Nas entrelinhas escrita por Elizabeth Gray


Capítulo 3
3, parte 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, me atrasei um pouco. Mas está aqui. Espero que gostem.



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ATO I

Sentia meu corpo cansado, dolorido. Abri os olhos e a primeira coisa que vi foram os livros. O quarto estava iluminado pela luz cálida produzida por uma vela sobre a cômoda. E subitamente lembrei-me da noite anterior. Aquilo fora muito bom para ser verdade, mas não fora um sonho. Meu corpo era prova disso. Toquei meu pescoço enquanto me lembrava de seus beijos. Minhas pernas e minha barriga apresentavam pequenas manchas vermelhas e roxas, que eu sabia terem sido produzidas pelos lábios impetuosos de Nezumi. Podia sentir cada toque, cada beijo, como se tudo estivesse se repetindo novamente. O cheiro dele estava em todo o meu corpo. Estava em todo lugar. Apenas as lembranças faziam com que eu me contorcesse na cama, apertando o travesseiro contra o peito. Mordi os lábios e só então percebi que estavam inchados e doloridos. As coisas que ele me dizia, os olhares que me lançava. Apenas o ato de relembrar essas coisas fazia meu coração bater mais rápido. Rolei de um lado para o outro na cama, até parar e fitar o teto. Sorri. Aquela, sem dúvida alguma, fora a melhor noite da minha vida.

Ouvi a maçaneta da porta ranger e me virei imediatamente. Nezumi estava diante da porta, com uma bandeja contendo pão e suco e o olhar gentil.

— Bom dia, meu pequeno. Como está? — sua voz quase me fez derreter.

— Bom dia. Só estou um pouco cansado, mas vou ficar bem. — respondi, evitando ao máximo me perder em seu sorriso. Ele caminhou lentamente em minha direção. Seus movimentos, seus gestos, sua expressão. Tudo era natural nele. O modo como ele andava. Mesmo estando diante de mim, era impossível ouvir seus passos, quase como se ele flutuasse no chão. Se eu estivesse dormindo ou de costas, ele certamente me surpreenderia. Nezumi era como um tigre.

— Trouxe isto para você — disse, me oferecendo a bandeja.

— Ah, muito obriga... — tentei me sentar, mas senti uma dor absurda em meus quadris. E, involuntariamente, tombei de lado na cama.

— Shion!! O que houve? O que está sentindo? — perguntou desesperado.

— Dor...

— O quê? Onde dói? — ele já estava colocando a bandeja ao lado da vela e correndo para mim — Shion, fale comigo.

— Meus quadris... não consigo... — corei. Aquilo não estava acontecendo. Era normal uma dor pós-sexo? — ... não consigo... me sentar.

Sua expressão assustada se desfez imediatamente num sorriso, seguido por uma gargalhada involuntária.

— Do que você está rindo? Pare com isso agora mesmo — tentei me levantar para fazer com que ele se calasse mas acabei tombando para o outro lado. Ele parou de rir e me fitou, os olhos atrevidos e o sorriso malicioso.

— Você está impossibilitado de levantar? Acho que isso significa que você não pode fugir. Interessante... — disse, sentando ao meu lado. Corei ainda mais, se é que isso fosse possível.

—... Idiota — desviei o olhar.

Ele riu baixinho, depois se apoiou com os braços para trás e começou a observar o teto. Seus olhos agora brilhavam sob a luz da vela, os cabelos meio soltos caindo levemente sobre seus ombros. Observei-o atentamente e vi um círculo vermelho em seu pescoço. Eu também havia deixado minhas marcas nele. Levantei o tronco o máximo que pude e deitei do outro lado, de forma a deixar minha cabeça tombar em seu colo. Ele se inclinou sobre mim e me olhou, um sorriso gentil nos lábios. Não pude tirar os olhos dos seus. Tive que sustentar seu olhar, até que ele se abaixou e beijou minha testa. Corei novamente. Apenas sua presença já me deixava nervoso. Só o fato de estar tão perto de mim, os olhos nos meus, já fazia meu coração bater mais depressa. Suspirei. Fechei os olhos e sorri, enquanto virava minha cabeça para o lado.

— O que foi? — perguntou. A respiração quente em meu ouvido.

— Acho que hoje é o dia mais feliz da minha vida.

Ele colocou a mão sobre minha cabeça e começou a brincar com meus cabelos, distribuindo carinhos no meu rosto e pescoço. Deslizava os dedos suavemente de minha orelha até minha nuca, o que fez com que eu me arrepiasse. Respirei fundo.

— Nezumi...

— Diga.

Me virei para ele e coloquei a mão em seu rosto, de forma a trazê-lo para mais perto do meu. Olhei dentro de seus olhos quando disse, sem hesitar:

— Eu te amo.

Sua expressão era um misto de felicidade e surpresa. Ele certamente não esperava que eu dissesse aquilo ali, naquele momento. Mas tudo isso se desfez em um sorriso, quando ele se inclinou e me beijou, os lábios suaves contra os meus.

— Eu te amo, meu pequeno. Te amo tanto... — sua voz era tão doce e gentil, quase suplicante. Sorri novamente. Meu coração se inundou de felicidade quando ouvi aquelas palavras. Elas simplesmente significavam tudo para mim. Ele significava tudo para mim.

— Eu esperei tanto para ouvir essas palavras...

— Eu também, Shion. Não faz ideia do quanto esperei por isso.

— Ah? Eu disse isso em voz alta?

— Sim, e isso me deixou profundamente feliz — abafou o riso— Tem mais alguma coisa que você gostaria pensar em voz alta, majestade?

Olhei em seus olhos. Esta era uma boa oportunidade de me confessar, de dizer tudo o que eu sentia. De fazer com que ele soubesse o quão grande era o meu amor.

— Nezumi... Você disse que me amaria até que se tornasse insuportável para mim a ideia de ficar longe de você, certo? Até que eu precisasse de você como preciso de ar para respirar...

— Sim, eu disse. Por quê?

— Porque isso já aconteceu. Já faz muito tempo que essa é a verdade. Desde que cheguei aqui, desde que nos aproximamos... Não demorou muito para eu me sentir cada vez mais atraído por você. E cada momento ao seu lado se tornou especial. Cada minuto em que estive ao seu lado serviu para me fazer te querer ainda mais. E esse sentimento só se intensificou com o tempo. Aumentou gradativamente até que não me restaram dúvidas. — calei-me. Eu tinha absoluta convicção de cada palavra que usara até agora. Parei apenas para observá-lo, para ter certeza de que ele entendia o que aquilo significava para mim. Coloquei a mão sobre sua nuca, como tinha feito da primeira vez, e olhei fixamente em seus olhos surpresos — Nezumi, eu te amo de modo que cada minuto longe de você se tornou doloroso. Te amo a ponto de se tornar insuportável a ideia de te perder. Não tenho mais dúvidas do que eu escolheria. Você é o meu vício, Nezumi. Você é o ar que eu respiro.

Ele ficou ali, imóvel, observando-me. Não disse uma palavra. Não me fez perguntas nem pediu para que eu repetisse aquilo. Apenas sorriu e me beijou novamente, os lábios ágeis brincando com os meus. Depois se afastou e continuou a acariciar meus cabelos. Só então percebi que ele ainda sorria. Mas não era um dos sorrisos naturais de Nezumi. Aquele era diferente de tudo o que eu vira antes. Deslizou a mão de meus cabelos para minha nuca, fazendo cócegas no meu pescoço. Ele sabia exatamente o que fazer para me arrepiar. Senti meu rosto quente e ele também percebeu. Corei. Desviei os olhos dele e olhei para a vela que se extinguia a cada minuto. Então ele começou a cantar. Cantava uma canção antiga, que dizia algo sobre a floresta e uma moça tão bela quanto as flores. Sua voz rouca ecoava pelo pequeno quarto enquanto ele acariciava meus cabelos. Diziam que sua voz acalmava as almas aflitas, levando-as em paz para o céu. E só agora eu entendia. Fui tomado por uma onda de calma, paz e felicidade. Fechei os olhos sorrindo. Estava prestes a dormir quando ele se inclinou e mordiscou minha orelha, o que me fez enrijecer, surpreso.

— Shion... — sua respiração úmida, a voz suave em meu ouvido — Obrigado por me amar.

ATO II

Ficamos ali por algum tempo, em silêncio. Cada palavra que ele disse ecoava em minha mente. “Obrigado por me amar”. Nezumi, eu agradeço o fato de você existir. Esses pensamentos me acompanharam enquanto o sono se aproximava. Adormeci em seus braços, a cabeça em seu colo, suas mãos em meus cabelos.

Quando acordei novamente, eu estava sozinho. Nezumi me pôs para dormir, me cobrindo com um cobertor e colocando minha cabeça sobre o travesseiro. Havia uma nova vela brilhando sobre a cômoda agora. E eu ainda podia sentir o seu cheiro.

Senti meu estômago roncar. Era compreensível que eu estivesse com fome, afinal, fazia mais de doze horas que eu não comia e digamos que gastei muita energia na noite anterior. Fiquei olhando o teto, com preguiça de levantar. Não fazia ideia de quanto tempo havia passado mas agora pude me sentar na beira da cama. Olhei para a porta. “Será que sou capaz de caminhar?”. Abaixei a cabeça, mirando minhas pernas. Havia manchas vermelhas nelas também, assim como em minhas coxas. “Nezumi, seu maldito. Olhe o que você fez”, pensei, abafando o riso.

— Shion, o almoço está pronto — olhei para a porta num sobressalto. Não ouvi seus passos. Não fui capaz de perceber sua presença enquanto estive perdido em meus pensamentos.

— Ah, sim. Já estou indo — respondi, me levantando.

Ele me olhou dos pés a cabeça, medindo cada parte do meu corpo com um olhar instigante. Então olhou em meus olhos, os lábios torcidos num sorriso atrevido.

— Shion, vista uma roupa, por favor — olhei para baixo e só então percebi que ainda estava nu. “Droga”. Corei. Corei muito. Puxei o lençol e me cobri com ele. Nezumi começou a rir da minha cara — Shion, o que você pensa que está fazendo?

— Pare de rir de mim, seu idiota — joguei um travesseiro em sua cara. Parei. Olhei espantado em seu rosto. “Eu não devia ter feito isso”. Só então me dei conta de que assinara um contrato com o tirano. Subitamente, ele parou de rir. Levantou os olhos para mim e veio em minha direção, o sorriso assumindo um tom maligno.

— Seu imbecil! Quem você pensa que é? — se aproximou e me empurrou contra a cama. Caí de costas, ele parado em minha frente. Sua expressão mudara completamente, o sorriso malicioso. Ele se deitou sobre mim, colocando os braços de cada lado da minha cabeça e se inclinou sobre meu rosto. Corei ainda mais e virei de lado. Aproximou-se de minha orelha e suspirou, só para que eu sentisse sua respiração. Só porque ele sabia como me enlouquecer. — Você vai se arrepender por isso — sussurrou em meu ouvido.

Enrijeci. Ele mordeu o lóbulo de minha orelha, enquanto eu agarrava o lençol com força. Deslizou os lábios em meu pescoço, os cabelos roçando em minha pele. Eu revirava os olhos, estremecia. Não podia deixar que ele me excitasse tão facilmente, mas não pude resistir. Era de Nezumi que eu estava falando. Ele percorreu minha clavícula e meu rosto, depositando beijos no caminho. Aproximou-se de minha boca e finalmente parou. Permitiu que nossos lábios se tocassem mas não me beijou. Abriu a boca lentamente e soltou um suspiro. Inclinei-me para frente enquanto ele se afastava, me fitando com um sorriso maldoso.

— Eu disse que você iria se arrepender — sussurrou, a milímetros do meu rosto, com um tom arrogante na voz. Então, se inclinou e mordeu meu lábio. Levantou-se e caminhou lentamente em direção à porta, onde parou e me olhou por cima do ombro — O almoço está pronto.

Abriu a porta e saiu. Fiquei deitado por alguns minutos, assimilando o que havia acontecido. “Maldito, como ousa?! Como se atreve a fazer isso?”. Eu estava profundamente excitado. Ainda apertava os lençóis entre os dedos. Ainda estremecia naquela cama. Nezumi... Ele fazia minha cabeça girar.

Levantei-me alguns minutos depois. Vesti uma calça e a primeira camisa que encontrei e fui até a cozinha. Ele estava sentado frente à mesa, esperanto com o prato feito. Nas mãos, uma taça de vinho, que levava aos lábios de quando em quando. Fitou-me, subitamente, e sorriu.

— Está usando minhas camisas agora?

— Ah, eu não tinha reparado. Peguei a primeira que encontrei pela frente. Desculpe-me.

Ele virou a cabeça de lado, franzindo o cenho, numa expressão confusa e brincalhona.

— Shion, não me leve tão a sério. Eu estava brincando.

— Ah, desculpe.

— E pare de pedir tantas desculpas.

— Descul... okay.

Ele sorriu, balançando a cabeça como quem não acredita no que vê. Sentei-me à mesa e comecei a comer.

— Vinho? — disse ele, pegando a garrafa e oferecendo a mim.

— Ah, não, obrigado. Nunca experimentei bebidas alcoólicas — confessei, ao dar mais uma colherada na sopa.

— Como não?? — parecia surpreso, até que parou para refletir — Certo, isso faz muito sentido vindo de você ­— pegou minha taça e encheu-a pela metade— Bem, esta é sua chance. Não sabe o quanto me esforcei para convencer Rikiga a me dar essa garrafa e o par de taças. A propósito, prometi que te levaria para visitá-lo, para que ele se certifique de que estou cuidando de você. Enfim, desfrute da bebida.

Peguei a taça de sua mão e aproximei-a de meu rosto, para que pudesse sentir o aroma da bebida. O líquido rubro cintilava diante da vela sobre a mesa. Levei-o aos lábios, um pequeno gole. Saboreei a bebida por um momento e a engoli, tocando a língua repetidas vezes no céu da boca. Senti minha garganta queimar, e pude perceber minha expressão se torcendo numa careta.

— Ah, Shion — suspirou, abafando o riso — você é um garoto peculiar. Então, gostou?

— Não, mas quero continuar bebendo.

— É assim que se fala, majestade — exclamou, completando a própria taça com o destilado.

Terminei de beber enquanto comia e pedi mais. Nezumi colocou mais um ou dois dedos da bebida enquanto terminava a sua. Conversamos enquanto almoçávamos, a bebida doce se tornando cada vez mais frequente em meus lábios. Era boa a sensação de formigamento na língua. Repeti mais duas ou três vezes, não dei muita atenção aos números. Até que finalmente terminamos de comer e Nezumi começou a tirar os pratos, colocando-os na pia e guardando a garrafa num lugar seco.

— EEEEEEIIIIIII! — por que minha voz saíra tão mole e esticada? — Eu ainda estava bebendo — coloquei a taça vazia sobre a mesa e me levantei. Minha cabeça girou, uma tontura repentina. Tive que me apoiar na cadeira. Ele começou a rir. Gargalhava, o corpo curvado, as mãos agarrando a própria barriga.

— Não é possível que você esteja bêbado após duas taças de vinho. Você ainda me surpreende, meu pequeno — disse, as palavras saindo entrecortadas com seu riso. Aproximou-se e colocou o braço ao redor do meu ombro. — Venha, vamos para o quarto — minha cabeça ainda girava, e aquelas palavras me pareciam duvidosas.

— Nezumi, — tentei dar-lhe um sorriso malicioso — você quis me embebedar para se aproveitar de mim? — olhei-o de cima, com a típica arrogância de um homem bêbado, digo, levemente afetado pelo álcool. Ele retribuiu o sorriso, se inclinando sobre meu ombro e falando baixo em meu ouvido:

— Como se eu precisasse disso para te levar pra cama — minhas bochechas ardiam, não consigo dizer se a causa era o álcool ou as palavras atrevidas do moleque à frente.

Ele me conduziu até o quarto e me colocou na cama, ajeitando meu travesseiro.

— Os suprimentos estão acabando, então temos que ir à cidade comprar mais. Descanse. Te acordo quando estiver na hora de ir.

— O quê? Não quero dormir agora. Dormi o dia todo.

— E eu não quero levar um adolescente bêbado para o mercado. Então não reclame e durma. Aproveite o fato de eu estar te deixando descansar. Posso não estar de bom humor amanhã — percebi um tom alegre em sua voz. Ele certamente sorria. Cobriu-me e se virou para a porta, quando segurei sua mão.

— Nezumi...

— O quê?

— A sopa estava deliciosa.

— Certo — se virou novamente, quando o detive pela segunda vez.

— Nezumi...

— O que foi agora? — resmungou impaciente, minha visão ficando turva aos poucos. Fechei os olhos e suspirei:

— Eu te amo — ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, até dizer:

— Que tipo de bêbado sentimental é você? — sua voz ressoou em meu subconsciente, até que apaguei, logo após sentir os lábios gentis de Nezumi beijarem minha mão.


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Notas finais do capítulo

Então é isso. Gostaram? Comentem, se possível. Talvez alguns leitores percebam algumas referências a Junjou Romantica, um dos meus mangás/animes favoritos. Gosto de brincar com alguns diálogos. Enfim, até a próxima. Em breve, estarei postando outra fic de No. 6 aqui. Abraço a todos e muito obrigada.



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