Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 16
Mais um sobre o Malfoy


Notas iniciais do capítulo

QUANDO eu fiz o cap 5. Um sobre o Malfoy, eu jurei para mim mesma que seria o primeiro e último, BUT devido as circunstâncias, eu mudei de ideia rsrsrsrs E PODE SER QUE outro do Draco esteja por vir, mas não prometo nada.
Sou 100% imprevisível.
Boa leitura,
espero que gostem
eu sinto muito pelos textos grandes que ficou, mas foram necessários.
COMENTEM ♥ ♥



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— Eu não concordo com isso.

 

— Você não tem escolha.

 

— Severo… – Dumbledore o censurou. Snape revirou os olhos.

 

— É sua missão, Malfoy. Você fez o pacto.

 

— Mas Dumbledore sabe de tudo! Não é mais segredo que Voldemort vai invadir a escola.

 

Snape me deu um tapa na cabeça, e eu o olhei revoltado.

 

— Não se faça de sonso – ele disse – Você sabe como as coisas funcionam, Malfoy!

 

— É claro que sei – resmunguei mal humorado – Minha mãe te procurou, não? Se eu falhar, você termina o que eu comecei. Então! Faça sua parte, porque eu não quero mais me envolver nisso.

 

— Você fez o juramento.

 

— Você também – rebati.

 

Snape revirou os olhos novamente, pousando-os em Dumbledore, como se estivesse cansado de discutir comigo. Eu me virei para o velho sentado atrás de sua mesa, tomando chá.

 

Imaginei várias formas de matar Dumbledore naquele instante. Snape era ágil, mas nem tanto. Ele estava vulnerável e eu tinha a chance de cumprir minha missão ridícula. Antes que pudesse fazer alguma coisa, balancei a cabeça, afastando os pensamentos homicidas.

 

Eu não tive paz desde que Snape me envolveu naquela história; no final das contas, Dumbledore sempre soube de tudo e ainda contava comigo. Ele também tinha um plano, eu precisava matá-lo para que Voldemort confiasse em mim e em Snape. E, não vou mentir, eu tentei outras vezes. O colar enfeitiçado que infelizmente terminou com uma aluna em coma, o hidromel envenenado que quase matou Ronald Weasley... a lista não tinha fim.

 

O Lorde queria o pescoço de Dumbledore e Dumbledore queria seu pescoço arrancado fora, e tinha eu; alguém que arrancaria o pescoço de Alvo Dumbledore, e que infelizmente fazia parte dos dois planos, contra minha vontade.

 

Apesar de ter desistido de tudo aquilo por causa de Hermione, ainda me tirava o sono. E pensar nas várias formas de matar o diretor e ter toda a glória que a família Malfoy e o próprio Tom Riddle podiam me dar, não tinha preço.

 

E eu não conseguia parar de pensar em como Voldemort e meu pai ficaram irritados ao saber que o herdeiro Malfoy tinha jogado tudo para o ar por causa de uma nascida trouxa. E eu tive instruções claras no começo do ano: consertar o Armário Sumidouro, colocar os comensais para dentro de Hogwarts, matar Alvo Dumbledore e voltar para a Mansão Malfoy. Mas já fazia dias desde que eu não pisava não Sala Precisa e tentava me distrair com o Campeonato de Quadribol e com Hermione.

 

Na real, ainda não sei por que me dou ao trabalho indo atrás de Hermione. Tudo pareceu muito bonito no começo. Ir até a torre da Grifinória à noite, biblioteca à tarde, café no lago... tudo para agora Hermione resolver que está muito ocupada pra tudo. Inclusive para mim.

 

Não que eu a culpe; meus motivos também não são muito nobres.

 

Isso que dá entrar em um relacionamento cheio de mentiras.

 

E então, sem muito esforço, depois de levar mais um fora de Hermione, lá estava eu de volta à Sala Precisa.

 

Isso que dá viver de mentiras. Uma hora você não sabe de mais nada.

 

Fiquei pensando que, se eu matasse Dumbledore naquele instante, estaria servindo a quem?

 

— Não posso me arriscar, Alvo – eu falei encarando-o pelos óculos meia lua.

 

— Essa é sua chance, Draco. Você tem escolha e pode escoher fazer o certo – ele dissera.

 

— O certo? – eu ri ironicamente – A Ordem inteira vai vir atrás de mim! Potter vai querer meu pescoço! E Hermio… – me interrompi rapidamente pensando na garota revoltada comigo.

 

— O que tem ela? – Snape perguntou, mal humorado.

 

— Ela nunca vai me perdoar – falei por fim.

Na mesa, Dumbledore suspirou.

 

— Eles vão entender – ele disse – Faça o que tiver que ser feito, Draco. Eu entendo que é difícil quando todos parecem que vão se revoltar ao seu redor, mas se você não fizer, Snape fará. Vai acontecer de qualquer maneira. Mas você tem a chance, garoto, e eu peço que você o faça, porque Voldemort precisa confiar em você, e se você falhar na sua missão…

 

— Eu sei, eu sei – bufei.

 

— Eu tenho certeza que Hermione compreenderá – ele disse por fim.

 

— Não é tão simples quanto parece – respondi ríspido. Snape me censurou com um pigarro – Eu estou cansado. Aquela merda de armário está tirando meu sono. Falta muita coisa ainda, e eu já nem sei se quero terminá-lo.

 

— O que você estava pensando, Malfoy? Em deixar tudo aí e fugir com a Granger? – Snape perguntou irônico. Eu fiquei quieto, porque talvez aquilo fosse uma opção.

 

Não vou mentir, é claro que se passou pela minha cabeça; Hermione tinha que ir embora de Hogwarts de qualquer jeito. Então, bem, que seja comigo. Mas haviam inúmeras falhas nesse meu plano. Começando pela própria Hermione, que não deixaria Potter e Weasley para trás de jeito nenhum.

 

Eu não consegui para de pensar na desgraçada desde que entrei no gabinete do diretor, já sabendo do que tudo aquilo se tratava. Dumbledore sabia de tudo e era tão mais previsível que Voldemort. Mas eu nunca imaginei que ambos me incluiriam, junto de Snape, em um de seus planos. De qualquer jeito, eu pensei enquanto Dumbledore dava seu discurso motivador, Hermione não me perdoaria em nenhum dos casos; por fugir, por fugir com ela, por matar Dumbledore a pedido do próprio Dumbledore, por matar Dumbledore a pedido de Voldemort… Eu não tinha escolha, Snape estava certo.

 

O professor me encarou, petrificado. Tive a sensação de que estava lendo minha mente, porque Snape era bom nisso, e bloqueei tudo rapidamente, pensando que Dumbledore era um velho hipócrita por permitir que aquilo acontecesse.

 

Snape deve ter tirado de mim algumas memórias de infância e lembranças com Hermione, porque logo em seguida me olhou revoltado, prestes a me atacar.

 

— Não ouse levar Granger junto com você – ele ameaçou.

 

— Não é educando ler a mente das pessoas assim, Snape – eu respondi.

 

— Cale a boca – ele revirou os olhos – Vocês dois não podem ficar juntos, sabe disso.

 

— O quê? Ele também faz parte dos seus planos? – eu perguntei olhando para Dumbledore, que não fez nada a não ser trocar um olhar rápido com Snape, ainda sentado atrás da sua grande mesa de madeira. – FALA!

 

— Não é sobre Hermione – ele simplesmente respondeu.

 

— É sim! Essa merda é sobre todos nós, Alvo – eu falara me aproximando da mesa. – É sobre cada aluno dessa escola, cada homem do vilarejo que teve sua casa invadida por comensais, cada trouxa que foi atacado sabe Marlin porquê. É sobre cada gota de sangue bruxo ou não, puro ou não, derramada no chão. É sobre Karolyne Dalavia assassinada aqui mesmo em Hogwarts e sobre Katie Bell enfeitiçada e em coma no St Mungus. É sobre a guerra ridícula que você travou com Voldemort por causa do Potter. E nos separou quando disse que podíamos ir embora se quisermos. Acorda, Alvo. Para de agir como se tivéssemos escolhas, porque ninguém tem. Nem mesmo você. Você põe sua vida em risco para salvar o Potter e diz que é assim que tem que ser. Eu não quero fazer parte disso, Alvo. Eu não quero ser uma peça de xadrez do seu tabuleiro, muito menos no de Voldemort. É loucura! Tá todo mundo louco! Você está louco, Alvo! A idade já chegou para você. Vai se aposentar.

 

Cada coisa que eu soltava sem querer me fazia chegar mais perto da mesa e de Dumbledore, quase que soando como uma ameaça. Atrás de mim, Snape não fez nada, e Dumbledore só me encarava, sem me interromper. Até que eu parei e dei as costas ao diretor, aliviado porém irritado com tudo que dissera. Mas antes que pudesse sair da cabine, Dumbledore dissera calmamente, de sua mesa:

 

— Você sabe de que lado está, Draco. E eu confio em você, Malfoy. Se não quer fazer por mim, faça por ela.

 

E fechei a porta, sem responder.

 

[…]

 

Hermione Granger estava sentada a dois lugares de mim. Entre nós dois, estava uma Patil de olhos inchados e entristecida porque sua irmã gêmea tinha ido embora naquela manhã, enquanto eu estava no gabinete de Dumbledore, jogando na sua cara coisas como essas. Ao seu lado, Mark, pouco concentrado em seu teste de Transfiguração. E então tinha eu, um aluno distraído fazendo rabiscos na borda do pergaminho e observando pelo canto do olho Hermione Granger anotar tudo o que a professora Minerva falava, já que já tinha terminado, há tempos, seu teste surpresa.

 

Na nossa frente, Weasley e Longbottom olhavam para trás a cada minuto para tentar copiar as respostas de Hermione, e ela quase nunca deixava, xingando-os por distraí-la no meio da aula. Mark e eu riamos, tentando ao máximo animar a Patil entristecida. Cheguei até mandar origamis, mas não adiantava muita coisa.

 

Mandei até para Hermione na esperança de fazer algum contato visual, mas ela também não respondia.

 

Por mais que ela não pudesse ao menos sonhar que estive com Dumbledore e Snape, eu queria conversar, distrair, parar de planejar fugas e perguntar como foi o dia dela. Mas eu já sabia que meu dia seria dedicado ao Armário Sumidouro, como tem sido ultimamente porque Hermione se recusa me encontrar.

 

Assim que a aula acabou, ela se levantou rapidamente com Patil e Weasley e eu só fui vê-la na hora dia jantar, no Salão Principal.

 

Nós não estávamos na mesma mesa, como costumávamos ficar. Os grifinórios e os lufanos se reuniram na mesa da Grifinória, falando animados sobre o jogo de Quadribol do próximo sábado, e os corvinos ficaram espalhados pelo salão – metade em sua mesa, metade na mesa da Sonserina, alguns na mesa da Grifinória.

 

— Dumbledore não para de olhar aqui – Pansy sussurrou. Eu dei de ombros, mas Pansy ficou nervosa e me olhou, já esperando para saber o que houve naquela manhã.

 

E eu calmamente contei. Não que antes ela não soubesse do que Dumbledore & Cia. planejavam, mas Pansy não deixou de exclamar um "caralho" duas ou três vezes.

 

— Você que enfeitiçou Katie Bell, seu hipócrita – ela me deu um tapa, mas não parecia realmente nervosa.

 

— Eu fui coagido.

 

— Você nunca é coagido a nada, Draco. E você tem que esperar para fazer isso no final do ano letivo… Sabe, até o Weasley fizer 17 anos.

 

— Antes tarde do que nunca – respondi dando de ombros.

 

— Merlin, Draco… De que lado você está?

 

Mesmo que não esperasse uma resposta, eu soltei mal humorado:

 

— Eu juro que não tenho ideia – e fui sincero.

Ela riu.

 

— Ele sabe sobre a garrafa de Hidromel? – perguntou.

 

— Qual é, Pansy! Dumbledore sabe de tudo. E se ele quer montar um esquadrão suicida, não é problema meu.

 

Ela me fitou, e então disse:

 

— Draco, você é um caso perdido – ela me olhou triste e me deu um beijo na bochecha, quase como que um consolo, coisa que costumava fazer quando namorávamos, mil anos atrás. Sinceramente, fazia tanto tempo que parecia que tinha sido em outra vida. Aquilo não era necessariamente um flerte; era um jeito claro de Pansy dizer que estava preocupada, mas que também não podia fazer muita coisa.

 

— O que houve com a Hermione? – ela perguntou enfiando um bolinho na boca. Olhei rapidamente para a mesa da Grifinória sem entender muito bem onde Pamela queria chegar, mas só foi olhar para a mesa da Grifinória que eu percebi que Hermione me encarava.

 

E eu sabia exatamente o que aquele olhar queria dizer. Era singelo, era sincero e vinha do fundo do coração: você fez merda, Malfoy.

 

Hermione me olhava daquele jeito até no passado, mas eu juro que nunca doeu tanto quanto naquela hora. Tentei pensar nas coisas que poderiam fazer Hermione ficar tão brava comigo a ponto de colocar aquela barreira entre nós nas últimas semanas.

 

— Eu não sei – dei de ombros – Hermione é um mistério.

 

— O que você aprontou, Malfoy? – ela perguntou voltando a me cutucar.

 

Pausa.

 

Tentei buscar alguma briga ou algo que eu disse, mas nada. Fazia uma semana ou mais que não estávamos nos falando direito; nada além de esbarradas no corredor e encontros desmarcados. Ela andava ocupada e eu entediado, porque não sabia fazer outra coisa além de ir até a Sala Precisa e ir até o Campo de Quadribol.

 

Descobri que é mais complicado brigar com uma pessoa que você mal mantém contato visual.

 

— Eu ainda não contei sobre Londres – lembrei.

 

Pansy me deu um tapa: – Foi a única coisa que o Potter pediu para você fazer, e você não fez, seu pateta.

 

— Hermione não estava merecendo saber – eu respondi. Pansy me olhou sarcástica. – Se ela resolveu que agora não quer mais saber da gente, podia ter falado, pelo menos. E eu fico aqui... como um idiota esperando... Ocupada... Disse que tá ocupada, Pansy. Ela é o quê? Ministra da Magia por um acaso?

 

— É, Draco... tudo que vai, volta.

 

— É sério, Pamela? Agora?

 

Ela deu de ombros.

 

— Eu sei que você ama ela.

 

Eu me ajeitei na mesa, visivelmente incomodado. Já tentei ao máximo não pensar nisso.

 

— Não é bem assim.

 

Ela riu.

 

— Por que é tão difícil ver o que está a um palmo da sua frente?

 

— Ela não me ama.

 

— Ela ama... ela só não sabe ainda.

 

— Não é o suficiente.

 

— Por favor, sejam mais fáceis. Não dá para ser sincero um com o outro? É muito difícil para vocês?

 

Parece que sim.

 

Voltei a olhar a mesa da Grifinória. Hermione até tentava disfarçar, mas não conseguia não olhar pra nós, e eu ignorava. Era nosso jogo interno.

 

— Weasley deve ter dito alguma coisa – eu falei para Pansy.

 

— Mas vocês fizeram um acordo – ela murmurou procurando a cabeça ruiva de Ronald na mesa.

 

Eu bufei: – Não esse Wealsey.

 

Gina Weasley estava sentada com Luna Lovegood, encarando seu prato intocável.

 

— Ela não faria isso – Pansy respondeu.

 

— É a melhor amiga dela – falei.

 

Pansy me olhou com nojo. Não deve ter gostado muito de ouvir isso.

 

Pansy revirou os olhos.

 

— Ginevra abriu a boca porque o Potter Fedido deu um pé na bunda dela – falei acabando com o mistério.

 

Pansy suspirou e voltou a encarar a ruiva.

 

— Claro que não.

 

— Ela abriu a Câmara Secreta quando tinha onze anos! Aquela menina é o demônio.

 

— Ela estava enfeitiçada.

 

— Onze anos!!! – eu voltei a dizer.

 

— Draco, para. Isso tudo é culpa sua – ele deu um tapa na cabeça – Se Ginevra contou tudo, como é que Hermione perdoou eles facilmente?

 

— Potter deve ter dado sua versão dos fatos.

 

— Merlin… você pirou – ela balançou a cabeça – Achei que você tinha parado de implicar com ele.

 

— Contra fatos não há argumentos.

 

— Você nem sabe se isso é verdade. Inventou agora mesmo.

 

— Ouça bem o que eu digo, Pamela – eu disse sério. Ela me olhou franzindo os lábios, pouco interessada – Hermione sabe sobre Londres e eu estou fodido.

 

— Para de buscar culpados, Malfoy. Você já devia ter ido falar com a Hermione.

 

— Para quê? Eu sei como essa história termina, e não termina bem. Eu amo ela, mas e daí? Isso vai salvá-la? Isso vai me salvar? Já está feito, Parkinson.

 

— Draco, quando o amor começa doer, a gente tem que ir — Pansy respondera de repente. Não entendi, mas também não fiz perguntas. Nós dois sabíamos a verdade; Hermione e eu tínhamos um prazo de validade e ele estava vencendo. Eu não podia fazer nada além de vê-la indo embora. Ou ir embora antes, talvez.

 

Eu bufei e voltei a comer, dessa vez sem olhar para a mesa da Grifinória.

 

[…]

 

— Você fica sem falar comigo, mas não fica sem… mim – Hermione respondeu colocando sua calcinha. Eu rolei na cama ao vê-la pegar seu sutiã de renda jogado no chão. Ela me olha pelo ombro, com um sorriso sarcástico: — Essa era a emergência?

 

— Tinha que chamar sua atenção de algum jeito — eu dei de ombros.

 

— Você não precisa se esforçar muito — ela disse colocando o sutiã e se virando para mim — Agora você tem minha atenção.

 

— Onde esteve?

 

— Quando?

 

O tempo todo.

 

— Ultimamente.

 

Ela suspirou: — Estou ocupa...

 

— Ocupada, eu sei — murmurei, puxando-a para mais perto. Seria possível? Seria possível contar aquilo sem magoa-la? — Eu sinto sua falta.

 

E fui sincero. Não aguentava mais mentir para Hermione.

 

— Eu estou aqui agora — ela disse me olhando.

 

Hermione balançou a cabeça. Não sei quando exatamente as coisas ficaram estranhas entre nós. Eu arqueei a sobrancelha, sem saber ao certo o que viria logo em seguida.

 

— O que tem feito essa semana? – ela simplesmente perguntou.

 

— Coisas – dei de ombros voltando a deitar na cama. Olhei no relógio: não passava da meia-noite.

 

— Nós vamos conversar assim agora?

 

— Eu estou treinando para o Campeonato... e eu não te vejo mais nem nos corredores — respondi.

 

— Desculpe, é que… Ando ocupada — ela repetiu.

 

— Eu percebi.

 

— Draco, não vamos brigar hoje...

 

— Nós precisamos conversar.

 

Ela se virou novamente para mim, meio mal humorada. Eu suspirei; cada palavra dela, por mais que eu quisesse ouvi-la à noite inteira, era um tapa na cara.

 

Não era uma boa hora para contar, mas não dava mais para evitar.

 

— Sobre o quê?– ela perguntou, ríspida.

 

— Sobre Londres.

 

Hermione arqueou a sobrancelha, confusa.

 

— Aconteceu muita coisa em Londres. Eu fiz um combinado com o Potter… – comecei – Se depois que eu te contar, você… você estiver pensando em ir… Não vou te impedir.

 

Dessa vez ela se virou para mim de cenho franzido, devia estar se perguntando o que diabos eu estava fazendo, mas não disse nada.

 

[...]

 

Narcisa Malfoy caminhava pelas ruas da Londres Trouxa com uma cara enjoada. A minha mãe vinha até nós com pressa e, ainda que tentasse não chamar a atenção dos trouxas da rua, exibia seus trajes do Mundo Mágico, o que fazia alguns pescoços se virarem em sua direção quando ela passava.

 

Estava chovendo e a capa de Narcisa estava encharcada quando ela veio até nós. Ela sorri e abraça Pansy e Zabini e eu, logo em seguida.

 

— Como vocês estão? — ela pergunta, nos puxando para uma rua sem saída.

 

— Podia ser pior — Zabini resmunga. Pansy lhe dá um tapa no braço.

 

— Estamos bem — ela responde. Narcisa a olha triste, sabe que não tem muita coisa que pode fazer.

 

— Tem novidades, mãe? — eu perguntei.

 

— Lúcio está vindo... quer ver vocês — ela respondeu, olhando para os lados — Nós viemos separados... Tem aurores por todos os lados.

 

— Ele podia ter só mandado uma carta — Zabini fala, o que me faz rir. Zabini estava odiando tudo aquilo, toda a cena, todo o drama. Narcisa nos olhou e não precisa dizer nada para pedirmos desculpas.

 

— Sei que as coisas não estão acontecendo do jeito que planejaram — ela começa falar — Mas vocês tem que ter paciência, logo vão voltar para Hogwarts...

 

— E tudo isso para quê? Para depois a gente se reunir na Mansão Malfoy para passar as férias com Voldemort? — Zabini se irritou.

 

— Não é hora para isso — Pansy falou, rápida. — Não podemos ficar muito tempo aqui.

 

Nos quatro automaticamente olhamos para os lados. Narcisa tinha nos levado até uma ruela de comércios trouxa praticamente vazia, havia pelo menos quatro pessoas passando pela rua e nenhum carro. E eu estava começando sinceramente a ficar nervoso quando Lúcio Malfoy finalmente apareceu.

 

Ele, diferente de Narcisa, vinha caminhando em passos largos, tensos e nem olhava para os lados. Tinha uma expressão esnobe e mal humorada por causa dos trouxas da rua.

 

Lúcio estava foragido. Foi a última coisa que eu soube sobre ele e ele não se dera ao trabalho de falar comigo por pelo menos um ano.

 

Ele para na nossa frente e nós ficamos eretos na mesma hora. Zabini não fala mais nada e Pansy olha para Lúcio, firme.

 

— Pamela, Blaise — Lúcio acena com a cabeça e então olha para mim: — Draco.

 

— Senhor — nós respondemos em coro. Lúcio olha para os lados, apreensivo. Já não tinha mais trouxas na rua.

 

— Tivemos imprevistos, mas o plano segue da mesma maneira e estamos ansiosos para recebê-los na Mansão ao final do ano letivo — ele fala, sério, sequer pergunta como estamos ou demonstra qualquer emoção.

 

— Lúcio, você precisa ir... — minha mãe fala olhando para a rua. Um fio de luz azul passa por nós e, olhando mais adiante, aparecem dois aurores vindo em nossa direção.

 

Lucio Malfoy não se mexe e o número vai aumentando, até que de repente eles são em seis. Lúcio bufa, puxa as mangas do casaco, deixando sua Marca completamente amostra e apontando a varinha para a cobra negra. Ele murmura um feitiço e desaparece, mas não sem antes me olhar firme.

 

Os aurores já são em oito, dez, e entre eles facilmente dava para ver Harry Potter e Gina Weasley correndo em nossa direção.

 

— Puta merda — Pansy solta ao nosso lado, pegando sua varinha. Narcisa pega na mão dela, balançando a cabeça.

 

— Vocês não podem usar magia — ela diz.

 

— Você precisa ir embora, mãe — eu digo, me colocando à frente. Zabini faz o mesmo, ficando ao meu lado.

 

— Eu aprecio a preocupação, meu filho, mas eu sei me cuidar — ela fala, pegando sua varinha.

 

— Narcisa, você precisa ir... — Pansy responde e percebo que ela bate a perna a medida que eles se aproximam de nós.

 

Narcisa responde, firme: — Não vão fazer nada comigo.

 

Todos eles param, há cerca de cinco metros de nós. Harry Potter entre eles, Gina Weasley entre eles. Os únicos sem uma varinha na mão. Patético. Uma auror se aproxima, não tenho ideia se ela é da Ordem da Fênix, mas ainda sim minha mãe não se intimida e dá um passo à frente, com o queixo erguido.

 

— Oi, tia — a Auror sorri, sarcástica.

 

— Olá, sobrinha – minha mãe responde. Blaise e Pansy trocam olhares, confusos.

 

— Ninfadora Tonks — sussurro.

 

Eu reconheço o cabelos, as expressões mudando a cada minuto. A postura de superior que só uma Black tem... Ah, como é bom ter a família reunida.

 

— Acobertar um criminoso procurado também é crime, eu poderia te prender agora, Narcisa — Ninfadora diz a minha mãe.

 

— Nenhum corpo, nenhum crime — Narcisa responde.

 

Atrás de Ninfadora, os aurores nos olham irritados. Lúcio Malfoy era procurado pelo Mundo Mágico inteiro e consegue fugir até mesmo na Londres Trouxa. Cabeças com certeza iam rolar.

 

— Eu teria mais cuidado se fosse você, Narcisa. O pescoço do seu marido está em um valor muito alto no Mundo Mágico — Tonks diz.

 

— Nada disso é problema meu.

 

— Você foi avisada — então ela se vira para nós três, atrás de Narcisa — Vocês três não deviam estar em Bristol?

 

— E quanto ao Potter e a Weasley? — Pansy rebate. Consigo ver minha mãe segurando o riso.

 

— Vou deixar vocês resolverem as diferenças — Tonks respondeu no mesmo tom, fazendo um sinal para os outros aurores.

 

Eles somem da nossa vista em questão de segundos, deixando Potter e Weasley no mesmo lugar. Olhei para os lados procurando algum trouxa na rua, mas estava tudo deserto.

 

Nós nos olhamos, praticamente com nojo. Weasley e Potter de um lado, nós do outro e minha mãe no meio, entre nós.

 

— Brincando de auror, Potter? — Zabini é o primeiro a falar.

 

Potter ri, seco.

 

— Lúcio Malfoy estava aqui, não estava?

 

— Isso não é da sua conta — Pansy respondeu, grossa.

 

— Lúcio é procurado — a Weasley diz. — Era ele aquela noite em Hogwarts? Então foi para isso que invadiram a escola? Para passar um recado para vocês?

 

— Tenho certeza de que não é para passar um recado para nós — respondi.

 

— Ela era uma de vocês — Potter acusou. Pansy pegou a varinha na mesma hora mas novamente foi impedida pela minha mãe.

 

— Você não vai usar magia! — Narcisa ralhou.

 

— Eu não vou deixar eles falaram de Karolyne desse jeito! — Pansy gritou indo em direção ao Potter, mas Zabini a puxou de volta.

 

— Ela foi morta por Comensais, Parkinson. Ela era uma de vocês e foi morta! — Weasley discutiu e aquilo fez Pansy ficar ainda mais nervosa.

 

Eu podia ver toda a raiva nos olhos de Pamela. Rápida, ela se soltou da mão de Zabini e foi até a Weasley, mas o Potter entrou na frente e Zabini e eu rapidamente pegamos nossas varinhas e fomos em sua direção, enquanto Narcisa tentava nos parar e gritava que não era para usarmos magia.

 

Potter e eu nos olhamos e tenho certeza de que a mesma coisa se passou pela nossa cabeça. Nós largamos nossas varinhas na mesma hora, eu fui para cima dele com uma raiva de um ano acumulada e o punho cerrado pronto para resolver nossas diferenças... Mas eu penso nela. Eu penso em Hermione e como ela iria reagir se soubesse que eu estava brigando com o seu melhor amigo, então eu vacilo por um seguindo e Harry Potter me dá um soco.

 

Um soco bem dado. Um soco que me fez ter certeza de que não era por Karolyne ou por Lúcio Malfoy, mas pelo motivo de eu não ter dado um soco nele.

 

Antes que eu pudesse revidar, Narcisa entrou no meio.

 

— Parem com isso! Parem com isso já! — ela olhou para Weasley — Você, abaixa essa varinha agora! Vocês não sabem ser civilizados!

 

— Narcisa, você ouviu o que ela disse... — Pansy tentou.

 

Narcisa a cortou, virando-se para o Potter e a Weasley.

 

— Sim, Karolyne foi morta por Comensais, mas vocês não sabem da história toda e não tem o direito de falar nada — Narcisa respondeu, se recompondo.

 

— Como você permite isso? — o Porter acusou. Eu estava admirado com o soco. Admirado com a coragem ou a estupidez.

 

— Acha que a gente queria isso, Potter? Karolyne era sim uma de nós, mas já estava negando tudo há muito tempo — eu respondi, sentindo meu maxilar arder.

 

— Negando o quê? — Gina Weasley perguntou. Pansy, há poucos metros dela, revirou os olhos.

 

Nós três nos entreolharmos e minha mãe suspirou. Já tínhamos entendido o que devia ser feito. Bom, eles iam ficar sabendo de qualquer forma...

 

— Negando o pacto, ruiva — Pansy respondeu, ríspida — Karolyne tinha recebido a Marca Negra.

 

— Voldemort deu uma missão para ela, mas ela não completou — Blaise contou — Ela desistiu. Foi a primeira. Disse que não faria parte disso, e tentou tirar sua Marca com rituais antigos.

 

A medida que íamos contando dava para ver na cara do Potter e da Weasley que eles não acreditavam no que estavam ouvindo de nós. O choque, a surpresa de termos nos rendido...

 

— E ela estava quase conseguindo quando Voldemort descobriu e se infiltrou na escola. Então foi sim um recado — eu completei.

 

— Um recado para nós — Blaise disse.

 

— E Greyback? — Weasley perguntou, mas ainda chocada.

 

— Isso veio do Ministério. Afinal, Voldemort em Hogwarts? Quem iria imaginar? — Pansy revirou os olhos, sarcástica — Jogaram a culpa em Greyback porque ele tinha sido visto com a Lestrange no vilarejo, algumas semanas antes do ataque

 

Um nó se formou na minha garganta, lembrei que naquele mesmo dia em que Greyback tinha sido visto em Hogsmeade, Bellatrix tinha me feito uma visita cordial...

 

A verdade era que nós nem ao menos sabíamos de que lado estávamos aquela altura.

 

Fizemos o juramento e sabíamos do risco de estar contando tudo para Weasley e o Potter ali naquela hora, e ainda sim não nos importávamos, porque nosso único desejo era pôr fim naquela história.

 

Eu não conseguia parar de pensar em Hermione e o quanto eu não queria estar vivendo aquilo, não queria ser um Malfoy, não queria ser um sonserino, não queria ser o escolhido.

 

— E vocês? — Potter perguntou. — Vocês também tem uma missão?

 

Nós assentimos, sem falar nada. Parecia que estávamos tirando um peso das costas.

 

Ou cavando nossa própria cova. Era essa a sensação que eu tinha, e eu conseguia ouvir facilmente o barulho da pá tirando a terra.

 

— Voldemort deu uma missão para cada um — minha mãe enfim falou. Sabia que ela compartilhava o mesmo sentimento que a gente.

 

Potter arqueou as sobrancelhas. Surpreendentemente, parecia surpreso. Weasley estava boaquiaberta, era como se todas as desconfianças da grifinória se confirmassem.

 

— Nós não temos escolha. Não depois disso — eu falei para eles. — E, acredite, já pensamos em tudo.

 

— E Hermione? — a Weasley perguntou.

 

— Ela não pode saber, nunca — eu respondi rápido.

 

— Você não pode esconder isso dela — Weasley rebateu. Olhei para o Porter e ele parecia confuso, mas eu preferi ignorar.

 

Eu suspirei. Minha cabeça doía e eu estava doido para devolver o soco que o Potter me deu, simplesmente porque ele tinha me irritando.

 

— Acabaria com ela... Eu não quero magoá-la — eu respondi, sincero.

 

Weasley abriu a boca para discutir, mas desistiu. Ela e Potter estavam praticamente sem reação de saber da história toda.

 

— Tem que ter um jeito — Potter enfim disse. Nós três rimos, minha mãe balançou a cabeça.

 

— Grifinórios são tão fofos — Pansy riu.

 

— Estamos tentando ajudar — Weasley franziu o cenho.

 

— O bem sempre vence o mal, ruiva? Vê se cresce — eu revirei os olhos.

 

— Eu não estou fazendo isso por você, eu estou fazendo pela Hermione — ela discutiu me apontando o dedo — Diferente de você, eu me importo com ela! Ela é minha amiga e o que você está fazendo com ela é uma merda, Malfoy!

 

— Eu não tenho que falar nada disso com você, ruiva, isso é entre mim e Hermione. E quem é você para dizer o que devo ou não fazer, Weasley? — respondi, irritado. Droga, por que diabos tinha que falar de Hermione?

 

— Você tem a Marca e se envolveu com ela mesmo assim, seu verme — ela bateu o pé. Pansy e Blaise na mesma hora se posicionaram e Potter pegou sua varinha. Ótimo, o soco iria vir.

 

— Então vai, Weasley, conta toda a verdade para Hermione. Diz que vocês vieram para Londres atrás de mim, encontraram Lúcio Malfoy e o deixaram fugir — eu comecei falar, abrindo os braços irritado com aquilo tudo.

 

Gina Weasley estava quase chorando. Dava para ver na cara dela o quanto ela estava desiludida. Se eu falasse mais um pouco, ela se derramava em lágrimas. Ela se importava com a Granger, de verdade, e eu estava começando vacilar com a ruiva.

 

Porque, droga, não queria que ela chorasse. Mas ela se recompôs, levantou o queixo e falou baixo, mas o suficiente para me dar um nó na garganta só de pensar:

 

— Eu espero que ela nunca te perdoe, Malfoy.

 

— Isso não é nosso problema, Gina — Pansy disse, calmamente. Weasley se virou para Pansy, um pouco surpresa, porque Pansy não quis ser grossa ou agressiva, foi como se ela quisesse dizer que a entendia.

 

Ou algo do tipo.

 

Eu, no fundo, estava irritado. Irritado porque a Weasley estava certa.

 

— Nós precisamos pensar em algo, isso não pode ficar assim... — Potter se intrometeu.

 

— Não tem outro jeito — Pansy revirou os olhos — Karolyne tentou e olha no que deu.

 

— Tudo bem, então façam o que vocês tem que fazer — ele ergueu as mãos em rendição. Ah, meu querido Potter, se você soubesse... — Mas vamos fazer um acordo.

 

— Que acordo? — Zabini perguntou de cenho franzido.

 

— Vocês estão do nosso lado — ele respondeu.

 

Nós três rimos, descontroladamente. Narcisa permaneceu séria enquanto Potter e Weasley nos olhavam irritados.

 

— Não posso ter escutado certo — Zabini respondeu ainda rindo.

 

— Vocês precisam de nós — Weasley se justificou.

 

— Ah, Weasley, pode apostar que não — Pansy respondeu.

 

— Vocês precisam de nós, nós precisamos de vocês... Estamos no mesmo barco — ela disse.

 

— Escutem eles, isso pode ajudar vocês — minha mãe falou.

 

— Vocês não podem entregar os pontos como Karolyne fez ou terão o mesmo destino que ela, então é melhor cumprir suas missões, mas depois disso vocês estão do nosso lado — Potter falou.

 

— E depois, Potter? E quando o julgamento vir? Seremos criminosos de guerra — Pansy perguntou, sarcástica.

 

— Podem diminuir a pena, fazer um acordo, eu não sei — Potter respondeu, impaciente — Desde que estejam com a gente, damos um jeito.

 

Nós nos olhamos. Podia ler a mente deles e sabia que o que eles mais queriam era acabar com aquilo de uma vez. Blaise e Pansy estavam praticamente largando tudo e fugindo para bem longe juntos.

 

Blaise foi o primeiro:

 

— Eu acho justo.

 

Pansy balançou a cabeça e eu dei de ombros. O que podíamos fazer?

 

— Vamos, Draco, é melhor assim — Blaise falou do meu lado — Eu não posso fazer isso sem vocês.

 

— Eu não gostei disso — Pansy respondeu.

 

— Morena, eu só faço se você fizer — Blaise disse para ela, que parou para pensar por um minuto. Era bonito até, como eles estavam tão apaixonados um pelo outro... como fariam qualquer coisa para continuarem juntos.

 

Pansy suspirou e esticou a mão para a Weasley e logo em seguida para o Potter. Blaise fez a mesma coisa, selando o trato.

 

— Temos um acordo? — Potter insistiu me olhando — Malfoy?

 

— Não se acostuma, Potter — eu bufei e estiquei a mão para ele.

 

— Eu só tenho uma condição, Malfoy — ele disse. Eu levantei a cabeça mostrando que estava ouvindo — Você tem que contar para Hermione quando voltarmos à Hogwarts.

 

Eu travei, na mesma hora. Por que raios tinha que envolver Hermione? E por que raios eu não parava de pensar nela? Potter e Weasley continuavam me olhando, ambos esperando.

 

— Vamos lá, Malfoy, é o mínimo que você pode fazer por ela — Weasley dissera. Eu revirei os olhos.

 

Que seja.

 

Estiquei a mão para o Potter e logo em seguida para a Weasley — que cuspiu na mão antes e me olhou com um sorriso travesso.

 

— Isso foi desnecessário.

 

— Temos um acordo então — ela respondeu, me dando as costas.

 

— Ah, e Potter... só um negócio antes de vocês irem...

 

Ele se virou e na mesma hora eu lhe dei o soco que estava esperando esse tempo todo para devolver.

 

[...]

 

— Por que eu nunca percebi? – Hermione  perguntou com a voz fraca.

 

Quando terminei, percebi que ela não tirava os olhos dos meus braços. Seus olhos estavam vermelhos e aquele era um sinal claro de que lágrimas estavam por vir, e também percebi que parecia que ela fazia um grande esforço para que aquilo não acontecesse.

 

Não lembrava desde o segundo ano, quando a chamei de sangue-ruim, como era ver Hermione Granger chorando. Me recordava da cena da escadaria no quarto ano, logo após uma discussão ridícula com o Weasley, mas nunca mais a vi tão próxima, prestes a chorar. E por minha causa. Fiquei com uma vontade louca de me dar um soco.

 

— Eu cubro com um feitiço de ilusão – respondi – Dalavia viu esse feitiço em um livro.

 

— Eu quero ver – ela disse.

 

— Hermione…

 

— Eu quero.

 

— Não! – quer dizer, podia ter sido menos grosso, mas não me contive. Eu cruzei os braços, quase como um pedido de desculpas – Eu ainda não cumpri minha missão, e ela está ficando mais forte e mais dolorida.

 

Como não contei da briga com o Potter, também não contei do que eu tinha sido instruído a fazer; que era matar Alvo Dumbledore, e que estava por um triz de fazer, já que o próprio tinha um plano desde o começo do ano. Falar dos planos de Dumbledore/planos de Tom, era falar que entreguei o colar para Katie Bell e que ela estava no St Mungus por minha causa. Era falar que tinha um hidromel envenenado em algum lugar de Hogwarts para Alvo beber. Era falar do que eu fiquei fazendo na Sala Precisa enquanto ela estava ocupada demais servindo de ombro amigo para a Weasley. Era falar que no final nós não íamos mesmo nos ver. E eu não queria falar tudo aquilo em voz alta.

 

Hermione permaneceu quieta por um instante. Fiquei pensando que, se ela perguntasse do que se tratava a missão, eu não saberia o que responder. Até que ela falou, e foi pior do que ter perguntado o que eu imaginei que perguntaria:

 

— Se Harry não tivesse feito você contar, você ainda me contaria tudo isso?

 

Septimus fez a mesma pergunta, noites atrás, e quando eu disse que provavelmente diria sim, ele me xingou, alegando que eu era um mentiroso hipócrita e que não, eu não contaria se não fosse obrigado. E era verdade.

 

Respirei fundo antes de responder sinceramente:

 

— Não.

 

Hermione hesitou. Ela arregalou os olhos e me deu um tapa. Não doeu tanto quanto no terceiro ano, mas ela logo em seguida pediu desculpas, voltando a ficar com o rosto corado e os olhos marejados.

 

— Hermione, se fosse para te contar sem a coação moral do Potter, eu já teria contado.

 

Às vezes a sinceridade não soa tão bem quanto a mentira positiva. Isso é uma verdade.

 

— Mas não contou – ela concluiu pausadamente.

 

— Mas não contei – repeti.

 

Ela ficou quieta e eu a cutuquei, tentando fazer o mesmo que Pansy; passar a ideia de que porra, eu me importo.

 

— Hermione, por favor me diz que ficou brava com a minha missão, não por eu ter te contado involuntariamente e tarde demais… – eu fechei os olhos, esperando um outro tapa que não veio.

 

— Eu nem sei mais o que achar! – ela se levantou da cama – Fiquei falando por meses que você não era um comensal, que você não fazia parte dos planos de Voldemort… Briguei com Ronald por causa disso! Discuti com Gina e com Harry! Até que chegou uma hora que eu descobri que não estava fazendo isso para convencê-los e sim para ME convencer de que não era nada… Fiquei esperando por um deslize seu, eu admito que sim, mas aí eu resolvi confiar em você. Eu confiei em você, porra. Eu botei uma fé inimaginável  e inigualável em você para nada.

 

— Então você está brava porque eu não te contaria – eu suspirei entediado e aí o tapa veio. Um pouco mais forte que o anterior e mais merecido que aquele do terceiro ano.

 

— DRACO!

 

— Desculpa, está bem? Você não ia mesmo querer saber que eu sirvo Voldemort antes mesmo dele voltar. Você não ia querer ouvir que quando uma guerra acontecer, nós não vamos estar do mesmo lado, porque eu fiz a merda de um pacto. Eu fiz um pacto com Voldemort e quando o ano letivo acabar, eu vou até ele. E você vai embora com o Potter e o Weasley. Essa é a verdade, Hermione, e você não queria saber a verdade. Você confiou em mim porque pensou que eu teria escolha e que poderia escolher ficar com você, ir embora com você. Mas eu vou te contar uma coisa… – eu soltei em disparada tentando ao máximo não denunciar os planos suicidas de Dumbledore – Mesmo se eu escolhesse seu lado, ainda teria que voltar para a Mansão Malfoy e eu ficaria lá até a porcaria de um julgamento. Eu realmente não tenho muitas escolhas, não me confunda com o Weasley.

 

Eu pensei em parar quando as lágrimas dela começaram a rolar. Ela ficou parada me encarando, como se não tivesse segurando um oceano Atlântico nos olhos.

Puta que pariu, cada vez que ela limpava aquele rosto, ela puxava um gatilho e dava um tiro no meu peito e eu sabia que cada palavra minha era um soco no seu estômago.

 

— Eu te decepcionei, Hermione? Eu fiz tudo, porra. Eu te amei para caralho. E você? O que você fez? – e então vieram os soluços e eu me quebrei por inteiro.

 

— Eu me abri para você! Eu deixei você fazer o que bem queria enquanto você sempre soube como iria terminar — ela respirou fundo, estava fazendo de tudo para parar de chorar.

 

— Você também sabia!

 

— Eu confiei em você!

 

— Mas e agora? É isso que nos vai salvar agora? De que adiantou tudo aquilo em Bristol? Já estamos condenados! Já fizemos nossas escolhas há muito tempo, Hermione. E elas se divergem, pare de fingir que não. Eu tentei, Hermione, eu juro que tentei, mas já estou cansado. Você não entenderia.

 

Hermione limpou o rosto e me olhou com muita, muita, muita raiva. Naquela hora, eu preferia não ser eu.

 

— Quer me culpar, arrumar um culpado e falar que não entendo? Então põe mesmo a culpa em mim! Acha que foi difícil só para você? — ela gritou — Você foi quem mais errou nessa história toda e quer jogar tudo para cima de mim!

 

Devia estar querendo me dar outro tapa. Eu teria me dado um soco se pudesse.

 

Reuni toda a coragem que tinha, ou o pouco que tinha para mandar Hermione Granger embora da minha vida. Não conseguia não pensar no que Gina Weasley dissera aquele dia em Londres e não conseguia não pensar no que poderia evitar se Hermione não estiver mais comigo.

 

— Vá embora, Granger. Saia daqui logo de uma vez. Você não precisa ser a garota descrente e apaixonada por um Comensal… Eles já têm a minha mãe. E eu nunca quis de fato a sua compreensão – eu me sentei na cama, cansado e irritado.

 

Hermione ainda estava chorando e eu não aguentava mais brigar por causa daquilo. Eu queria abraçá-la, fazer promessas, falar que tudo bem… mas se fizesse aquilo, seria mais duro dar adeus no final.

Hermione Granger nunca precisou de mim ou de ninguém para se recompor.

 

Eu sempre achei que tinha tudo o que falar sobre Hermione Granger, mas quando ela abriu a boca e falou tudo que queria falar, eu descobri que estava me enganado todo aquele tempo. E aquilo realmente me quebrou as pernas:

 

— Eu juro que também tentei, Draco. Eu juro que eu tentei ficar. Eu acabaria com qualquer dia, todos os dias, por essas longas noites com você. E foi o que eu fiz, mas é por isso que já estava condenado… A gente nunca pôde ter só as noites de magia. A gente tinha que ter os dias também. Eu quis mesmo, Draco. Eu quis a gente, eu quis você... E eu ainda quero, Draco. Eu quero tudo isso com você. Draco, eu abraçaria sua história mesmo se fosse bombas nucleares. Você abraçaria a minha?

 

Eu quebrei a cara. Eu juro que eu não estava esperando. Eu estava esperando toda a cena dramática, todo o ódio, mas lá estava ela e eu poderia ser facilmente o homem mais feliz do mundo mágico naquele momento com a mulher mais maravilhosa do mundo mágico... E eu ainda sim fiz questão de estragar tudo.

 

— Não, Hermione, eu não abraçaria nada — respondi, seco.

 

Aquilo foi como um tiro. O buraco da bala se alargou e meu coração saiu rolando da caixa torácica até o criado mudo. O sangue jorrava e eu não tinha certeza se conseguiria me recompor.

 

Hermione Granger apenas me deu as costas e saiu sem dizer mais nada. Eu não fui nem capaz de olhá-la.

 

E quando contei a Pansy o que estava sentido, descobri que aquela era a dor de ser deixado para trás, e enquanto tudo em mim doía, eu fiquei ali na cama, sem saber o que fazer para impedir.

 

Pansy estava certa; quando o amor começa doer, a gente tem que ir. E foi o que Hermione Granger fez.


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