_Quantas vezes vou ter que te falar pra não fazer esforço, vagabundo? - Jade tinha acabado de chegar de seu ensaio, e encontrou Cobra lavando louça.

_Não é esforço algum.

_Deixa isso ai Cobra. - insistiu. Ele bufou mas acabou cedendo, afinal, não conseguia vencer a morena, ela sempre fora irredutível, e agora que estava machucado então, ele não tinha mais nenhum controle sobre a própria vida, não que não gostasse, afinal, já estava acostumado a servir sua dama, achava até divertido, porém, estava entediado, não aguentava mais ficar dentro do apartamento, e Jade não passava muito tempo em casa por conta dos ensaios.

_O que você fez de bom hoje? - perguntou Jade ao terminar de lavar a louça que Cobra havia começado.

_Nada, como sempre. - respondeu. - Sabe, se eu não tivesse morando aqui essa semana, eu nunca acreditaria que você mesma limpa esse apartamento.

_O que quer dizer com isso vagabundo? - indagou, fingindo indignação.

_Dama, admita, você é bem nojentinha, toda patricinha... - interrompeu-se ao ser atingido por um pano de prato no rosto. - Ei!

_Você mereceu. - Jade disse rindo. - Você nunca ouviu aquela expressão, "Não julgue um livro pela capa"? Já né? Então.

_Mas quando a capa é tão linda quanto essa... - disse ele a observando. Ela tentou mas não conseguiu esconder um sorriso.

_Bobo.

* * *

_Aaaah, não tem nada pra fazer. - Resmungou Cobra, ele não parava de mudar os canais da TV. - Vamos sair?

Jade que estava concentrada em seu notebook assistido um vídeo de um recital de Lucrécia, não ouviu o que ele disse, só foi notar que ele falava com ela quando Cobra jogou uma almofada em sua direção.

_Que susto! - exclamou.

_O que tanto você assiste ai, afinal?

_Um vídeo de uma apresentação da minha mãe. Estou tentando tirar alguma coisa da coreografia e usa-la em meu recital.

_Por que? - Cobra nunca entendeu a necessidade que Jade sentia de sempre tentar ser igual a mãe.

_Você sabe o porque, ela vai estar me assistindo e quero que ela goste do que vai ver.

_Dama, você dança muito bem, não precisa imitar sua mãe, além disso, achei que vocês já tinham conversado sobre esse negócio de ela sempre estar tentando te fazer uma cópia exata dela.

E já mesmo, um pouco depois do término do namoro deles, Jade estava devastada e acabou se abrindo para Lucrécia, dizendo tudo o que sempre temeu, e sua mãe, surpresa pelo que fazia com a filha, ficou envergonhada da maneira como a tratava, depois de uma longa conversa e de muitas lágrimas de ambas as partes, elas acabaram se resolvendo.

_Eu só quero que ela fique orgulhosa de mim, e são só alguns passos de dança vagabundo, não estou tentando ser igual a ela, digamos que só estou me inspirando nela.

_Se você diz... - disse. - Mas e então, vamos sair? Não aguento mais ficar aqui trancado.

_Eu achava que lutadores não tinham vocação para o drama, mas pelo jeito eu estava errada. Não é como se eu te mantivesse em cativeiro, e a gente saiu ontem mesmo, ou já esqueceu que você me fez assistir aquele filme sinistro ontem?

_Mas não vale, o cinema é aqui pertinho, não tive tempo de aproveitar o ar livre.

Jade revirou os olhos.

_Hoje eu estava pensando em ficar por aqui mesmo. - disse a garota. - Tenho que aprender algumas coisas com esses vídeos de dança.

_Então eu vou dar uma volta sozinho, sei lá ir até...

_Nem pensar. - interrompeu-o Jade. - Cobra, enquanto você não sossegar, você nunca vai melhorar, e as dores que você estava sentindo ontem? É justamente porque você fica andando de um lado pro outro aqui no apartamento quando devia estar deitado, de repouso.

_Eu mudei de cidade pra ser livre e acabei encontrando uma namorada mais mandona que minha mãe. Que sorte a minha. - ironizou.

_Eu só quero que você melhore logo.

_Eu sei. - disse sentando-se ao lado da garota, puxou-a para si e beijou o topo de sua cabeça. - Eu só estou um pouco estressado, não estou acostumado a ficar em um único lugar por muito tempo.

Jade não disse nada, apenas sorriu e deu um selinho nele.

_Acho que tive uma ideia. - disse a dançarina, após algum tempo.

_Compartilhe.

_Já volto. - disse e entrou correndo no quarto, deixando um Cobra totalmente confuso para trás. Dois minutos depois ela saiu de lá com um cobertor e dois travesseiros. - Me siga, e traga o notebook.

Ele fez o que ela pediu e entraram no elevador.

_Por mais que eu adore um mistério, o que você está pretendendo minha dama?

_Já você saberá.

Só voltaram a falar quando chegaram no terraço do prédio, Jade ajeitou o cobertor e os travesseiros no chão e chamou Cobra para se juntar a ela, eles se aconchegaram e começaram a assistir uma comédia romântica que Jade escolhera.

_E então, gostou da minha ideia? - perguntou ela, pausando o filme.

_Quando é que eu não gosto de suas ideias? - replicou.

Quando o filme terminou eles se viraram um para o outro e ficaram se encarando por alguns minutos. Cobra passava os dedos nos cabelos macios de Jade que estava quase adormecendo, ele mal conseguia acreditar que estava ali com ela.

_O que está pensando? - perguntou a dançarina.

_Se isso tudo é real. - Ela pareceu confusa com a resposta, então ele esclareceu. - Nós, é tudo muito bom pra ser verdade.

_Pois é verdade, então aproveite antes que eu te dê um pé na bunda. - disse ela sarcasticamente. Cobra riu e a beijou, e a beijou de novo, e de novo até pegarem no sono.