Foi difícil arranjar uma frase que se escachasse com a minha decepção; talvez: O problema não esteja em Ethan e Mel, e sim em mim, que esperei demais deles. Esperei que Mel percebesse que amo Ethan e por isso esperava que ela desistisse dele. Esperei que Ethan também sentisse o mesmo por mim. Criei uma história na minha cabeça, onde ele e eu vivenciávamos um romance.

Cega. Cega de mais para perceber que isso estava prestes a acontecer. O que me fez pensar que Ethan escolheria a mim ao invés de Mel?

Olhando para os dois juntos, as lágrimas começam a brotar, tenho duas opções: a) correr para o quarto e chorar, b) fingir que nada esta acontecendo e engolir o choro. Opção b. Depois disso toda a história da náusea foi esquecida, preciso ser mais forte que isso. Pego mais um pouco da bebida, sorrio para alguns convidados que estão dançando, metade já foi embora. Decido pegar um ar lá fora.

Sento na calçada, a essa altura, tudo já foi pelo ralo; maquiagem, vestido, alguns fios de cabelo já estão soltos. Olho para o copo, meu estomago embrulha deixo ele de lado.

–Clara, o que esta fazendo aqui fora?

–Isso só pode ser brincadeira. –Suspiro ao ouvir a voz de Ethan. Decido deixar meus olhos distantes, mas ouço ele se aproximar.

–A festa é sua. –Ethan diz rindo. –Deve aproveitar cada segundo.

Ele se senta ao meu lado, automaticamente me levanto, derrubando o copo.

–Isso é... –Diz ele ficando sério. –Esta bebendo? Como pode...

–Acho que não te devo satisfação. –Finalmente olho em seus olhos, minha voz sai alta e irritada. –Estou aqui fora porque quero e bebi porque eu quis.

–Tá, não estou te condenando... –Diz ele ponderando a situação. –Espera, você viu Mel e...

–Vi. –Interrompo. –Mas o que te faz pensar que eu esteja interessada em você?

–Então porque esta assim? Isso não me parece ser o efeito da embriagues. –Ele cruza os braços, como se estivesse pronto para me dar uma lição de moral, reprovando cada palavra que eu digo. E isso me deixa ainda mais irritada.

–Por que não volta pra festa e me deixa sozinha. –Digo, mas ele não parece convencido. –Se esta fazendo isso para me ajudar, não esta funcionando. Estou péssima! Nunca estive tão mau!

Minha voz esta mais alta e fria.

–Quer saber por que estou assim? Olhe bem pra mim. Eu tive que pagar uma pessoa para ser meu amigo. Mesmo assim, Ethan, não funcionou. Continuo sozinha. Hoje, amanhã e sempre. Mas não vamos falar de mim. Vamos falar de você.

Tive certeza que minhas próximas palavras não eram tão sinceras. Mas fariam com que ele nunca mais olhasse para mim, Ethan teria que ter raiva de mim. Um sentimento que acabo de criar por ele.

–Que direito você tem de fazer um estrago na minha vida? –Acabo de aprender que embriagues pode de dar muita coragem. –De me dizer o que tenho que fazer, o que é certo e errado. –Começo a falar com rapidez:

–Você não é ninguém. Apenas um garoto que decidi colocar em uma infeliz ideia. Agora, vai embora! E por favor, não aparece mais na minha frente, ou eu juro que faço um estrago.

Ethan fica imóvel, decido falar mais. Mas então ele diz:

–Ajudaria se eu dissesse que te amo.

–Sai! Agora! –Meu grito faz com que todo o mundo comece a girar. Fecho os olhos esperando que ele saia da minha frente, quando abro Ethan se vira e vai embora, antes que eu veja seu rosto.

Volto para casa, e me tranco no quarto. Depois de dizer tudo aquilo me sinto aliviada por dois minutos, nesses minutos danço a música abafada que vem da festa.

Depois veio a tristeza, me jogo na cama tentando me lembrar se o que eu disse foi verdade, na certeza que eu não me lembraria amanhã de quase nada. E é na tristeza que começo a cochilar. Ouço a voz de Mel me chamando do outro lado da porta, mas não quero sair daqui nunca mais. Ela bate na porta por quase meia hora. E quando desiste, consigo dormir.

Com o sol na minha cara acordo. A dor de cabeça me faz sentir que a qualquer momento posso morrer me levanto ainda relutante, e vejo que estou com o vestido e o penteado bagunçado. Não gostei do que vi no espelho, mas não é isso que me preocupa. Tenho a sensação que algo esta errado. Penso que esse “algo” pode ter haver com Ethan. Me lembro de pouca coisa em flashes rápidos, eu disse alguma coisa que fez com que ele se magoasse. Mas ele também me magoou beijando Mel.

Tomo banho e visto um pijama. O arrependimento e a ressaca me fazem dormir.

Denise deixa meu almoço no quarto, finjo que ainda estou dormindo para não dar explicações. Como pouco, e volto a pensar na noite anterior, desisto e faço um esforço para dormir, mas quando consigo já anoiteceu.

* * *

Abro os olhos, e os lábios de Ethan estão nos meus; suaves, macios e calmos. O que me faz pensar que aquilo é um sonho.

No sonho, ele está ajoelhado ao lado da minha cama, eu estou deitada sentindo o prazer de seus beijos.

–Isso é um sonho. –Digo enquanto Ethan sorri para mim.

–Eu sei. –Ele coloca seu polegar em meus lábios. –Então, é melhor que não acorde.

Ele tem razão.

Mas por mais que eu tentasse ficar acordada...

* * *

Denise me observa por alguns minutos, enquanto retomo minha consciência. Só então percebo que ela esta diferente, seu corpo está tenso, olhos tristes.

–Hoje é segunda, mas não vou pra escola. –Explico, mas ela continua petrificada.

–Clara... –Diz ela como se quisesse me dizer algo importante.

–Denise, seja lá qual for o conselho. Estou mal demais para escutar. –Digo, me embrulhando no edredom, apesar do sol estar quente lá fora.

Denise me desembrulha e me olha nos olhos. Estou prestes a reprová-la, quando ela me diz:

–Clara, seu pai acaba de falecer.

Foi como se tudo tivesse parado. Olho para Denise, ainda estou deitada, meu olhar foi claro; só quero ficar sozinha. Primeiro veio à negação, minutos depois a raiva junto com o choro.

Com certeza eu nunca mais sairia daquele quarto.