A Torre de Babel escrita por Bacon


Capítulo 5
lV


Notas iniciais do capítulo

Hey! Feliz ano novo atrasado! ♥

Hehe, esse capítulo está aqui para esclarecer algumas coisas 8D Ou não.
Apresentando um dos personagens que eu mais gosto, MUAHAHAHAHAHA
Deu pra ver que eu me empolguei, né? *cof cof*olhaessetamanho*cofcof*

Muito obrigada Madoka Aby que favoritou a fic ♥

Boa leitura! ♥



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— Ei, Marco.

— O quê?

— Quão grande é aqui?

Marco parou por alguns segundos, pensativo. Anya o observava, mastigando seu pedaço de carne.

— Que tal... grande como um... — franziu o cenho, mordendo a parte interna de seu lábio inferior. — Um castelo? Daqueles bem grandes de reis bem ricos.

Anya sacudiu a cabeça, fungando e passando o punho pelo nariz sem muita delicadeza para livrar-se do muco.

— Não! Castelos têm vários andares. Aqui é só... — olhou para cima, em direção à escuridão no alto, e não completou a frase.

— Na verdade, há mais andares aqui... — Marco sussurrou. — Nunca queira subir aquelas escadas.

Anya quase perguntou "Que escadas?", mas o garoto já havia dado mais uma mordida em seu pedaço de carne, fechando-se a mais conversa. Parecia ter-se encolhido sobre si mesmo, com o pescoço escondido entre os ombros e as pernas dobradas para esconder o peito. Anya decidiu não insistir no assunto.

Estavam os dois sentados, encostados numa parede, enquanto comiam carne de cavalo assada. Depois da visita a Shuan, Marco levara a garotinha a um dos pedaços da torre onde as crianças arranjavam comida. Havia um grande buraco na parede ali e aparentemente quatro crianças cuidavam dele — duas mais ou menos da idade de Marco, duas mais novas, mas não tão novas quanto Anya; todos meninos. Do buraco, que eles chamavam de Círculo, saía um cheiro horrível, mas ninguém parecia muito incomodado; afinal, não era como se a torre de uma maneira geral cheirasse bem.

Além disso, todos já estavam acostumados. Todos já estavam lá há tempos. Exceto Anya. Não mencionou o fato, mas ela não ficaria muito tempo por lá, de qualquer forma. Iria embora dali a alguns dias, poucos meses no máximo.

Um dos garotos mais velhos, o que estava no comando, explicara que os demônios lhes enviavam animais mortos pelos buracos em intervalos de tempo irregulares. Havia mais deles distrbuídos pela torre. Então, o trabalho dos quatro ali e dos outros cuidadores do Círculos era cuidar dos animais e distribui-los para as crianças esfomeadas. Na maior parte do tempo, recebiam cavalos, em conjunto de legumes, verduras e frutas; com sorte, vinham vacas e bois.

No momento, tinham cavalos, e era a carne deles que Anya e Marco comiam.

A carne era dura, muito musculosa e estava bem longe do ponto que Anya gostava. Vez ou outra sentia um incômodo entre os dentes ao mastigar nervos. Mesmo assim, estava tão faminta que nem se importava; até considerou a ideia de pedir mais um pedaço, mas tinha certeza de que lhe seria negado — até porque o pedaço dela já era maior que o habitual. Quando explicara que havia acabado de chegar, os meninos do Círculo se apiedaram dela e deram-lhe um bônus, por assim dizer.

Durante vários minutos, Anya e Marco comeram em silêncio. Ela tinha dezenas de perguntas na ponta da língua, mas não queria aborrecer Marco — não de novo. Anya morria de medo que Marco ficasse bravo com ela outra vez. Aquele olhar de antes, de pálpebras caídas e olhos repentinamente tão frios... Era de arrepiar.

Assim, para que pudesse impedir a si mesma de falar, Anya começou a observar seus arredores com atenção. Marco lhe havia mostrado uma região escalável das paredes da torre e, agora, ambos sentavam-se numa cavidade mais elevada. Anya balançava as pernas no ar discretamente enquanto Marco descansava a cabeça nos joelhos dobrados.

Dali, Anya tinha uma vista bem ampla da torre e das pessoas. Havia mais algumas falhas nas paredes aqui e ali e de vez em quando era possível observar algumas crianças escalando para chegar lá. Seus passatempo no momento, contudo, era contar quantas cabecinhas carecas conseguia enxergar. Eram poucas em relação à quantidade de pessoas, porém o suficiente para fazê-la perder a conta.

As cabeças, carecas ou cabeludas, iam e vinham, corriam, andavam e paravam. Também era divertido encontrar figuras que se formavam por um instante na multidão movimentada. Mas, sempre que identificava um rosto, uma forma ou um animal, perdia a conta das cabeças carecas.

Anya não havia percebido antes, mas a torre era decorada com mobília em alguns pontos. Havia um conjunto de cadeiras e mesas bagunçadas num canto, uma pilha de bancos — ou seriam apenas caixas? — no outro. Pelo que ela conseguia enxergar, era tudo feito de madeira; quando um garoto de cabeça vermelha se sentou sobre uma das cadeiras e esta se quebrou, Anya concluiu que não era uma madeira das mais resistentes ou as próprias cadeiras, das mais bem feitas. Talvez as próprias crianças haviam sido suas montadoras.

Enquanto lambia os dedos para limpar-se do sangue da carne, avistou Chiara. Seus cabelos castanho-escuros, quase negros, estavam agora presos em duas tranças, mas a atitude explosiva a denunciava: aqueles que não se afastavam dela recebiam empurrões para que saíssem de seu caminho. Mesmo daquela distância, Chiara era assustadora.

Dado certo momento, a garota parou e começou a conversar com um menino louro que se sentava próximo a algumas caixas. Depois de algumas palavras trocadas entre os dois, o menino apontou na direção de Marco e Anya, e a menininha ganiu ao ver os olhos de Chiara prestes a disparar fogo em sua direção.

— Ei, Marco — chamou novamente. — Acho que a Chiara está atrás de nós.

O rapaz acordou de um salto de seu suposto transe. Anya teve medo de que ele fosse cair, mas ele mostrou-se longe disso. Assim que escaneou a multidão e viu Chiara abrindo caminho na direção do dois, estalou a língua e acenou para Anya. Os músculos de seu rosto se contraíram e, por um segundo, fechou a cara numa careta apertada, os olhos bem fechados, como se ele estivesse repreendendo a si mesmo. Foi algo tão rápido, e o sorriso que Marco abriu em seguida, tão brilhante, que Anya esqueceu a estranheza quase imediatamente.

— Vem, vamos descer; vai ser melhor se a encontrarmos lá embaixo do que ela nos jogar daqui de cima — brincou, jogando uma piscadela para Anya. Quando ela riu, Marco suspirou e pôs o dedo indicador sobre os lábios, ainda sorrindo. — Não conta pra ela, senão a "dragoa" te come viva.

Anya gargalhou tão alto que sua barriga doeu. Sentiu-se alegre quando ouviu Marco rir junto dela.

Desceram, porém, em silêncio, atentando-se às aberturas na pedra para que pudessem apoiar os pés e firmar as mãos. Ao atingir o nível do chão, deram de cara com a figura mal-humorada de Chiara, as longas tranças caindo-lhe por sobre os seios, as mãos na cintura, o cenho franzido.

— Onde é que vocês estavam?

— Procurando você.

Eu estava procurando vocês.

— Não quando saiu pisando duro.

Chiara apertou os lábios, numa expressão frustrada.

— Eu odeio você.

— Eu também te amo — Marco inclinou a cabeça, com um sorrisinho.

Então, Anya presenciou algo que pensara ser impossível: o canto esquerdo da boca de Chiara lentamente se curvou para cima, tremendo enquanto ela fazia de tudo para contê-lo. Mas não conseguiu, e o sorriso que se desenhou em seus lábios era ao mesmo tempo lindo e assustador.

Percebendo que era observada pela menor, Chiara se virou e gesticulou para que ela e Marco a seguissem.

— Vamos, já está na hora de explicarmos como as coisas funcionam por aqui.

Anya seguiu sem pensar duas vezes; finalmente entenderia alguma coisa daquele lugar. Chiara os guiou até onde ela estava mais cedo, perto das caixas de madeira. O garoto louro com quem ela conversara antes não estava mais lá.

Chiara pegou um dos caixotes e se sentou no chão, deixando o objeto a sua frente. Contornou-o com a ponta do dedo indicador, desenhando um círculo torto ao seu redor no chão de terra arenosa, e logo em seguida descartou a caixa, jogando-a de volta ao monte. Apesar do estrondo, ninguém além de Anya pareceu dar muita importância.

— Senta aí — ordenou Chiara enquanto desenhava agora círculos menores ao redor do primeiro. — Só não em cima do desenho.

Anya se sentou de frente para Chiara, alguns centímetros longe do conjunto de bolinhas riscados no chão, e observou enquanto a outra desenhava. Ela foi desenhando um círculo pequeno, depois outro e outro... Sete no total, cada um aproximadamente à mesma distância um do outro. No lugar de um oitavo círculo, entretanto, Chiara riscou um x. Aos dois lados do círculo paralelo ao x, havia dois riscos; mais dois riscos paralelos após um "espaço" de distância entre dois círculos.

Chiara continuou a desenhar, e mais riscos e circunferências apareciam a cada instante, tantos que Anya acabou se perdendo. Quando a garota mais velha terminou, Anya pôde observar com mais calma o esquema.

Levantou os olhos para Chiara, esperando que ela explicasse. A mais velha suspirou.

— Certo. Isso daqui — apontou para o círculo maior sem tocá-lo — é onde estamos, o Pátio. Essas bolinhas menores são os Círculos. — Ela fez uma pausa e olhou para cima. — São sete mesmo, né, Marco?

O garoto, que estava quieto até agora, de pé ao lado das duas meninas, assentiu.

— Tá. Então essas sete bolinhas são os sete Círculos — apontou. — Esses riscos...

— O que é esse x?

Chiara levantou a cabeça rapidamente, encarando Anya com olhos afiados.

— Não me interrompa — rosnou a garota, falando pausadamente. Ainda assim, respondeu a pergunta, após um momento gasto para respirar fundo. — Aqui é o Purgatório. Daqui a pouco eu chego lá. — Fez uma pausa, e Anya assentiu para ela, que assentiu de volta, ambas concordando que tudo seria explicado em breve. Continuou: — Esses riscou são os laguinhos. A gente não tem nomes pra eles, então só chamamos de lago ou laguinho; não importa. Esse corredor dá no cemitério, que é esse círculo mais afastado. Essas ramificações vão todas dar no mesmo lugar, que é o final do túnel, então também são inúteis.

Chiara parou de falar, subitamente adquirindo uma expressão taciturna. Anya temia que ela ficasse brava caso falasse novamente, então manteve-se quieta. A mais velha só continuou após um suspiro trêmulo, a cabeça baixa:

— Foram as crianças de antes que os fizeram. Ninguém sabe como cavaram tanto e não dá mais para perguntar porque não estão mais aqui. — Fez uma pausa. — Lembro-me de quando tentamos escavar nosso caminho para fora de novo, anos atrás. Até hoje, não consigo imaginar ideia pior.

— O que... aconteceu?

— Encontramos um deles.

E nada mais foi dito por vários minutos.

Anya tentava encontrar alguma coisa para dizer, para que pudesse reconfortar Chiara de alguma forma ou demonstrar suas condolências ou simplesmente dizer algo inteligente. Mas nada parecia adequado e, mais um vez, ela se manteve calada.

— Enfim — resmungou Chiara, com um suspiro. — Esses risquinhos são os lagos e... É, é isso. A maioria prefere dormir encostada às paredes, que esquentam mais ou menos como um cobertor, só que... Apenas de um lado do corpo. — Ela se levantou. — Vamos, vou te mostrar o Purgatório.

Anya se levantou também.

— Cadê o Marco?

— Foi embora, sei lá. Ele tem mais coisas pra fazer além de nos seguir pra lá e pra cá — Chiara limpou a poeria das roupas e fez menção de se virar.

— Posso? — perguntou Anya timidamente, antes que fosse tarde. Estendeu uma das mãos para Chiara. — Eu não quero me perder e...

Antes que ela pudesse terminar, Chiara agarrou sua mão e a puxou pela multidão.

***

O Purgatório era, na verdade, uma enorme abertura na parede, perfeitamente retangular. Estendia-se por aproximadamente cinco metros a partir do chão, as bordas tão retilíneas que pareciam até afiadas. A partir da abertura via-se lances e lances de escadas subindo em direção à escuridão, assim como faziam as paredes. Então eram essas as escadas que Marco mencionara, pensou Anya. Mas isso não era, de maneira alguma, o que mais chamava atenção no local.

Em frente às escadas, havia um homem.

Um homem adulto, provavelmente acima dos setenta anos — Anya sabia disso devido às gravuras que seus pais tinham de seus parentes idosos, há muito falecidos. O homem era muito alto e muito magro, os ombros largos e pernas e cintura finas deixando-o numa forma triangular. A pele muito clara era extremamente marcada por rugas e veias coloridas — azuladas, arroxeadas, avermelhadas, amareladas. Os cabelos, curtos fios acinzentados num mar de branco, contorciam-se sobre si mesmos, as pontas quebradas apontando em várias direções. Os olhos, de um azul tão claro que pareciam olhos mortos, deslizavam lentamente pelas órbitas, avaliando, medindo, calculando. Toda aquela brancura era quebrada pelas roupas do homem, pretas como se feitas da própria escuridão; deixavam à mostra apenas as mãos e a cabeça do sujeito.

Quando a atenção do homem prendeu-se em Chiara e Anya, um longo sorriso abriu-se em seu rosto, mais largo do que humanamente possível. Tornava-se duas vezes mais assustador quando acentuado pelo longo nariz curvado e os dentes pontudos, inacreditavelmente brancos. O homem — a criatura — se inclinou ligeiramente para a frente, avaliando as duas meninas com cuidado.

Anya segurava a mão de Chiara com força, tentando se esconder por trás do corpo da mais velha. Chiara, por sua vez, também aparentava inquietude: apertava de volta a mão de Anya, que conseguia notar um leve tremor de seus braços e pernas. Não seria surpresa se todas as crianças da torre tivessem reações parecidas quando diante àquele homem.

— Boa noite — disse o tal, lentamente, como se divertindo-se com cada sílaba. Olhou para Chiara, depois para Anya, e Chiara de novo, o sorriso ainda rasgando seu rosto enquanto uma sobrancelha branca se erguia. — Venom, suponho?

Chiara sobressaltou-se ao ter a palavra dirigida a si e apenas assentiu com a cabeça, hesitante. Seus olhos estavam presos no chão, a cabeça baixa.

— Bom — os olhos dele cravaram-se em Anya. — Qual seu nome?

A pequena não abriu a boca, ainda escondendo-se atrás de Chiara. Seus dentes tiritavam e ela temia morder a língua ao falar. Quando o homem inalou o ar ruidosamente, Chiara puxou-a pelos braços e a empurrou para a frente, apressando-a.

— É... — não teve coragem, ou forças, de olhar o homem nos olhos; apertava e contorcia a pele de suas próprias mãos, evidenciando seu nervosismo. — É Anya. Senhor.

— Idade?

Ela mostrou as mãos abertas, encolhendo apenas o dedo mindinho da mão direita e ganiu algo que deveria ter sido "Nove".

O homem ergueu, agora, ambas as sobrancelhas. Voltou à sua posição ereta.

— Impressionante. — Ele inclinou a cabeça, mirando Chiara com os olhos de gelo. — Melhor que a outra. Onze anos e não durou dois dias.

Anya ouviu Chiara prender a respiração atrás dela. O sorriso que o homem lançava na direção da mais velha não era mais simplesmente assustador, uma máscara para amedrontar criancinhas — era perverso, desdenhoso, uma máscara de divertimento. Cruel.

Discretamente, muito, mas muito discretamente, Anya olhou para trás. Seus olhos doíam com o esforço. Viu Chiara ainda de cabeça baixa, os olhos vidrados no chão. Seu rosto estava vermelho, os punhos cerrados com força. Seu corpo tremia agora com muito mais intensidade, mas ela fazia visível esforço para disfarçá-lo.

— Leve-a amanhã para praticar com você — ordenou o homem para Chiara. — Ensine-a o que sabe e explique os grupos.

Chiara assentiu, um aceno rápido e tão tenso que Anya se perguntou se os músculos de seu pescoço não doíam. Chiara agarrou o pulso da pequena e a puxou pelo curto túnel escuro que levava ao pátio. Só a soltou quando estavam longe, enterradas e protegidas em meio à multidão.

Anya assistiu enquanto Chiara respirava fundo, ofegante, a coluna curvada para a frente para que ela pudesse se apoiar nos próprios joelhos. Por um momento, pareceu que Chiara fosse vomitar. Mas ela apenas respirou fundo mais uma vez e se ergueu, limpando o nariz com as costas da mão com certa agressividade. Quando se virou, Anya viu quão afetada estava: o nariz escorria muco, os olhos estavam vermelhos e inchados.

Muito vermelhos e muito inchados.

Porém secos.

A garota engoliu em seco, desfazendo as tranças de seu cabelo nervosamente com mãos trêmulas. Quando encarou Anya, seu rosto continuava uma máscara de pedra. Uma máscara que falhava em esconder a fragilidade estampada em seus olhos, entretanto.

— Vá dormir. Ele disse que já é noite e o seu dia foi... puxado. Já estamos bem longe de lá e, bem, por aqui é mais seguro que qualquer outro lugar. É o território do Marco, então sei lá — estava falando mais rápido que o normal. Queria acabar logo com aquilo, Anya percebeu. Então se virou e desapareceu, uma vez mais, entre a infinidade de crianças.

Pela primeira vez no dia todo, Anya se viu sozinha. Chiara sumira, Marco estava "fazendo o que tinha que fazer", e ela não fazia ideia de onde ficava o montinho de roupas de Shuan. Era apenas Anya e ela mesma.

E, surpreendendo até a si mesma, ela não sentiu medo.

Não sentiu nada. Metade das crianças que passava por ela nem a notava; a outra metade, ao ver que não conhecia seu rosto, assentia para ela e às vezes alguém até sorria. Não iriam lhe fazer mal, não havia por que fazer. Talvez, mais tarde, ela conhecesse alguém e fizesse amizade. Por que não? Todos ali estavam tão assustados, tão desamparados quanto ela, era inegável. O que a fazia diferente deles? O que os fazia diferentes dela? Nada.

Então ela andou até não poder mais, até quase chocar-se contra uma daquelas paredes nojentas. Teve sorte de ter logo visto um lugar vazio perto dela; em qualquer direção que olhasse, havia pessoinhas deitadas, encolhidas, dormindo. Algumas até tinham cobertores. Não era justo! Anya queria um cobertor também. Mas não insistiu na ideia.

Deitou-se encostada à parede, sentindo o calor agradável que ela emanava em suas costas. Aninhou a cabeça em seus próprios braços e apreciou a escuridão que suas pálpebras fechadas ofereciam. Em pouco tempo, Anya já sentia o cansaço pesando em seu corpo. De um bocejo seguiu-se um suspiro, e depois outro, e logo ela já sentia longe do corpo, as cores vivas de um sonho tomando-lhe a mente.

Quase não notou o crescente som de arquejos, ganidos e gritos que vinha das crianças que ainda caminhavam em meio ao pátio, numa direção específica. Pensou ter ouvido seu nome ser chamado, mas não queria prestar atenção...

— ...iam da frente! — ouviu uma menina gritar. Mas como não era com ela, mesmo... — Anya!

Reconheceu a voz como sendo Chiara. Mas, ah!, Anya não queria mais ver ou ouvir Chiara por hoje. Não, não... Ela provavelmente só queria insultar ou amedrontar a mais nova uma última vez no dia. Os Ai! e Ei! que vinham da multidão só mostravam o quanto Chiara estava ansiosa para importuná-la, empurrando os outros. E Anya já estava tão longe, tão, tão longe...

— Ai, meu Deus, não! — gritou Chiara, abrindo caminho por entre as crianças. — Não! Anya!

Era como se uma pedra gigante esmagasse o corpo de Anya, como se essa pedra se fundisse a seus membros. Mas aquilo era tão bom, ela estava tão leve. Tão pesada, porém tão leve. Era maravilhoso, uma sensação maravilhosa. Podia quase sentir o gosto de morangos em sua língua, o cheiro de lavandas em suas narinas e ela via, ah, ela via! Bem em frente aos seus olhos, o jardim que ela e a mãe certa vez cultivaram por alguns dias. Não tiveram a chance de vê-lo tornar-se bonito, mas era tão lindo, tão lindo, tão lindo...

Não se importou quando sua ferida latejou uma vez. E depois outra. E outra.

Estava entretida demais cuidando do jardim com sua mãe para se importar.

E a ferida latejou outra vez,um líquido quente escorrendo lentamente por suas costelas.

O cheiro do jardim mudara. Era incômodo, um odor metálico preenchendo o local.

Um pulsar. Mais uma vez.

As flores murcharam e as nuvens negras cobriram o sol brilhante. Anya procurou pela mãe, mas não a encontrou.

Um tremor intenso percorreu seu corpo e todo o seu mundo. As nuvens e o céu tornaram-se vermelhos e começaram a despejar sangue. As flores morriam quando por ele eram regadas e delas saíam criaturas horríveis, de pele enrugada e olhos brancos e vazios. O mundo pulsava e Anya não conseguia manter-se em pé. Não conseguia se mexer, não conseguia falar, não conseguia respirar, não conseguia gritar.

Os monstros chegavam perto. Tão perto, tão perto, oh, não, não, não, não!

Não havia som algum naquele mundo. Apenas o ecoar de uma voz estridente, distorcida:

Anya!


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim 8D

Eu me empolguei MUITO, com esse final SGHSSUDHJVND Espero que tenham gostado :'D Pera, eu já falei isso q Eitcha, Beico

Como sempre, ele saiu um pouco diferente do que eu tinha planejado, então acabei sem oportunidade pra falar o nome/apelido do cara de terno. Mas tudo bem ♥

Nhé, pois é, acho que é só isso mesmo 8D q Ah!, desculpem-me por esse desenho horrível, mas as minhas habilidades descritivas falharam e sacomé, né S///////2

Até o próximo ♥

(P.S.: Posso fazer uma propagandinha básica? ;u; Enfim, vamos lá.
Eu estou escrevendo com uma amiga uma original yaoi de sci-fi, aventura e mistério sobre piratas ♥ Será que vocês poderiam dar uma olhadinha? qwq E se puderem deixar um comment com a opinião, ajudaria muito ♥
Aqui está o link: http://fanfiction.com.br/historia/580928/Reflexos/
Muito obrigada a quem nos der uma chance! ♥ )