COBRINA - songfic escrita por Gato Cinza, Amandy Peruzzo


Capítulo 6
The greatest love of all


Notas iniciais do capítulo

Musica: The Greatest Love of All
Cantor (a): Whitney Houston


Não me odeiem pelo capitulo.
Ignorem os erros ortográficos e gramaticais
Boa leitura



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Cobra estava sentado na cama olhando sua esposa se arrumar cantarolando, a observava fazia quase uma hora com um leve sorriso nos lábios. Estavam casados á três anos e eram o casal mais feliz que existia – sem nenhum favor.

Bianca olhava para o marido pelo espelho, três anos de pura felicidade e ainda não estava acostumada com aquele olhar analítico dele, as vezes tinha sensação que Cobra podia ler seus pensamentos e isso á assustava, infelizmente a esposa perfeita tinha seus segredinhos.

– O que foi? – perguntou sorrindo

– Faz tempos que não te ouvia cantar – respondeu o marido se levantando – Adoro te ouvir cantando.

Cobra a abraçou beijando seu pescoço, fazendo Bianca rir.

– Pare Cobra, tenho que terminar de me arrumar e você ainda nem se vestiu.

Cobra deu uma palmada no traseiro de Bianca e foi para o banheiro murmurando que ele terminaria de se arrumar e ela ainda ia estar se maquiando. Duas horas depois saíram de casa.

– Estou tão feliz que a K tenha voltado – disse Bianca animada enquanto iam para a casa de seu pai – Sinto muita falta de minha irmãzinha. Você comprou o presente dela?

Sim, Cobra tinha comprado o presente de Karina. Como se fosse possível esquecer dela por um minuto que fosse. Cobra se lembrava bem da cunhada. Os olhos azuis curiosos e tímidos que sempre queria saber de tudo, adorava desafiar o pai e irritar a irmã mais velha. A pequenina era totalmente o oposto de Bianca.

Dez minutos depois chegaram é casa de Gael. Bianca pareceu á Cobra de repente muito nervosa e assustada, diria até que ela estava com medo.

– O que foi, querida? – perguntou dando um beijo no ombro nu da esposa

– Ah! Cobra. Tenho medo da reação da K, faz tanto tempo e eu disse que preferia que ela estivesse morta da ultima vez que á vi.

Cobra se afastou um passo da mulher a encarando. Sabia que Bianca e Karina haviam brigado alguns meses antes de se casarem e a loira fora embora para o exterior, mas nunca soube o porquê da briga ou o que disseram uma para a outra, tampouco perguntara.

– Bi... por que exatamente você e Karina brigaram?

Bianca olhou o marido e começou a torcer uma mão na outra nervosa. Tinha um motivo e ela fizera Karina jurar jamais contar a ninguém. A loira preferiu ir embora á ver a felicidade da irmã. Agora quase sete anos depois Karina estava de volta...

– Biiiiiii – ela se assustou olhando para trás.

Uma garota de cabelos curtos e roupas de garoto se aproximou com os braços abertos, atrás dela vinha João á quem ela também não via á muitos anos e um jovem bonito e sorridente.

Acredito que as crianças sejam nosso futuro

Ensine-as o bem e as deixem liderar o caminho

Mostre-as toda a beleza interior que possuem

Dê-lhes o sentimento de orgulho para ficar mais fácil

Deixe que o sorriso das crianças nos lembre de como éramos.

– Karina é você? – perguntou a mais velha surpresa

– Não – respondeu a mais nova fazendo suspense – Eu sou o cavaleiro das trevas... É claro que sou eu né Bianca.

As irmãs se abraçaram mais uma vez. Cobra olhava com a boca entreaberta, lembrava de uma criança de olhar curioso, mas ali na sua frente agora ele via uma mulher de olhar misterioso.

– Vai ficar ai me olhando Ricardo? – ralhou ela soltando a irmã – Ou vai me dar um abraço?

Cobra registrou o uso de seu nome antes de abraçar a cunhada. Karina nunca tinha o chamado pelo nome antes. A garota estava completamente diferente, os cabelos muito mais curtos que ele se lembrava, nenhuma maquiagem – não que ela usasse antes, mas esperava que anos trabalhando em uma agência de modelos em Milão fosse a fazer mais “patricinha”.

– Não vai me dar um abraço também Bianquinha? – perguntou João fazendo Cobra se afastar de Karina automaticamente.

Bianca deu um rápido abraço no amigo de Karina e ficou olhando para o jovem bonito que ela não conhecia. Karina o puxou pelo braço.

– Bianca, Ricardo este é o segundo amor da minha vida. Pedro Ramos.

Bianca cumprimentou o rapaz olhando para a irmã com um sorriso que Karina achava idiota no rosto. Sabia o que Bianca estava pensando e isso a divertia.

– Segundo? – começou Pedro em tom de ciúmes – E quem é o primeiro? Exijo saber.

– X-Gael quem mais seria o amor dessa comilona? – respondeu João fazendo careta ao lembrar-se de Karina comendo o sanduiche bizarro.

A garota deu uma piscadela cúmplice para o amigo gamer, e abraçou a irmã mais uma vez para evitar para o cunhado que ela bem sabia estava a olhando de um jeito estranho.

– Vamos sair da rua – disse Bianca – Temos um presente de boas vindas para você K. Cobra pode pegar o presente da K para mim?

Cobra gaguejou um pouco constrangido. Como ia entregar aquele presente á Karina? Ia se sentir ridículo. Mas mudou de ideia ao ver Pedro abraçando Karina enquanto entravam para dentro. Talvez seu presente não fosse assim tão ruim.

Todos procuram por um herói

As pessoas precisam de alguém para se espelhar

Nunca achei quem preenchesse minhas necessidades

Solidão era o que eu tinha, então aprendi a depender de mim

► Uma semana antes. Milão – Itália.

– Eu não vou João, quero ficar aqui. Longe daquela mentirosa.

– K, você precisa esquecer um pouco o passado. Faz tantos anos que estamos aqui e não ouse me dizer que você está feliz por que te escuto chorando sempre que fala com seu pai.

Ela suspirou se largando no sofá. A saudade de sua casa e do pai falava mais alto que a raiva que sentia de Bianca. E ainda tinha Cobra, como ia olhar para o homem? Cobra fora seu melhor amigo e se casara com sua irmã. Porém, os muitos anos morando com René e João na Itália não tinha sido o bastante para esquecer o que Bianca fizera.

► Agora. Rio de Janeiro.

Karina sentou entre João e Pedro com a mão pousada na perna do segundo, sentia o coração palpitando, queria dizer um bocado de coisas e a maioria era contra Bianca, mas prometera á João que ia manter-se controlada e indiferente. Resolveu se concentrar mais no fato de estar novamente á casa do pai.

Ergueu os olhos para Cobra que entrara trazendo um embrulho quadrado e grande amarrado com uma fita branca. Sorriu tentando imaginar o que seria aquilo, provavelmente alguma coisa estranha e sem graça escolhido á dedo por Bianca.

– Foi o Cobra quem escolheu – disse Bianca orgulhosa depois levemente acanhada – Eu não tive tempo de ir ao shopping esta semana e pedi para ele escolher algo que você gostasse.

Karina deu de ombros, agradecida.

– Tudo certo Bi, se foi o Cobra quem escolheu tenho certeza que vou gostar mais do que gostaria se fosse você quem escolhe... ai!

João tinha acabado de belisca-la.

– Abre logo isso que eu quero ir comer – disse ele recebendo uma cotovelada de Karina

Mas Bianca interferiu na entrega, mostrando a Cobra o conjunto de joias de prata e zicôrnia vermelha que Karina tinha lhe trazido de Milão, e estendeu a ele um embrulho azul pequeno e retangular.

– Um livro? – disse ele antes mesmo de pegar

Karina sabia que ler não era o passatempo favorito do cunhado, mas não resistiu á ideia de lhe dar algo pequeno para que levasse com ele e que não fosse caro, Cobra era orgulhoso demais para aceitar algo que custasse mais do que gastava. O sorriso de Karina se alargou de modo quase maldoso quando ele desfez o embrulho, era um livro de bolso de capa preta escrita em relevo dourado – Kama Sutra. Cobra sentiu o rosto queimando quando olhou para Karina que sorria tranquila como se tivesse dado á ele um dicionário bilíngue.

– Agora me dá meu presente – pediu ela esticando as mãos para a caixa

– Se não gostar eu posso trocar – disse Cobra olhando nervoso da cunhada para Bianca que já estava folheando o livro que ele ganhara.

Karina estava curiosa para saber o que era, por um instante o sorriso dela desapareceu e ela deixou o desapontamento transparecer, mas rapidamente ela se recompôs tirando de dentro da caixa a boneca de porcelana vestida de azul-escuro e laçarotes.

– Uma amiguinha para eu arrancar os cabelos – falou dando um sorriso tímido.

– Não acredito! – exclamou Bianca escondendo o rosto vermelho – Cobra, quantos anos você acha que a Karina tem? Uma boneca?

– Á ultima vez que vi K, ela era uma criança. Nem associei o tempo.

Ele mesmo não entendi por que de dar uma boneca á cunhada, mas simplesmente viu a boneca na vitrine da loja e a comprou, sem nem mesmo pensar.

Gael que assistia a cena da cozinha riu alto. Todos se viraram para ele. Foi Karina quem respondeu as perguntas não verbalizadas.

– O pai também esperava que eu retornasse para casa com os doze anos que eu tinha quando fui embora. Levou um susto daqueles quando me viu.

Ela nunca brincara com uma boneca, se lembrou. Ela sempre fora a bonequinha de Bianca e sempre brincava com os garotos na rua, mas nunca teve uma boneca para se lembrar de ser uma menina. Olhou para Cobra e sorriu, o primeiro sorriso sincero que dava desde em dias. Sentiu até as bochechas formigarem pelo esforço em sorrir.

– Ainda tem o cheiro do mar – sussurrou abraçando a boneca

Decidi há tempo atrás a não caminhar na sombra de ninguém

Se eu fracassar ou for bem sucedida, pelo menos vivi como acreditei

Não importa o que tirarem de mim, eles não podem tirar minha dignidade

– Vamos ficar aqui só por mais duas semanas e voltamos... claro... tá bom pai. Tchau!

João jogou o celular na cama e sentou ao lado de Pedro que se olhava no espelho preocupado com uma espinha. Já estavam no Brasil á quatro dias.

– O que o René queria agora? – perguntou Karina alisando distraidamente os cabelos acetinados da boneca

– Queria que eu mandasse beijo para mais umas duzentas pessoas que já devem ter morrido á um século. E te avisar que o catalago daquela loja de lingerie foi adiada para dois meses. Então você pode estender a temporada aqui por mais um mês, mas eu e o Narciso ai temos que voltar em duas semanas.

– Agora que eu tava curtindo pegar um bronze – falou Pedro fingindo-se de triste

– Não era bem o bronze que você queria pegar ontem na praia – implicou Karina venenosa

– Ciúmes de mim agora namorada?

– Ah! – reclamou João tirando o espelho da mão do outro - Pedro pare de mexer nessa coisa, tem uma farmácia no fim da rua, vai lá e compra alguma coisa para acne.

Pedro se enrolou em um cachecol para cobrir o queixo espinhento e saiu. João se virou para Karina que olhava para a boneca como se olhasse para um bichinho de estimação muito fofo.

– Francamente, hein K – ela o olhou sem dizer nada – Parece até a irmãzinha do Pedro brincando com essa boneca.

Ela deu de ombros.

– Sabe o que notei no jantar de ontem a noite? – recomeçou João provocativo

– O molho branco estava salgado e o as luzes do restaurante fazia as flores emitirem um brilho espectral?

João apertou os olhos, na noite passada tinham ido ao cinema com o casal Cobianca – como Pedro chamava – e depois foram jantar.

– Também, mas eu notei que certo ofídio de sorriso muito atraente não conseguia disfarçar os olhares que lançava em direção á certa modelo.

Karina tinha notado isso também. Surpreendera os olhares de Cobra mais de uma vez, tinha uma coisa diferente, não era o modo protetor com que ele a olhava no passado, era algo mais... mais apropriado para ele usar quando olhasse para Bianca. Mas Karina jurava que era apenas sua imaginação a fazendo ver coisas onde não tinha. Cobra a via como uma criança, e a boneca que ela tinha no colo agora era prova disso.

– Pare de colocar bobagem na minha cabeça João – disse séria – Cobra é casado com minha irmã e eles se amam.

– Eu também te amo K, mas posso jurar que nunca te vi como ele te olha.

Ela se levantou irritada e foi tomar banho. Cobra era só amigo dela, sempre fora. Ela se lembrava de todos os momentos que tiveram juntos, Cobra sempre estava disponível para ela. Sempre lhe respondia suas perguntas e a ajudava.

► Flash Black on ◄

Ela sentou na areia olhando para os pés. Tinha acabado de levar um fora do cara mais cobiçado da escola Lírio. Não queria ver ninguém e nem falar com ninguém, tinha decidido que odiava os homens e que nunca deixaria nenhum deles olhar para ela com aquele desprezo novamente. Mal notou quando Cobra sentou ao lado dela.

– O que minha futura cunhada está fazendo ai com essa carinha de cachorro abandonado – disse ele

Karina fungou, não queria escutar Cobra debochando dela, foi embora. Naquela noite tinha tentado falar com Bianca sobre Lírio, mas não conseguira, a irmã estava deslumbrada com o fato de ir trabalhar em uma novela no horário nobre. Resolveu ir então falar com a única pessoa em quem confiava para falar sobre aquelas coisas, Cobra. Depois de contar tudo ficou nervosa ao ver o moreno em silencio.

– Fala alguma coisa, cara, me chame de burra...

– Você nunca beijou? – perguntou ele – Digo nunca foi beijada por um garoto?

Claro que não, Karina ainda tinha doze anos. Ainda jogava queimado na rua, pedia para o pai a deixar ver TV até as dez da noite e bebia leite quente antes de dormir. Negou com a cabeça envergonhada. Mas para sua surpresa Cobra se aproximou dela e capturou seus lábios, não foi um beijo longo, mas fora uma explosão de sensações e ela ficou pasma congelada olhando para frente sem conseguir respirar.

– Você está bem? – o ouviu perguntar preocupado – Desculpe K, eu não...

– Tem cheiro de mar – sussurrou ela.

– Que?

– Você tem cheiro de mar – disse novamente saindo correndo

Estava confusa, Cobra estava saindo com Bianca, por que tinha a beijado? Seu primeiro beijo.

► Flash Black off ◄

Karina socou o vidro do box do banheiro e sentou chorando debaixo da água gelada que caia. Ela evitou Cobra por dias envergonhada e quando finalmente decidiu que ia falar com ele...

Porque o maior amor de todos está acontecendo comigo

Eu encontrei o maior amor de todos dentro de mim

O maior amor de todos

É fácil alcançar aprendendo a amar a si mesmo

Este é o maior amor de todos

Cobra entrou em casa cantarolando, tinha um aviso de Bianca no celular dizendo que iam jantar na casa do pai. Ele se sentiu animado depois do dia difícil que tivera ia ser bom se distrair conversando com Gael sobre qualquer coisa que não fosse artistas famosos e seus dramas existenciais – assuntos favoritos de Bianca. Também jantar na casa do sogro significava á Cobra não ir para algum restaurante luxuoso e ter que suportar os olhares dos homens em cima de sua esposa ou os fotógrafos pedindo uma foto para algum site de fofocas.

Ia ser bom poder conversar com Karina mais uma vez, desde que a amiga voltara não tiveram muitas chances de conversarem e quando conversavam eram coisas vagas e triviais compartilhada com os outros. Karina ainda tinha o mesmo sorriso. Ainda ficava vermelha quando notava ter a atenção das pessoas. Ainda gostava dos mesmos gêneros de filmes, dos mesmos tipos de comida, dos mesmos lugares. Ainda era a mesma Karina que ele conhecia, mas agora era uma mulher, linda e...

– Pare com isso seu idiota – disse á si mesmo em voz alta ao perceber que estava pensando nos lábios dela.

Karina ainda era apenas a Karina, irmã de sua esposa, sua amiga, tinha um namorado.

– Que merda, pare de pensar nisso – disse irritado com si mesmo ao imaginar Pedro e Karina se beijando.

– Falando sozinho meu amor? – perguntou Bianca entrando no quarto com varias sacolas.

– Só pensando alto, foi ás compras?

Ela sorriu assentindo. Bianca pediu para ele avaliar o que comprara. Era sempre assim, ela fazia compras, pedia a opinião dele e quando Cobra dizia algo que desagradava Bianca se irritava, levou muito tempo para Cobrar aprender a esconder sua opinião, não importava o quanto ele não gostasse do que ela comprava, tinha apenas que dizer que estava lindo ou coisa igual. Bianca lhe pediu para fechar o zíper do ultimo vestido, um tubinho preto.

Cobra já conhecia aquele ritual também, fechava o zíper, a beijava, retirava a roupa dela, a jogava na cama... quando foi que seu casamento tinha virado uma propaganda sem graça que se repetia constantemente?

Cobra deitou Karina na cama lhe beijando o pescoço, enquanto deslizava as mãos pelas pernas dela.

– Ah! – Bianca arfou o chamando pelo apelido quando Cobra pressionou seu corpo contra o dela

Ele abriu os olhos de repente assustado. Olhou para o rosto sorridente da mulher e se sentiu um adultero. Estava pensando na cunhada enquanto levava a esposa para a cama? Isso não estava normal.

Acredito que as crianças sejam nosso futuro

Ensine-as o bem e as deixem liderar o caminho

Mostre-as toda a beleza interior que possuem

Dê-lhes o sentimento de orgulho

Para ficar mais fácil

Deixe que o sorriso das crianças nos lembre de como éramos.

Pedro estava implicando com Karina enquanto ela picava cebolas dizendo que ela parecia uma mulherzinha e agora os dois discutiam sobre quem parecia o que. João preparava suco olhando para os dois, era sempre assim, os dois juntos em um ambiente fechado resultava nas mais ridículas discussões sem sentido do mundo.

Gael entrou na cozinha para ver se o assado estava pronto e teve que ouvir quase uma hora de “como cortar uma cebola” e “enfie essa cebola no...”. João ria vendo a expressão confusa do padrasto, Gael ficaria louco se vivesse com eles. Logo a mesa do jantar estava arrumada e os convidados da família chegaram. Karina tivera que ir tomar outro banho e se trocar depois de levar um banho de extrato de tomate – coisa do Pedro.

Cobra e Bianca chegaram acompanhados pelo casal-amigo favorito, Duca e Nat. Eles conversavam animados sobre algo que havia acontecido á algumas semanas contando a João e a Pedro que de divertiam com a historia.

Karina ouviu os risos do quarto, sabia que provavelmente era alguma coisa de múltiplo sentido que estavam falando para fazer com que os amigos rissem daquele modo. Ela se olhou no espelho fazendo uma carranca, ia sufocar o Pedro enquanto ele dormisse, teve que pegar uma roupa emprestada do guarda roupas de Dandara e o aspecto geral a fazia parecer tão... outra pessoa. Olhou para o salto que usava, mesmo com ele os pés eram cobertos pelo vestido.

– Pior não vai ficar – disse a si mesma saindo do quarto, descalça.

Olhou os rostos animados na sala de vistitas, riam e falavam com tanto divertimento que por um segundo ela pensou se não seria melhor ficar no Brasil, teria que quebrar alguns contratos, mas não seria nada de mais. Entretanto o moreno sentado de costas para ela disse animado:

– E a Kah? Ela deve ter historias incríveis para contar.

Karina sentiu o estomago embolar. O ar fugiu dos pulmões e ela começou a respirar com urgência tentando capturar o máximo de ar possível. Era Duca, ele estava ali... Bianca ria e conversava animadamente com ele na presença de Cobra como se tudo fosse perfeito, como ela podia fazer aquilo? Como podia trair a si mesma daquele modo.

Cobra vira Karina antes de todos que estavam presentes ali, ela parou inclinando a cabeça e olhando para eles, estava com aquele olhar distraído de quem pensa em algo importante, então ela escorou a mão no pilar da sala, parecia estar com falta de ar, ele se levantou indo socorrê-la chamando atenção dos outros para o que estava acontecendo.

Karina apenas percebeu sons de passos e chamarem seu nome...

Bianca estava em sua frente, era apenas o rosto da irmã que ela via. Bianca a intimidando enquanto ela segurava aquele teste de gravidez. Como ela podia ter feito aquilo? Como podia ainda sorrir tento interrompido uma vida inocente.

– Kah, o que está acontecendo? – perguntavam

Por que ela fora voltar para o Brasil? Estava tão bem sofrendo com o passado á um oceano de distancia. De todos ali os únicos que ela via eram Duca, Cobra e Bianca, mentirosa e traidora. Estava sentada? Karina nem percebeu que a sentaram em uma cadeira. Viu a irmã se ajoelhar em sua frente com um copo.

– É água Kah, consegue beber? – perguntou em tom suave tocando seu rosto

– Não toque em mim! – gritou ela se levantando e empurrando Bianca – Fique longe de mim sua monstra.

Gael a segurou exigindo saber o que estava acontecendo, mas a modelo se livrou da mão do pai e saiu correndo porta á fora.

Cobra deu alguns passos, mas parou. Não ia atrás de Karina, sabia para onde ela estava indo e sabia que ela precisava e queria estar sozinha. Então se virou para a mulher que estava pálida olhando para a porta com olhos lacrimejantes. Estava na hora de saber o que ela dissera de tão ruim para fazer Karina ir embora e depois de tantos anos reagir daquele modo.

– Bianca por que ela te chamou de monstra? – perguntou

Existia muitas palavras de baixo escalão para atormentar e ofender alguém como Bianca, mas “monstra” era algo sem muito sentido. Bianca olhava para os rostos curiosos que se voltaram para ela, todos pareciam se fazer a mesma pergunta: O que a tornava monstruosa aos olhos de Karina. Bianca recorreu á sua saída de emergência para assuntos delicados. Cambaleou para frente e sentiu-se aparada por mais de um par de braços.

Decidi há muito tempo

A não caminhar à sombra de alguém

Se eu fracassar ou for bem sucedida

Pelo menos vivi como acreditei

Não importa o que tirarem de mim

A minha dignidade não conseguirão...

► Flash Black on ◄

Karina estava sentada na cama olhando para um objeto na sua mão, ela agia de modo estranho, ao menos era essa a opinião de Bianca que tinha surpreendido á irmã menor suspirando bobamente no parapeito da varanda do quarto varias vezes. Talvez uma paixonite infantil por algum professor da escola, pensava. Mas Bianca naqueles dias tinha preocupações mais alarmantes que a vida amorosa de uma garota de doze anos. Se deitou em sua cama agradecendo pela irmã silenciosa que tinha, tudo o que precisava naquele dia era silêncio e descanso.

Para o desapontamento dela, Karina não estava em um de seus dias silenciosos, assim que viu a irmã se deitando ela correu e para sentar ao seu lado. Olhava de modo muito curioso.

– Que foi K?

A menor estendeu a mão revelando o objeto que segurava com tanta admiração. Bianca sentiu perder o resto da cor que tinha e o sangue congelar nas veias. Era um teste de gravidez de farmácia. Levou vários minutos para recuperar o próprio ser:

– O que é isso? – perguntou alheia ao mundo.

– Aquele treco para saber se esta grávida, achei na sua gaveta.

– Mexeu na minha gaveta? – ralhou Bianca se levantando – Quem mandou mexer nas minhas coisas?

Karina não ligava para a regra numero um do quarto delas “não mexer nas coisas da outra”.

– Você está grávida, Bi?

– É claro que não, não seja ridícula K. eu grávida...

– Ai diz que tem alguém grávida e esse treco estava na sua gaveta.

Bianca tomou o teste da mão da menor e olhou nervosa para o objeto.

– Aqui diz negativo, Karina.

– Acha que tenho quantos anos Bianca? – perguntou a menor em desafio apontando para o computador – Eu pesquisei.

Ambas olhavam o computador por um tempo como se ele fosse uma pessoa importante.

– É do Cobra né? ele já sabe? – perguntou Karina de repente tristonha. Estava procurando uma blusa bonita para ir falar com Cobra quando achou o teste.

Bianca sentou olhando para o teste como Karina olhava quando ela entrou no quarto. Sentiu uma pontada no ventre como se estivesse sendo apunhalada pelo lado de dentro. Talvez não fosse sensato compartilhar com sua irmãzinha algo daquele tipo, mas tinha que dizer a alguém.

– Abortei

Por um tempo as palavras dela não surtiram nenhum efeito em Karina. Abortei. O que isso queria dizer á uma menina de doze anos? Mas então uma luz se acendeu nos olhos azuis da garota que logo ficou triste e preocupada.

– Você perdeu o bebê? Bi, por que você não disse nada a ninguém? Coitadinha.

Bianca olhou á outra surpresa, o que podia esperar? Karina era ingênua e inocente demais para entender. Por uns minutos ouviu em silêncio os lamentos do que Karina achava ser pesaroso para uma garota tão jovem quanto Bianca. A mais velha sentia-se tentada a rir e a chorar ao mesmo tempo, acabou confessando mais do que planejava contar á qualquer pessoa, e logo se arrependeu disso, após dizer que procurou uma pessoa que fazia trabalhos médicos ilegais.

– Você pagou para matarem seu bebê? – gritou Karina

Bianca se levantou assustada olhando para a porta, felizmente estavam sozinhas em casa.

– Como pode fazer isso Bianca? O pai vai te matar quando souber...

– Não ouse – ordenou Bianca apertando os braços e Karina – Se você contar a alguém eu... eu farei uma coisa realmente ruim contra você.

– Não faz – desafiou a outra com medo – Você não tem coragem para machucar as pessoas.

– Acabou de dizer que paguei para matar um bebê, posso fazer o mesmo com você

Bianca não falava sério, era apenas uma ameaça teatral, mas parecia real o bastante para apavorar Karina. A mais velha relaxou o aperto no braço da outra e tentando sorrir.

– Promete que isso será nosso segredo K? segredo de irmãs.

– Por que fez isso? – perguntou Karina sem se conter – Por que fez isso com... o bebê?

– Eu fui escolhida para ser protagonista, uma gravidez estragaria tudo na minha...

– Monstra, você é uma monstra – começou Karina segurando as lagrimas – O Cobra não devia ter deixado você fazer isso, ele também é um monstro...

Bianca soltou o braço da irmã, porem mantendo-se á altura dela. Já tinha contado mais que garota precisava saber, então contaria logo tudo.

– Não – disse com voz fria demais – Não era filho do Cobra, nós ainda não... só estamos saindo á uns dias. Era do Duca, e ele também não sabia.

Duca ao que Karina se lembrava era um dos rapazes que estava sempre com Cobra.

– Não sabiam? – perguntou mais á si que é Bianca, entretanto ela confirmou.

– Nenhum deles sabia e nem saberão. Ninguém pode saber disso K. Você promete?

Naquele dia Karina pediu o pai deixa-la ir morar com João e René na Itália.

► Flash Black off ◄

– Posso me sentar?

Karina não respondeu. Mantinha o rosto entre os joelhos. Cobra sentou na areia olhando para o mar á sua frente, sabia que ela estaria ali. Ela sempre voltava ao mar quando não tinha para onde ir. Ficaram em silêncio por um tempo, naquele momento todos procuravam por ela, mas Cobra preferiu não dizer onde encontra-la. Precisava conversar sozinho com Karina.

– Quer me dizer o que está acontecendo? – perguntou Cobra em voz baixa.

– Não posso falar, eu prometi.

– Olha para mim – pediu ele

Karina olhou, estava com o rosto seco e olhar frio. Não havia chorado. Cobra segurou o rosto dela entre as mãos e lhe deu um beijo na testa e fitou-a nos olhos.

– Sabe por que me casei com a Bianca?

Karina desviou os olhos, ouvia o som das ondas indo e vindo. Ouvia os sons distantes dos carros e notívagos que frequentavam a orla de Ipanema ás três da madrugada. Não sabia o porquê ele tinha se casado com a irmã dela, mas não era difícil imaginar. Bianca sempre fora perfeitinha demais para ser quem era. Voltou a atenção á Cobra desejando que ele a deixasse sozinha. Então em vez de perguntar o porquê ele se casou com Bianca ela disse:

– Vou antecipar meu retorno á Milão, volto amanha.

Se levantou e saiu deixando o moreno sozinho na areia.

Porque o maior amor de todos

Está acontecendo comigo

Eu encontrei esse amor dentro de mim mesmo

O maior amor de todos

É fácil alcançar:

Aprender a amar a si mesmo

Este é o maior amor de todos

Karina entrou no apartamento que dividia com os amigos procurando uma musica no celular, notou o “bolo” no sofá assim que entrou, bateu a porta para chamar a atenção de Pedro e João que estavam agarrados se beijando como se fosse o fim do mundo.

– O quarto de vocês fica no fim do corredor – disse fingindo irritação.

Os rapazes se levantaram vermelhos – por falta de fôlego – e saíram dizendo para não espera-los para o jantar. Karina trancou a porta assim que saíram e foi preparam algo para comer, estava acostumada com o fato dos amigos nunca jantarem, mas ela não sobrevivia sem uma boa e calórica refeição noturna.

Morava com Pedro e João desde que começaram a namorar, porem para todos os curiosos de fora, ela era namorada de Pedro, enquanto João era apenas seu meio-irmão com quem dividia as dividas. Ouviu batidas na porta e foi ver quem era um tanto preguiçosa, eles sempre deixavam as chaves de propósito apenas para ela se irritar.

Deu um passo para trás quando viu que não eram os amigos.

– O que faz aqui? – perguntou surpresa.

Ele a olhou com um mix de emoções e falou tudo de uma vez.

– Me casei com a Bianca por que eu era um idiota de dezoito anos apaixonado por minha melhor amiga que era apenas uma pré-adolescente de doze anos, infelizmente essa garota retornou e me fez perceber que nunca fora uma paixão sem razão de existir, eu realmente amo ela. Sempre amei.

Karina ainda estava tentando assimilar o fato de que Cobra estava parado na porta de seu apartamento em Milão quando ele terminou de falar. Nem notara que estava prendendo a respiração.

– Diga alguma coisa, por favor – pediu ele angustiado

– Alguma coisa – disse automaticamente sem notar o que dizia.

Cobra deu um sorriso nervoso, no segundo seguinte estavam se beijando. Um beijo urgente e desejado como se estivessem separados por uma eternidade e nunca mais fossem se ver novamente. Quando o ar se fez preciso, ficaram se encarando.

– Não devia – começou Karina arfante – Você é casado e...

– Pedi o divorcio – informou Cobra segurando o rosto de Karina – Bianca se recusa a falar sobre seja o que for que te fez ir embora e não quero que você diga se não achar que eu precise saber.

– Mas eu...

– Levei muito tempo para perceber o que queria, eu quero você Karina Duarte Cobreloa.

Karina riu ao ouvir seu nome junto com o nome de família dele. Tinha muitas coisas para conversar ainda com Cobra, mas naquele momento preferiu seguir um conselho sem sentido que recebera um dia de uma estranha na rua:

“O futuro e o passado não importam quando o presente for o que você mais deseja”

Ela sorriu e mais uma vez colou os lábios nos de Ricardo. Aquilo era um senhor do presente e o aproveitaria por todo sempre.

E se, por acaso, aquele lugar especial

Com que você sonhava

Te levar á solidão,

Procure sua força no amor


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Notas finais do capítulo

Amandy sugeriu que Cobra e Bianca fossem noivos e ele se apaixonasse pela K.
Eu juro que tentei, mas não consegui e fiz o capitulo acima assim, meio:
"Medonho"

Até o próximo.



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