Hunger Games Mockingjay III- Survive (Interativa) escrita por White Rabbit, Maegor, Brenno


Capítulo 5
Capítulo 4- Sangue Envenenado


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da Hardie tanto quanto eu gostei!



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Hardie Lavander

“Todos vão morrer um dia, eu apenas ajudo eles a irem mais rápido”- Hardie Lavander

Bad Blood- Bastille

O sol erguia-se majestoso em meio ao céu azulado, emanando seu calor para a terra fazendo o chão esquentar mais do que o normal, naquela manhã incrivelmente quente todo o distrito protegia-se na sombra, fosse em um prédio qualquer do distrito ou debaixo das árvores, ninguém ousava sair para fora num calor infernal daqueles a menos que fosse extremamente necessário. No entanto, quem estivesse no pátio da escola fundamental do distrito 5, poderia ver uma figura feminina a correr descontrolada enquanto um grupo de crianças gritava coisas absurdas para ela.

A garota corria em círculos pelo pátio de solo arenoso, não que ela estivesse louca, longe disso. Mas era obrigada a o fazer, se não corresse daquele modo todos os dias, sabia muito bem o que a esperava, uma surra, e a pior das surras que já levara, e se aquelas crianças malignas cumprissem metade das ameaças que faziam, ela já estaria morta. Embora não entendesse ao certo porque eles faziam isso com ela. Ela não tinha culpa de existir, não tinha culpa de vir ao mundo apenas para que todos a vissem como um demônio. Não tinha culpado de carregar um sangue envenenado em suas veias, mas eles achavam que ela tinha, que ela fosse uma ameaça, um monstro, um espírito mau que devesse ser erradicado para sempre, o distrito 5 tinha muitas supertições, e mesmo que os adultos não ligassem tanto para elas, as crianças e adolescentes acreditavam cegamente nas lendas e tradições, por mais caluniosas que fossem.

E sim, eles acreditavam que ela fosse uma bruxa que iria infectar todos eles com uma doença sem cura e que os mataria sem dó nem pena, e naquele momento eles se divertiam ao ver a pequena e infortunada Hardie Lavander correr como uma louca pelo pátio da escola, debaixo daquele calor insuportável. A pobre garota não tinha outra escolha, sentia as pernas doerem muito, os seus músculos latejavam e ela via a própria vista embaçar, suava bastante, já sentia a língua ficar seca, mas se ela parasse eles viriam, mesmo debaixo daquele sol forte e a espancariam, deixando-a para morrer. Ela só podia parar quando corresse até cair, e nos invernos era pior, eles a enterravam na neve, e por mais que ela tentasse esconder de sua família o que sofria, por mais que ela quisesse antes ter morrido ao nascer, ela desejava intensamente o sangue deles.

Um ódio crescia dentro de Hardie naquele momento, um fogo intenso brotava de dentro dela, e não era por causa do imenso calor e nem pelo HIV positivo que possuía, mas sim por raiva, nem ela mesma sabia no momento o que realmente estava sentindo. Apenas continuava correndo enquanto que aquela sensação crescia dentro dela. E quando finalmente ela tombou de cara na areia, ouviu os risos das crianças que a perseguiam e logo depois, passos, eles tinham ido embora. A Lavander mais nova arrastou-se pela areia quente até atingir um local sombreado, estava suada, cansada, esgotada, mas poderia ter sido pior, poderia estar morta. Fechou os olhos sentindo o pequeno frescor que lhe era presenteado.

° ° °

O campo de trigo do distrito 5 era simplesmente majestoso, ninguém entendia ao certo qual a finalidade dele existir, apenas umas pessoas privilegiadas semeavam os grãos de trigo, as pessoas que os pacificadores permitissem. Mas num distrito onde as massas se dedicavam apenas a fazer energia para Panem, a ideia de cultivar trigo era um tanto irônico, pelo mesmo motivo ele vivia quase que abandonado e era proibido ficar ali durante a noite, e os pacificadores não eram nem um pouco sutis com os quebradores de regras. Mas os campos de trigo eram um lugar lindo, principalmente durante o nascer e o pôr do sol, onde o dourado das luzes mesclava-se ao dourado dos campos.

E para Hardie que nunca saía de casa, os campos de trigo talvez fossem um dos lugares mais belos do distrito 5, se é que ainda havia beleza no mundo. Seus pais certamente, nunca a deixariam ir, por mais que ela pedisse ou implorasse, graças ao sangue que carregava, ela não podia se dar ao luxo de pegar qualquer doença que fosse, apenas um único espirro preocupava sua família inteira. Ela sabia que a mãe, tinha um pequeno armário, com ervas e remédios, com os quais ela pretendia evitar trazer mais problemas de saúde para a filha, e pensar que tudo aquilo foi causado por uma única tesoura. Mas o fato e que ela não podia sair de casa, o máximo era de casa para a escola, ou melhor, de casa para o inferno.

Mas a mãe descuidou-se por um segundo e ela fugiu por um buraco na parede da cozinha, agora estava ali, finalmente havia conseguido ver os famosos campos de trigo. Ela sentia-se livre, pela primeira vez, a liberdade era uma sensação boa, e ela queria senti-la, diversas vezes mesmo que por alguns simples segundos. Continuou a correr pelo campo, saltitando entre o trigo e seus cabelos ruivos esvoaçavam conforme a direção do vento. Ela se sentia feliz, não sabia por que, mas a felicidade invadia o seu mundo de tristeza, como o ar querendo penetrar em uma cúpula fechada.

Foi quando um cheiro putrefato invadiu suas narinas de forma inesperada, ela tampou as narinas com os dedos, o cheiro era insuportável e parecia vir de um local próximo, ela começou a andar vagarosamente pelo trigo a procura da origem daquele odor inebriante. Foi quando ela chegou ao local certo, o cheiro de podridão emanava dali como se um fosso tivesse sido aberto, e a visão que ela teve a deixou horrorizada, no local de onde exalava encontrava-se um ser humano. O trigo do local estava amassado e sujo de sangue, o ser humano que estava acima dele estava caído numa posição estranha, o sangue se espalhava numa poça gigantesca e se espalhava por entre as raízes dos trigos, a pele estava queimada parecia que aquele corpo estava a dias sendo exposto ao sol.

O cheiro era insuportável e as roupas que ele- sim, era um homem adulto- estavam rasgadas e sua pele estava cheia de feridas, os cabelos castanhos sujos de areia e sangue e os olhos castanhos perderam a cor e o brilho. Hardie deu um grito de horror, ignorando o cheiro insuportável ela ajoelhou-se próximo ao tórax do homem, pôs as mãos entrelaçadas por cima do peito do homem e passou a pressioná-lo com força diversas vezes. Sem resposta, ele continuava inerte, ela continuou a massagem cardíaca pressionando o peito com toda força que tinha, ela precisava salvá-lo, ele ainda tinha uma chance de estar vivo.

Ela parou a massagem por alguns segundos e fitou suas mãos, avermelhadas, sujas de sangue seco, ela sentiu as lágrimas lavarem seu rosto e continuou a fazer a massagem cardíaca, até seus braços doerem, as lágrimas pingavam no corpo ensanguentado, mas ele não reagia. Ela começou a gritar desesperada, até sentir dois braços a envolverem num abraço, ela reconheceu na hora os cabelos ruivos de Saffra.

No entanto ela dava pouca atenção a sua irmã mais velha, fitava apenas as próprias mãos, sujas de vermelho. Sujas do líquido que dava vida as pessoas, mãos sujas de morte e de desespero. Deus do céu, porque ele morreu? Quem ele era? Porque estava ali largado no meio do trigo como se fosse um lixo? Porque a vida tinha de ser uma completa merda? Eram perguntas que ela não poderia responder.

– Você está bem Hardie?- a voz de Saffra a livrou dos pensamentos inoportunos- Hardie! Procuramos você o dia inteiro, onde você se meteu?

– Eu estava aqui... O tempo inteiro e encontrei-o!

Saffra olhou para o corpo com certo desprezo, o cheiro era realmente insuportável e o sol já mudava de lugar, ela tinha que voltar para casa:

– Tudo bem Hardie, vamos pra casa agora- ela pegou nas mãos de Hardie tentando limpar inutilmente o sangue seco- Vamos lavar isso em casa tudo bem?

Elas levantaram-se e começaram a seguir o caminho para casa. Agora ela entedia porque seus pais a prendiam tanto, não por ela ser somente doente e frágil, mas porque o mundo fora de casa era cruel. Tudo ao seu redor era pura crueldade, os garotos da sua escola, os pacificadores, a Capital, os jogos, tudo era um monte de massa negra e demoníaca que se escondia atrás da beleza. Mas o mundo estava repleto de desespero, quanto desespero aquele pobre cadáver não deve ter passado em seus últimos momentos de vida? Quanto desespero os tributos não deviam passar durante os jogos? Mas que se danem todos eles, ela não se importava mais com o desespero dos outros, se o distrito 5 explodisse para ela não faria diferença. Ela se perguntava por que ela tinha de sofrer? Que raios ela havia feito para que sua vida fosse daquele jeito?

Não importava o que fizesse, ela era uma bruxa de sangue envenenado, um estorvo para a sociedade, uma menina presa as amarras da sua própria doença. E mesmo sem ter culpa nenhuma, ela foi condenada em um julgamento injusto, onde as pessoas condenavam umas as outras sem sequer conhecê-las de verdade. O mundo era assim, um gigantesco tribunal onde poucos eram inocentes, se Deus criou o mundo, ele estava tendo um péssimo dia.

° ° °

A chuva caía fracamente lá fora, e os pingos de água faziam um pequeno barulho nas janelas da casa, o céu estava acinzentado e um frio se formava no distrito 5. Hardie apenas olhava a chuva cair pela janela, ficava pensando no que o mundo tinha se tornado. Conhecia o suficiente de história para saber a história da humanidade. E em todas as eras, existiam guerras, pestes e matanças, pessoas morrendo por coisas banais, pessoas sendo escravizadas e tratadas como animais, pessoas sendo jogadas nas fogueiras por terem opiniões contrárias as da sociedade atual. E nada havia mudado. Quem visse Panem, veria uma cópia exata dos impérios da Antiguidade. Panem tinha construções faraônicas como no Egito, possuía jogos onde pessoas lutavam até a morte como em Roma, as pessoas com opiniões diferentes eram executadas como na Idade Média, o monopólio e toda a riqueza se prendia nas mãos dos mais ricos enquanto que os “escravos” se matavam de trabalhar apenas para conseguir um pouco de pão. Pessoas diferentes- assim como ela- eram julgadas e tratadas como lixo. Ou seja, nada tinha mudado, eles viviam o passado apenas com alguns requintes eletrônicos. O mundo era apenas um monte de fezes.

Hardie bocejou sentindo o sono chegar, a lua e as estrelas se escondiam por detrás das nuvens pesadas e cinzentas, mas ela sabia que estava na hora de dormir. Levantou-se vagarosamente afastando-se da janela, os pingos de chuva tilintavam no vidro, Hardie sorriu, como era curta a vida das gotas de água, cair metros acima apenas para se desfazerem no chão, pareciam os seres humanos, acumulavam milhares de coisas apenas para morrerem no final, quanta sutileza.

Ela livrou-se do pequeno vestido que usava jogando-o em cima da cama, procurou no seu pequeno guarda-roupa algo quente para poder dormir, por sabia que o frio em breve viria, foi quando uma figura invadiu seu quarto. Era Saffra, a mais velha parou estatelada enquanto encarava o corpo de Hardie, um corpo frágil marcado por diversas marcas roxas e outras quase pretas. Hardie recuou um pouco enquanto a irmã contorcia os lábios:

– O que são essas marcas Hardie?- perguntou num tom autoritário.

– Não é nada Saffra, é que eu caí, apenas isso.

– Quedas não provocam machucados assim- ela agachou-se junto a irmã enquanto examinava os machucados- Quem fez isso com você Hardie, ande, me conte logo!

– Foram os meus colegas de escola... Mas por favor, não fale nada pra ninguém, eles vão sarar em breve.

– Nas porque eles fizeram isso Hardie? Você fez alguma coisa pra eles?

– Não- ela disse secamente, enquanto vestia a camisa de lã- Eles apenas me culpam por existir, apenas isso, eu sou um estorvo pra eles, apenas o fato de eu viver irrita aquele bando de malditos!

– Se a mamãe souber...

– Você não vai contar pra ela Saffra- a voz soou mais grossa do que ela desejava- por favor!

– Tudo bem, mas se isso acontecer de novo... Vamos mudar de assunto, amanhã vamos aprender a lançar dardos no campo, você pode faltar a escola, o que acha?

Hardie apenas assentiu com a cabeça enquanto terminava de vestir-se para dormir, a chuva caía mais forte do que antes e o frio instalava-se com mais velocidade. Um dia livre da escola, para Hardie seria a melhor coisa do mundo, um dia sem espancamentos, sem violência, sem xingamentos, uma dia que ela pudesse apenas desfrutar da vida medíocre que tinha. Sua irmã deu-lhe um beijo na testa e depois saiu do quarto. De todos os quatro irmãos, Saffra sempre fora a mais protetora, tinha um espírito de rebeldia inundando de dentro dela, era a mais corajosa, a mais destemida, era uma espécie de heroína para a Hardie, e depois de muita insistência de Hardie, Saffra havia resolvido ensiná-la a lançar dardos, e para Hardie seria algo ótimo. E havia uma característica em Saffra que a tornava mais especial, quando ela era pequena havia caído na lareira e teve o corpo queimado, agora ela exibia uma cicatriz, uma mancha em sua pele e todos chamavam ela de Beijada pelo Fogo. Para Hardie era um apelido que dizia muita coisa.

Além de Saffra, Hardie tinha ainda outros dois irmãos mais velhos. Um deles era Aloe, a segunda mais velha, Aloe era gentil e dócil, uma verdadeira cópia da mãe, não havia muito o que dizer dela, apenas que Aloe estava sempre disposta a ajudar no que fosse necessário. Hardie preferia Saffra, mas gostava de Aloe, afinal possuíam o mesmo sangue, mesmo que o de Hardie fosse envenenando pelo vírus. Aloe era como uma bonequinha de porcelana, a quem todos queriam bem. Seu outro irmão era Narciso, assim como a lenda grega, Narciso era um rapaz belo que atraía a atenção de todas as mulheres. Ele era uma mescla entre Saffra e Aloe, rebelde e gentil, no entanto, a atenção especial que ele recebia do lado feminino do distrito o tornou um tanto arrogante, mas para Hardie ele era um meio termo suportável.

A chuva começou a cair pesadamente lá fora, Hardie rastejou para debaixo de suas cobertas e fechou os olhos, o sono e o cansaço lhe atingiam como se colocassem sobre ela um fardo extremamente pesado. A lembrança do cadáver que ela inutilmente tentara reviver e dos seus colegas a torturando tomou sua mente. Bando de desgraçados. Queria vê-los todos mortos. Fechou os olhos e adormeceu quase que automaticamente.

De súbito ela viu-se numa planície devastado. Usava um vestido vermelho como sangue que parecia ofuscar a luz do sol alaranjado que se encontrava no céu. Cinquenta e uma pessoas mascaradas e usando coroas vermelhas se ajoelharam diante dela jogando suas coroas em sua direção, ela começou a andar por um tapete vermelho em direção a um trono brilhante. Ela sentou-se triunfante, uma das pessoas aproximou-se lentamente dela colocando uma coroa de rubis em sua cabeça e lhe entregando um cetro dourado.

De repente todas as pessoas explodiram em sangue, formando uma poça gigantesca, o sangue respingou em todo o seu corpo e em seu vestido. Ela viu que o trono mudaram de forma, era agora feito de diversos crânios, a paisagem se destruía aos poucos enquanto seu nome era aclamado. Ela sorriu maleficamente e acenava para o vazio, não sabia mais distinguir o sonho da realidade. Uma névoa avermelhada a envolveu e suspendeu-a aos céus enquanto toda a paisagem se desfazia. Sangue jorrava do seu trono. Foi então que ela entendeu, ela não tinha o sangue envenenado, seu sangue estava destinado a realeza. Era uma princesa vermelha sentada num trono de ossos e de sangue.

Hardie Lavander- The Red Princess

(A Princesa Vermelha)


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Notas finais do capítulo

Então pessoas, espero que tenham gostado dela e do capítulo em si, teremos mais em breve, posso não postar com muita frequência, pois estou nas semanas finais das provas e não tenho muito tempo no pc, portanto não me julguem se eu demorar ok? Kisses!