Acordei com Jade dormindo ao meu lado, ela parecia tão serena que me recusei a desperta-la, dificilmente via Jade tão tranquila, estava sempre a mil por hora, preocupada com alguma coisa. Ainda era cedo, mais ou menos sete horas, decidi fazer um café e esperar Jade acordar, eu não fazia ideia do que seria de nós dois depois da noite passada, eu não tinha certeza se queria voltar a namorar, alias minha única certeza era que não queria mais sair de perto da Jade.

Fui até a cozinha preparar um café, porem não consegui encontrar nada que me interessasse, o café era descafeinado, pura frescura, e tudo o que tinha na geladeira e armário eram coisas saudáveis que pra mim não tinha gosto de nada.

Resolvi ir até a padaria e comprar algumas coisas pra gente comer, acabei demorando mais do que desejava, o local estava cheio e fiquei quase meia hora na fila do caixa, já estava impaciente quando chegou minha vez. Odiava esperar e a essa hora Jade já podia estar acordada e com certeza estaria irritada comigo por ter saido sem avisar.

Quando cheguei, não consegui abrir a porta do apartamento, desci até a recepção e o porteiro que não estava ali quando cheguei, me avisou que Jade tinha saido, fiquei tentando pensar em possíveis lugares onde poderia encontra-la, ela com certeza deve ter entendido tudo errado e devia estar chateada comigo, fui até a praia que era onde ela sempre vai quando algo a deixa mal, porem ela não estava lá, tentei ligar mas só dava caixa postal. Fiquei sentado na areia pensando em como me explicar pra ela quando a encontrasse, eu não tinha certeza de que ela acreditaria se eu lhe dissesse a verdade, afinal meu passado me condena, eu sempre fui do tipo que saia de fininho no meio da madrugada, me sinto mal por isso agora, mas nunca havia feito isso com a Jade, a não ser é claro quando ela ainda morava com a mãe, porque ou eu saia escondido ou morria. A mulher era durona e confesso que tinha um pouco de medo dela.

Agora aqui sentado, sozinho, olhando para o mar me lembrei do dia em que eu e Jade estávamos namorando em seu quarto e Lucrécia nos pegou no flagra, eu tentei ao maximo contornar a situação, mas Jade estava paralisada de medo, sua mãe era irredutível e me colocou pra fora, eu acabei cedendo relutante, não queria deixar Jade sozinha, não da maneira que ela estava, mais tarde naquele mesmo dia,Jade foi até o QG se desculpar pela atitude da mãe, eu disse que a culpa não era dela e que até entendia a atitude de Lucrécia. Mas eu cometi o erro de dizer a ela que ela tinha de se impor mais, que apesar de ser sua mãe, Lucrécia nao deveria trata-la daquele jeito. Jade surtou, começou a chorar dizendo que ela queria muito isso, mas que sempre que pensava em dizer algo ela travava, tinha mais medo de sua mae do que qualquer outra coisa, então ela começou a arrancar alguns fios de cabelo e eu percebendo que aquilo não era normal a repreendi.

—Você sempre faz isso? -perguntei.

—Eu nem percebo quando faço, desculpa eu...

—Prometa que não vai fazer de novo.

—Eu não sei como, eu nem sei quando estou fazendo...

—Jade, escuta o que eu vou te falar. Nunca mais faça isso, quando você estiver se sentindo mal, triste, com raiva, enfim, sempre que a emoção for muito forte e você não conseguir controlar essa urgência de se machucar, pense em mim, me liga, eu vou aonde quer que você esteja, mas por favor não faça isso novamente. Promete?

Ela faz que sim com a cabeça mal conseguindo falar por causa do choro. Eu a beijei e tentei consola-la como pude no dia.

Depois de passar a tarde toda na praia sem saber pra onde ir, vou até o Qg, pelo menos lá eu arrumaria algo pra fazer, já era noite mas nao importava, era melhor do que ficar lembrando das coisas que passei quando namorava Jade, só o simples fato de pensar que a magoei novamente hoje já fazia meu coração se apertar.

Quando estou chegando no QG vejo Jade parada sozinha na pracinha, na hora tudo o que fui capaz de fazer foi ir ate ela e me explicar.

Porém quando ela me disse que tudo o que tivemos foi uma recaída e que aquilo que tivemos não importava, meu orgulho falou mais alto e eu não consegui me explicar, alem disso ela parecia tão bem, como se a noite passada realmente não tivesse significado nada pra ela, que eu não fui capaz de admitir que eu, o Cobra, insensível como sou, fiquei mexido com o que houve entre nós, apenas voltei para o QG sem ao menos me despedir.