Caminhando em Gelo Fino escrita por Ditto


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Enfim a continuação, demorei mas foi sem querer, hue :3



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–Naruto! - Sakura continuava a chamá-lo e bater na porta de seu quarto insistentemente, mas ele se recusava a abrir – Ai, chega, estou entrando!

Assim que anunciou, a garota entrou no quarto, Naruto cobriu a cabeça com o lençol e virou-se na cama com um murmúrio de lamento. Sakura fechou a porta às suas costas e sentou-se na cama do amigo, tinha nas mãos um copo de café com leite que pousou no criado-mudo.

–Eu sabia que você ia fazer esse drama – disse com um suspiro.

–Eu não vou pra aula, pode ir sem mim.

–Nem pensar! - a garota puxou o lençol, descobrindo-o até a cintura, ele protestou chateado – Escuta aqui, hoje não é aula, hoje é prova! Duas, aliás, sendo que uma é física. Você não pode se dar ao luxo de perder prova, Naruto, para de pensar nos outros e pensa em você por uma vez.

Ele se sentou na cama, passando as mãos no cabelo bagunçado, e encarou a amiga implorando por piedade com os olhos.

–Sakura, com que cara eu vou chegar lá? Vai estar todo mundo olhando pra mim.

–Ué, você adora chamar atenção.

–Não esse tipo de atenção!

–Naruto, sempre vai ter alguém julgando tudo o que a gente fizer, não pode...

–Você não sabe como é! - Sakura parou de falar. Naruto tinha o olhar fixo para baixo, começou a brincar com uma ponta do lençol para ocupar as mãos – Você não faz ideia do que é todo mundo te olhando como se você fosse uma aberração e te evitando, fazendo piadinha com a sua cara todo dia...

–Também fizeram piadinha comigo.

–No jardim de infância? Sakura, ninguém nem falava comigo até a terceira série. – ele pausou, pensativo – Eu só não queria dar motivo pra passar por isso de novo.

Sakura pousou a mão em seu ombro e apertou de leve.

–Não vai ser igual – ela disse com um sorriso carinhoso – porque dessa vez você tem gente que gosta de você de verdade pra te dar apoio, você não vai estar sozinho.

Ele forçou um sorriso fraco.

–Eu não vou mentir, – disse Sakura com pesar – as pessoas tão fazendo um pouco de alvoroço por causa disso, mas você só tem que ignorar se alguém falar alguma coisa. Em uma, duas semana todo mundo já esqueceu.

Naruto fez uma careta de sofrimento. Por um momento, os dois ficaram em silêncio, Sakura mordeu o lábio apreensiva.

–Mas, então... - começou hesitante – vocês dois... ?

O rapaz apressou-se em sacudir a cabeça, arregalando os olhos.

–Foi só um beijo! - ele apertou o lençol em suas mãos com força – Eu não sou... Eu não..

Sakura agitou as mãos no ar e levantou-se num salto.

–Tanto faz, não tem diferença nenhuma, né? Eu vou deixar você se trocar, vê se não chega atrasado – ela foi em direção à porta, virou-se para o amigo novamente antes de sair – Ah, e toma o café que eu te trouxe, é ruim fazer prova de estômago vazio.

Quando a garota deixou o quarto, Naruto forçou-se a tomar a bebida e levantou-se pesarosamente para vestir o uniforme. Nem atreveu-se a olhar o celular, havia recebido dezenas de notificações na noite anterior, mas não queria ler nenhuma. Estava fervilhando de nervoso, não conseguia pensar em uma situação que ficara tão tenso antes. Deixou o quarto tal como quem caminha para a forca, agradecia mentalmente a cada ambiente vazio pelo qual passava a caminho do prédio principal. Era melhor assim, pensou, sem encontrar colegas pelo caminho. Quem sabe estivesse atrasado o suficiente para que todos já estivessem entrado nas salas quando chegasse, assim não haveria tempo para nada de desagradável acontecer.

A sorte não estava ao seu lado. Quando aproximou-se do prédio principal avistou os alunos aglomerados ali em frente. Sentiu seu estômago contorcer-se. Naruto parou de andar por um segundo e respirou fundo, reunindo forças. Enquanto caminhava, sentia-se cada vez menor, os outros alunos foram notando sua presença, todos olhavam para ele e começavam a comentar entre si. Ele sentiu os olhares o queimarem, mas não via, pois não conseguia levantar os olhos do chão. Com o coração na mão, torcia para que, se simplesmente ignorasse e fingisse que nada havia acontecido, ninguém lhe diria nada.

–Hey, Naruto – o garoto parou de andar, seu coração, já acelerado, disparou violentamente. Era Takashi Satoru, um rapaz grosseiro e prepotente do mesmo ano com quem já havia se desentendido inúmeras vezes, uma das pessoas de quem mais temia que viesse um ataque naquele momento e, aparentemente, com razão. Ele se aproximava com mais alguns amigos, todos com riso de deboche – Então quer dizer que você é bicha?

Naruto não era o tipo de pessoa que aceita uma ofensa ou oferece a outra face, ele sempre revidava. Desde criança havia decido que jamais deixaria que alguém o diminuísse. Poderiam chamá-lo de fraco, burro, incapaz, fosse o que fosse. Ele não permitiria se abalar e provaria a todos que estavam errados. Mas não naquele momento. Naquele momento havia um nó na garganta que o impedia de fazer qualquer som. Naquele momento, palavras fugiram de sua boca e o confusão em sua cabeça não deixava claro o que exatamente ele devia provar ou sequer se os garotos rindo à sua volta estavam errados. Esforçando-se para respirar, ele simplesmente ficou ali, em silêncio, rezando para o sinal tocar e os colegas entrarem para as provas.

–Sempre soube que tinha alguma coisa errada com ele – Takashi continuou zombando – Tava esse tempo todo só esperando outro veado aparecer pra poder ficar se agarrando por aí, né?

–Acho que ele ficou mudo, Satoru.

–É, acho que sim... Talvez agora ele só abra a boca quando vê uma rola.

Takashi e seus amigos riram desnecessariamente alto, todos os alunos presentes assistiam a cena, mas nenhum dos amigos de Naruto estavam por perto.

–Pois eu acho que alguém devia meter uma rola na sua boca, Takashi, pra ver se você para de falar merda.

Naruto ergueu a cabeça incrédulo para ver quem interferia. Takashi e os outros também voltaram a atenção para o dono da voz, ultrajados com o atrevimento.

–Como é?

–O quê? Além de burro você também é surdo?

Takashi deu dois passos lentos em direção a Sasuke, que o encarava com um olhar perigoso e postura ofensiva.

–Por que você tá se metendo, Uchiha? Te ofendi? Ah, é! Esqueci que seu irmão também é bicha!

–Antes ser bicha do que ser você, nunca vi uma criatura tão ridícula e deprimente quanto você – Sasuke colocava tamanho asco e desprezo na voz que tingiu Takashi vermelho de cólera, avançando.

–Quer arranjar briga? Quatro contra um?

Suigetsu, que observava a briga desgostoso, saltou para o lado de Sasuke a contragosto para dar-lhe reforço caso necessário. Sasuke meteu a mão no bolso e tirou um canivete, a expressão desafiadora no rosto e a voz controlada não vacilaram por um segundo sequer.

–Pode vir – falou com simplicidade.

Para o alívio de Suigetsu – e aparentemente, de Takashi e seus amigos – o sinal tocou, finalmente.

–Você é pirado! - reclamou Takashi dando as costas para o Uchiha e indo em direção ao prédio.

Suigetsu respirou aliviado e virou-se para o amigo, inconformado.

–Caramba, Sasuke, isso lá é hora de arranjar briga?

–Não enche – respondeu guardando o canivete novamente. Suigetsu lançou-lhe um olhar significativo e foi andando na frente, sacudindo a cabeça em reprovação. Sasuke virou-se para Naruto – E você? Vai ficar aí plantado feito uma árvore?

Ele continuava em estado de choque, seu coração não parecia querer diminuir o ritmo. Os alunos ao redor, percebendo que não haveria mais conflito, começaram a se dispersar e entrar para as provas. Naruto encarou o outro, transtornado.

–Anda, criatura, - disse Sasuke puxando-o grosseiramente pelo braço – se você não se mexer, vai perder a prova.

Naruto foi seguindo-o em silêncio, centenas de perguntas foram surgindo em sua cabeça enquanto andava mecanicamente ao lado do colega. Em mais de três anos o garoto raramente lhe dirigia alguma palavra, quando o fez era por falta de opção. Por que motivo teria o defendido?

–Achei que você fosse o tipo que não leva desaforo pra casa, o que raios você tava fazendo ali que nem uma múmia?

–E... eu... - por mais que tentasse, não conseguia pensar em argumentos para se defender, sentia-se ridiculamente frágil e sua voz falhava.

–Não deixa aquele babaca falar merda pra você, ele já se acha demais. Se não souber o que falar, só xinga de qualquer coisa que ele já se dói no ego.

–Obrigado.

Foi a única palavra que conseguiu pensar e dizer com clareza. Sasuke não o olhou, levou um momento para responder.

–Eu só... Faz tempo que eu tô me estressando com aquele otário... Só isso.

–Obrigado, mesmo assim – foi aos poucos recuperando-se do pânico e encontrando firmeza na voz. Percebeu que sentia-se mais confortável ao lado de Sasuke e, principalmente após o garoto tê-lo defendido, sentia-se seguro de estar o acompanhando, mesmo que soubesse que todos os colegas ao redor comentavam sobre ele – Eu não sei o que me deu, se não fosse você eu não sei o que seria de mim ali.

Sasuke continuou olhando para o outro lado, respirou fundo e pigarreou para disfarçar.

–Ahn... É... Você e o esquisitinho lá... ? - ele desconversou.

–Não! - negou imediatamente – Foi só... Eu não...

–Calma, tudo bem – Sasuke voltou a o encarar – É normal, não precisa entrar em pânico.

–Normal?

–É, vocês são amigos, vocês ficaram. Normal. Digo... Vocês são só amigos, né?

–Sim!

–Digo, só tô perguntando, não que teria mal se vocês não fossem, né, sei lá, se você gosta de gente esquisita que nem aquelezinho o problema é seu, eu não...

Naruto teve a impressão de que Sasuke dizia aquilo mais consigo mesmo do que com ele, revirando os olhos enquanto falava e abaixando o tom de voz gradativamente, mas não estava prestando muita atenção.

–Sasuke, - interrompeu – você diz normal... Tipo... Você já...?

–Ah, já – respondeu com displicência – metade dessa escola já deve ter ficado com alguém do mesmo sexo, ninguém fala nada porque são um bando de hipócritas.

Chegaram à porta da sala, Sasuke murmurou um “boa sorte” e foi para a sua carteira, deixando Naruto, que imediatamente sentiu a onda de vulnerabilidade voltar, dando-se conta de toda a turma encarando-o novamente. Avistou Sai na carteira em frente à sua, o garoto mordeu os lábios apreensivamente ao vê-lo. Naruto desviou o olhar, sentindo o rosto corar, e foi arrastando os pés até sua cadeira.

–Sinto muito – disse Sai quando ele terminou de se ajeitar – Eu não imaginava que isso fosse acontecer.

–Não foi culpa sua – respondeu com sinceridade, apoiava o queixo em uma das mãos e desenhava com a outra na carteira – eu também nem reparei que tinha alguém por perto.

–Então você não está bravo comigo?

–Nah...

Sai ficou aliviado, mas continuava parecendo chateado.

–Onde eu passei a maior parte da infância não tinha tanto preconceito, era até relativamente normal – ele disse com pesar – Eu ouvi algumas coisas bem horríveis hoje... Eu não me importo, mas sei que você não lida muito bem com esse assunto, então fiquei preocupado.

–Eu vou sobreviver.

–Eu vi o que aconteceu pela janela.

Naruto olhou de esguelha para Sasuke no fundo da sala, ele parecia discutir irritado com Suigetsu, que ria com ares de deboche. O professor entrou na sala cumprimentando os alunos com um bom dia.

–Vocês voltaram a se falar?

–Não sei...

–Meio tapado, ele, não?

–Ahn? Por quê? - perguntou Naruto confuso. O professor ordenou silêncio e anunciou que começaria a distribuir as provas.

–Todos esses anos você correndo atrás dele – respondeu Sai falando o mais baixo que podia, para evitar que o professor escutasse, com um olhar incrivelmente malicioso – e só agora que ele reparou que tem chances.

Virou-se para frente, deixando Naruto inconformado com a provocação e frustrado de não poder responder, pois o professor já estava colocando a prova sob as mesas dos alunos e naquele instante toda aquela montanha russa em sua vida teria que sumir de sua mente para que conseguisse fazer a avaliação direito. Teria, mas não sumiu.

Assim que o viu deixando a prova, Sai correu para alcançar Naruto no corredor, ele parecia tenso.

–O que foi? - a voz de Naruto saiu um pouco mais ríspida do que ele gostaria. Todos os colegas já estavam o observando de soslaio constantemente, mas quando Sai se aproximava a discrição caia drasticamente. Não queria culpá-lo por tudo aquilo, mas não podia controlar o desconforto e apreensão que lhe causava.

Sai demorou-se um momento, estudando-o com o olhar.

–Eu só queria saber se as coisas continuam como antes ou se agora você vai parar de andar comigo por medo do que vão pensar.

O questionamento o atingiu como um balde de água fria. Os olhares, sussurros e risadinhas estavam o deixando desesperadamente aflito. Com Sakura, a pessoa em quem mais confiava, em outra classe e sem ter para onde fugir dos comentários maldosos estando em um colégio interno, a ideia de se afastar do amigo e agir como se nada houvesse acontecido era tentadora. Apesar disso, assim que Sai lhe perguntou aquilo, teve a certeza de que jamais teria coragem de por tal plano em prática.

Engoliu seco, forçando abaixo o nó na garganta que quase lhe roubava a voz

–Claro que não – respondeu baixo – Eu jamais abandonaria um amigo. Por nada no mundo.

Sai mordeu o lábio e respirou fundo.

–Quer.. ir estudar comigo pras provas de amanhã?

–Quero.

Os dois foram juntos à biblioteca, seguidos por incessantes olhares curiosos. Era bastante aterrorizante sentir-se tão vulnerável e inseguro, não era exatamente uma sensação nova, mas lhe trazia a lembrança de uma época que gostaria de poder deletar de sua memória. Naruto não tinha certeza se a vontade maior era de agarrar-se ao braço de Sai e chorar por socorro ou de correr para seu quarto, trancar-se e nunca mais sair. Ambas as opções o faziam sentir-se incrivelmente culpado.

Passaram duas horas e tanto estudando, não conversaram sobre nenhum outro assunto senão a matéria, o que, especialmente vindo de Naruto, era bastante anormal. Era impossível negar que havia um clima pesado e desagradável entre os dois.

–Bom, eu acho que vou ficar por aqui mais um pouco – disse Sai enquanto Naruto guardava seu material, o garoto acenou com a cabeça, indicando que havia escutado, mas ficou em silêncio até fechar a mochila e colocá-la nas costas.

–Eu não gostei do que você disse – falou finalmente, com uma voz carregada. Sai lhe lançou um olhar de confusão – Antes da prova, sobre o Sasuke.

–Ah! - Sai concordou com a cabeça, lembrando-se das próprias palavras – Foi só uma piada.

Naruto não conseguia decifrar por sua expressão se ele estava sendo sincero.

–Eu não gosto quando você fala essas coisas.

–Sinto muito.

Teve quase certeza de que aquilo era mais um cinismo sobre sua reação do que um pedido de desculpas, mas preferiu não levar a discussão adiante. Saiu da biblioteca de cabeça baixa, procurando não chamar muita atenção novamente. Pensou em encontrar Sakura, talvez a companhia da amiga o fizesse sentir-se mais confortável e o ajudasse a se distrair. Só reparou que Sasuke se aproximava novamente quando este lhe dirigiu a palavra.

–Tava estudando? - perguntou o garoto com um ar de surpresa. Naruto levantou os olhos quase sem acreditar ao ver que Sasuke estava, pela segunda vez no mesmo dia, puxando assunto com ele espontaneamente.

–Estava.

–Desde quando você estuda? - “Desde quando você se importa?”, ocorreu-lhe retrucar, mas a curiosidade em conjunto com uma sensação de euforia o impediam de falar qualquer coisa que pudesse afastar o rapaz que, por qualquer razão, estava andando ao seu lado com naturalidade.

–Desde que Sai se ofereceu pra me ajudar.

Sasuke respondeu com um “ah” bastante seco.

–E agora você vai fazer o quê? - ele perguntou como quem se convida a fazer companhia.

–Tava pensando em procurar a Sakura – Sasuke crispou os lábios desgostoso – ou quem sabe o Kiba e passar o tempo com eles.

–Bom, eu não to com a menor vontade de aturar aquela menina agora, então acho que eu vou pro outro lado.

–Eu não tenho nada combinado com eles – apressou-se a dizer – foi só uma ideia, se você tiver outra sugestão...

Não queria soar desesperado por atenção, mas devia ter passado exatamente essa impressão, pois Sasuke ergueu as sobrancelhas encarando-o. Era isso, estava ligeiramente desesperado para ter a atenção dele pelo tempo que fosse e, se ele estava disposto dar-lhe a isso naquele momento, não desperdiçaria essa chance de forma alguma.


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Notas finais do capítulo

Gente, desculpa a demora, falei pra um monte de gente que ia postar sexta retrasada e pá dfklhdsfkhdskjlfhdsf
DESCULPA A DEMORA, eu me enrolei por causa do Ressaca Friends e tal (alguém aí de SP vai estar lá?)
Tá aqui o capítulo, agora as coisas vão começar a acontecer pra valer e tals.
Esse capítulo ficou meio curto, mas enfim.
COMENTEM, por favor, eu só posso melhorar se vocês me disserem o que gostaram mais e o que desagradou, então não esqueçam de comentar