Salada

A casa estava silenciosa, tirando os pequenos barulhos dos meus movimentos na cozinha. Três horas da manhã, Konoha dormindo, e eu acordado atendendo um dos pedidos de Sakura. De uma Sakura gestante.

Foi muito fácil continuar enquanto ela sempre pedia por mais. Quando sempre pedia pra continuar. Foi muito fácil quando ela pediu para tentarmos um filho. E cumpri, porque foi um prazer para ambos. Mas agora estando na cozinha de madrugada – novamente – preparando um dos desejos alimentares de Sakura me fazia – novamente – me arrepender de ter ido sem proteção.

Suspirei e continuei com foco no que eu deveria fazer. Cortar, temperar e misturar. Não era difícil, era até relaxante. Esse foi um dos desejos mais fáceis de conseguir completar. Apesar de a exigência ter sido todos os ingredientes frescos e eu ter saído de madrugada para comprá-los, foi fácil.

E sim, era mais fácil bancar o cozinheiro do que sofrer as consequências da variação de humor da minha esposa no oitavo mês de gestação.

Coloquei minha obra de arte em um prato e fui levar para o quarto onde Sakura estava esperando.

– Porque demorou tanto? – ela perguntou quando entrei no quarto

Foram trinta minutos. Apenas trinta minutos e ela estava reclamando. Por Kami, como era difícil suportar nove meses de gestação.

– Apenas coma e vamos voltar a dormir.

– Não quero mais. Perdi a vontade.

Olhei para ela esperando que fosse uma brincadeira. Apenas uma pequena brincadeira. E percebendo que Sakura continuava me encarando com os braços cruzados tive vontade de jogar aquele prato na parede do outro lado do quarto.

– Todos os ingredientes são frescos, como pediu. – suspirei – Só coma essa salada Sakura.

– Eu... ah.

Vi Sakura abrir os olhos em surpresa e levar as mãos carinhosamente até sua barriga. Me aproximei preocupado.

– Eu só perdi a vontade. – fez beicinho, não demonstrando preocupação.

– Fiz essa salada para nada?

Novamente minha esposa esboçou uma expressão de surpresa e olhou para sua barriga.

– O que foi? – perguntei soando um pouco tenso. Coloquei a salada na estante e me aproximei de Sakura. – Está sentindo alguma coisa?

– Salada. – ela continuou olhando para sua barriga e passando a mão carinhosamente – Salada, salada, salada.

Bem, eu não sabia que gravidez causava loucuras. Acredito que deixaram essa parte de fora dos milhares de livros que acabei lendo desde o dia que Sakura anunciou que estava esperando um bebê.

Olhei para minha adorável e louca esposa com um receio no olhar. E decidi esperar para dizer que ela estava tendo alguma variação de loucura, ou alucinação.

– Salada! – ela disse mais uma vez, encarando sua barriga um pouco ansiosa. – Diga salada Sasuke-kun.

Então me vi em um dilema. Entrar na loucura ou contar logo a ela que isso provavelmente seria algum sinal de alerta, de cansaço ou de loucura mesmo. Preferi entrar na brincadeira ao invés de receber um punho carregado de chakra no meu rosto.

– Hn. Salada.

– Oh!

Esse momento entrou para minha lista dos melhores dias da minha vida, apenas pelo sorriso que Sakura esboçou. E se a salada que eu fiz era a culpada, meu contentamento era ainda maior.

– Salada. – ela continuou repetindo essa palavra para sua barriga, e quando ela viu minha expressão decidiu me contar o que estava acontecendo. – O bebê não se mexe quando eu falo, talvez ele adore o som da sua voz dizendo essa palavra. Coloque a mão aqui.

Ela pegou minha mão e colocou no lugar onde a mão dela estava.

– Agora diga salada e sinta.

Repeti a palavra e esperei qualquer movimento, e alí estava. Aquele pequeno chute que trouxe um pequeno sorriso aos meus lábios.

– Salada. – falei outra vez, esperando sentir aquela doce sensação. E novamente senti.

Já tinha sentido o bebê outras vezes, mas não sabia dizer por que dessa vez era mais especial. Talvez porque aquela coisinha dentro da barriga da Sakura estava respondendo ao som da minha voz, respondendo que talvez tenha adorado aquela palavra.

Não percebi que Sakura tinha se aproximado até sentir seus lábios nos meus. Afastei-me um pouco para encará-la, e ela estava sorrindo e tinha algumas lágrimas em seus olhos. Minha esposa estava emocionada da mesma forma que eu. E eu a amava. Amava tanto que era difícil de compreender. A amava por ter me dado os melhores dias da minha vida. Beijei-a novamente, esperando passar todo o amor e agradecimento.

E o desejo alimentar que tinha me feito acordar de madrugada acabou não sendo uma perda de tempo.