Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 14
XIII - Haru




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“A verdade é que eu não estava dando uma chance para ele. Eu só queria me livrar do fato de que contar a verdade para Ino significava afirmar que eu transei com seu namorado. Eu estava demorando tudo isso porque não sabia como exatamente falar pra ela, sem me comprometer. Sim, eu sei que é muito egoísmo, mas ela era minha colega de quarto e melhor amiga na faculdade, não sei o que eu faria sem ela.

– Você não precisa contar a ela o motivo, só fala o que estava fazendo. – insisti, porque Uchiha falar pra ela acabaria com todos os meus problemas. Mas é claro que ele não era tão honrado assim.

– Parece que você não conhece ela, vai ficar me interrogando até descobrir o motivo. – ele me respondeu e eu senti um toque de ressentimento em seu olhar. Talvez ele realmente estivesse sofrendo com aquilo. Revirei os olhos, sinceramente, ele que tinha se metido com aquilo pra começo de conversa.

– Mas é óbvio, que motivo você teria pra investigar a vida da Ino? Eu sempre soube que você era bizarro, mas isso é bem assustador. – retruquei e coloquei as minhas roupas na máquina, tentando enfiar as minhas calcinhas dentro de calças, para ele não ver. Já era constrangimento o suficiente ele me ver com o moletom que eu roubei de seu quarto, após não ter achado meu vestido.

– Do que vocês estão falando? – Ino perguntou. E eu tenho uma testemunha bem aqui para provar que foi literalmente do nada que ela surgiu. Ela simplesmente apareceu. Talvez eu estivesse muito preocupada em esconder minhas roupas intimas para notar a sua aproximação. – Investigar... A minha vida?

Encarei Uchiha com uma expressão de pânico que ele acompanhou. Depois, encarei Ino e vi seu olhar indagador e percebi que ela merecia saber a verdade. Quer saber, ela tinha que saber que o namorado dela a traia e investigava a vida dela. Não era um cara qualquer que ela estava pegando, ela realmente gostava de Uchiha, a ponto de levá-lo para conhecer sua família. Eu não podia simplesmente deixar aquilo continuar.

– Esse moletom... Não é seu, Sasuke? – ela perguntou, apontando para mim. Respirei fundo, estava na hora. Vi Uchiha suplicar silenciosamente para que eu não contasse nada e isso só me fez ficar ainda mais convicta de que devia falar. O que ele fez era absurdo e, por um instante, me senti extremamente culpada e mal por não ter contado à Ino imediatamente como seu namorado agia.

– Sim. Eu peguei no quarto dele depois da festa a fantasia. Nós transamos naquela noite, Ino. – falei, sem delongas.

Depois disso, tudo se desandou em uma mistura de gritos e choro que eu prefiro não me prolongar. Resumindo, ela me xingou, chorou, todos nós gritamos, ela até deu um tapa bem merecido em Uchiha - a ponto de eu invejá-la por não pode fazer o mesmo- e saiu batendo o pé, completamente devastada.

– Isso terminou bem. – ele comentou, sarcástico e eu revirei os olhos, magoada. Não era possível que ele não tinha se afetado nem um pouco com o término do seu namoro, mesmo sendo uma farsa. Percebi que ele estava até um pouco aliviado, o que me deixou enojada. Ino tinha focado sua raiva muito mais no fato dele tê-la traído do que pela investigação de sua vida, o que me surpreendia. Quer dizer, eu nunca vira Uchiha como um cara de uma mulher só, me chocava que Ino pensava ser exclusiva. Eu tinha certeza que ele a traia com outras também.

Segurando as lágrimas, encarei Uchiha e quis bater nele por tudo o que ele causara. Mas em vez disso, tirei o moletom e o joguei em seus braços. Já não me importava se ele me visse de calcinha e sutiã.

– Não quero ter nada a ver com você. – falei, fria, pronta para me virar e ir embora, com a intenção de nunca mais me envolver com ele.

Mas antes disso, ele pegou meu pulso e eu virei, pronta para dar um discurso feminista de como ele não podia simplesmente usar de sua força física para me controlar, mas ele me soltou imediatamente.

– Eu não queria te envolver nisso. – foi o que ele disse e de alguma forma, eu consegui ver sinceridade em seu olhar.

– Tarde demais. – respondi. Era estranho falar com ele seriamente, normalmente nós apenas nos provocávamos e mantínhamos uma relação restrita à piadinhas e zombaria. Notei que ele conseguia ser sério e maturo quando se esforçava. Na briga com Ino, em nenhum momento ele tentou se esquivar do que tinha feito. Assim que ela soube a verdade, ele abriu o jogo, contrariando o que eu achava que ele fosse fazer. Eu achei que ele fosse inventar desculpas, se fazer de vítima, ou qualquer outra coisa que esse tipo de cara faz.

– Se vale para alguma coisa, eu tenho certeza que ela não vai ficar brava com você por muito tempo. Ela te conhece, sabe que você não faria isso por mal. – continuou e eu continuei o encarando com curiosidade. Estava surpresa ao ver aquele lado dele, mas também desconfiada no motivo dele estar tão tranquilo com toda a situação.

Bufei, finalmente deixando as lágrimas caírem e me cobri com os braços, me sentindo pequena. Por que Sasuke Uchiha estava me confortando em vez de ir atrás de sua ex-namorada implorar por seu perdão? Confusa e vulnerável, me odiei por chorar na sua frente. Odiava mostrar qualquer sinal de fraqueza para qualquer um, especialmente para ele.

– Você acha? – perguntei, parecendo uma criança. Agora percebo o quão afetada eu estava por ter traído minha melhor amiga com um cara que eu nem ligava.

Então ele deu um sorriso. Não daqueles meio-sorrisos que ele dava quando ganhava de mim no beer pong, ou quando ganhava um argumento. Não, aquele era um sorriso sincero. Um sorriso que eu percebi que ele não mostrava para todo mundo. Odeio admitir, mas naquele momento, eu o achei bonito. Quase cativante a ponto de me fazer esquecer de todas as merdas que ele tinha feito.

– Sim, eu acho. – ele afirmou e seu sorriso foi embora tão rapidamente quanto surgiu, me fazendo pensar em quando o veria novamente. Então, Uchiha me olhou de cima a baixo e eu percebi novamente que estava só de roupas íntimas.

Me cobri com os braços da melhor forma possível e fugi de seu olhar. Eu já não estava com tanta raiva dele, mas da situação, de tudo. Como eu pude trair Ino? Deixar esse cara enganar ela e manter segredo por tanto tempo?

Encarei meus pés e vi a meia ridícula que eu estava usando, como eu ia saber que ia começar a briga do século enquanto eu colocava minhas roupas pra lavar, se eu soubesse, eu teria... Certo, isso não vem ao caso.

– No meu caso, não acho que ela vai me perdoar tão cedo. – ele murmurou, mas não como se estivesse lamentando.

– Infelizmente, Ino é louca por você, ela te perdoaria na primeira oportunidade. – atestei o óbvio.

– É verdade. – Uchiha retrucou rápido demais. Era quase como se ele quisesse que ela terminasse com ele. Então percebi, era por isso que ele estava indo lá, foi por isso que ele ligou anteriormente. Ele estava ali para terminar com Ino.

– Foi por isso que você veio, não é? Ia terminar com ela.

Ele me encarou por uns segundos antes de responder:

– Sim. Eu não aguentava mais viver aquela farsa.

Fitei-o com outros olhos, enxergando a parte que eu ainda não conhecia, a de alguém que realmente se importava com alguma coisa e tinha algum tipo de princípio.

Quis soltar um comentário sarcástico e provocativo do tipo “demorou, hein?”, mas fiquei em silêncio. Por algum motivo, eu não estava afim de brincar ou rir, estava completamente absorta nos meus sentimentos de tristeza e decepção.

Ele também parecia não querer quebrar aquela camada de trégua que estabelecemos sem querer, então ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas nos encarando através da atmosfera palpável de um território desconhecido.

– Haru. – ele quebrou o silêncio. – Você ainda está semi-nua.

– Eu percebi, obrigada. – respondi, revirando os olhos.

– Toma, pode ficar. – ele disse, me entregando o moletom. - Ninguém merece ficar vendo você assim.

E simplesmente assim, voltamos a ser o que éramos antes daquele estranho momento tênue de mútua compreensão.

– Eu não quero seu casaco com seu cheiro impregnado, muito obrigada. – retruquei, retomando o tom forte da minha voz e devolvendo a roupa, apesar de querer muito colocá-la e evitar aquele desconforto.

Uchiha bufou e, de repente, me puxou para dentro do meu apartamento, que estava aberto. Fiquei o encarando com curiosidade por alguns segundos, quando ele abaixou a cabeça e respirou fundo. No que raios ele estava pensando?

– Você é tão... – começou, murmurando. Parecia estar falando consigo mesmo. Bom, eu já sabia que ele era esquisito, mas aquela cena era estranha até para ele.

– O que você quer? – eu perguntei. Ele parecia quase vulnerável daquela forma, quase alcançável. E uma parte de mim –bem estúpida, devo dizer- queria entender o que ele estava pensando e porque agia da forma que agia.

Quando ele me puxou para si, eu esqueci de todas as atrocidades que ele fez.

A única coisa que eu lembrei foi a noite que passamos juntos e como eu me senti enquanto o tinha perto de mim, enquanto estávamos nos beijando. Em como era uma sensação que eu nunca tinha sentido antes e que estava ansiando desde então, mesmo inconscientemente.

Eu esqueci de que ele era Sasuke Uchiha, o cara que eu odiava. O cara que traiu a minha melhor amiga e investigou a vida dela. O cara que tinha acabado de terminar com ela de um jeito patético e já estava dando em cima de outra.

O único pensamento que ocupava meus pensamentos era em como ele estava perto demais e como os seus lábios faziam falta na minha pele. Eu senti a sua hesitação, mas também sabia que ele não queria uma abraço. Ele foi andando devagar, com os braços presos na minha cintura, até eu encostar de leve na parede, o último obstáculo. Não tinha volta agora, ele não podia mais fugir.

Eu percebi que ele estava lutando consigo mesmo para me beijar e eu já não me importava. Ele estava errado, eu estava errada, estava tudo errado, mas mesmo assim... Aquilo parecia tão inconfundivelmente certo.

Fechei meus olhos, o que ele viu como um sinal de rendição e permissão. O que era. Devo deixar claro que eu não estava bêbada e ele não tirou proveito de mim de nenhuma forma. Sim, eu estava emocionalmente comprometida e triste, mas racionalmente e completamente sedenta por aquilo.

Uchiha começou pelo meu pescoço e foi subindo, assim como da primeira vez que nos beijamos naquela festa. Estando sóbria, eu achei que o efeito seria diferente, que não seria tudo aquilo que eu tinha sentido, que aquilo foi um exagero da minha mente alterada. Mas eu estava errada, foi melhor.

No momento que ele chegou na minha boca, eu já estava piamente sedenta por seus lábios. Bom, eu não preciso falar o que aconteceu depois.

Sim, eu sei que somos sujos e completamente errados por transar no quarto da recém ex-namorada dele e minha –possivelmente ex- melhor amiga, mas a luxuria levou o melhor de ambos e eu sabia que com Uchiha era só físico e que o que eu sentia quando estávamos juntos era nada mais que as reações químicas do meu cérebro brincando comigo.

Eu ainda o odiava.

Me vi com ele dormindo do meu lado semi-nu e respirei fundo, me dando conta do erro monstruoso que eu tinha cometido novamente. Como os senhores podem perceber, eu cometo muitos erros e estou os confessando todos aqui, mas nunca cometi nenhum crime. Enfim, o encarei por alguns minutos, guardando a imagem dele dormindo e calado como um pote de ouro e o acordei.

– Você tem que sair, Ino pode chegar a qualquer momento. – eu murmurei e me segurei para não chutá-lo para fora quando ele não deu sinal de vida.

Então, rapidamente, ele me encarou e um olhar de horror tomou sua face. Será que ele estava tão arrependido quanto eu?

– Isso não significou nada. – ele não hesitou em dizer, enquanto se apressava em levantar.

Revirei os olhos. É claro que não significava. Estávamos só saciando nossas necessidades humanas.

– Óbvio.

Uchiha saiu do meu quarto mais rápido do que eu esperava e eu suspirei, imaginando como eu iria encarar Ino quando ela finalmente resolvesse falar comigo. Resolvi me concentrar em outras coisas para não me condenar o tempo todo, então peguei meus livros de estudo.

Lembrei-me então do falso Lee, o cara que se correspondia comigo pelo papel e que fazia questão de ser irritante e arrogante. Ele era a minha chance de livrar-me de Uchiha, perante as minhas necessidades fisiológicas. Se esse cara fosse bonito, podíamos namorar e tchau Uchiha drama para sempre.

Pensando nisso, respondi ao:

“Me encontrar. No sábado, às 20h. Na frente da estátua no bairro das fraternidades. Você saberá quem sou eu” com “Estarei lá.”

Depois de escrever, notei um:

“ARRANJEM UM QUARTO, HONESTAMENTE!”, com uma letra diferente e fiquei rindo sozinha até perceber que minha vida estava uma bagunça e que eu tinha perdido minha melhor amiga.


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Notas finais do capítulo

Oi gente linda, tudo bom?
Cap novo pra vocês!

Esse é dedicado a Lia Haruno que deixou uma recomendação lindoca pra fic, muito obg *----*

Beijocas :*



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