Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 23
Capítulo XXII




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3 meses depois

– Haru, pelo amor de Deus, quando você parar de fingir que está tudo bem e ir visitar Sasuke de uma vez? – Ino perguntou. – Eu sei que você chorou por ele naquelas primeiras noites e eu percebo que esses livros estão ai na sua cabeceira desde que ele foi embora. São os livros com as anotações, não são?

A amiga bufou, voltando a sua atenção para as tarefas que estava fazendo.

– Isso é ridículo! – Ino bufou, pegando o livro de exercícios da mão da amiga. – Você não pode esconder seus sentimentos pra sempre, Sakura Haruno!

– Ei, devolve, preciso terminar isso pra hoje! – ela respondeu, fazendo a loira ficar ainda mais determinada em não deixá-la terminar.

– Eu te dou se você prometer que vai visitá-lo!

Sakura estava em cima da cama, tentando em vão pegar o livro das mãos da amiga, que o mantinha em movimento constante. Com medo de rasgá-lo, ela finalmente parou de tentar.

– Eu não tenho nada para falar com ele! Ele mentiu para você e para mim, ele é um crápula! – falou por fim, enquanto Ino pulava para a outra cama. – Devolve!

– Ah, por favor! Você não está brava com ele por causa disso, e sim porque ele te abandonou para ficar na prisão. Admite, você odeia cada segundo que passa longe dele e por isso está com tanta raiva! Eu não sou idiota, Haru, você está o evitando porque está com medo de encarar seus sentimentos.

– Ino, pelo amor de...

– Haru! Vá vê-lo! Nem se for para dar um apoio moral! Ele no mínimo é seu amigo, não é? Pra começo de conversa, ele só está lá por sua causa. Se você não quer admitir que ainda o ama, vá vê-lo por ser a coisa certa a fazer mesmo. Imagina se você estivesse na prisão e seus amigos te ignorassem, como você se sentiria? – Ino insistiu, claramente cansada de ter que convencê-la de algo tão óbvio.

Sakura respirou fundo e sentou-se na cama. Ino estava errada, Sasuke não era seu amigo, ele nunca fora um amigo. Ele sempre fora mais que isso e ela sabia, mesmo se tentasse negar ou esconder, ela sempre soube que no fundo ele causava nela algo inexplicável. E por isso mesmo ela tinha medo. Medo de encarar e ser magoada ou medo de se jogar no desconhecido e se decepcionar.

Era de Sasuke Uchiha que estava falando, o mulherengo, machista e manipulador. Não tinha futuro com um cara como ele, era impossível imaginar um cenário no qual ela sairia sem se magoar. E ela tinha certeza que o primeiro passo para se prender nesse cenário era ir vê-lo na prisão. Porque sabia que se sensibilizaria e todos os seus sentimentos iam voltar e ela ia ignorar a parte lógica da sua mente que a dizia que aquilo era uma péssima ideia.

– Ino, me devolve o livro. – falou por fim e a amiga bufou.

– Haru, por favor, vá vê-lo. Estou te implorando. Se você nunca o visitar naquela prisão, vai se arrepender pro resto da sua vida de não estar lá para apoiá-lo. Sasuke está passando pelo pior momento da vida dele, não haja como se não se importasse. – agora Ino estava sentada ao lado da amiga, apoiando a mão no ombro dela. – Toma o seu livro idiota.

Sakura foi rápida ao pegar o livro e voltar a sua mesa para completar os exercícios, antes que Ino surtasse novamente. No fundo, ela sabia que a amiga estava certa, que devia ir visitar Sasuke e apoiá-lo o máximo que podia, mas simplesmente não conseguia criar coragem para encará-lo. Não depois de tudo o que tinha dito para ele e tudo o que tinha o feito passar por ela.

– Eu vou amanhã, espero que me acompanhe. – foi a última coisa que Ino falou antes de entrar em seu quarto.

Sakura respirou fundo e preferiu deixar sua decisão para o dia seguinte, talvez estivesse mais esclarecida.

Não estava.

No dia seguinte, tudo o que a sua mente conseguiu decidir foi o que comer para o café da manhã. Ela estava preparando panquecas, quando Ino ligou o rádio no chuveiro. Normalmente Sakura reclamaria da altura, mas ela reconheceu a melodia da música imediatamente e quase derrubou o prato no chão.

Era “Misunderstood” do Bon Jovi, a música idiota que ela e Sasuke tinham cantado na festa a fantasia antes de ficarem juntos pela primeira vez. Quando menos percebeu, já estava cantando o mais alto que podia, enquanto sorria ao mesmo tempo.

Sakura não acreditava em sinais, mas também não acreditava em coincidências. Então resolveu seguir seus instintos como raramente fazia e se trocou rapidamente, esperando Ino tomar banho.

Quando a amiga saiu do chuveiro, Sakura informou-lhe que ia com ela e recebeu um abraço apertado em retorno. Antes de chegarem na prisão, ela passou em um loja para comprar algumas coisas e quase se arrependeu quando entrou no carro novamente.

– Vai você primeiro, eu espero aqui. – Ino disse quando chegaram. Ela não quis falar que na verdade estava cedendo seu tempo para Sakura, porque sabia que ela não iria concordar.

Foi só quando sentou-se em um cadeira na sala de visitas, cercada por vários presidiários conversando com seus visitantes, que Sakura percebeu o quão estupida fora a sua decisão. Ela segurava seu saco de compras como se fosse a única coisa que a mantivesse ali e olhava ansiosa para a porta que separava a sala de visitas do resto da prisão.

Quando Sasuke finalmente apareceu, ela engoliu um seco. Ele estava com um uniforme bege que conseguia incrivelmente favorecê-lo nas partes certas, seus cabelos estavam compridos e sua barba por fazer. Sakura não quis admitir para si mesma, mas ele estava inacreditavelmente bonito. Ela o odiou por isso, como alguém podia ficar bonito na prisão?

Então, ele se aproximou mais e ela pôde ver o estrago em seu rosto. Seus olhos negros cansados, sua pele ressecada e cheia de ferimentos, ela entendia o bastante de hematomas para concluir mentalmente que ele estava sendo constantemente machucado.

Sasuke, por sua vez, não acreditou ao ver que era Sakura quem estava o visitando, mas manteve sua expressão de indiferença até o fim. Se havia uma coisa que a prisão tinha lhe ensinado, era nunca mostrar fraquezas.

– Uchiha. – ela disse e estranhou o som da palavra em sua boca, fazia tanto tempo que não a falava. – Eu trouxe seu dever de casa.

Ele sentou-se na sua frente e soltou um leve sorriso. Sakura não o encarava diretamente nos olhos, não suportaria.

– Ah, você veio até aqui para me dar meu dever de casa? – ele perguntou, achando graça. Apesar de tudo, era tão fácil conversar com ela.

– Ninguém quer que você fique mais tempo naquela faculdade, ninguém te aguenta mais. – ela respondeu, enquanto ele sorria. – E eu trouxe outras coisas também.

Então ela começou a tirar as coisas da sua sacola de plástico.

– Veja, isso é um troço que você cola na parede para fixar seu sabonete. – disse, mostrando-lhe e ele riu.

– Você sabe que esse lance do sabonete é mito, né? – Sasuke respondeu, mas ela continuou tirando coisas de sua sacola.

– Aqui tem um livro do Nietzsche para que você tenha sono e consiga dormir bem, eu me dei a liberdade de escrever comentários nas passagens mais chatas. E ah, o mais importante. – Sakura tirou o último item da sua sacola. – O álbum “Bounce” do Bon Jovi, que tem a melhor música dos últimos tempos: “Misunderstood”.

Ela não conseguiu se conter mais e começou a gargalhar junto com ele, que agora analisava a contra capa do CD.

– Com esse CD, eu provavelmente vou precisar do fixador de sabonete. – Sasuke retrucou e ela sorriu, feliz por fazê-lo se descontrair um pouco. – Valeu, Haru, acho que isso é tudo que um cara precisa na prisão.

– Ainda bem que você admite. Disponha. – ela se apressou em dizer, ainda sem encará-lo. Ele mantinha o olhar fixo nos dela e seu sorriso permanecia, mesmo estando claramente cansado e com o rosto machucado.

– Posso perguntar por que você me presentou com coisas tão úteis? – Sasuke perguntou por fim e ela respirou fundo antes de responder.

– Olha... Eu vim dizer que eu já te perdoei por ter sido um completo babaca. Só isso mesmo. – Sakura exclamou rápido demais, como se as frases fossem escapar se não as dissesse naquele exato momento.

– Eu tenho certeza que eu nunca pedi pelo seu perdão, mas bom saber. – ele disse e ela revirou os olhos. – Só isso mesmo?

– Sim. – ela afirmou, agora brincando com o fixador de sabonete.

– Certo.

– Certo.

– Bom, então acho melhor voltar para os meus afazeres, tenho que trabalhar para conseguir comprar um creme de barbear novo, o meu acabou. – Sasuke informou e fez um movimento prestes a se levantar, quando Sakura ousou tocar seu braço, pedindo para esperasse.

Soltou imediatamente ao ver o olhar do guarda por trás de Sasuke. Sabia bem que contato físico não era permitido.

– Espera. – ela pediu novamente e ele sentou-se, enquanto ela finalmente criou coragem e o encarou nos olhos pela primeira vez em meses. Era o que faltava para conseguir falar o que precisava. – Só vou falar isso uma vez. Eu afasto as pessoas, ok? Desculpa. Eu não queria ter demorado tanto pra vir te visitar, eu estava com medo de me envolver e me machucar depois, porque você é tão ridiculamente o tipo de cara clichê que me deixaria arrasada e... Eu afasto as pessoas com quem me importo. Fiz isso com Sai, com Lee, com Ino, com Naruto... Por medo de me machucar.

Sasuke apenas ficou a encarando por alguns segundos, surpreso com a súbita honestidade.

– Por favor, fala alguma coisa embaraçosa agora para fingirmos que isso nunca aconteceu. – Sakura concluiu e ele sorriu.

– Cara, eu não tomo banho há dias, então...

Ela riu e ele ficou feliz pela primeira vez em meses. Não esperava que ela fosse o perdoar tão cedo e nem que fosse falar tudo isso, então ficava grato por ela ter engolido seu orgulho e se aberto para ele.

– Isso é nojento. – Sakura suspirou.

– Se te servir de consolo, tem gente aqui que nunca tomou banho.

– Isso é ainda mais nojento. – eles riram. – Espero que você não fique mais nove meses sem tomar banho.

– Nove? – ele perguntou.

– Sim, normalmente três mais nove é igual a doze, que é a sua sentença. Francamente, Uchiha, você não tem aula de cálculo avançado?

– Só que não são mais doze. Abaixaram para seis meses. – Sasuke respondeu com euforia e Sakura sorriu genuinamente. – Só mais três meses para mim, Haru. Ai vou voltar à te importunar.

Ela fingiu não estar tão feliz quanto realmente estava.

– O que te faz imaginar que eu não voltarei à te visitar para te importunar? – perguntou, disfarçando a euforia na sua voz.

– Eu duvido muito. – Sasuke retrucou seriamente e ela respirou fundo, as brincadeiras tinham acabado, agora ele a encarava com outros olhos, a desarmando como só ele sabia fazia. Ele estava questionando porque ela estava ali, o que aquilo significava para eles. Mas nem ela sabia.

– O que aconteceu com o seu rosto? – ousou perguntar, sabendo que soaria preocupada. Era a única forma de não tocar no outro assunto.

Ele levou a mão para o seu rosto, tocando em seus machucados, como se tivesse esquecido que estavam ali e respondeu:

– Os Uchihas tem muitos inimigos e todos sabem que os bandidos de verdade não estão aqui.

Sakura desviou o olhar, não conseguindo suportar vê-lo com tanta angústia no olhar.

– Pelo menos você sai em três meses e agora tem Bon Jovi para te fazer se sentir melhor. – tentou voltar ao tom da brincadeira, mas percebeu que estava forçando a situação.

– Por que você veio, Haru? – ele finalmente perguntou, eliminando de uma vez por todas o tom descontraído e encarando de frente o assunto que ambos queriam tocar desde que se encararam. – Não venha com piadinhas sobre lição de casa ou com essa merda toda de ter me perdoado.

– Mas é verdade... – Sakura respondeu imediatamente, pronta parra mudar de assunto assim que tivesse a chance. A última coisa que queria era ter que admitir para si mesma e para Sasuke o real motivo de estar ali, porque assim que se ouvisse dizendo, seria mais real e não teria volta. O fato viraria fato.

– Haru...

– O que você quer que eu diga, Uchiha? Me declare para você, te tire daqui e corremos da polícia, enquanto saímos em direção ao pôr-do-sol? Que tipos de filmes você anda vendo? Isso é a vida real, você está na prisão, seu futuro está destruído, enquanto eu...

– Foi uma pergunta simples. – ele a cortou e Sakura respirou fundo, sabia que não podia mais enganá-lo ou se enganar. Estava ali porque não conseguia mais passar um minuto sem vê-lo. Estava ali porque pensara em sua voz e em seus olhos todos os dias desde que se afastaram. Estava ali porque sentia saudades de seus beijos e carícias. Estava ali porque o amava de uma forma que nunca tinha amado ninguém antes e nem o fato dele estar na prisão mudava isso.

Mas não podia admitir. Não para Sasuke Uchiha. Simplesmente não podia dar esse poder a ele, sabia melhor do que isso. Antes que pudesse inventar qualquer outra desculpa, um barulho de sinal tocou e ela sabia que seu tempo tinha acabado. Não se deu ao trabalho de se despedir e apenas saiu andando, enquanto sentia os olhares julgadores de Sasuke em suas costas. Ele sabia exatamente o que ela estava evitando dizer.


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Notas finais do capítulo

Olá meu povo, como estão?
Eu estou morta, apenas, cansada de tudo e de todos, Quero fériasssss!!
Enfim, hahah dsclpa o desabafo! Gostaram do cap??

:*



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