Querido Sev,

A primeira coisa que devo dizer: sinto muito.

A segunda coisa: E que nós iremos pegar Hugo.

A terceira coisa: Eu sinto muito novamente.

Você dorme sobre os meus pés enquanto escrevo essa carta – a lareira no Sala Comunal está nos aquecendo como nunca, e eu vejo os vislumbres de lágrimas que marcaram seu belo rosto, e aquilo dói em meu coração – ninguém mais está ali, e eu briguei novamente com Blackwood, mas não me importo.

Hoje é o dia em que deixo todas as culpas me consumirem – sabe, Severo, pensei em todas as barbaridades que já fiz até hoje, e a pior delas sem dúvida foi colocar a sua vida em risco, mas você nunca brigou comigo quanto a isso, e eu digo a mim mesma que você me mima demais para todos os efeitos – estou com frio, e me aqueço com o fogo que aquece nossos corações.

Hoje é um dia frio.

Hoje é o dia em que o corpo de Teresa é enterrado em Rosemary – a pedido é claro dos pais dela –, ás vezes me pergunto: Quais são os nossos pecados, Sev?

E eu sei de cor todos os meus pecados com você.

Dentre todas as coisas que fiz, e a mais errada foi te deixando Teresa ir atrás de Hugo – e eu sei, você me culpa por isso até os confins do inferno, afinal ela era minha responsabilidade naquela noite – e afinal, porque nós continuamos com aquele plano maldito sendo que sabíamos que nunca íamos conseguir pegar Hugo, porque pensei isso naquele dia? Se eu tivesse ficado em silencio, nada daquilo teria acontecido e todos estaríamos aqui rindo e brincando uns com outros, e você teria a sua Teresa ao seu lado como todos os dias antes de hoje.

Eu amava ver seu rosto iluminado quando a via – mesmo com ciúmes da atenção que dirigia a ela, mas eu sabia, Teresa sempre ia cuidar de você –, e eu tenho certeza de que é minha culpa cada coisa que aconteceu em nosso quarto ano, e eu sinto muito, Severo.

Sinto muito por não ter parado.

Sinto muito por não ter dito as coisas e feito coisas diferentes, e eu sei que é minha culpa tudo e que todos estamos fadados a carregar essa culpa pelo restos de nossas vidas – e eu imagino como Teresa deve esta brava agora, e como ela ia dizer que somos incapazes de viver sem ela, e somos mesmo, afinal ela era quem você seguia para um lado para o outro sem pestanejar.

Ela era alguém bom.

Depois do que Hugo que fez – o que foi imperdoável – nós iremos caça-los até os confins do inferno, Severo, e não permitirei que Teresa fique sem sua vingança contra aquele assassino. Damon já começou a rastrear o paradeiro dele – Cadius começou a jogar com o pai dele, afinal aquele maldito professor deve saber onde o filhinho querido dele está escondido –, e não há lugar na Terra que Hugo possa se esconder, pois não permitirei que ele saia impune nisso.

Mandei uma coruja para Vince, e ele como sempre discordou das nossas artimanhas – e Kristen Weedon está ao nosso lado, afinal Teresa era a sua melhor amiga antes de mais nada, e isso faz com que os Falcões entre nessa briga –, ei Severo, acha que sou ruim? Acha que sou um ser humano ruim? Cameron diz que não, mas não sei.

Afinal, eu tenho meus segredos de todos vocês – você é o único a saber disso, não é? Ursinho diz que devo parar de me culpar pelas escolhas que os outros fazem das malditas vidas dele, mas como fazer? Afinal é minha culpa tudo isso.

Hugo deseja que todos nós, os mais instáveis estejam a beira da loucura desde que o irmão mais velho dele entrou em coma – mas não tivemos culpa, afinal Alex estava doente e não tínhamos nada a ver com isso, e nem mesmo com as coisas que aconteceram com eles – e tudo foi por causar da Golion, ela era a namorada de Alex, mas eu não sei, Severo.

Não sei o que é verdade ou o que é mentira, apenas sei que estou fodidamente perdida em todos os sentidos, porque será? Eles querem que sejamos crianças e agíssemos como adolescentes normais, mas desde quando aqueles malditos adultos nós tratam assim? Desde quando Theodor Jenkins diz que devemos agir como pessoas normais da nossa idade?

E isso está errado – nós mentimos, não somos santos e muito menos pessoas que não tem pecados quanto ao seu passado – somos adultos, Sev, crescemos rápidos demais para os padrões dessa sociedade idiota.

Sabemos o que é certo – e o nosso certo diz que vamos caçar Hugo, mesmo que isso custe a nossas vidas e liberdade, pois aquele maldito tirou algo de nós.

Ele nós tirou Teresa – levou seu sorriso e sua alma ao céu (não sou crente em algum Deus, mas acredito que alma dela esteja em algum lugar bom), e nós deixou com essa dívida com ela, e meu coração diz que devemos seguir em frente com nossos planos.

E por isso que não posso permitir que ela fique sem sua vingança. E você, estará comigo, Severo? Pois todos nós estamos ao seu lado, Sev;

Até mesmo Gabriel Blackwood, mas não sei se devo confiar nele – e você entende o que digo sobre tais coisas, afinal o Blackwood mexe demais comigo, e isso pode atrapalhar nossos planos, mas com o tempo terei uma resposta definitiva.

Com amor, pesares e considerações,

Elizabeth McQueen.