E se eu me apaixonasse por você? escrita por Polly Amaral


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Bom, terceiro capítulo quase que no mesmo dia... me veio uma inspiração. Espero que gostem do rumo que a história está tomando. Qualquer coisa, estou aberta a sugestões, críticas e opiniões, desde que não sejam insultos. Ah, e gostaria de agradecer as pessoas que estão acompanhando a história! Fico feliz :)
Boa leitura! :)



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No caminho de volta, Guilherme entendeu que eu não queria falar e ficou em silêncio. Eu não entendo como essas pessoas podem fazer isso. Falar mal das outras sem ao menos saber o que a pessoa passou pra estar ali, como são as coisas em casa... Bom, eu não tenho nada o que reclamar da minha família. Meus pais são presentes, bem, meu pai nem tanto por causa do seu emprego, mas quando ele está em casa faz de tudo pra ficar com a gente. Minha mãe é um doce por si só, nunca tivemos problemas uma com a outra, e meu irmão... nós brigamos sim! Ele é uns cinco anos mais novo que eu e brigamos o dia todo, mas uma coisa eu digo, se eu não tivesse ele pra me perturbar não sei onde eu estaria agora. Ele me perturba de um jeito legal, não como o povo da escola.

Desde a quinta série eu sofro com esses tipos de comentários maldosos a meu respeito. Eu não sei o que fiz pra isso acontecer. Eu não sou uma má pessoa, nunca procurei encrenca com ninguém, mas essas coisas aconteceram quando a Luiza começou a falar que eu era estranha e as pessoas ficaram ouvindo ela. Até algumas meninas que andavam comigo na época pararam de ficar perto de mim, e o que eu fiz com a Luiza? Nada. Então desde essa época eu não tenho mais amigos e não sou muito fã da vida. Já pensei milhares de vezes em suicídio, mas sempre penso em minha mãe. Sempre que chego em casa me corto pois alivia um pouco da dor que sinto em relação a essas coisas. Então apareceu o Guilherme...

– Valentina? – Ele me chamou cortando meus pensamentos.

– Hã? Oi?

– O que você tava pensando? – Ele me perguntou sorrindo, e acabei notando como seu sorriso era bonito.

– Hã? – perguntei confusa.

Ele começou a rir, mas ele não estava rindo pra mim, ele estava rindo de mim, então perguntei sorrindo:

– O que foi?

– Você tá viajando na batatinha – Disse ele rindo mais ainda.

– Ah, qual é?! Para – E comecei a rir também, e dei uma trombadinha nele.

Por um momento esqueci do que aconteceu na escola, dos comentários que fizeram sobre mim, me esqueci de tudo.

– Então como seremos amigos, que tal você ir lá em casa pra gente se conhecer um pouco mais? – Perguntou ele com um tom de cobrança.

– Ah Guilherme, eu tenho que pedir a minha mãe... – hesitei um pouco em responder.

– Tudo bem, nós iremos pedi-la. – disse e em seguida sorriu.

Eu olhei pra ele e sorri, nunca tinham me convidado antes, afinal, nunca tive amigo algum, e estava disposta a ter pelo menos um amigo, então não me importei muito de ele ir pedir pra minha mãe. Cheguei em casa e abri o portão para entrarmos, ele me seguiu e entramos em casa. Andei pela casa à procura da minha mãe, e quando cheguei na cozinha tinha um bilhete dela.

Filha, a mamãe foi pro consultório pois tinha um horário marcado hoje. Tem comida na geladeira, pode tirar pra você e esquenta no micro-ondas. Beijos, mamãe te ama.”

Peguei o bilhete e levei até ele e o mostrei.

– Sua mãe não está?

– Não.

– Ah, escreve um bilhete pra ela também dizendo que você foi lá em casa.

– Ela nem te conhece...

– Me dá o papel, eu escrevo.

Então ele pegou o papel e começou a escrever o bilhete.

– Como sua mãe se chama? – Ele parou pra me perguntar o nome dela.

– Fátima.

E continuou a escrever. Por fim ele me entregou o bilhete e disse:

– Coloca onde ela pode ver.

Então peguei o bilhete e fui lendo até a cozinha.

“Olá Dona Fátima. Eu sou o Guilherme, me mudei pra cá semana passada e hoje foi meu primeiro dia de aula, e acabei sendo da mesma sala que sua filha. Temos alguns trabalhos pra fazer, então a convidei pra ir à minha casa, já que vi que a senhora não estava. Minha casa é a 315. Guilherme.”

Terminei de ler e coloquei de volta a geladeira, dei uma olhada pra ver se o Gabriel estava em casa, e nem sinal dele. Deve ter ido pra casa dos amigos, então fechei a porta e saímos.

No caminho Guilherme me perguntou há quanto tempo exatamente eu morava ali.

– Ah, deve ter uns quinze anos.

– Hum... então nesses quinze anos que você mora aqui tem algo de legal nessa cidade que eu deva conhecer? – Ele perguntou.

– Olha, eu realmente não sei te responder porque eu não sou de sair muito. Nunca tive amigos.

– O QUE? – perguntou ele com o tom de voz meio alterado. – Vamos sentar nesse banco da praça pra conversarmos.

– Ah, longa história... – Disse sentando ao lado dele.

– Então trate de me contar essa longa história. Temos todo o tempo do mundo.

– Haha, Legião Urbana – Não consegui me conter – Todos os dias, antes de dormir...

– É impressão minha ou está mudando de assunto?

– Ah, era pra continuar a letra da música.

– Valentina, não me enrole. Você me conta um pouco sobre você, e eu te conto um pouco sobre mim... Okay?

É, não foi dessa vez.

– Okay...

– Me diga, nunca teve amigos?

– Bom, isso desde a quinta série... – hesitei um pouco, nunca havia dito isso pra ninguém antes, mas ele tava lá me olhando esperando a continuação, então de repente decidi que contaria a ele – É que eu sempre fui na minha, conversava com quem conversava comigo, só que aí uma vez a Luiza me viu quieta no meu canto escrevendo em um caderno e começou a dizer que eu era estranha, que não eram pra andar comigo pois eu era esquisita e que eu era igual uma bruxa que ela viu em um filme, então todos começaram a me evitar, a pararem de falar qualquer coisa comigo. E isso até hoje. Todos me ignoram e dizem coisas sobre mim sem se importarem se estou ou não ouvindo. Todos dão ouvidos a ela, e só porque eu sou do jeito que sou, me taxam de estranha, de escrota...

Ele não disse nada, ficou pensando, no que não sei mas estava pensando, então virou e me perguntou:

– Por isso você saiu chorando do vestiário hoje?

– Hã, não é que...

– Valentina, pode me contar. Eu não irei contar pra ninguém. Não tem pra que eu contar pra alguém. O que essas pessoas fazem é errado, e o importante é você não se deixar abater por eles, pensa que você é melhor que todos eles, pensa que você não precisa de humilhar ninguém pra ser superior. Só de você não retrucar já te deixa superior. Eles fazem isso pra se sentirem melhor porque não são de bem com eles mesmos. Ignora eles, você tem a mim agora, e mesmo que eu tenha te conhecido hoje, eu pretendo fazer isso durar pois vi que você é uma pessoa diferente das demais daquele lugar. Pode contar comigo.

Fiquei sem o que dizer. Em parte o que ele disse foi verdade, mas não dá pra simplesmente ignorar por cinco anos. Fiquei calada em relação a essas coisas pois se eu contasse pra minha mãe, ela provavelmente iria no colégio e eu não queria isso, iria só piorar a minha situação então deixei por esse tempo todo e isso tá me matando. LITERALMENTE.

– Esquece o vestiário... mas me conte sobre você – disse tentando mudar o foco da conversa.

Ele ficou pressionando o maxilar e não quis responder o que eu disse.

– Não acredito que eles fazem isso...

– Esquece Guilherme, vamos conversar, eu tô bem olha – Virei o rosto dele pro meu e sorri – Quando eu me abalar eu te falo, pode ser? Então me conta... – comecei a dar pulinhos – Me conta como era...

– Valentina, Valentina...

Então fiz uma carinha de gato do Shrek e ele riu e acabou me contando.

– O que quer saber?

– Ah, sei lá... pode ser tudo?

– Vou começar do começo. Nasci em 22 de fevereiro de 1997 em um hospital em Belo Horizonte, tenho 17 anos, sou do signo de Peixes se é que isso importa, a primeira palavra que disse foi cocô, aos 7 anos quebrei minha perna, aos 8 entrei na aula de guitarra e foquei nisso. Aos 13 dei meu primeiro beijo, uma experiência que não foi tão legal, aos 15 tive minha primeira namorada que durou 3 meses, depois que acabou resolvi me focar mais na música, e então minha mãe adoeceu, deu tumor no cérebro e pouco menos de dois anos de vida, e então ela faleceu, meu pai resolveu se mudar pra esse bairro e aqui estou eu.

– Guilherme, não precisava falar de sua mãe.

– Não, tudo bem. Isso fez parte da minha vida, uma fase que estou tentando passar, e ao te conhecer notei que não ficaria tão só aqui. – Disse ele olhando para mim.

– Eu irei repetir o que disse pra mim... Pode contar comigo.


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Notas finais do capítulo

Está surgindo uma grande amizade entre os dois, mas isso pode mudar...
Talvez eu demore pra postar o 4° capítulo, então desde já peço desculpas.