—Eu acho melhor eu ir pra casa. - disse Jade.

Cobra apenas acenou afirmativamente, a bailarina então recolheu suas coisas e foi se afastando do rapaz, porém não conseguia parar de pensar se devia ou não fazer uma pergunta a Cobra, olhou para trás e ele ainda estava lá. Parou bruscamente e tomou sua decisão, deu meia volta e foi até ele.

—Cobra? - chamou-o, ele olhou surpreso em sua direção mas não disse nada, apenas arqueou as sobrancelhas esperando que ela prosseguisse.

—Como você ficou sabendo do meu recital? - essa não era a pergunta a qual desejava fazer, porém não teve coragem de falar o que realmente tinha vontade, ela queria saber o porque dele ter se dado o trabalho de ir assistir a sua apresentação.

—A Karina me contou. - respondeu, é claro, pensou Jade, eles eram amigos, óbvio que ela ia comentar algo sobre isso com ele. Jade não sentia mais ciumes de Karina, alias, toda vez que lembrava de seus ataques de ciumes ao ver o lutador com a garota, achava graça, e até mesmo ridículo. Ele sempre gostou de Karina, mas como uma irmã, agora Jade conseguia enxergar isso, tarde de mais, infelizmente.

—Ah, claro que contou. - foi tudo o que conseguiu dizer em resposta.

—Alias você estava ótima, dançou muito bem. - disse ele, Jade não conseguiu esconder um sorriso.

—Obrigada.

—Sempre gostei de te ver dançar. - comentou Cobra. - Por isso eu fui, além disso, você sempre falava que seu sonho era ser dançarina e que queria muito se tornar uma bailarina profissional, quando eu soube que isso finalmente aconteceria, não pude deixar de ir. - Ele sorri. - Enfim, mas a intenção era entrar e sair sem ser notado, falhei nessa missão.

—Porque? - Jade pergunta.

—Porque eu não queria ser notado? - indaga ele, e Jade faz que sim com a cabeça. - Achei que você não me quisesse por lá, afinal, as coisas não terminaram muito bem entre a gente. Lembra?

É claro que ela lembrava, no dia em que terminaram ela só faltou voar no pescoço dele, disse que nunca mais queria ouvir falar do rapaz, e simplesmente saiu pela porta do apartamento dele sem nem ao menos olhar para trás.

—Realmente não acabaram bem. Mas foi legal de sua parte ter ido me ver. - admite ela.

—Apesar de tudo o que aconteceu com a gente Jade, ainda me importo com você, nós éramos amigos antes de toda essa confusão.

"Toda essa confusão." Então era assim que ele enxergava o relacionamento deles? Pensou Jade. Ela sorri forçadamente.

—Foi bom te ver, mas agora tenho que ir. - se despede a dançarina.

—Bom te ver também, posso te fazer uma pergunta? - diz ele.

Antes que Jade pudesse responder, seu celular começou a tocar, olhou na tela e era Joaquina, a atriz provavelmente deve ter acordado e percebendo a ausência da dançarina se preocupou. Jade fez um sinal com a mão para que Cobra esperasse e atendeu a chamada.

—Jade cade você? - perguntou Joaquina.

—Na praia, mas logo vou pra casa.

—Você tem que me levar ao hospital. - a garota parecia aflita deixando a dançarina preocupada.

—O que você tem?

—Eu acho que estou morrendo, minha cabeça parece que vai explodir, minha boca está seca, mal consigo levantar da cama, e você não tem noção do quanto foi difícil encontrar você nos meus contatos no celular, porque a luz parecia que estava furando meus olhos.

Jade riu, a amiga estava de ressaca, é claro, no estado que ela estava quando dormiu não podia ser diferente.

—Joaquina, você está de ressaca, só bebe bastante água e fica deitada, a hora que eu for pra casa eu compro um remédio pra sua dor de cabeça.

—Minha heroína! - exclamou Joaquina.

Se despediram e desligaram, Jade voltou-se para Cobra que agora estava sentado na areia olhando o mar, por um momento apenas ficou encarando o lutador, ele não mudara nada desde o ano passado, não que um ano fizesse muita diferença na aparência de uma pessoa, mas geralmente quando ficam um certo tempo sem ver alguém, acabam encontrando algumas diferenças, mesmo que fossem mínimas. De uma coisa ela tinha certeza, ainda sentia-se atraída por ele, e muito. Sentou-se ao lado dele, tomando o cuidado para não ficar próxima demais.

—O que você quer perguntar? - questionou.

—Porque a gente não voltou a ser amigos depois que nós terminamos? Sinto falta dos nossos planos maquiavélicos. - disse ele olhando para ela e sorrindo, ela sorriu de volta ao se lembrar das coisas que fizeram juntos antes de começarem a namorar. O alvo principal deles era Bianca, que de alguma forma sempre se dava bem no final das contas, o que diminuía gradativamente a culpa que a dançarina sentia ao lembrar de tudo o que fez.

—Não sei, acho que é o que acontece com todos os ex casais, não é? Depois que acaba, simplesmente acaba.

—Deve ser isso. - ele replica.

—Você mudou. - comenta Jade.

—Como assim? - indaga, confuso.

—Bom, é que eu nunca te vi falar sobre sentimentos assim tão abertamente. - diz Jade.

—É que é fácil falar com você. Acho que deve ser porque temos a mesma linha de raciocínio, os mesmos princípios, se não for isso, eu devo ter mudado mesmo.

—Deve ser isso. - concorda ela.

—Sinto falta da sua amizade. - diz ele.

—Eu também. Amigos? - pergunta estendendo a mão pra ele, que a aperta suavemente.

—Amigos. - responde.

—Bom, agora eu tenho que ir. Joaquina está me esperando.

—Tchau. - diz ele.

—Tchau. - ela fala, se levanta e segue em direção a seu carro.

No caminho ela repensa no que acabou de acontecer. Então agora ela e Cobra eram amigos? Será que isso daria certo? Porque logo agora que estava decidida a seguir em frente? Não importa, pensou, eles eram amigos antes por que não podiam voltar a ser amigos agora? É isso, pensou, ela ainda o amava, porém não iria deixar que ele soubesse disso. Se ele queria a amizade dela de volta, teria, afinal a dançarina também sentia falta do amigo. Tentaria preservar essa amizade, mesmo que com isso ela tenha de fingir não amá-lo mais.