Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 4
III - Haru




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565475/chapter/4

“Meus deuses nórdicos, quanta besteira pode sair de uma boca só? Enfim, vou assumir daqui, porque ninguém merece ouvir mais do Uchiha falando de seu charme e de seus vastos interesses que são:

1. Pegar mulheres.
2. Ganhar dinheiro de formas patéticas.

Diferente do meu colega acusado, eu não vou pedir a compreensão dos senhores, porque eu não fiz absolutamente nada de errado, a não ser estar no lugar errado, na hora errada.

Eu, assim como ele, estava naquela fila da biblioteca, que sim, estava quilométrica para quem não tinha contatos, status ou sobrenome. Eu já estava conseguindo ver a porta e podia contar as pessoas da minha frente, então me permiti ficar um pouco mais feliz, depois de quase duas horas presa ali. Não tinha me ocorrido que estaria tanta fila daquele jeito, se eu soubesse, levaria um chocolate, um almofada e um bom livro.

Foi então que um moreno arrogante passou sorrindo por mim, chegando diretamente na porta e começou a conversar com o bibliotecário encarregado da contagem de pessoas que entravam e saiam.

Eu encarei os dois com completa incredulidade, enquanto o funcionário sorriu abertamente, apertando a mão do moreno e simplesmente deixando-o entrar. Não acreditei, eu jurava que a biblioteca era um ambiente livre de influências de qualquer tipo.

Se eu não estivesse cansada, com fome e com o ombro doendo por causa da minha bolsa pesada, talvez eu não fizesse o que eu fiz.

– Ei! – berrei tão alto que todos a minha frente voltaram-se para me encarar. – Por que aquele cara entrou na maior moral?

Vi de longe o bibliotecário coçar a cabeça e ficar subitamente envergonhado com toda a atenção que recebeu de todas as pessoas que agora o fitavam, esperando respostas.

– Ele... Hm... Trabalha aqui. – ele disse e eu fiz um careta. Além de ser antiético, era mentiroso.

– Claro, e eu sou o Ricky Martin! – retruquei alto e algumas pessoas riram. – Escuta, eu estou aqui faz quase duas horas e não acho justo que...

– Calma, calma, já sai. – o moreno disse, com um sorriso prepotente no rosto, enquanto saia pela porta. Ele estava com apenas alguns livros em mãos e encarou o bibliotecário com diversão. Ambos estavam prestes a rir e isso impulsionaria um ataque de chutes da minha parte caso acontecesse.

Para o bem dos meus nervos, não aconteceu. Ao invés disso, o cara irritante veio em minha direção e me disse, não antes de me olhar de cima a baixo:

– Relaxa, não é culpa dele, ele só está retribuindo um favor, somos da mesma fraternidade.

Continuei o encarando com a minha melhor expressão de indiferença. Ele realmente achava que isso fazia alguma diferença?

– Sério? Me conte mais, por favor, estou imensamente interessada na sua falta de ética. – provoquei. Além de realmente acreditar no que eu estava falando, eu estava extremamente entediada e não tinha nada que me divertia mais do que desarmar playboys com palavras afiadas.

Mas eu não estava esperando que ele começasse a rir abertamente. Caras como ele normalmente ficavam ofendidos e partiam para o pessoal, usando argumentos do tipo “pelo menos eu não uso moletom para sair na rua” ou coisas bem patéticas do mesmo naipe.

– Eu sou literalmente só mais uma pessoa que passou na sua frente. – ele disse com um tom brincalhão. – Não é possível que isso te afete tanto assim.

Bufei.

– Não é o fato de você entrar só na minha frente, é a desonestidade, falta de moralismo e...

– Deixa eu adivinhar, por isso que a sociedade é assim? – ele completou e eu quis socá-lo.

– Exatamente! – exclamei, possessa. – Se todo mundo agisse como você...

– Todos já teriam conseguido os livros que queriam. – concluiu e piscou um olho só, como se fosse algum tipo de ator de cinema. Que cara ridículo. Era óbvio que ele estava errado, como podia estar se defendendo de uma coisa como aquela? – Mas escuta, como eu estou de bom humor, posso entrar e pegar alguns para você.

Encarei seus olhos negros com indignação. Ele estava falando sério?

– Eu prefiro ficar na fila, obrigada. – murmurei e ele soltou uma risadinha.

– Tem certeza? – perguntou, apontando para um bando de mulheres com uniforme de animadoras de torcida se juntando a um cara mais a minha frente. – Porque você vai ficar aqui o dia todo.

Eu não sabia se estava mais irritada com o fato de que aquelas pessoas furaram fila também ou se porque ele estava certo. Simplesmente odiava ter que admitir que se eu não usasse de outros métodos, realmente ficaria ali o dia todo.

Não que eu quisesse furar fila, mas eu percebi que aquilo devia estar acontecendo desde que eu cheguei, eu que não estava prestando atenção. Respirei fundo e decidi o meu orgulho tomar o melhor de mim. Eu não cederia para aquele cara arrogante.

– É só me dar a lista, eu posso fingir que é pra mim. – ele sussurrou perto demais e eu estremeci.

– Vai ver se eu estou na esquina. – ralhei de volta.

– Não, você está bem longe da esquina, na verdade, umas cem pessoas longe. – ele parecia estar se divertindo demais às minhas custas, me fazendo revirar os olhos em outro nível, só faltava eu enxergar meu cérebro por trás do crânio.

– Se eu te der minha lista, você me deixa em paz? – perguntei, porque foi a única saída que eu achei para não parecer que eu tinha desistido dos meus princípios por puro capricho e cansaço.

Ele soltou um sorriso presunçoso que quase me fez desistir, mas a dor nos ombros falou mais alto.

– Preciso do seu número de registro também. – exigiu e eu bufei antes de entregá-lo as duas coisas.

Ele fez uma expressão de surpresa ao ver a minha ficha e eu imaginei que estivesse chocado com o meu curso, como todos. Francamente, quando isso ia acabar?

– Sakura, hm... Aqui diz que você cursa me-...

– Haru. – o corrigi imediatamente.

– Que? – perguntou, claramente irritado por ter sido interrompido.

– Meu nome é Haru. – esclareci e ele franziu a testa.

– Tanto faz.

Revirei os olhos com indiferença, que cara idiota. Ele ficou me encarando com uma expressão que eu não soube ler e eu devolvi com uma expressão de irritação.

– Já volto. – ele disse e foi pegar os meus livros.

Fiquei parada ali, sem ter coragem de encarar as pessoas ao meu redor, por medo delas acharem que eu tinha me vendido, o que era verdade. Fiquei esperando por alguns minutos, quando o moreno voltou com os meus livros em uma sacola.

Ele me deu a sacola, que estava incrivelmente pesada e soltou um sorriso de triunfo que eu ignorei. Sai da fila e pareceu que o mundo se tornara mais colorido só de pensar na ideia de que eu poderia ir comer alguma coisa e depois simplesmente descansar.

Eu estava indo embora, quase saltitante, quando o cara se colocou no meu caminho.

– Você não vai agradecer? – ele parecia irritado, mas eu só dei de ombros.

– Você que furou fila, não fez mais do que o certo em pegar meus livros. – retruquei e vi sua testa franzir, prestes a me xingar. Eu estava certa, não ia me deixar abater por um cara como aquele.

Ele apenas continuou me encarando com completa indignação e eu o contornei e fui em direção aos meu dormitório, fala sério, o que ele queria? Que eu beijasse seus pés? Foi ele quem ofereceu de pegar meus livros e eu nem tinha aceitado completamente, não devia nenhum tipo de agradecimento por ele quebrar as regras por mim.

Ele parecia ser um daqueles machistas que me seguiria e me convenceria à agradecê-lo, depois me chamaria para estudar em seu quarto, só para olhar para s meus peitos. Mas isso não aconteceu. Não que eu estivesse querendo, mas me surpreendeu.

Eu cheguei no meu quarto em paz, encontrando-o bem mais organizado, com o lado de Ino completamente feito e cheio de móveis modernos e com dois manequins com algumas roupas inacabadas. Finalmente aquele lugar estava parecendo como nosso lar e eu agradeci mentalmente por isso, porque já estava começando a sentir falta de casa.

Minha nova amiga estava deitada com o celular em mãos, parecendo extremamente em conflito. Eu percebi na hora sobre o que aquilo se tratava, porque já a conhecia minimamente para assumir.

– Vou assumir que você encontrou o que procurava. – falei, jogando os livros na minha cama e tirando os sapatos.

– Muito melhor! – ela exclamou, sentando-se. Ela estava pronta para falar com alguém e eu sorri com a ideia de ela me considerar sua confidente. – Ele é um deus grego e foi muito gentil! Só que ele me deu o número dele, invés de pegar o meu...

Eu não via nenhum problema naquilo, só queria dizer que ele não era 100% machista. Mas no mundo das garotas, aquilo aparentemente significava muita coisa. Ino percebeu minha face de dúvida e apressou-se para explicar:

– Se eu ligar agora, vou parecer desesperada. Se eu ligar amanhã, talvez ele não lembre de mim! E eu preciso de um motivo, não posso simplesmente ligar e falar “te achei muito lindo, vamos transar?”

– Por que não? – perguntei, genuinamente curiosa. Por que as mulheres tinham tantas ressalvas em ligar para os caras e mostrar interesse? O contrário podia, não podia? Os homens sempre faziam questão de mostrar seu interesse das formas mais nojentas possíveis.

– Como eu já disse antes, vivemos em mundo machista e...

– Muitas mulheres são machistas também. Todas nós temos que mudar nossas atitudes para tentar melhorar. Se eu fosse você, eu ligaria e falaria exatamente isso que você me falou. Não é isso que você quer? Pra que joguinhos? Você sabe que homens não ligam para as preliminares, no fim, tudo o que eles querem é entrar nas suas calças. – falei, enquanto ela me encarava com perplexidade. Acho que Ino estava acostumada com pessoas baixando a cabeça para ela e aceitando tudo o que ela dizia.

– Meu deus, você está certa. Não sei por que eu estava me estressando com isso. – ela respondeu e eu sorri. – Amanhã de manhã eu ligo, hoje já está tarde.

Acenei e comecei a arrumar os livros por ordem de leitura, marcando cada parte para cada matéria que eu teria.

– Mas me conta, como é esse deus grego? – perguntei, tentando me distrair da minha tarefa maçante.

– Alto, moreno, com olhos negros penetrantes... Não parece nada demais falando desse jeito, mas acredite... Ele é maravilhoso. Traços masculinos, mas bem simples, sabe? E ele tinha uma postura... Um charme. – Ino começou a sonhar alto e eu ri.

– E o nome? – perguntei, mas para puxar conversa do que por qualquer outra coisa.

– Eu não sei. – ela disse. – Mas vou descobrir. E ele será meu.

Eu não duvidei nem um pouco de suas palavras, Ino parecia extremamente decidida quando o assunto lhe interessava.

– Boa sorte. – desejei e ela sorriu. Então, não senhores, eu não sabia que o senhor que Ino estava apaixonada era o mesmo da fila da biblioteca. Novamente, repito, eu sou tão inocente e alheia a toda história quanto vocês.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oie! Novamente, perdão por não responder os reviews de vocês, juro que assim que der eu respondo, mas mto mto obg S2

Gostaram? (:

Beijocas!