O Espírito do Estripador escrita por MarcosFLuder


Capítulo 3
Capítulo 3




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SEDE DA SCOTLAND YARD

25 DE OUTUBRO

Clyde Baker sempre foi considerado um homem normal que vivia uma vida normal e tinha um emprego normal. Ninguém o imaginaria rondando as noites matando mulheres. Tudo nele era mediano, desde sua inteligência até sua altura e porte físico. Era o tipo de pessoa que passaria desapercebida na rua, em meio a uma multidão, mas agora ele estava ali, depois de passar 8 dias no hospital recuperando-se do tiro dado por Mulder. A sala de interrogatório era pequena. Mulder e Scully estavam em pé num canto, enquanto Phoebe conduzia o interrogatório, um Defensor Público estava ao lado de Clyde, numa outra sala estavam o Comissário Benson e o Inspetor-chefe Spencer.

– Porque você matou aquelas mulheres Clyde?

– Eu não me lembro de nada juro – ele parecia assustado e confuso com tudo aquilo.

– Deixe de bobagens Clyde – Phoebe falou num tom mais alto e o Defensor público interveio.

– É melhor abaixar o tom de voz Inspetora ou vou ter de orientar o meu cliente a só falar na frente de um Juiz.

– Se você pensa que vai sair dessa dando uma de maluco pode esquecer meu caro – Phoebe ignorava o Defensor Público e insistia em pressionar Clyde – nós temos a navalha que estava usando, já foi comprovado que ela foi usada em 9 assassinatos. Você tentou atacar a agente Scully com ela, não vai escapar dessa.

– Eu não me lembro de nada juro – ele começa a gritar e esconde o rosto entre as mãos.

– Acho melhor parar esse interrogatório por aqui – disse o Defensor.

– Nada disso meu caro, esse calhorda não sai daqui enquanto não assinar uma confissão.

– Cadela! – a voz era grutural em nada lembrando o tom medroso, quase um fio de voz de Clyde – você é como todas as outras – ele ainda permanecia com o rosto escondido entre os braços, Mulder e Scully se aproximaram.

– Que outras Clyde? – Phoebe levantou-se – as que você matou? – ela grita esperando intimidá-lo, mas ao vê-lo levantar o rosto fica assustada, parecia ver outra pessoa à sua frente. Ela fica paralisada enquanto imagens de pesadelos que insistiam em persegui-la voltavam a sua mente.

– Você merece o mesmo destino que elas – com uma grande agilidade ele pula em cima de Phoebe e a derruba no chão começando a estrangulá-la. Spencer aciona o alarme enquanto Mulder e Scully tentam livrá-la daquele homem enlouquecido. Demonstrando uma força descomunal, elw joga Mulder na parede apenas com um braço. No segundo seguinte ele agarra Scully pelo pescoço e a joga no chão também – vocês todas merecem morrer suas cadelas – ele continua estrangulando Scully e Phoebe ao mesmo tempo enquanto Mulder, que havia batido com a cabeça na parede, se levanta com dificuldade. Nesse mesmo instante, outros policiais entram na sala, e com muito custo conseguem dominar Clyde a base de cassetetes; somente dessa forma é que ele solta as duas mulheres.

– Você está bem Scully? – Mulder examinou a parceira , ainda vermelha devido a falta de ar, para logo a seguir voltar a sua atenção para Phoebe – como é que você está?

– Estou bem obrigada – ela nem procurou disfarçar a raiva por ele ter se preocupado primeiro com Scully, descontou isso em Spencer que aproximou-se dela, mas foi afastado por Phoebe com um gesto brusco e quase aos gritos – já disse que estou bem – ela olha para Clyde já dominado – tirem esse lixo daqui.

– Está tudo bem com você mesmo Scully? – Mulder alisa os cabelos de dela sob o olhar enciumado de Phoebe.

– Foi só um susto Mulder.

– Eu diria que foi mais do que um susto Scully – Mulder olha Clyde sendo retirado da sala por vários policiais enquanto xingava as mulheres – ele parecia possuído, nunca vi nada igual.

– Não começa Mulder – Scully praticamente adivinhou o que se passava na cabeça de seu parceiro.

– Tudo bem Scully, a prioridade agora é ver se você e Phoebe estão bem mesmo.

SEDE DA SCOTLAND YARD

26 DE OUTUBRO

– Isso não tem o menor cabimento Fox – Phoebe parecia indignada.

– Clyde Baker pode estar sendo possuído por um espírito obsessivo Phoebe.

– E você agente Scully? Concorda com ele?

– Eu acredito que Clyde Baker sofra de uma grave desordem psicótica, deveríamos verificar se existem casos semelhantes na família dele.

– Vocês duas concordando com alguma coisa , era só o que faltava.

– Em que você se baseia pra achar que Clyde está possuído por um espírito Mulder?

– Na verdade é só uma suposição Scully. Em casos como esse a vítima de possessão geralmente tem alguma ligação com o espírito obsessor, que no caso seria Jack, o Estripador, ou melhor, um dos assassinos que ficaram conhecidos como tal.

– Mas qual a ligação que Clyde Baker poderia ter com o Estripador? – pergunta Phoebe.

– Isso só vai ser possível saber se fizer-mos uma pesquisa junto aos antepassados de Clyde.

– Eu vou providenciar isso Fox, só não espere que eu leve essa sua suposição ao Comissário Benson – Adam chega nesse momento,

– Tudo bem com você Dana? Eu soube o que aconteceu ontem.

– Foi só um susto Adam.

– Queria ter estado com você, mas estava fazendo uma pesquisa a pedido do seu parceiro – ele olha para Scully com ternura passando as mãos nos cabelos dela.

– Bobagem Adam, você não poderia ter evitado o que aconteceu e o importante é que tudo acabou bem.

– De qualquer forma eu gostaria de compensar isso hoje a noite – ele disse com um sorriso.

– Um encontro Scully? – o tom de voz de Phoebe não poderia ser mais irônico – e não é o primeiro por sinal, parece que as coisas entre você e o Adam estão ficando sérias – o sorriso dela era mais dirigido a Mulder do que a Scully.

– Adam me convidou para jantar, nada demais – ela respondeu.

– Podemos voltar ao que interessa aqui, por favor – Mulder interveio – não vamos esquecer que ainda há um segundo assassino a solta por aí.

– Eu ainda acho que Clyde Baker pode saber quem é – diz Phoebe – ninguém me tira da cabeça que eles cometeram esses crimes juntos.

– Eu não creio nisso Phoebe. Se quiser-mos pegar o segundo assassino teremos que seguir o mesmo caminho que nos levou ao Clyde.

– Por acaso a pesquisa que você pediu ao Adam tem a ver com isso Mulder?

– Depende do que ele descobriu Scully – Mulder olha para Adam.

– Do que você está falando Fox? – Phoebe volta-se para Adam – que pesquisa é essa Adam?

– Eu fiz um levantamento sobre a família de Clyde Baker minha cara.

– O que você poderia ter descoberto em tão pouco tempo Adam? – Phoebe mal escondia sua irritação.

– Eu pesquisei sobre os antepassados de Clyde Baker até chegar a um homem chamado Lawrence Conway. Apesar de não haver nenhuma prova documental desse fato eu acredito que ele era filho de Catharine Eddowes.

– Você está querendo dizer que Clyde Baker é descendente direto de uma das vítimas de Jack o Estripador?

– Exatamente Dana!

– Segundo eu sei Adam, Catharine Eddowes teve três filhos com um homem chamado Thomas Conway, mas nunca foi encontrado qualquer traço legal da união deles.

– Por isso mesmo os nomes desses filhos se perderam agente Mulder – disse Adam – mas eu acredito que Lawrence seja um deles.

– Mesmo que Clyde Baker descenda de Catharine Eddowes, em que isso corrobora a sua teoria Fox?

– Isso comprova a ligação de Clyde com o espírito obsessivo do homem que matou sua ancestral.

– Isso tudo é uma loucura Fox, e acho que até a sua parceira concorda comigo.

– Não tanto assim Phoebe, desde que comecei a trabalhar no Arquivo-X eu aprendi a não descartar nenhuma possibilidade, por mais absurda que possa parecer.

– Nesse caso Fox me diga, quem seria esse espírito obsessivo?

– Eu acredito que seja de um homem que foi internado num hospício pela Scotland Yard na época do crimes, mas que nunca foi reconhecido oficialmente com Jack, o Estripador.

– Eu conheço a história de Salomon Staninsk agente Mulder – disse Adam – mas há uma outra pessoa que, acredito eu, tem mais possibilidades de ter se sido Jack, o Estripador.

– E quem seria essa pessoa Adam?

– Um homem chamado George Fillon – ele disse – há anos que eu pesquiso a vida dele e essas novas descobertas lançaram novas luzes sobre fatos até então obscuros.

– Ele era um dos que você falava em seu livro Adam.

– Na verdade Dana ele sempre foi um dos principais suspeitos de ser o Estripador, alguns registros sugerem que ele estabeleceu-se em Londres em 1883, só que não se sabe nada a respeito dele antes dessa época.

– Isso é verdade Adam, mas não esqueça de havia mais de um assassino e George Fillon pode ter sido apenas um deles – disse Mulder – sem falar que ele tinha um álibi para pelo menos duas das mortes.

– Esses álibis podem ter sido forjados agente Mulder.

– O que aconteceu com ele Adam?

– O corpo dele foi encontrado no rio Tâmisa, Dana – disse Adam – isso foi quase um mês depois da quinta morte , ele provavelmente se suicidou.

– Nesse caso vocês têm dois suspeitos de terem sido Jack, o Estripador, sendo que um deles a Scotland Yard jamais vai admitir que era o assassino.

– É verdade Dana.

– Pelo que eu li no seu livro, George Fillon estaria ligado a história de um certo Dr. Benjamim White que teria sido abandonado pela esposa, fato esse fato arruinou a sua vida.

– Eu levei anos pesquisando até descobrir o Dr. White. Ele vivia em Liverpool e era um médico proeminente até virar motivo de chacota em toda a cidade depois do abandono da esposa. Principalmente depois que começaram circular boatos de que ela havia se prostituído em Londres.

– Será isso Mulder? Jack, o Estripador poderia ter sido um homem cuja vida foi arruinada pelo abandono da esposa? – ela volta-se para Adam – o que aconteceu com ele Adam?

– Ele desapareceu em 1885 Dana.

– Mas isso foi dois anos depois do Dr. Fillon ter se estabelecido em Londres.

– É verdade agente Mulder, mas a primeira evidência realmente confiável de sua presença na cidade só foi encontrada em 1886.

– Você acha então que o Dr. Fillon e o Dr. White eram a mesma pessoa e que ele só veio para Londres por volta de 1886.

– Com certeza agente Mulder.

– Nesse caso nós temos dois suspeitos de terem cometido os crimes do Estripador, agora resta saber qual deles era o Dr. White, e qual deles é o nosso espírito obssessor.

– Por favor Fox, esquece essa história de espírito obsessor – Phoebe falou num tom mais alto – se essa sua teoria cair nos ouvidos do Comissário Bensom ele despacha você e a Scully de volta para Washington e ainda acaba me rebaixando de posto.

– É o medo de prejudicar a sua carreira que está provocando esse súbito ataque de ceticismo Phoebe? – O tom de voz de Adam é ligeiramente irônico e isso não passa desapercebido por Scully.

– Porque não vai para casa Adam, você ainda precisa preparar o seu ninho de amor para o encontro de hoje.

– Quem você pensa que é para...

– Ela é assim mesmo Dana, não vale a pena irritar-se com tão pouco – ele apenas sorri enquanto dá um suave beijo em Scully – eu te espero hoje a noite. Não tenho mesmo o que fazer aqui – ele sai enquanto Scully olha indignada para Phoebe.

– Eu também já estou de saída, você vem Mulder? – Mulder estava tão absorto em seus pensamentos a respeito do caso que não havia notado a pequena discussão que havia acontecido.

– O que houve Scully? – ela sai sem responder e ele se volta para Phoebe – posso saber o porquê desse seu mórbido prazer em irritar a minha parceira?

– Eu só fiz um comentário a respeito do namoro ela com o Adam – ela disse cínica – não sei porque isso os afeta tanto, principalmente você Fox – ela sorri e aproxima-se dele – por acaso esse namoro dos dois está afetando-o de alguma forma? – ele sai da sala dela sem responder e encontra com Adam e Scully, que o esperavam do lado de fora. Os três vão embora sob o olhar de Phoebe enquanto que ela, sem saber, era observada por Nigel cujo olhar era puro ódio.

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Ela ainda se olhava no espelho minutos depois de ter se arrumado para um novo encontro com Adam. Ele era o primeiro homem com quem saia em muitos meses, ambos sabiam que ela voltaria logo para os Estados Unidos e que o relacionamento deles não teria muita chance de prosperar. Isso inibia Scully de tentar uma aproximação maior. Adam parecia respeitar a inibição, dela fazendo Scully admira-lo ao mesmo tempo que sentia-se atraída por ele. Seus modos de cavalheiro e seu bom humor tipicamente inglês a encantavam embora isso não fosse suficiente para afastar suas dúvidas sobre até onde poderia ir no relacionamento que tinham iniciado a pouco mais de 15 dias. Ela resolveu deixar esses pensamentos de lado e sair; ao fechar a porta do seu quarto ela dá de cara com Mulder.

– Nossa! Você está muito linda Scully – ele disse sorrindo.

– Bobagem Mulder – ela sente-se um pouco encabulada por Mulder vê-la naquele vestido elegante que delineava bem as suas formas – eu só me produzi um pouco mais do que o normal para o jantar com o Adam.

– Não precisa dizer nada Scully – ele sorri e beija-lhe a testa – tenha um bom encontro.

Ela vai em direção ao elevador sob o olhar atento de um Mulder dominado pela estranha sensação de reparar em Scully e ver, não apenas a parceira e amiga de todas as horas , mas também uma mulher bonita e muito atraente. O andar elegante, gracioso mesmo, só não era mais cativante do que o sorriso que ela deu em sua direção. Não deu para evitar de pensar que aquele sorriso poderia iluminar o mundo. Ela estava muito feliz. O coração dele aqueceu-se com essa constatação embora, por um segundo apenas, Mulder não conseguiu deixar de pensar em como seria se ele fosse o responsável por essa felicidade.

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O jantar não poderia ter transcorrido de maneira mais agradável. Scully e Adam tinham muita coisa em comum e sentiam-se muito bem um com o outro. A atração entre os dois era evidente e Scully surpreendeu-se enciumada com a possibilidade de ter havido alguma coisa entre ele e Phoebe.

– O que foi Dana? Você parecia tão feliz e de repente...

– Como foi que você e a Phoebe se conheceram Adam?

– Bom eu...foi através do meu irmão – ele pareceu ligeiramente contrariado ao responder a pergunta.

– Você tem um irmão?

– Na verdade é um meio-irmão , filhos de pais diferentes – eles ficam em silêncio por um instante – ele e o meu pai odiavam um ao outro, tanto assim que ele acabou adotando o sobrenome de solteira de nossa mãe.

– Não precisa falar sobre isso se não quiser Adam, dá para perceber que é um assunto difícil para você.

– Eu faço questão de contar tudo a você Dana – ele segura-lhe as mãos – eu conheci a Phoebe quando tentei uma nova aproximação com o meu irmão, mas joguei essa chance fora quando me deixei envolver com ela.

– Quer dizer que vocês dois...

– É isso mesmo que você está pensando.

– E quanto ao seu irmão?

– O rompimento foi definitivo – ele suspira – é claro que eu não vou ser hipócrita de culpar apenas a Phoebe por isso...desculpe se destrui as suas ilusões de que eu era um homem perfeito.

– Eu não acredito em homens perfeitos Adam, mas acredito em homens decentes, e creio que você enquadra-se nessa categoria – ela sorri para ele que retribui enquanto toca suavemente em seu rosto. Scully sente um suave tremor em seu corpo enquanto os dedos dele percorrem o rosto dela, eles trocam um olhar intenso e cheio de desejo, mas tratam de se recompor e terminar o jantar.

Um pouco mais tarde eles estão no escritório de Adam onde Scully fica admirando o mobiliário antigo e muito elegante do lugar em que só a presença de um computador, e seus periféricos, além de um telefone, destoava daquele ambiente.

– É um local de trabalho muito charmoso – ela disse.

– Eu costumo ficar aqui a maior parte do tempo.

– Você poderia me mostrar as pesquisas que fez a respeito de Jack, o Estripador?

– Se você faz questão – ele ligou o computador e abriu o arquivo com as informações, conversavam sobre o assunto quando Adam foi chamado por sua criada deixando Scully sozinha por alguns instantes. Ela continuou mexendo no computador até achar um arquivo que deixou-a intrigada, chamava-se “Árvore genealógica”, e quando Adam voltou ela pediu para abri-lo, o que ele fez de imediato.

– É a árvore genealógica da minha família, pelo menos é uma tentativa minha de fazê-la.

– Vai até a sua bisavó – um nome chama a atenção dela – o que o nome de Polly Nichols está fazendo nesse arquivo?

– Uma suspeita que eu tenho e que provavelmente nunca vou comprovar.

– Você acredita que a sua bisavó seja filha de uma das vítimas de Jack, o Estripador?

– Eu ouvia essas histórias quando criança, foi assim que começou o meu interesse por Jack, o Estripador.

– E você encontrou alguma evidência desse parentesco?

– Absolutamente nada. A repercussão daqueles crimes na época foi tanta que houve uma preocupação em preservar os filhos das vítimas para que não ficassem com o estigma dessas mortes, quase todos tiveram seus nomes trocados.

– Isso torna praticamente impossível provar que você e seu irmão descendam de Polly Nichols.

– Eu sei disso Dana, tanto que você é a primeira pessoa que tem acesso a esse arquivo.

– É algo tão pessoal, não precisaria ter me mostrado.

– Não quero esconder nada de você Dana, sinto que não preciso.

Ele sorri para Scully enquanto toca no rosto dela, que volta a sentir um ligeiro tremor. Ela beija delicadamente a palma da mão dele. Adam contorna com o polegar os lábios de Scully, e logo eles estão trocando um beijo que começa suave para ganhar intensidade a medida que o desejo entre eles fica mais evidente. Eles saem do beijo quase sem fôlego, seus rostos bem próximos e na troca de olhares a certeza de como tudo aquilo vai terminar.

SEDE DA SCOTLAND YARD

30 DE OUTUBRO

Mulder e Phoebe discutiam asperamente por causa do resultado da pesquisa que foi feita com sobre a família de Clyde Baker. O que era apenas para descobrir se haviam casos de doenças mentais acabou resultando na constatação de que Clyde era mesmo um descendente direto de Catharine Eddowes. Para Mulder isso provava a ligação dele com o espírito obsessor que o fez matar todas aquelas mulheres. O mesmo espírito obsessor que continuava agindo através de outra pessoa, e matou mais duas mulheres, a última delas na noite anterior, e como uma mórbida coincidência, era a mesma mulher que Clyde havia atacado na noite em que foi preso. No entanto, o principal motivo da discussão era a suspeita de Mulder que Marie Jeanette, a quinta vítima de Jack, o Estripador, teria sido ninguém menos que a esposa do Dr. Benjamim White.

– Você quer que eu apresente uma teoria dessas ao Comissário Bensom? Ele vai rir de mim Fox, isso na melhor das hipóteses.

– Você mesma sentiu o que ele fez na sala de interrogatório Phoebe, foram preciso vários policiais para impedir que ele estrangulasse você e a Scully.

– E por causa disso você acredita que ele estava possuído?

– Os assassinatos continuam mesmo com Clyde estando na cadeia Phoebe.

– O comissário já deixou bem claro que não quer esses novos crimes vinculados aos que foram cometidos por Clyde Baker, ele já me perguntou inclusive o que você e a Scully ainda estão fazendo aqui.

– Nós estamos fazendo o nosso trabalho Phoebe – responde Scully – foi você mesmo quem pediu a nos...ou melhor a convocação do Mulder – Scully usou um tom irônico que não passou desapercebido a Phoebe.

– O que você quer dizer com isso Scully?

– Você sabe do que eu estou falando Phoebe, se nunca concorda com as teorias do Mulder porque o convocou para essa investigação?

– O que você quer dizer com tudo isso Scully – Mulder estava ficando irritado com aquela discussão.

– A sua “velha amiga” já desconfiava há um bom tempo que poderia haver algo de sobrenatural nesse caso Mulder – disse Scully – mas é claro que ela nunca iria propor uma teoria dessas para o Comissário Bensom. Foi por isso que ela convocou você, o “estranho Mulder”. Você apresenta a sua “teoria maluca” ela finge que discorda, mas cuida sempre para que você possa provar que está certo. E se não estiver não há problema, pois tudo foi idéia do “estranho Mulder”, só assim ela não corre o risco de comprometer-se com o Comissário.

– Isso é verdade Phoebe? Por acaso aqueles pesadelos que você vive tendo estão ligados ao que Scully falou?

– Quem foi que colocou essa idéia na sua cabeça minha cara? duvido que você tenha inteligência suficiente para chegar a essa conclusão.

– O Adam me contou tudo Phoebe, você procurou a ajuda dele assim que os crimes começaram e falaram várias vezes sobre essa possibilidade – ela se volta para Mulder – mas é óbvio que tudo ficou mais claro quando o Mulder me contou sobre os pesadelos que você vem tendo nos últimos tempos.

– Quer dizer que é verdade mesmo? Você não vai mudar nunca Phoebe – Mulder vai embora irritado.

– Parece que você conseguiu o que queria Scully.

– Eu apenas abri os olhos dele, não que Mulder desconheça esse seu lado manipulador, mas ele precisava ser avisado de que estava sendo usado por você – elas se olham por alguns instantes até Scully sair.

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Scully não precisou bater na porta do quarto de Mulder, pois esta estava entreaberta. Ele estava sentado no escuro e ela acendeu a luz para sentar-se ao lado dele.

– Eu precisava te contar – ela disse.

– E eu te agradeço por isso – ele segura as mãos dela – eu sei que sempre vou poder contar com você Scully.

– O que você quer fazer Mulder? Voltar para Washington?

– Você sabe que não podemos Scully, não enquanto esse espírito obsessor estiver ameaçando a vida de mulheres inocentes.

– Eu acho que você não deve precipitar-se em suas conclusões Mulder, a força descomunal que Clyde demonstrou ter naquela hora pode ser explicada por vários fatores.

– Ele estava possuído Scully, até a voz era diferente, e ainda tem esses sonhos da Phoebe.

– Esses sonhos podem ser apenas Stress Mulder, afinal ela está sob grande pressão.

– Talvez Scully, mas algo me diz que a Phoebe está mais ligada a esse caso do que ela própria imagina. Talvez esses sonhos sejam premonições sobre algo que vá acontecer. Quem sabe a quinta morte?

– Mesmo que você esteja certo Mulder, como é que vamos deter um espírito?

– A única maneira de fazer isso é encontrando as pessoas que são vítimas de sua obsessão.

– Como Clyde Baker? Mas como vamos encontrar essa pessoa numa cidade tão grande?

– Na verdade é mais fácil do que você imagina Scully. Um espírito obsessivo não pode possuir o corpo de qualquer pessoa. Tem que ser alguém muito ligado a ele, um parente, ou uma pessoa que esteja ligada de alguma forma à sua obsessão, sem falar que essa pessoa tem que estar em sintonia com o espírito obsessor para que ele possa possuí-la.

– Como assim em sintonia Mulder?

– É como se elas pudessem atrair as forças negativas Scully, pessoas revoltadas ou reprimidas, cujo espírito atormentado facilitasse a dominação pelo espírito obsessor.

– Clyde Baker fez uma série de exames que constataram que ele sofre de personalidade psicopática. Pelos depoimentos da esposa e conhecidos, eu diria que ele era do tipo que reprimia todo o tipo de contrariedade e aborrecimentos embora as vezes tivesse fortes impulsos violentos. Certamente que isso poderia esconder uma personalidade assassina.

– O que o torna perfeito para ser dominado por um espírito obsessor Scully.

– Você acredita que Salomon Staninsk possa ser esse espírito obsessor não é Mulder?

– Essa é a minha teoria parceira, embora não dê para descartar a teoria do Adam sobre George Fillon.

– Então você acha que temos de investigar os descendentes daqueles que de alguma forma estiveram ligados aos crimes cometidos por Jack, o Estripador – conclui Scully

– Exatamente Scully! As respostas estão no passado, é lá que poderemos descobrir a verdade.

– Eu não sei Mulder – Scully vai até a janela do quarto – é difícil para mim ter de aceitar a idéia de que um espírito maligno seja o responsável por todas essas mortes.

– Porque é tão difícil para você aceitar que nem tudo nesse mundo pode ser explicado pela ciência Scully? Às vezes as coisas simplesmente não tem uma explicação racional.

– Eu sei Mulder é que...deixa pra lá, nós temos um segundo assassino para encontrar e a sua idéia parece ser a melhor maneira de fazer-mos isso.

– Vai ser uma perda de tempo tentar descobrir qual foi a identidade que Benjamim White assumiu quando veio para Londres, se foi a de Salomom Staninsk ou de George Fillon.

– Não há nem como saber se isso realmente aconteceu Mulder.

– É verdade Scully , por isso mesmo será mais produtivo nos concentrar em investigar os possíveis descendentes das vítimas de Jack, o Estripador.

– Vamos ter de recorrer a Phoebe para fazer esse levantamento.

– Que seja Scully, o importante é resolver logo esse caso, amanhã mesmo vamos cuidar disso.

– E quanto a você e Phoebe?

– Já faz muito tempo que eu perdi as minhas ilusões a respeito dela Scully – ele tinha um sorriso triste que deixou-a muito tocada – mas isso não importa agora parceira – ele beijou-a na testa e no instante seguinte, meio que sem perceber, estavam abraçados, e assim ficaram por um bom tempo.

BAIRRO DE LONDRES

5 DE NOVEMBRO

10:54 Pm

Foram vários dias de pesquisas até chegar-se a 4 possíveis descendentes das vítimas do Estripador, dois deles nem viviam em Londres. Clarence Fischer era um corretor de imóveis casado que morava em Manchester, enquanto Laura Grayson estava vivendo em Los Angeles. Dos outros dois, quem chamou a atenção de Mulder foi Derek Smith. Ele parecia uma outra versão de Clyde Baker, personalidade medíocre, emprego medíocre e vida medíocre. Parecia o homem certo para ser vítima de um espírito obsessivo. Só que dessa vez Mulder e Scully não puderam contar com a ajuda da Scotland Yard. Ambos faziam a vigília sozinhos, pois o Comissário Bensom mantinha-se irredutível em não querer vincular os crimes mais recentes aos cometidos por Clyde Baker chegando quase a dispensar os serviços de Mulder e Scully. Foi Phoebe quem impediu, embora Mulder não tivesse ilusões a respeito de seus motivos. Mulder sabia que ela, por mais que tentasse negar, estava convicta de que algo sobrenatural rondava todas essas mortes, uma vez que seus pesadelos insistiam em persegui-la. Uma nova morte ocorrera 3 dias antes, e Mulder tinha certeza de que Derek Smith era o responsável. Ele estava preocupado, pois uma nova vítima ainda deveria morrer se Derek não fosse detido, sem falar na última vítima oficial de Jack o Estripador que deveria morrer dali a 4 dias.

– Fico imaginando se não estamos cometendo um grande erro Mulder – disse Scully.

– Ele é o nosso homem Scully – Mulder aponta para a casa de Derek Smith – nós quase o pegamos 3 dias atrás quando matou aquela moça. Se pelo menos houvesse um maior apoio para a nossa vigília nós teríamos evitado a morte daquela coitada.

– Temos sorte de ainda estarmos nesse caso Mulder, o Diretor Skinner já ligou várias vezes perguntando quando vamos voltar para Washington.

– Eu não estou disposto a desistir agora Scully.

– Essa insistência também não tem haver com os pesadelos da Phoebe?

– Um pouco, afinal foram eles que nos trouxeram para esse caso, mas eu também tenho notado que você anda meio estranha nos últimos dias, alguma coisa com o Adam?

Scully não sabia o que dizer a Mulder. Nos últimos dias fora assaltada por uma estranha suspeita, causada justamente pela teoria de Mulder sobre as pessoas que estariam sujeitas a influência do espírito obsessivo que seria o responsável por todas essas mortes. A possibilidade, embora remota, de Adam ser um descendente de Polly Nichols deixava-a preocupada. Embora achasse difícil acreditar em tudo isso, ela já viu coisas demais em todo esse tempo no Arquivo-X para descartar por completo essa possibilidade. Ela ainda não havia falado sobre isso com Mulder, mas ele já havia percebido que ela escondia algo e agora parecia insistir em saber o que estava acontecendo. Scully não sabia como responder e foi com alívio que ela viu Derek saindo de casa numa atitude suspeita, o que também chamou a atenção de Mulder, mais uma vez trataram de segui-lo.

Mulder conseguiu manter-se numa distancia segura o suficiente para não ser notado, ao mesmo tempo que não o perdia de vista. Derek parou o carro num estacionamento e seguiu a pé; Mulder e Scully o seguiram por vários quarteirões até perceberem estar no mesmo bairro onde os crimes aconteceram.

– Dessa vez nós o pegamos Scully – Mulder sacou sua arma e Scully fez o mesmo – vamos ter que nos separar para vigiá-lo melhor mas tome cuidado Scully , esse não é um bom lugar para uma mulher ficar sozinha a noite, mesmo estando armada.

Ela ignorou o comentário meio machista dele, sabia que era apenas uma preocupação natural de amigo, e seguiu em frente, pois Derek já havia sumido nas ruas estreitas e escuras do lugar. Ela caminhou por vários minutos de arma na mão até ver algumas pessoas que tentavam aquecer-se pondo fogo em um latão, eles também a vêem, e Scully sente um arrepio ao perceber que estava sendo notada por eles. E segue andando e vê algumas prostitutas, que olham para ela como quem vê uma intrusa em seu território. Uma delas aproxima-se de Scully para tirar satisfações, mas a atenção das duas é desviada para um grito que vinha de uma das ruas escuras. Scully vai até lá enquanto a prostituta segue por um caminho contrário, ela chega a tempo de ver Derek preparar-se para rasgar a garganta de uma mulher e aponta a arma para ele.

– Mãos na cabeça Derek – ela grita – solte essa mulher.

– Vocês todas merecem morrer suas cadelas – ele não se intimida com a arma apontada e está pronto para cortar a garganta da mulher obrigando Scully a atirar nele. Derek é atingido e cai no chão. A mulher que ele ameaçava correu em direção a Scully agarrando-se a ela.

– Ele ia me matar , ele ia me matar – ela gritava histérica.

– Está tudo bem calma.

Enquanto tenta acalmar a mulher, Scully percebe que Derek levantou-se. Ignorando o tiro que levou, ela vai para cima das duas. Scully tenta atirar de novo, mas a histeria da moça que acabara de salvar atrapalha os seus movimentos. Derek tira a arma dela com um chute e atinge Scully com um violento soco, derrubando-a no chão. A outra mulher foge apavorada enquanto Derek imobiliza Scully.

– Vocês são todas iguais suas cadelas.

Scully sente a navalha próxima de sua garganta até que uma mão impede Derek de degolá-la. Com muito custo Mulder consegue soltar Scully, só que Derek, com uma força sobre-humana, o joga longe. Ele volta-se de novo para Scully. Ela procura a sua arma, mas é agarrada por Derek, ele se prepara para degolá-la quando tem sua cabeça estourada por um tiro dado por Mulder. Ele vai até Scully e a abraça, enquanto olham o corpo sem vida de Derek. Em poucos instantes vários curiosos, incluindo a mulher que Scully salvara, já estavam por perto.


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