No sé lo que sucedió, mas a garota simplesmente deu as costas e saiu. Confesso que fiquei sem saber o que fazer. Era muita coisa para assimilar.

            A experiência que eu tive nessa meia hora de conversa foi mais valida que meus últimos 150 anos de morte. Essa garota era abusada. Nenhum pouco parecida com as garotas da minha época, de vivo claro. Mas o que posso dizer sobre elas não é mesmo?

            Essa garota me deixou irritado, colo ela ousa me chamar de caubói. Em nombre de Díos, nunca fui tão ofendido em toda minha... tanto faz. Suzannah é a primeira pessoa com quem eu converso em 150 anos.

            Me sentei novamente na janela, Suzannah, um nome lindo, não sei porque ela prefere ser chamada de Suze. Um apelido extremamente vulgar.

            Suzannah, apesar de estranha, era encantadora. Uma donzela de certa forma. Fora o fato dela ter ameaçado quebrar meu dedo ela era um donzela, afinal não queria dividir o quarto com um sujeito do sexo oposto. Está certo que nem por um segundo ela tirou os olhos do meu corpo enquanto conversávamos, mas ainda assim, não queria ficar no mesmo quarto que eu.

            Por mais forte que ela queria parecer, seus olhos deixaram transparecer toda a doçura do mundo. Suzannah Simon era irritante, muito irritante, porém não posso negar que ela é muito hermosa também.

            Estava sentado na janela sonhando com os olhos verdes lindos e transparentes quando acordei com uma lembrança: ela havia me mandado embora. Isso seria um problema por dois motivos. Primeiro por que aquela era a minha casa há quase um século e meio e não era justo ela chegar e já ir me expulsando. Segundo porque eu não tenho para onde ir.

            Não sabia muito o que fazer. Já faz umas duas horas que ela saiu do quarto e ainda não tinha voltado. Acho melhor eu ir dar uma volta para que ela tenha tempo de se acostumar a ter um cara morto no quarto. Afinal eu jamais faria algo que pudesse desonrá-la.

            Era estranho sair daquele quarto. Eu não tinha muita coisa para fazer. Agora pude perceber que eu simplesmente não existia ou existiria sem ela. Como uma simples garota pode causar tanto efeito em mim. Resolvi ficar um tempo na praia.

            A praia de Carmel a noite é linda. É incrível como os anos fizeram bem a essa cidade, não as pessoas. Eu gosto de vir a praia a noite porque não existe toda a vulgaridade e promiscuidade que existe durante o dia. Mulher semi-nuas, homens aproveitadores. Não existem mais cavalheiros nem damas. O céu estava estrelado.

            Sentei-me na areia branca da praia de Carmel. Deitei-me. Fiquei olhando as estrelas. Decidi fechar os olhos. Ainda podia sentir seu toque. Nada gentil, porém foi um toque. Mesmo que eu não tenha mais um sistema nervoso, eu sabia que minhas terminações nervosas não reagiram bem àquele toque.

            Já era tarde, madrugada. Provavelmente Suzannah já estava dormindo. Me materializei novamente em seu quarto, mas para meu espanto ela estava no banheiro. Ops... Passei pela janela. Fiquei do lado de fora. Nada cavalheiro eu sei. Mas não resisti. Precisava vê-la. Senti quando ela deitou. Era estranho. Eu não podia mais dormir. E nem precisava.

            Vendo ela ali, tão doce, inconsciente não resisti. A partir de hoje essa era a minha música favorita:

“Ó Suzannah, não chores por mim, pois eu vim lá do Alabama tocando o meu bandolin”

            Acho que ela ouviu, pois sua boca se formou em uma leve careta, então ela adormeceu.