elas estão me encarando... – digo baixinho. – se eu apanhar a culpa vai ser toda sua.

–eu não ligo pra elas, e bater em você não vai fazer elas ficarem mais interessantes pra mim.

–e elas sabem disso? – pergunto erguendo as sobrancelhas.

–não sei. – ele diz.

–e as outras, as que te rodeiam na hora do intervalo, sabem disso?

–sabem, mas fingem não saber. – ele sorri. – está com ciúmes, fadinha?

–claro que não! – digo. – mas é que é errado iludir as pessoas.

–te garanto que não estou iludindo ninguém. – ele da uma piscadinha pra uma garota do outro lado do pátio, que acena de volta e move os lábios dizendo ‘’ me liga ‘’ . dou um tapa no braço de Damien e tiro o braço dele do meu ombro, começo a andar em direção a porta da escola sem ligar pro fato de ele estar me chamando. Apresso o passo para que ele não me alcance, mas não da certo, já que ele não só me alcança, como também agarra meu braço, me impedindo de correr.

–me larga. – digo com a voz inexpressiva

–não. – ele responde. Tento me livrar do aperto no meu braço, mas ele segura mais forte.

–tá me machucando. – digo sem olhar pra ele.

–eu não ligo. – olho pra ele com fúria e ele aperta mais. Uso meu braço livre e dou um tapa em seu rosto, ele solta um gemido de dor e larga meu braço. – isso doeu! – ele diz.

–eu não ligo! – digo e começo a correr pra dentro da escola. Passo pela porta e diminuo o ritmo até chegar no banheiro feminino. Tenho 15 minutos antes da primeira aula. Entro em uma das cabines e sento no sanitário com a tampa abaixada, junto os joelhos ao peito e encosto as costas na parede. Tento entender o que aconteceu comigo, a manha tinha começado tão bem, porque ele tinha que estragar tudo? Merda! James nunca teria feito algo do tipo. Mas porque eu estou comparando o James com o Damien? O que deu em mim? Damien não é nada parecido com James, eles nem estão na mesma categoria de relacionamento. Damien é meu amigo, James é o namorado que eu deixei pra trás. Fico repassando a cena na minha cabeça até que escuto o primeiro sinal tocar. Me levanto e saio da cabine, olho-me no espelho e ajeito o cabelo. Saio do banheiro e vou até a sala da primeira aula, que seria de sociologia. Quando entro a Srta. Markins já está em sua cadeira.

–bom dia alunos. – ela diz. – a aula hoje será em dupla, sentem-se com seus parceiros. – ótimo! Justo quando eu estou querendo enforcar meu parceiro essa múmia resolve fazer aula em dupla! Damien se aproxima de mim como se tivesse medo de que eu pudesse avançar em seu pescoço, e eu faria mesmo isso se não estivéssemos em publico. Ele coloca a cadeira ao lado da minha e se senta.

–oi. – ele diz me olhando, mas eu não olho pra ele, e também não respondo. Me viro para pegar meu caderno e meu livro dentro da mochila e faço questão de deixar a mostra o braço que ele apertou, que até agora estava com a marca vermelha de sua mão. – me desculpa por isso... – ele diz apontando para o meu braço.

–não, não desculpo. – digo ainda sem olhar pra ele. Abro o livro na pagina indicada no quadro e pego minha lapiseira dentro do bolso da frente da minha mochila.

–eu entendo que esteja com raiva de mim por causa disso, mas porque se irritou daquela maneira? – ele pergunta e eu finalmente olho pra ele, mas meus olhos não expressam nada além de raiva.

–ah, porque não pergunta praquela garota quando ligar pra ela? – digo. – e tomara que tenham uma conversa ótima.

–estou fazendo como você disse: investindo na minha vida amorosa. Você não disse que ia fazer isso? – ele pergunta, se referindo ao que disse quando conheci o zack, mas seu tom é sínico.

–ótimo, então eu vou falar com o zack hoje, ou com qualquer um que se importe quando eu disser que está me machucando. – digo no mesmo tom. – vamos investir nas nossas vidas amorosas. – ele me olha sério, depois desvia o olhar pro meu braço vermelho. Eu coloco a mão por cima da marca vermelha aonde a dele pressionou e olho no fundo de seus olhos. – vai precisas de mais do que palavras pra me fazer te perdoar por isso, nunca mais encoste em mim. – digo e desvio o olhar. Passo a aula toda olhando fixamente pra frente, respondo as questões que nos foram feitas e, quando finalmente o sinal toca, saio da sala sem lhe falar nenhuma palavra.

As outras aulas foram um tédio total, de sala em sala, pareceram-se anos o que na verdade foi apenas dois horários. O sinal do intervalo toca e eu vou para o pátio. Depois de comprar meu lanche, me sento no mesmo murinho e fico encarando as caixas de madeira. Hoje estou comendo pão de queijo, uma das minhas comidas favoritas. Fico olhando o vento passar como fiz nos últimos 3 dias, sem expressão nenhuma no rosto, mas com varias emoções por dentro. Sinto a presença de alguém atrás de mim, mas não me movo. Não me importa saber quem é, desde que essa pessoa vá embora logo.

–você não é minha amiga. – Damien diz. – quero dizer... não é só minha amiga. – corrige.

–vai embora, Damien. – digo. – não tem nada pra fazer, não? – ainda estou olhando pra frente e minha voz não carrega emoção nenhuma.

–eu... Só me desculpa. – ele diz e se senta ao meu lado. – eu não sei o que me deu, você saiu correndo e eu sabia que se eu te soltasse você sairia correndo, mas não achei que você me daria outro tapa. – ele da uma risadinha, mas eu continuo olhando pra frente e me recuso a olha-lo.

–eu poderia ter dado um mais forte. – digo com raiva e tento me levantar, mas ele põe a mão na minha perna para me impedir. O toque dele passou uma corrente elétrica por todo o meu corpo, mesmo por cima da calça jeans.

–não vai... Droga, o dia começou tão bom.

–você que estragou tudo. – digo ainda atordoada pelo seu toque. Sua mão permanecia na minha perna, o que me impedia de pensar direito. – eu... Posso tentar te perdoar, mas nunca mais me machuque. – digo e engulo em seco.

–eu prometo que nunca mais te faço nada como aquilo. – ele segura minha mão e puxa meu braço em sua direção, depositando um beijo aonde sua mão apertou. O contato de seus lábios com minha pele me fez soltar um gemido. Sinto meu rosto esquentar novamente, mas ao invés de rir, ele deu outro beijo logo acima da marca, e outro gemido escapou, até que eu puxei meu braço e encarei o chão.

–eu... Não sei o que foi isso. – digo.

–não precisa ter vergonha de mim. – ele da um sorriso de lado e o sinal do fim do intervalo toca. – vem, vamos voltar pra sala.


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Notas finais do capítulo

deixem nos comentários se estão gostando do rumo que está tomando e digam se querem que eu mude alguma coisa. :3 bjooos



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