Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 21
o aniversário de Ron que Hermione não estava




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Quando cheguei, mamãe e papai estavam dormindo. Fiquei aliviada por não precisar pensar numa boa desculpa e explicar para os dois o que estava acontecendo, mas logo pela manhã as cartas começaram chegar.

 

Cartas de McGonagall, explicando que as aulas tinham sido suspensas, de Molly Weasley oferecendo A Toca para passar os últimos dias, e até mesmo de Lupin, pedindo informações do meu paradeiro.

 

Então mamãe e papai não fizeram perguntas. Eles já tinham entendido, e só estavam felizes por eu estar em casa mais cedo.

 

— Bom, nós podemos adiantar a prova do seu vestido para essa semana, o que acha, Mione? – mamãe perguntara na mesa. Não respondi. Na verdade, nem estava pensando direito e mamãe precisou chamar minha atenção. – Hermione, você está nesse mundo?

 

— Ah, desculpe, mãe... Minha cabeça está em outro lugar… Hmmm, que vestido?

 

Ela arqueou a sobrancelha. Papai, com a cara no jornal, começou dar risada.

 

— Para o casamento da sua prima! Estou falando disso há semanas! Então, você vai?

 

— Onde, mãe? – que mundo eu estava?

 

— Tocar, minha filha!

 

— AH!! Eu não faço mais isso, mãe... já tem um tempo...

 

— Mas é o casamento da Amber...

 

— Ah, mãe, eu esqueci... Sabe, Hogwarts não está aquelas coisas...

 

Ela se sentou ao meu lado, papai abaixou o jornal. Os dois me olharam tristes, agora se dando conta das proporções que as coisas tinham tomado.

 

— Mas agora você está em casa. E está tudo bem – papai disse.

 

— Sim, Mione. Se bem que acho que você deveria ter vindo muito antes...

 

— Mãe, não começa…

 

— Falo mesmo! Molly e eu trocamos cartas, eu sei das coisas... Malfoy, não é?

 

— Mãe...

 

— Quem diria, hein? – ela deu risada e eu fiquei com vontade de abrir um buraco no chão para enfiar minha cabeça.

 

— Deixe a menina em paz – papai se pronunciou, calmo.

 

— Conversamos depois – ela piscou para mim antes de se levantar da mesa. De novo, aquele buraco – Vamos almoçar com a sua tia hoje – e aí ela deixou a cozinha.

 

— Pai, ela tá falando sério?

 

— Parece que sim – ele respondera. – Nós ficamos sabendo, Hermione – e, com aqueles sorrisos de pai, tomando seu café , adicionou: – Mas confio nas suas escolhas. Sei que está fazendo a coisa certa.

 

Oh, pai, eu tenho péssimas notícias...

 

Me senti confiante pela primeira vez em muito tempo. Estar em casa era muito bom, voltar às raízes. O Mundo Mágico, por mais que o amasse, fazia com que eu esquecesse desse meu lado. Aqui eu era filha dos meus pais, não uma nascida trouxa, sangue ruim. Aqui eu era eu.

 

Não sei dizer o que faria sem Harry e os Weasley, mas pela primeira vez em anos senti paz e vontade de estar em casa. E ficaria nela por um bom tempo, num limbo que, nem se a Ordem da Félix arrombasse minha porta e me tirasse de casa a força, eu sairia.

 

Acho que era isso que Lilá estava pensando aquele tempo todo.

 

[…]

 

— Você não vai voltar? É isso mesmo que eu ouvi? PAI, acho que seu telefone está com problema, porque NÃO É POSSÍVEL! Hermione não pode tá falando isso para mim!

 

Pouco dramática. Eu revirei os olhos e respondi, calmamente.

 

— Gina, já decidi. Vou ficar.

 

— Você não apareceu para o aniversário de Ronald, Hermione, como consegue dormir à noite?

 

— Rony sobreviverá.

 

— Hermione, não estou para brincadeira – ela dissera, e eu decidi colaborar um pouco.

 

— Okay, tenta me tirar daqui – bônus: não consegui.

 

— É o casamento do Gui – ela disse, e eu consegui sentir a doçura na voz dela, como se não entendesse o motivo para eu não aparecer no casamento do irmão.

 

— Felicidades ao casal – respondi, indiferente.

 

— Hermione Granger! – sabia que ela queria me matar. Sabia que, se ninguém tivesse impedido (o que deve ter acontecido), ela já estaria em casa, me puxando pelos cabelos.

 

— Fleur entendeu! Eu escrevi pra ela, tá bom? – protestei.

 

— Que Fleur o quê... E se alguma coisa acontecer com você? E se alguma coisa acontecer com algum de nós? Hermione, precisamos estar juntas.

 

Ela não sabia, ela não tinha ideia...

 

— Eu estou bem aqui.

 

— Tonks me contou, Hermione – ela disse, baixinho – Sei que têm Comensais no seu bairro.

 

Tonks não estava mentindo, mas eu não sabia que a conversa uma hora chegaria em Gina.

 

Zabini disse que isso aconteceria. Era desse tipo de coisa que ele estava falando quando brigou com Alec, na noite do ataque. Hermione é uma de nós.

 

Ótimo, Zabini, tudo que precisava... Comensais na minha casa me vigiando.

 

Fiquei com medo nos primeiros dias – como não ficaria? –, mas o resto dos dias foram como se não tivesse nenhum deles perambulando pelo bairro.

 

Eu costumava ver quatro, mas dificilmente eram os mesmos todo dia. Eram pouco mais velhos que eu e nenhum simpatizava com qualquer membro da Ordem da Fênix. Na verdade, não simpatizavam com ninguém.

 

Uma noite, eles travaram um duelo no meu quintal. Eu vi eles esconderem o corpo na floresta. Eles me disseram, Hermione, vá para dentro. E eu teria ficado se minha mãe não tivesse me puxado para dentro – encaro Comensais da Morte, mas não encaro minha mãe, jamais.

 

Na minha cabeça, eles aniquilariam o bairro inteiro sem dó no meu jardim, mas no dia seguinte foi como se todos tivessem tido uma boa noite de sono.

 

Comensais jovens que se voltaram contra seus pais comensais e que seguiam ordens de outros comensais revoltados com os pais comensais.

 

Tonks disse que Lupin pediu para Zabini tirá-los da minha casa, mas Blaise se recusou. E eles estão nessa briga desnecessária (palavras dela) desde então. Uma coisa dessas não se passa pela minha cabeça, mas o que me fez pensar, de novo, de que lado os sonserinos estavam?

 

— Coisa do Malfoy – respondi Gina, mais uma vez, como se fosse nada. Embora sentisse que Draco, dessa vez e de todas as coisas que ele já fez, não tinha nada a ver com aquilo.

 

— Hermione, a Armada inteira está aqui... – ela disse. Tentei não me comover.

 

— Armanda Dumbledore existe ainda?

 

— Granger, porra, você é da Ordem! – ela voltou a erguer a voz. Imaginei Gina, do outro lado da linha, batendo e batendo o pé n’A Toca.

 

— Olha, Gina, foi muito bom falar com você, mas eu preciso ir... minha mãe está chamando... – afastei o telefone – ESTOU INDO, MÃE!

 

— Não me faça ir até Londres te puxar pelos cabelos!

 

Conheço Gina Weasley tão bem...

 

— Tchau, Gina, amo você... Mande um beijo para Molly.

 

E desliguei.

 

[…]

 

— Eu gosto dessa cor em você – mamãe estava quase chorando.

 

Eu me olhara no espelho, sob o olhar sanguinário da minha mãe. Era um vestido longo, de seda chiffon e organza verde esmeralda – mas por que verde, mãe?—, com as costas quase toda amostras. Lindo, mas simples, leve, elegante. Sem estampas, sem rendas, nada que pudesse chamar atenção (como se Amberly pudesse passar despercebida).

 

— Mione fica bem de qualquer jeito – Amber dissera atrás de mim, prendendo meus cachos.

 

Amberly e Michel estavam para se casar em menos de um mês. Muito antes – bem antes – de Michel pedi-la em casamento, Amber já tinha me chamado para ser sua dama de honra. E todo mundo já sabia que os dois iam acabar subindo ao altar de qualquer jeito, então... lá estava eu, com Amberly e mamãe, em um desses ateliês da vida, fazendo ajustes no vestido que AMBER escolhera para mim, meses antes.

 

Elas começaram conversar sobre preparativos quando duas costureiras aproximaram-se e deram toques finais ao vestido, ajustando-o.

 

Amber e mamãe estavam radiantes. Na real, todos estavam ansiosos pelo grande dia, e eu estava cada dia mais aliviada por estar longe de Hogwarts e do Mundo Mágico.

 

Sempre que dava, Amber e eu estávamos juntas, como nos velhos tempos. Quer dizer, não era como se eu não viesse Amberly nunca. Nós nos víamos nas férias e escrevíamos uma para outra com frequência.

 

Amberly não sabia do Mundo Mágico. Essa era a parte boa. Quase nunca estavámos falando dele do jeito que ele era. E também não tinha por que ela saber; grande parte da minha família não tinha ideia, e eu desconfiava que ainda era um risco meus pais saberem tanto.

 

Mas como, como não falar de Hogwarts?

 

— Então, quando vai começar contar? – ela perguntou um dia, no seu quarto. Eu estava estirada na cama, e ela me encarando por um dos espelhos da penteadeira.

 

— Não sei se quero falar sobre isso, Amber.

 

Ela se virou para mim, com um sorriso maroto.

 

— Agora que eu quero saber mesmo! – e jogou um pente para mim.

 

Eu me sentei na cama, pensando no melhor jeito de não soltar verdades. E também com um pouco de receio de falar, em voz alta, o que me atormentara por dias, desde que fui embora de Hogwarts.

 

— Promete não fazer perguntas difíceis? – era um bom começo. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Não por Amber, mas por lembrar dele.

 

Dele. Dele mesmo lá na Torre de Astronomia, falando de que lado estava jogando, falando que me amava.

 

Daquele grande filho da puta.

 

— Prometo fazer as perguntas certas – ela respondeu, cruzando os dedos.

 

Suspirei. Vamos lá...

 

— Você se lembra do Malfoy?

 

— Uhh, sim, o bad boy.

 

— Ah, não diga bad boy... – joguei uma almofada nela.

 

— E não é? – ela deu risada.

 

— Sim, rico, mimado, egoísta, um idiota...

 

— Vai, não enrola, Hermione. – ela me dera um tapa na testa. Parecia que eu estava falando com Gina.

 

— Nós dois... em alguma parte da história, começamos ficar... digamos assim... bem próximos?

 

Isso fez Amber saltar da cadeira e pular na cama, ao meu lado. Ela me olhou, abismada. Não sei dizer o que estava achando daquilo.

 

Quer dizer, muitas das vezes que o nome Malfoy saia de mim, não tinha por que ser coisa boa.. Até porque se ainda é difícil, imagina antes?

 

— Como assim? COMO você solta essa bomba só agora? – ela me apontara o dedo, semicerrando os olhos. – Como isso aconteceu?

 

— Foi mais ou menos: "ei, eu gosto de você, você gosta de mim, por que não tentamos e vemos no que dá?”.

 

— E aí?

 

— E não deu. Nós terminamos.

 

— Por quê?

 

— Perguntas difíceis, Amber.

 

— Para mim, é uma pergunta muito justa.

 

— A família dele... – comecei falar, mas não sabia como explicar para Amber. Na verdade, não sabia como explicar para qualquer um. A família dele o que, Hermione? A família dele serviria sua cabeça na bandeja para comensais, se tivesse oportunidade? Então, sem saber como continuar, eu só respondi: – É complicado.

 

— Meu tipo de história favorita – ela sorri e eu também. Mas parece que ela lê meus pensamentos, porque só me abraça, como se soubesse que estava mesmo sendo muito difícil para mim tudo aquilo.

 

Eu deitei no colo de Amber e ela começou pentear meu cabelo. Antes que eu percebesse, já estava falando. E era muito bom falar.

 

— Eu acho que Draco fez uma coisa muito ruim. E que alguns dos meus amigos apoiaram isso... sabe?

 

— Você acha? Quer dizer que você não sabe?

 

— Amber...

 

— E você está com raiva de uma coisa que não sabe? – vê? Vê da onde herdei o sarcasmo?

 

— Sim, todo mundo enlouqueceu! – eu me levantei.

 

— É muito errado? – ela falou, passando a mão pelos seus cachos. Os dela sempre foram mais comportados que os meus.

 

— É muito errado – bem, Amber, ele matou alguém...

 

— Acho que você devia perguntar.

 

— Nem morta – cruzei os braços, mas sem me dar conta de que aquilo não dava certo com Amber – Não vou atrás dele.

 

— Hermione, você é melhor que isso.

 

— Não é só o que ele fez, mas... como ele teve apoio? Como perdoam ele? – e aí eu me corrigi, porque ela abriu a boca para falar e eu já sabia o que ia sair de lá – Okay, todo mundo merece perdão, eu sei... Mas se quer minha opinião, está muito cedo para isso.

 

— As pessoas não são ideológicas, Mione. Elas agem de acordo com as suas necessidades.

 

— Muito profundo, Amber.

 

— Falo sério! Vai ser muito melhor para você resolver isso com seus amigos e Draco do que... ficar aí se remoendo. Além do mais, estou casando e não quero energias ruins no meu casamento vindo da dama de honra...

 

— Ele nem se deu ao trabalho de me procurar!

 

— Eu também não faria isso no lugar dele – Amber cruzou os braços – Para você recebê-lo com quatro pedras na mão?

 

Fiquei quieta por um instante, absorvendo a informação.

 

— Justo – respondi, e continuei: – Amber, eu quero que ele venha atrás de mim, mas não desse jeito, não assim... como um deles.

 

— Hermione, não tenho ideia do que você está falando – ela disse, sincera.

 

— Perdovável – eu respirara fundo – Sinto que esse tempo que passei com Draco me desligou de tudo. Sinto que fiquei à deriva, só deixando as coisas acontecerem... agora o alarme despertou, Amber, me acordou no meio da minha vida e eu preciso fazer alguma coisa. Mas eu não faço ideia de quem sou ou o que eu quero, ou o que está realmente acontecendo... Entende, Amber?

 

Amberly voltou a me abraçar.

 

— Mione, estou muito feliz por você estar aqui...

 

— Tá legal, pode pular essa parte – eu disse, com a cabeça encostada no seu ombro.

 

— Presta atenção, não interrompa a noiva... – ela me deu um cutucão – Mas eu sei o quanto você ama aquela escola e seus amigos. Aqui é sua casa, mas lá também é. Eu juro, não tenho ideia do que ou de quem você está fugindo, mas deve ter sido muito horrível para você voltar assim… é só que... não dê as costas assim aos seus amigos. Vocês já passaram por coisa pior, mas estavam juntos. Qual a diferença agora?

 

[…]

 

— Eles são Comensais, mas não como os outros... estão aí porque você pediu, mas eles não são da Ordem... mas também não são Comensais da Morte? Mas eles estão me protegendo de Comensais. É isto?

 

— Exatamente – Zabini respondeu no meu quintal, numa noite que o céu estava bonito para Londres, e também não chovia. O que era bem raro e ainda fazia todo mundo obrigatoriamente ficar fora de casa.

 

Zabini veio me visitar por causa do duelo da outra noite, mas estava alguns dias atrasado. Ele chegou com mais comensais à espreita, parecendo um general. Sentou, comeu e bebeu, contou as novidades do Mundo Mágico, jogou conversa fora... Seus fiéis escudeiros sumiam na floresta enquanto isso.

 

Não perguntei de Pansy nem de Draco. E ele não disse nada. Embora estivesse pistola com tudo e com todos – vulgo Gina Weasley –, meu coração deu uma acalmada quando Blaise apareceu.

 

— Está fazendo de tudo para eu não voltar, não é? – cruzei os braços. Sentamos no quintal, porque eu quis manter papai e mamãe longe de tudo isso.

 

— Estou fazendo de tudo para você ficar segura.

 

— Qual é, Blaise, nós dois sabemos que eu sei me virar muito bem sozinha – voltei falar.

 

— Bem como? Você nem usa mais sua varinha.

 

Eu fechei a cara: – Não quero eles me espionando, tá bom? – e continuei: – Quer saber? Não quero nada disso aqui. Mande-os embora. Eu deixo você vir fazer visitas quando sentir saudades.

 

— Ótimo, quando quiser voltar, me avise, que eu os mando embora...

 

— Zabini...

 

— Se meu filho nascer e você não estiver lá... nunca vou te perdoar – ele disse, fazendo drama. Eu revirei os olhos. Pois é, eu perdi algumas coisas enquanto estava fora.

 

— Fico feliz por você levar tudo isso numa boa, apesar de não estar fazendo mais que sua obrigação como homem – eu dissera.

 

— Obrigado pelo apoio, Hermione.

 

— Disponha.

 

Apesar de ser narcisista, autodestrutivo e egoísta, por baixo de tudo isso, lá no fundo , Blaise era uma boa pessoa. E, vamos dar um crédito, até que estava se esforçando para manter tudo nos eixos, inclusive sua cabeça.

 

Aos poucos, os Comensais foram chegando, um por um. Não tenho ideia, até hoje, do que faziam na floresta, e nem que fim tivera aquele corpo. Se era trouxa ou não, mestiço ou não, comensal ou não. Nada.

 

— Granger – ele dissera, pausadamente –, se você não vir comigo, vai acabar indo com Pansy. E disso você não vai gostar nenhum pouco, eu te garanto...

 

— Manda vir – respondi, indiferente. Blaise passou a mão no cabelo curto, de novo, impaciente. Blaise era bonito. Sempre foi. E, com tudo que estava acontecendo, parecia mais confiante e mais maduro. Dava para perceber no andar, ou no jeito que falava, o quanto ele tinha deixado de ser o moleque sonserino dos corredores de Hogwarts. Fiquei me perguntando se Draco estaria do mesmo jeito.

 

— Hermione, você não tem jeito – respondeu.

 

— Eu quero paz – falei pra Zabini, me dando conta de que eles estavam lá parados no meu quintal, imóveis como pedras, só esperando a ordem do seu General. E eu nem tinha percebido quando eles chegaram.

 

Sei que não eram muitos, mas naquela hora minha imaginação foi longe. Via facilmente um exército. Eles sempre pareceram estar em muitos na minha casa. A naturalidade daquilo tudo ainda me assusta.

 

— É uma pena, amor – ele sorriu, sarcástico, mostrando todos os malditos dentes brancos dele – Ninguém te contou? Estamos no meio de uma guerra.

 

No mundo real, acontecem tantas coisas fora do seu controle que você se encontra, em algum momento, disposta a se contentar com qualquer conforto e segurança onde possa se apoiar, mas alguns de nós são corajosos ou estúpidos o suficiente para continuar lutando, mesmo sem motivo.

 

Veja bem, lá estava Zabini com um filho a caminho. Podia ter pego suas coisas e fugido com Pamela, mas resolveu ficar ali, fazendo o que quer que esteja fazendo.

 

O filho da puta aparatou.

 

[...]

 

Eu sabia que Pansy Parkinson, uma hora ou outra, aparecia também. Era de se esperar, por isso quando ela invadiu meu quarto, às vésperas do casamento de Amber, eu não fiquei surpresa.

 

Estava com uma toalha na cabeça, e tinha acabado de sair do banho. Pansy me olhou e não disse nada por um instante.

 

Ela usava um longo vestido preto e por cima um sobretudo preto comprido, o que fazia ela parecer mais velha. Usava luvas verde-escuro de couro sintético e uma bota cano alto de salto. No peito, tinha um broche em formato de cobra, com esmeraldas no lugar dos olhos. O cabelo castanho estava preso num coque tecnicamente despojado, mas lindo demais porque se tratava de Pansy.

 

Não sei o que Pansy estava pensando, mas com certeza não passava despercebida.

 

Olhei para sua barriga no mesmo instante. Mesmo com a capa, dava para perceber. Fiquei pensando no que Pansy estava falando e fazendo na Mansão sobre isso, mas ela também não parecia que queria esconder algum vestígio de... filho.

 

Fiz as contas mentalmente. Deixei Hogwarts, Pansy estava de poucos meses ainda. Ali em casa, era provável que estivesse de cinco, seis meses (n/a: só grávida faz conta em semanas).

 

— Sério? Vai me receber assim? – ela dissera, interrompendo meus pensamentos.

 

— Olá, Pamela, faz tempo – respondi, sentada na penteadeira.

 

— Espero que você tenha uma boa desculpa – ela começou, tirando as luvas e o sobretudo e jogando-os na cama – Se bem que quando contaram, não acreditei que tinha voltado para casa dos seus pais.

 

— Achou que estaria onde? Tirando férias? – perguntei, sarcástica.

 

Pansy me olhara debochada.

 

— Malfoy nem tá dormindo direito – ela comentou, e se virou para mim, fazendo uma pergunta quase que retórica: – Por que mesmo você está aqui?

 

— Sabe como é... saudades de casa – dei de ombros, tirando a toalha da cabeça.

 

— Me poupe, Mione. Você não queria ser achada.

 

— E quem quer? O mundo tá acabando – respondi, penteando meus cabelos molhados.

 

— E você aqui...

 

— Pelo menos não abri as pernas pra Comensal e engr... – foda que abri.

 

Mas nem precisei terminar para que Pansy virasse um tapa na minha cara. Doeu, mas foi bem merecido. Esse tipo de coisa faz a gente acordar para a vida. Mesmo depois de tantos anos, ainda peço desculpas para Pansy, mas ela não diz nada, como se o tapa dessa noite fosse o bastante.

 

Eu me levantei da cadeira depois de meio segundo e ela me empurrou, fazendo-me sentar de volta. Eu a olhara irritada.

 

— Vá atrás do Potter antes que ele saia sem você – ela disse. Assim mesmo, aleatoriamente.

 

Louca, louca. Mais louca que Bellatrix!

 

Eu a empurrei para trás e me virei para o espelho. Minha bochecha estava vermelha e marcada perfeitamente pelos dedos longos e doloridos de Pamela.

 

— Draco mandou você tomar medidas drásticas? – debochei, olhando-a pelo espelho.

 

— Sim, por isso seja boazinha, Mione. Arrume uma mala e vá de bom grado par’A Toca. Podemos fingir que nada disso aconteceu.

 

— O que vocês querem de mim? Eu saí de Hogwarts como uma foragida naquela noite. E nem foi eu que matei o Dumbledore.

 

— Ninguém disse que precisava ir embora... – ela começou falar, mas eu a interrompi.

 

— Sai daqui, Parkinson. Eu me viro bem sem vocês.

 

Pansy não respondeu. Ela ficou me encarando (de novo!). E parecia que a barriga de grávida dela me encarava também.

 

Sem o sobretudo, ficava mais evidente. E Pansy nem parecia se incomodar, como achei que faria.

 

— Não me diga que está fazendo isso por causa dele – ela disse, cruzando os braços.

 

— Eu quero mais é que o Malfoy se exploda – e não estava mentindo.

 

— Ele avisou que você diria isso – ela disse, mais para si do que para mim.

 

Eu amoleci: – O que mais ele disse?

 

— Viu? Vocês não têm fim – Pansy falou, batendo os braços.

 

— Por que veio aqui? – perguntei, mas mais alto do que esperava.

 

— Você é procurada, paixão. Seu pescoço tá valendo muito – ela diz, encosta na parede – E adivinha que Malfoy quer te achar primeiro?

 

— E ele mandou logo você? Que merda tinha na cabeça?

 

— Ah, mas é um prazer estar de volta – ela respondeu, jogando os cabelos para trás. Tão.Bonita.Tão.Não.Mexa.Comigo.Ou.Já.Sabe — Esbarrei com dois trouxas no caminho… espero que não sejam seus pais.

 

— Você enlouqueceu.

 

Pansy, atrás de mim, se apoiara na penteadeira, me fitando no espelho.

 

— Não sou eu quem está tendo uma crise de identidade.

 

— Você não tem identidade, Pamela. Não sabe de que lado está, não faz ideia do que está fazendo. Te mandaram aqui, mas por que você veio?

 

— Eu vim por você, sua idiota!

 

— Está um pouco atrasada, não acha? – Eu dei uma risada forçado, o que fez Pansy me olhar mais irritada do que já estava

 

Ela me encarou, enojada. Me senti um inseto. Um inseto burro e idiota. O que diabos estava acontecendo ali entre nós duas?

 

— O que Draco viu em você?

 

— Eu sei quem eu sou – respondi empinando mais o nariz.

 

— Você é covarde, Hermione. Você fugiu! Você não teve coragem nem de ir no funeral!

 

— Você nem tinha que estar lá – acusei.

 

— Você não sabe o que fala mais – ela se afastara, nervosa.

 

— Verdade, Pamela, o que eu sei? – falei, sarcástica. Mas Pansy não respondeu.

 

Começou andar pelo quarto, de um lado para o outro, e quando se deu conta de que estava no meu quarto e que nunca estivera ali antes, começou prestar atenção em volta.

 

Pansy olhou tudo, canto por canto. Olhou meus livros, meus desenhos, toda minha bagunça, mas também não dissera nada.

 

Meu vestido não passou nenhum pouco despercebido por ela. Eu tinha buscado naquela manhã e o deixara pendurado. Pansy, assim que o notou, se virou pra mim com as sobrancelhas arqueadas.

 

— Casamento da minha prima – expliquei. Ela continuou me olhando. Suspirei – Não diga nada, tá?

 

Pansy ergueu as mãos: – Como quiser.

 

Eu me levantara, cansada daquilo tudo.

 

— Tá bom, Pamela. Passa o recado para o Draco... Fala para ele que estou bem, estou viva, não enlouqueci e eu não vou sair de casa. Que ele pode ficar tranquilo, porque vamos nos ver no final, e blá-blá-blá-blá.

 

De forma alguma aquele parecia ser o fim para Pansy. Ela se sentara na cama, como uma dama, meio às minhas almofadas.

 

— Por que você não está com os Weasley? – ela cruzou os braços.

 

— Veio para isso mesmo?

 

— Quer dizer, aniversário do Rony? Perdeu uma festa e tanto.

 

— Você é ridícula – soltei, mas me arrependi na mesma hora. Pansy, por outro lado, pareceu não se importar. Ela tinha MESMO que falar do aniversário do Rony?

 

— Não sente falta?

 

— De quê?

 

— Da magia, d’A Toca, dos seus amigos... Weasley e tudo mais – ela revirou os olhos.

 

— Por quê? Quer me escoltar até lá? – eu perguntei, debochada.

 

— Quando podemos ir?

 

Explodi no mesmo instante: – Só tem Comensais na minha casa! Isso é mesmo um despejo? Eu não vou embora, pode mandar quem for aqui! Pode mandar Voldemort, mas eu não saio daqui.

 

— Hmmmm, até onde eu sei... Você não tem opção – ela respondeu, sem se mexer.

 

De todos eles que conversaram comigo – Gina, Zabini, Amber –, Pamela era a única que eu queria estrangular.

 

— Acabou? – cruzei os braços.

 

— O que aconteceu com você? Devia estar no casamento de Fleur e Gui – agora pareceu comovida.

 

— Ah, e você foi convidada também agora que faz parte da Ordem?

 

— Hermione, eu quero tanto te dar uma surra – Pansy simplesmente disse, afogando o rosto nas mãos. Ela suspirou alto. Comecei sentir dó dos meus amigos e pelo que eles estavam passando. – Por que você está complicando tudo?

 

— Por que você está aqui, Pamela? – retruquei.

 

— Porque eu sou sua amiga, animal! Podia ser pior.

 

— Não consigo imaginar...

 

— Você é uma ingrata! – ela me cortara – Todo mundo fez de tudo por você e é assim que nos trata, Hermione? – Pansy explodiu.

 

— Eu não pedi nada – respondi como uma criança mimada.

 

Pansy me deu outro tapa. Talvez esse eu tivesse merecido também, mas mesmo assim... por que, Merlin, por quê? Eu também lhe dera um tapa, e aí ela me olhou boquiaberta. Nunca tínhamos brigado assim, nem quando nos odiávamos (cerca de um ano atrás).

 

Sem pensar duas vezes, Pansy me apontara a varinha, com um ódio mortal que me faria sair correndo se não a conhecesse tão bem. Então, pensei, era naquilo que Pansy se tornara? Conseguia facilmente ver a Comensal da Morte nos seus olhos, e o que ela fez com aquela menina de Hogwarts.

 

Mas não sei por que estava surpresa; Pansy e todos eles tinham sido praticamente treinamos desde pequenos para saírem por aí desfilando e agindo como fiéis escudeiros de Voldemort. Ensinados a ser o tipo de gente que mataria, se visse ameaça na outra pessoa, porque era necessário. Pura aniquilação.

 

Não hesitei e peguei minha varinha. Guardei ela comigo esse tempo todo; não era louca de deixar de usá-la, ainda mais com Comensais por perto.

 

— O que você está FAZENDO, Hermione? – ela gritou. Naquela hora, tive certeza de que Pansy fosse capaz de me matar.

 

Quer dizer, eu seria capaz de atacar Pansy? Eu seria capaz de atacar qualquer um dos garotos da Sonserina? Da mesma forma que Pansy tinha sido criada para matar, eu tinha sido para lutar e me defender todos esses anos em Hogwarts. A começar pela Armada Dumbledore, no quinto ano.

 

Estupefaça— Pansy atacou e uma luz vermelha saiu da sua varinha, em minha direção.

 

Rennervate— soltei antes que pudesse pensar. Meu quarto parecia um concerto de rock, com tantas luzes saindo das nossas varinhas. Pamela já fazia feitiços não-verbais, e era muito difícil me defender de feitiços não-verbais – Expelliarmus.

 

ÓBVIO que ela não foi desarmada. Pansy estava impossível, só pararia quando quisesse.

 

— Você tá passando vergonha, Hermione – ela provocou.

 

— Eles deixam você usar esses feitiços assim? O Ministério não foi atrás de você ainda não?

 

— Que autoridade o Ministério tem agora? Só tem Comensais naquela merda. Scrimgeour está com os dias contados – ela revirou os olhos. Realmente, eu estava muito alheia do Mundo Mágico. Se bem que não era de se esperar que Rufus Scrimgeour levasse um Golpe, mais cedo ou mais tarde.

 

Cruzei os braços. Uma ideia, uma ideia idiota se passou pela minha cabeça. Era justamente disso que Draco estava falando naquela noite; curiosidade. Eu não ia resistir saber como era ser um deles, fazer parte, ter esse tipo de privilégio.

 

— O que eu tenho que fazer para me juntar à vocês? – eu estava louca mesmo. Aquela era uma boa hora para Pansy me deixar desacordada. Eu teria deixado.

 

Pamela parou e ficou me olhando como se eu tivesse pedido uma coisa muito absurda do tipo... atropele uma velhinha, chute um cachorro, roube o brinquedo de uma criança, coisas assim.

 

Quer dizer, na minha cabeça era muito coerente. Se não pode contra, junte-se à eles. Mas eu também não me dera conta de que aquela era a coisa mais imbecil que eu falava em voz alta.

 

Pansy debochou: – Você tá brincando com fogo, Granger.

 

— O Mundo Mágico está um caos, Pamela! Quem vai cuidar dos meus pais? Se for para eu voltar...

 

— Se for, nada! Você vai! Mas vai direito para a casa dos Weasley – ela brigou – Você bateu a cabeça? Tá querendo mesmo se envolver com serpente?

 

— Dumbledore nos deixou, Pamela! Dumbledore deixou a Ordem sem saber o que fazer! Você mesmo disse isso – eu lembrei. Me daria um tapa se pudesse.

 

Ela me encarou de novo, provavelmente se lembrando daquela noite no camarim. Devia estar se odiando um pouco, se a conheço bem. Mas aí ela falou e eu tive vontade de atira-la pela janela, de tanta raiva:

 

— O que vocês dois fizeram de tão louco em Hogwarts pra você se isolar aqui?

 

Sabia que ela falava de Draco, e a lembrança daquela noite me causou um embrulho no estômago.

 

Não, Pansy, não é o que fizemos, mas o que eu vi, o que eu soube. Eu quero dizer, como, Pansy, como Draco mata Dumbledore na Torre de Astronomia e ninguém diz absolutamente nada? E na Torre de Astronomia, porra! E por que eu, logo eu, tive que sair correndo?

 

— Onde quer chegar, Pamela?

 

— Não consigo imaginar outro motivo para você estar sendo tão idiota. Um que não envolva Draco.

 

— Cala a boca, você não sabe de nada... Eu fui expulsa! É isso que está me fazendo ficar aqui.

 

— Era para você voltar para o funeral! Não foi porque não quis, e tá querendo ME culpar pelas SUAS decisões? – ela cruzou os braços. Eu não respondi, então Pansy guardou a varinha, relaxou os ombros, amoleceu um pouco a voz e deu uma de Pansy: – Hermione, não faz isso... O que quer que tenha acontecido entre você e Draco... Precisamos de você.

 

Um nó se formou na minha garganta. Pansy teria me ganhado aí mesmo, mas não aconteceu.

 

— Quando você diz “nós” e “precisamos”, você tá falando de quem? Porque, olha para você, Pan... você tá do lado de quem?

 

Ela ficou quieta. Sei que, por um lado, eu que estava sendo idiota, e Pansy não tinha nada ver com a minha mágoa.

 

Não foi o que fizemos em Hogwarts, foi o que Draco fez em Hogwarts e ninguém falou nada.

 

— Seu lugar é com a gente, Hermione.

 

Aqui é meu lugar – concluí, ríspida. Poderia ter sido mais gentil, eu sei, afinal Pamela tinha baixado a guarda, e parecia que íamos ter progresso, mas eu fiz merda, e ela voltou à defensiva quando eu dissera: – Você conseguiu deixar claro que aqui é o meu lugar desde o primeiro momento que nos vimos. Estou em casa, onde eu não deveria ter saído

 

— Você não consegue não pensar em si mesma pelo menos por um instante?

 

COMO ELA TEM CORAGEM? Minha cara foi para o chão. E eu que era a ingrata... Tudo que fiz por Harry, tudo que fiz por ela, tudo que fiz por Draco... Puta merda, que raiva!

 

— Eu já fiz MUITO por vocês. Eu tentei ajudar Harry, eu tentei ajudar Ronald. Eu tentei falar "Draco, você não precisa fazer isso". E eu tentei te ajudar, sua idiota. E o que você fez?! Me deu as costas. Me mandou embora! Me expulsou de Hogwarts, Pansy!

 

— Você não entendeu nada, Hermione, você não entendeu nada do que o Potter disse.

 

— Quer saber? Eu cansei. Harry é grandinho, sabe se virar.

 

— Hermione – ela falou, calmamente –, se alguma coisa acontecer com algum deles, você vai se arrepender demais... Não faça isso, por favor. Você não está sozinha... tá todo mundo em pânico também. Você nunca vai estar sozinha.

 

— Chega, Pamela. Eu já decidi.

 

Ela me olhou daquele jeito de novo; mais do que disposta a me atacar. E eu achei mesmo que faria, mas Pansy pareceu pensar bem a respeito. Tipo, os Weasley achariam ruim se eu aparecesse com Hermione desacordada para o casamento de Gui e Fleur?

 

Pamela Parkinson fez questão de sair pela porta. Mas antes, ela se virou e me apontou o dedo:

 

— Fique sabendo que eu volto. E se eu vier com Draco, você está fodida, Hermione, fodida! Porque ele não tá nenhum pouco feliz.


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