Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 15
Querida Lilá




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Querida Lilá,

 

Para ser sincera, não espero mais que você responda e não entendo porque ainda continuo insistindo em você. Eu sei que você recebe as minhas cartas e talvez isso tenha sido a única coisa que me conforta; saber que você está bem desde sua partida, porque você não se deu nem ao trabalho de se despedir.

 

Lilá, eu não te culpo por ir embora, mesmo não sabendo os motivos que a levaram a isso. Você não quis participar disto, eu entendo. Eu entendo se você quis ir para casa. Mas, porra Lilá, você podia ter se despedido. Você podia ter deixado seu endereço e podia ter dito aquele típico "vamos manter contato", ou você podia ter deixado um bilhete. Porque, Lilá Brown, é o que amigos fazem.

 

Quando voltamos a Sala Comunal naquela noite, Rony se trancou no quarto por duas longas semanas. Depois ele saiu em um sábado, como se nada tivesse acontecido.

 

Ele te apagou, Lilá. Ele não quis escrever para você, por mais que eu tenha pedido, ele não quis. Ele não quis falar sobre o que aconteceu e ele não quis tocar no seu nome.

 

Não foi justo, Lilá. Não foi justo com Ronald, nem comigo. E com Parvati. Eu sei que ela te escreve também, e assim como eu, não aceita de nenhum jeito sua partida. Mesmo se quisesse, ela não pode te substituir.

 

Quase ninguém da Armanda Dumbledore foi embora da Grifinória, mas junto com suas coisas, você levou todo o âmago daqui.

 

Hogwarts está quase vazia.

 

Parte dos corvinos foi embora, assim como os lufanos e os sonserinos calouros que deixaram a escola a pedido de seus bons pais. Estávamos em um luto coletivo, mas os professores ainda tentavam manter as coisas nos eixos — não que tenham tido sucesso. Acontece que, nessa esforço de fazer tudo voltar ao normal, Minerva e o resto dos diretores adiantaram o campeonato de Quadribol, e decidiram mesclar os times das casas, já que eles não estavam em um número bom para jogar.

 

Os Corvinos se juntaram à Sonserina e nós fizemos aliança com a Lufa-Lufa.

 

Óbvio.

 

— Corvinos são traidores – Gina disse, jogando o profeta de Hogwarts na mesa do café da manhã.

 

— Nós sempre soubemos que se fôssemos ser apoiados por uma das casas, seria pela Lufa-Lufa – eu lembrei.

 

— Eu sei, mas eles nunca se deram bem com os sonserinos e agora vão jogar todos juntos — ela diz, enojada.

 

— Preferia jogar com a Sonserina? — Rony brincou, o que fez Gina olhar irritada para ele.

 

— Você está do lado de quem, Ronald? – Gina o cortou. Ron ergueu os braços em rendição.

 

— Só estou dizendo que assim é melhor.

 

Gina bufou: – Nós sabemos o que é melhor... Como era antes, do jeito certo, as quatro casas competindo entre si...

 

Harry, que estava até àquela hora em silêncio, balbuciou:

 

— Eu sinto muito.

 

Talvez ele sentisse. Nós comemos quietos depois disto.

 

Não tem acontecido muitas coisas em Hogwarts, tem acontecido trocas de olhares e segredos compartilhados, mas nada além disso, o que fazia McGonagall quase ter um colapso, porque todos andavam muito deprimidos e quietos. Ela antecipou o Quadribol e propôs atividades extracurriculares, como o Clube de Duelos, mas não teve o resultado que ela queria. Às vezes temos aulas ao ar livre.

 

A verdade é que todos têm se apoiado mais do

que deveria depois do que aconteceu, e apesar das mudanças em sala de aula e no Quadribol, ninguém ficou realmente surpreso; uma hora ou outra, isso ia acontecer. Só não achávamos que seria naquele momento.

 

Até teve um dia, Lilá, que chegamos no Salão Principal e sentamos todos juntos na mesa da Corvinal, porque não tinha mais porque ficarmos separados.

 

O mais estranho é que tivemos inúmeras ausências aquele dia, mas isso foi o que acabou nos juntando, no final das contas. O maldito sentimento de luto.

 

Eu queria que você estivesse lá para ver aquilo. Eu queria que você estivesse aqui agora, assim, talvez, eu não estaria escrevendo sem algum retorno.

 

Estou cansada, Lilá. E sei que Parv já desistiu de você, e eu só não desisto porque Draco ainda insiste para que eu te escreva. Mas eu não quero, Lilá. Eu não quero te escrever mais.

 

Draco pede para que eu não a culpe, porque talvez você tenha seus motivos, mas eu acho que ele só faz isso porque sabe que um dia vai ser a vez dele comigo. Talvez eu não esteja preparada para escrever para ele como estou fazendo com você.

 

Eu sabia que Draco não ia aparecer naquela noite como tinha prometido. Eu sabia que ele tinha ido embora e eu não consegui fazer nada para evitar, mas, ainda sim, mesmo vendo toda a cena em câmera lenta, custava acreditar... Uma parte de mim deve ter botado alguma fé de que não tinha sido deixada para trás duas vezes na mesma noite.

 

E eu deixei a janela aberta.

 

Só que ninguém apareceu. Ninguém além de Parv que tinha ficado todo aquele tempo com Padma, impedindo-a de ir embora.

 

Na manhã seguinte, nenhuma de nós duas queríamos levantar da cama. Era domingo, não teria aula e os meninos combinaram de treinar para se distrair. Rony não saiu do dormitório. Eu fiz minha parte como amiga; fui até lá e tentei tirá-lo do quarto, mas ele se recusou.

 

Eu não queria ir ao Salão Principal. Doeu ver todo mundo indo embora e doeria ver aquele salão que estava sempre tão cheio nas refeições, vazio daquele jeito.

 

Então eu fui até a biblioteca, até porque estava sem fome.

 

Draco estava lá. Draco, o meu Draco. O Draco Malfoy, esse mesmo. Aquele que tinha ido embora noite passada…

 

Eu me aproximei mais, só para ter certeza de que não estava ficando louca; ele estava sentado numa mesa afastada, com um pote de cereais e uma xícara de café. Não tinha me visto até eu parar na frente dele, de olhos arregalados.

 

— Bom dia — ele diz, com um sorriso triste.

 

— Oi – eu respondi lentamente, logo achando que estava tendo alucinações.

 

Draco franziu o cenho: – Você está bem?

 

— É que… – eu olhei para os lados para saber se mais alguém sabia da presença de Draco ali, ou se era só comigo. Eu me sentei rapidamente na cadeira a sua frente – O que você está fazendo aqui?

 

— Está um clima de luto no Salão Principal – ele disse, e logo em seguida deu um gole em sua bebida, me olhando: – Café?

 

— Não, quero dizer aqui em Hogwarts – eu me corrigi.

 

— Ah? – ele pôs mais cereais na boca.

 

— Draco, eu vi você indo embora.

 

— Ah! – ele sorriu e disse: – E eu quase fui.

 

— Mas o quê…?

 

Ele me apontou a colher de cereais, terminando de mastigar: – Alec queria ir embora e eu, como melhor amigo, não pude deixá-lo fazer essa loucura. Então eu fui daqui à Hogsmeade tentando impedir ele. Você é tão boba… achou que eu iria embora sem me despedir?

 

— Você não apareceu ontem à noite, eu fiquei te esperando.

 

— Bom, devo dizer que foi uma longa conversa para fazê-lo ficar – Draco protestou. – Não sei o que faria se ele tivesse pego o trem.

 

Eu revirei os olhos, mas pensando que poderia ter ido atrás de você, Lilá. E por que eu não fui, Lilá? Por que eu não fui atrás de nenhum de vocês?

 

— Eu sinto muito pela Lilá – Draco dissera chamando minha atenção. – Como o Weasley está?

 

— Eu saberia se ele saísse do quarto e conversasse comigo – respondi, sarcástica. Draco me olhou triste. Dei de ombros.

 

— Posso aparecer hoje à noite, ou você está brava e vou ter que fazer alguma coisa para me redimir antes? Porque se for o caso, eu também posso servir de ombro amigo para você.

 

— O que você acha?

 

— Eu acho que você quase teve um ataque do coração noite passada.

 

— Francamente…

 

Pior que era a mais pura verdade.

 

— Está vendo só? Você nem consegue disfarçar.

 

— Cala boca.

 

— Confessa, Hermione

 

— Menos, Draco. Nós dois sabemos que você não conseguiria me deixar.

 

— Eu me despediria antes – ele respondeu. Eu suspirei, pra quê esse tapa na cara, Lilá? Pra quê me lembrar que foi atrás de Alec, o fez ficar e agora está em Hogwarts? Não tem por quê. – Vai no treino hoje?

 

Eu dei risada: — Acho que não.

 

— Por que não? – ele me cutucou.

 

— Quadribol é chato, eu não entendo.

 

— Eu te explico, tipo, agora – ele tirou um pergaminho e tinta da mochila e colocou na mesa.

 

— Não, não precisa.

 

— Então você pode ir só para gritar meu nome. "Dracoooooo, Dracooooooo".

 

— Para quê?

 

— Motivação – ele deu de ombros.

 

— Se é um treino, por que você precisaria ser motivado?

 

Draco me olhou sério: – Motivações são sempre bem-vindas.

 

— Não me olhe assim, não sou do time. E, não sei se você percebeu, mas eu sou da Grifinória.

 

— E daí? Tipo, quando o Potter se virar, você grita um "Draco" e depois um "Potter".

 

— Eu não chamo ele de Potter.

 

— Hermione, você é muita chata.

 

Eu dei risada. Ele se levantou, juntou sua comida e me deu um beijo antes de jogar sua mochila nas costas.

 

— "Dracooooooo, Dracooooooo"… não é para esquecer.

 

Quando ele estava quase que saindo da biblioteca, eu gritei: – Às onze!

 

Ele acenou e eu entendi aquilo como um sim.

 

À noite, eu deixei a janela aberta e ele apareceu. Às onze, sempre pontual, cumprindo a promessa de aparecer só para servir de ombro amigo. E, como a Grifinória estava praticamente vazia, Parvati e eu não dividíamos mais o mesmo quarto.

 

Lilá, eu vou te contar como foi vê-lo indo embora e como foi tê-lo de volta em menos de vinte e quatro horas; são muitas borboletas no estômago e muitos nós na garganta, são muitos engasgos e muitas vibrações. Ronald já passou por isso, mas ele não sabe como é ter alguém de volta depois de vinte e quatro horas. Ele diz que te esqueceu, mas é mentira. As suas vinte e quatro horas podem durar a vida inteira pra ele, contanto que você chegue.

 

Está na hora de voltar, Lilá.

 

Eu te perdoaria, Lilá, mas não sei se é isso que você quer. Eu te pediria perdão, mas não sei pelo que me desculpar.

 

Eu sei que Dumbledore te deixaria voltar, eu sei que Dumbledore sabe onde você está mesmo quando diz que não. Eu só não entendo porque você foi embora sem se despedir.

 

Eu queria te contar sobre como as coisas estavam indo com o Malfoy. E que eu descobri que o amava e estava explodindo de felicidade porque ele me amava também... Eu tive tanto medo das coisas mudaram quando voltássemos à Hogwarts, mas continuamos os mesmos.

 

Mas ainda não dava para contar para todo mundo. Ninguém sabia, nem tinha ideia.

 

E nós nos encontrávamos à noite. Eu deixava a janela aberta e ele vinha. Por Merlin, Lilá, ele vinha. Ele vinha até o sétimo andar da Torre da Grifinória e ia embora pouco antes do despertador tocar.

 

— Eu gostaria de fazer uma denúncia... a segurança da torre da Grifinória é uma merda — Draco disse entrando no quarto.

 

— Eu gostaria que não falasse mal da minha casa, enquanto está nela — respondi. Draco revirou os olhos.

 

— Qualquer um pode entrar! — ele protestou — Vou ter que conversar com a professora McGonagall sobre isso... Porque, sabe, eu sou o presidente.

 

Eu dei risada: — E você vai falar o quê? Que consegue entrar aqui toda noite?

 

Draco parou para pensar por um instante. E deu de ombros.

 

— Eu vou pensar em algo.

 

Draco se aproximou da minha cama. Eu já estava sob as cobertas e de moletom.

 

Parecia ser uma daquelas noites em que a gente deita e dorme, mas quando Draco está aqui, eu quase nunca consigo dormir. Ele se aconchegou ao meu lado, como sempre fazia, e de repente, a cama ficou melhor.

 

— Não é para dormir – ele me cutucou.

 

— Estou com sono.

 

— Eu não estou com sono.

 

— Mas você vai me deixar dormir mesmo assim — eu respondi de olhos fechados — Até porque eu sei que você falta nas aula de história da magia para poder dormir na Sala da Monitoria Chefe.

 

— Eu sou inocente até que se prove o contrário.

 

Mesmo assim, eu ri.

 

Ouvimos algo bater na porta, eu tinha quase certeza de que era um balaço de Quadribol e por isso nem me mexi. Draco ao meu lado se levantou na mesma hora.

 

— Eles estão usando a Sala Comunal para treinar— expliquei puxando-o para se deitar comigo —Eu não falo nada contanto que deixem a sala intacta.

 

Minha única exigência.

 

— Desculpa, Hermione! — alguém gritou do lado de fora.

 

— Merlin, a Grifinória é uma bagunça mesmo — ele resmunga.

 

— Eu gosto mais quando estamos na Sala da Monitoria Chefe – sussurrei em seu ouvido.

 

Eu gostava quando Draco estava na Grifinória comigo, mesmo sabendo que aquilo infringia todas as regras de Hogwarts. Mas era como deixá-lo participar um pouco do meu mundo, deixá-lo ver de perto e se acomodar. E eu podia ver que ele estava gostando daquilo.

 

—Mas, diferente de você, eu não tenho como faltar na aula para dormir na Sala da Monitoria Chefe… até porque eu nem tenho uma sala particular para fazer isso.

 

A verdade, Lilá, é que eu nunca engoli a história de ter perdido para o Malfoy a eleição da escola. E ele sabia disso.

 

— Não tem problema… você fica comigo.

 

Eu lhe fitei no escuro: – É aí que eu não vou dormir.

 

— Exatamente – ele sorriu e eu juro, Lilá, eu juro por Merlin e todos os santos, que meu coração quase saiu pela boca com aquele sorriso malicioso. Eu devo ter corado, porque Draco riu e com isso, eu voltei a me deitar.

 

— Vai dormir – murmurei.

 

— Você não vai me deixar aqui sozinho.

 

— Você não está sozinho. Nick-quase-sem-cabeça deve estar na Sala Comunal — eu brinquei.

 

— Ah, sim, claro, venho toda noite para a Grifinória para jogar conversa fora com o fantasma. Da próxima vez, eu vou direto para o banheiro da Murta, Hermione.

 

— Para de fazer drama, ontem eu fiquei até tarde com você.

 

— Isso ficou no passado – ele sussurrara.

 

Ouvimos outro barulho na Sala Comunal, mas eu não falei nada. Draco se encostou na cabeceira da cama.

 

— Eles vão ter que saber um dia – ele disse, calmo.

 

— Hoje não. Não sei se estou pronta... e também tem seus amigos... — eu olhei para ele.

 

— Você é amiga dos meus amigos e eles te adoram. Pansy te ama!

 

— Eu digo, o resto da Sonserina — respondi.

 

Draco deu de ombros: — Não liga para eles.

 

— Para você é fácil falar.

 

Ele revirou os olhos, mas deitou-se na cama, me abraçando.

 

— Eu não estou pronta, Malfoy – eu respondi, sincera — Não sei se um dia vou estar, é muito complicado.

 

— As pessoas sempre souberam — ele argumentou.

 

Encarei Draco no escuro. Será que ele tinha noção do que tinha se enfiado? Será que ele pensava naquilo tanto quanto eu? O que estava em jogo?

 

— Mas agora é real — respondi, seria, fitando-o.

 

E era.

 

Às vezes não acreditava, parecia uma alucinação, um portal que devo ter atravessado sem querer um dia e que me levou para outra realidade. Porque eu estava tão feliz, Lilá. Draco me fazia feliz, estar com ele me deixava feliz.

 

— Tudo bem, eu não vou para lugar nenhum — ele responde inclinando-se para me beijar.

 

Estávamos naquela fase onde tudo era sexo e não conseguíamos ficar muito tempo sem nos beijar. Eu estava caidinha por aquele garoto, Lilá, descobrindo que se apaixonar é a mesma coisa que pular do precipício.

 

Nada além de uma queda.

 

— Não vai para lugar nenhum? — eu provoquei.

 

— O que eu faria sem você, Granger? — ele beija o meu pescoço, e sussurra no meu ouvido: — Eu enlouqueceria.

 

Draco sabia de todos os meus pontos fracos. Draco sabia como soltar todos os meus gatilhos.

 

Mas vou te dizer, Lilá, e não vou mentir; eu não queria contar para Harry e Rony que estava namorando a serpente. Tudo bem que eles já aceitaram as diferenças e que por mais que a inteligência deles fossem um pouco tanto quanto discutíveis e duvidáveis, eu tinha certeza de que meus caros amigos tinham sacado que quando eu dizia que estive no Jardim, não quis dizer que eu estive no Jardim sozinha. E quando Harry fala do Malfoy – que por alguma razão do destino, estava quase sempre por perto –, eu quase engasgo com o café/suco, me perguntando por que diabos eu fui me meter naquela.

 

Os astros ainda não me deram uma boa resposta à respeito.

 

Eu só sei que as noites são melhores porque estou com ele, e eu espero o dia acabar, quieta e ansiosa, só para poder bater na porta da Sala da Monitoria Chefe ou deixar a janela aberta e esperá-lo aparecer por volta das onze da noite.

 

Você me entende, Lilá? Eu espero sim…

 

— Você não ouviu, Hermione?

 

— O quê? – eu perguntei voltando à realidade naquela manhã.

 

Ao meu lado, Harry bufou. E não respondeu minha pergunta ao tomar um gole do seu café e se distrair com alguma notícia desinteressante e mesquinha do Profeta de Hogwarts. Olhei para Ron com as sobrancelhas arqueadas.

 

— Snape – ele murmurou entediado.

 

— O que ele fez? – perguntei. Harry bufara de novo e eu revirei os olhos: – Dá pra parar?

 

— Não é importante – ele respondeu.

 

Rony rira e nós dois o fitamos irritados.

 

Todo mundo da Grifinória andava irritado. Ficamos desconfiados um do outro depois da sua ida, Lilá, porque ninguém achou que você faria isso. É como se esperássemos isso de qualquer um, exceto de você. A nossa amizade ficou frágil, e a desconfiança pairou por toda Grifinória.

 

— Nós realmente precisamos parar com isso – Rony soltou, pela primeira vez falando sobre o que estava acontecendo. – Somos da Grifinória. Se vocês não sabem o que isso significa, vou dizer: significa companheirismo, coragem… fazer qualquer coisa por um amigo. É isso que significa. Vocês não podem fingir que não é nada só porque estamos incompletos. Okay, alguém foi embora, mas a vida segue.

 

Eu estava pronta para jogar na cara de Ronald Weasley tudo o que ele tem evitado desde que se trancara em seu quarto, se recusando sair e saíra como quem ganha a Taça das Casas e faz uma prova impecável de Poções. Eu estava prontíssima, porque eu respirei fundo logo em seguida, com o discurso decorado entalado na garganta e registrado à tinta nesses pergaminhos; falaria sobre a sua partida, Lilá, e como Ronald foi um estupido por fingir que nada aconteceu. De grifinório ele não tinha nada além do uniforme. Porque ele te excluiu e nos fez fazer a mesma coisa em toda santa refeição. Ele ignorou o lugar vazio na mesa e disse que não tinha problema, quando, pode ter certeza, tinha. E ele podia, Lilá, ele podia ter seguido em frente – como uma hora todo nós faríamos – e ter te escrito. Ele podia ter te gritado naquela noite e na manhã seguinte, mas não foi isso que ele fez. Por mais que Ronald estivesse sofrendo, não conseguiu deixar de ser um hipócrita quando abriu a boca. Lá vai, eu pense quando comecei falar.

 

Mas sabe o que houve, Lilá? Eu me calei. Eu enfiei um pedaço de bolo na boca e mastiguei tudo o que queria que Ronald escutasse. E dei de ombros, porque era o máximo que podia fazer sem surtar.

 

Ao meu lado, Harry se levantou.

 

— Nós não somos da Lufa-Lufa – ele dissera ao deixar o salão.

 

Rony não disse nada. Mas depois de terminar seu café, ele saiu também, e sem se despedir.

 

Não é que eu te culpo, Lilá. É que nós não conseguimos, tampouco conseguiremos lidar com tudo de uma vez. A proposta de Dumbledore veio do nada; ninguém estava preparado para deixar e ser deixado. Isso, no entanto, só nos fez perceber que falamos de uma Guerra, mas nunca nos preparamos para ela. Sabíamos o que viria, só não sabíamos como seria.

 

Mas no fundo, no fundo, eu queria que você estivesse aqui só para dizer que tudo ficaria bem. Porque quem fazia isso era você.

 

Harry some. O dia inteiro. Quase sempre está com Dumbledore. Ele e Gina talvez tenham acabado de vez e eu não fiquei sabendo. Tem acontecido tudo e ao mesmo tempo nada.

 

Rony conta os dias ansioso para o sábado, se instala no Três Vassouras e só sai de lá à noite, meio bêbado. Já cansei de me preocupar; Dino que cuide dele.

 

Chegou uma hora que eu não vejo mais meus amigos, Lilá. Nós ficamos cinco minutos na mesa durante uma refeição e já surtamos. Logo agora, que nós precisamos um do outro mais que tudo

Não sei ao certo o que fazer. Tento me convencer de que não é Draco que está fazendo isso, mas é difícil. Harry ainda fica em cima, dizendo que ele está "aprontando alguma" na Sala Precisa, e eu não posso fazer nada além de dizer que não há nada de errado, quando, na realidade, eu sei que há.

 

Pansy já falou mais de uma vez que quer ir embora, mas eu não quero que ela vá. Porque desde que as coisas entre Ron, Harry e eu ficaram tensas, ela tem sido minha companhia, e eu não acho que os dias na Mansão Malfoy são como numa colônia de férias. Também não sei por que diabos ela quer voltar pra lá.

 

— Ela vai embora, e aí o resto deles vão também – Ron dissera naquela noite na Sala Comunal. Hogwarts estava tão minúscula que os boatos corriam mais que o normal. Todo mundo já sabia que os dias de Pansy Parkinson na escola estavam contados.

 

— Vocês acham que ela sabe alguma coisa sobre…? – Harry passou a mão na cicatriz.

 

— É claro que sabe – Rony disse.

 

— Vai com calma, Ronald – eu interrompi – Ninguém sabe por que ela está indo.

 

— E é tão difícil adivinhar?

 

— Não vamos tirar conclusões precipitadas.

 

Lilá, o amor é tapar o sol com a peneira. É fechar os olhos diante de um precipício e dar o primeiro passado, torcendo para não cair logo de primeira.

Que eu sabia que era por causa da sua família fiel a Voldemort, eu sabia. Só não não queria admitir que minha amiga estava indo por causa disso. E se Pansy me falasse que era por esse motivo, eu talvez mudasse de assunto.

 

Não sei por que estava agindo como uma menina inocente, fingindo que as coisas a minha volta não estavam acontecendo.

 

— Hermione, menos. Contra fatos não há argumentos.

 

— Nós não sabemos de nada, pare de falar asneiras.

 

— Ok, Hermione, agora tenta pensar em uma série de motivos que levaria Pansy Parkinson a sair da escola. Motivos que não incluam sua família cruel e do mal.

 

Eu revirei os olhos, e respondi que não tinha ideia, e realmente não tinha até naquela noite, quando perguntei para Draco assim que entrei na Sala da Monitoria Chefe, o que levava Pansy querer sair da escola e ele respondeu, como se fosse óbvio, e eu quis mudar de assunto rapidamente. A verdade dói, Lilá.

 

— Mione, eu te amo, mas você tem certeza de onde está se metendo? – Harry arqueara as sobrancelhas.

 

— Você não conhece ela como eu, Harry.

 

— Bom, tudo bem – ele girou a poltrona – Soube de alguma coisa do Malfoy?

 

Soube que ele tem cócegas.

 

— Não, nada – eu respondi.

 

Parkinson era boa comigo, não com Harry. Pansy era minha amiga, não de Harry.

 

Eles sabiam, Lilá, é claro que sabiam. Eles só estavam perguntando porque queriam que eu dissesse, mas diante das circunstâncias, eu não queria mandar a real e falar.

 

— Certo – Harry suspirou –, eu queria falar sobre isso com vocês mais tarde, mas acho que agora é uma boa hora. Hã… Dumbledore está sabendo de alguma coisa, que eu não ainda não tenho ideia, porque ele não diz, e acho que se eu perguntasse, ele ainda não me contaria. É alguma coisa séria. Não acho que arriscaria a vida de algum aluno, ou algo do tipo, mas acho que se alguma coisa acontecer aqui em Hogwarts… é uma boa hora para deixar a escola.

 

— Já? – eu perguntei espantada.

 

— Quer dizer, pode ser qualquer coisa… O Ministério, outro ataque… Não faço ideia, só que com toda essa história de Voldemort, é melhor ir logo de uma vez.

 

— Ótimo, nós vamos com você.

 

— Hermione, você não está entendo…

 

— Potter, não começa. Não vamos desistir de você, está louco? Você não duraria muito sem a gente.

 

— Isso é verdade – Ronald riu.

 

— Não é uma boa ideia – Harry murmurou.

 

— Bom, eu vou – respondi ficando ereta. Harry costumava me levar mais a sério desse jeito. – Rony?

 

— Não perderia essa por nada – ele respondeu.

 

— É arriscado, não posso exigir isso de vocês.

 

— E daí? Nós vamos mesmo assim.

 

Harry bufou: – Me prometam que… que quando vocês acharem que não dá mais, vocês vão embora. Me prometam.

 

— Nós vamos ficar, Harry, não adianta botar medo na Hermione, você sabe como é… – Rony disse. Eu ri, e Harry revirou os olhos, porém divertido.

 

— Falo sério. Não é como ir ao Três Vassouras.

 

— É por isso que você precisa da gente – falei.

 

— Então vocês juram? – ele insistiu.

 

Eu jurei, Lilá, eu jurei sabendo que não precisaria prometer que faria isso, porque não faria. Eu não deixaria Harry. Eu também não deixaria Rony ir embora caso alguma coisa acontecesse durante nosso percurso, porque eu sabia que uma hora ele pensaria nisso, e lá estaria eu.

 

Eu também deveria ter jurado que não te deixaria, Lilá, mas não aconteceu. Porque eu não imaginei que você iria embora.

 

Porra, Lilá, eu sinto tanta sua falta.

 

Me responda, por favor.

 

Atenciosamente,

 

Hermione Granger.


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