Hunger Games Mockingjay III- Survive (Interativa) escrita por White Rabbit, Maegor, Brenno


Capítulo 12
Capítulo 10- Sorte não Existe


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, desculpem a demora, mas peço que perdoem, peço que perdoem qualquer erro que apareça, e tenham uma boa leitura, beijos!!



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Fiona e Noelia Rocco

“Duas almas com um só pensamento, dois corações que batem como um só” - Friedrich H. Ingomar

Double Rainbow- Katy Perry

O prefeito abriu a porta num solavanco, apesar dos esforços de tentarem segurá-lo de fora, e o homem desabou em lágrimas ao ver o estado em que sua mulher se encontrava. Magra, pálida, os olhos enevoados e perdidos num ponto qualquer, estava com certeza a beira da morte. A empregada apenas passava um pano úmido na testa da mulher com um olhar visivelmente preocupado. Todos naquela sala sabiam do destino de Celita, naquele estado ela não conseguiria sobreviver. A passos curtos o homem aproximou-se, pegou a mão da esposa e segurou-a com força.

Ajoelhou-se junto a cama enquanto as lágrimas caíam silenciosas, a mulher olhou para ele docemente, seus lábios abriram-se num sorriso fraco, a mulher sibilou alguma coisa que ninguém conseguiu ouvir, mas o homem entendeu muito bem o que queria dizer. E logo depois de fechar os olhos a mulher partiu. O prefeito levantou-se enxugando as lágrimas que teimosamente ainda escorriam.

– Onde elas estão? – ele falou rudemente, a empregada apenas engoliu em seco sem dizer nada- eu perguntei onde elas estão?

– Senhor, não sei se seria bom para o senhor vê-las agora, os remédios que a senhora tomava, eles...

– Não quero saber, onde estão minhas filhas?

A mulher apontou para o pequeno berço no quarto, o homem andou até ele lentamente, olhando para dentro do berço com cuidado. Arregalou os olhos de surpresa, respirou fundo e continuou a olhar as suas duas filhas, não poderia acreditar, mas ainda assim iria amá-las e cuidar delas, pois foi a promessa que fizera a sua esposa.

° ° °

Levou a xícara de chá aos lábios, sentindo o gosto quente e revigorante de erva doce, bebericou um pouco antes de devolvê-la ao pires, encarando todos que estavam na sala. Os empregados, polidos e bem vestidos, parados como estátuas humanas como soldados esperando as ordens de seu general. Noelia é claro não entendia porque existiam duas classes tão distintas de pessoas: as que serviam e as que eram servidas. Talvez o ser humano já estivesse acostumado com essa divisão, como se algumas pessoas fossem naturalmente superiores a outras, mas ela acreditava que fora tão somente a sorte que lhe fora adversa.

– Vamos sair ao jardim hoje? – a voz meiga de Fiona a retirou de seus pensamentos.

– Sim, acho que podemos ir, que tal a tarde? Está muito quente agora pela manhã.

– Amanhã é a colheita não é mesmo? Acho que será a primeira vez que iremos- Fiona sibilou enquanto mordia uma torrada- chego a sentir um frio no estômago.

Noeli deu um pequeno riso enquanto voltava a bebericar o chá. Sim, a colheita, a tão famigerada colheita que assombrava todos os adolescentes do distrito 8. Ela sabia muito bem qual era o destino dos sorteados daquele distrito, nenhum deles voltava, nenhum. Morriam cruelmente na arena, sem que ninguém pudesse salvá-los do seu destino tão terrível. A sorte nunca esteve ao favor de nenhum deles. Ela sabia o que eram os jogos, seu pai as fazia assistir todos os anos, mas ela nunca fora a uma colheita e por um simples motivo.

Todos os anos sorteava-se uma única garota, mas apesar de ser uma garota só. Noelia e Fiona compartilhavam o mesmo corpo, eram gêmeas siamesas, coladas por toda a vida, mas não pense que elas se entristeciam por isso, é claro que serem quase que totalmente coladas- era como se fossem um ser humano de duas cabeças- elas tinham certas limitações, mas isso não era problema, pois para as duas estar coladas uma a outra era um verdadeiro privilégio, era como duas almas dividindo o mesmo plano, dois corações batendo e pulsando no mesmo lugar como numa sintonia eterna, e uma não conseguia fazer nada sem a outra.

É claro que as pessoas do distrito não entendiam, eram ignorantes demais para compreender a beleza de que era dividir o seu corpo com outra pessoa apesar de todas as dificuldades. E comentários como “a filha de duas cabeças do prefeito” não eram tratados por elas como pejorativos. É claro que em certos momentos, ter um corpo só seu seria muito mais prático, mas elas se contentavam apenas por poderem viver uma ao lado da outra por toda a eternidade.

Noelia correu os olhos pelo cômodo, vendo uma das empregadas colocar diante dela uma grande tigela cheia de uma substância roxa e tremulante que ela entendeu ser gelatina de amoras, Fiona serviu-se de um pouco daquela gelatina, mas a fome de Noelia já havia indo embora a muito tempo. Olhou para a parede do local, que ostentava um grande quadro, um retrato da mãe das meninas. A mulher estava sentada em uma poltrona vermelha, ostentando um vestido caríssimo e sorrindo de forma meiga e gentil, os olhos vívidos da mulher pareciam querer enxergar um ponto qualquer no espaço, como se ela própria já soubesse o seu futuro. A mãe delas havia morrido durante o parto, os remédios que tomara durante a gestação foram os causadores da má formação dos fetos, talvez a pobre Celita nunca tivera paz na vida. O que Noelia sabia dela era que fora uma mulher maravilhosa que ajudou a população do distrito a ter uma vida melhor, que havia projetado creches e hospitais, reformado casas e escolas, e que durante o tempo em que estivera viva fora uma verdadeira mártir para eles, uma fada que veio abençoar suas vidas.

Passos duros ecoavam pelo corredor, Noelia conhecia aqueles passos, era seu pai sem dúvida. O homem atravessou o cômodo, lançando um sorriso meigo as filhas que retribuíram enquanto o mesmo puxava uma das cadeiras sentando-se e ajeitando a gravata de seda vermelha. Serviu-se de café e algumas torradas e comeu em silêncio por alguns minutos antes de finalmente dizer:

– Sabem que hoje terão que ir para a colheita não é? – a voz ríspida e grave do homem era o suficiente para entender que ele estava temeroso pelas duas- mas peço que não se preocupem.

– Não estamos preocupadas- respondeu Fiona, Noelia apenas continuava a encarar o pai- sabemos que não existem muitas chances de sermos sorteadas, nosso nome vai estar lá uma vez só não é?

O homem acenou afirmativamente, mas algo em seu olhar dizia o contrário. Como se o homem temesse perder ambas as filhas para a Capital, justo ele que desde sempre apoiara as ideias deles. Noelia entendia o quanto pai estava preocupado, ela própria sabia que se fosse sorteada, teria que levar a irmã junto e que as duas não teriam muitas chances de sobreviver a uma arena. Estaremos coladas por quase todo o corpo era a maior dificuldade, por mais habilidades físicas que tivessem desenvolvido, comparados aos outros jovens elas estariam em desvantagem, mas é claro que não falavam dos jovens desnutridos do distrito oito, mas principalmente daqueles que treinavam e se preparavam para aquilo a vida inteira.

Depois de comer em silêncio o pai das duas levantou-se e foi até elas, beijando-as na testa carinhosamente, primeiro Fiona e depois Noelia, sorriu para as duas antes de finalmente deixar a sala. Noelia respirou fundo, antes de beber mais uns goles do seu chá de ervas, antes de dizer para Fiona:

– Isso me pareceu uma despedida.

A outra apenas piscou algumas vezes, enquanto encarava o chão por um tempo. Apesar de todas as dificuldades, elas nunca viram o pai tão frio, tão distante quanto estava naquela manhã. Seria realmente uma despedida? Seria realmente um pressentimento paterno? Ou era apenas uma sensação estranha que costumava aparecer de vez em quando?

° ° °

O jardim era de longe o melhor local da casa, pelo menos na opinião de Fiona. Haviam margaridas, rosas, girassóis, lírios, uma infinidade de flores que formavam um colorido gigantesco e confuso que maravilhava qualquer um que aparecesse. E ficar ali dava uma sensação de tranquilidade, ficar olhando para aquele mar de cores e aromas em meio a brisa fresca da tarde, isso com certeza era algo que nunca queria deixar de sentir.

Ela pegou uma flor próxima a si, uma flor pequena e de pétalas arroxeadas que ela não lembrava o nome, e ficou observando aquela flor minúscula por alguns segundos antes de perceber que um broto estava anexado ao seu caule, como se fossem duas flores em uma só. Fiona deu um pequeno sorrio enquanto olhava Noelia com o canto dos olhos, elas sempre foram muito unidas, não só fisicamente, mas sua união se tornara sentimental e espiritual, uma sempre sabia o que a outra estava pensando, uma sempre entendia a sua irmã como ninguém mais no mundo conseguiria, como se elas fossem um só.

– Essa flor é bonita não é? – Noelia apenas acenou afirmativamente enquanto acariciava as pétalas de uma das margaridas próximas- tão diferente. Qual será o nome?

– Não conheço, mas podemos procurar saber depois, acho que tem algum livro de botânica no escritório do papai.

– Queria treinar arremesso hoje à tarde, depois da colheita, só para passar o tempo.

– Tudo bem, podemos deixar o tricô para a noite- a voz de Noelia tinha um tom de desinteresse, e Fiona sabia que a irmã estava preocupada com outra coisa, mas nem precisou comentar nada pois a mesma logo adiantou- está com medo da colheita?

– Um pouco, acho que por ser a primeira colheita existe uma pressão muito grande. Mas é a primeira e última, não temos que ter medo.

– Sim, eu sei disso. Talvez o papai esteja apenas preocupado.

Fiona voltou sua atenção a flor, girando-a lentamente entre os dedos. Se fossem sorteadas não teriam chance, por mais que ela soubesse como usar facas e Noelia tivesse dedos ágeis para nós e afins, dependendo do bioma em que estivessem não teriam muitas chances. E apenas um venceria, então para que uma voltasse a outra teria de morrer. Fiona balançou a cabeça, porque estava pensando nisso? Elas não seriam sorteadas, nenhuma das duas, elas apenas voltariam para casa depois da colheita, treinariam arremesso e tricotariam depois. Seguiriam com sua rotina de todos os dias e com suas vidas tranquilas e feliz, uma ao lado da outra.

Ouviram o badalar dos sinos, elas teriam que se arrumar para a colheita ou iriam se atrasar, apesar de serem filhas do prefeito do distrito, as regras se aplicariam a elas do mesmo modo. “A Capital era implacável com todos” pensou. E deixaram o jardim lentamente, sentindo o aroma das flores, vendo as borboletas voarem de uma em uma em busca do precioso néctar, e uma sensação estranha percorreu seu corpo, uma sensação de que sua vida nunca mais seria a mesma e que aquele jardim talvez vivesse apenas em suas lembranças.

– Vamos meninas- a voz de Aranasi soou da cozinha- está na hora.

Aranasi era a babá mais antiga das meninas, uma mulher de cinquenta anos que as conhecia desde o seu nascimento, e havia cuidado delas desde então. Era uma mulher quieta e obediente mas uma boa pessoa e que tinha muita compaixão pelas garotas. Com certeza era uma mulher a quem todos queriam por perto graças a sua simpatia e uma aura que transmitia apenas tranquilidade.

Quando as duas entraram na cozinha, Aranasi sorriu para elas, enquanto limpava as mãos no avental, foi quando ela puxou uma sacola plástica e retirou de dentro dela um vestido novo. Era um vestido vermelho com desenhos de borboletas douradas que voavam em um jardim, era um vestido bonito, feito para as duas irmãs usarem:

– Costurei ontem a noite- ela falou sorridente- só pra vocês usarem hoje na colheita, e em outros eventos, já que não vão precisar mais dele depois de hoje.

– Será? – Noelia sibilou, e a mulher curvou-se como se não tivesse entendido o que ela tinha falado, Noelia apenas acenou negativamente.

Fiona engoliu em seco, sem saber ao certo o que a irmã temia, se era o fato do nome de umas das duas acabar sendo chamado naquela colheita, ou se era apenas a sensação estranha que o pai deixara durante o café. Ela preferia acreditar que era apenas uma sensação ruim, ansiedade por ser a primeira colheitas delas, pois tudo iria acabar bem.

° ° °

O burburinho das pessoas era gigantesco, as meninas conversavam temerosamente entre si, dizendo como estavam se sentindo com a colheita daquele ano, já que duas meninas seriam sorteadas. Fiona e Noelia apenas ficavam paradas em seus lugares, observando a multidão que se dispersava ao redor delas enquanto os pacificadores formavam linhas de defesa para que nenhum jovem fugisse dali. As duas correram os olhos pelo palco, vendo a imagem de seu pai acenar para as duas com um sorriso no rosto, mas ele mantinha os mesmos olhos enevoados e tristes, que tinha pela manhã.

A representante estava ali como sempre, alegre e saltitante, como a um leão esperando para ver quais seriam as novas presas do dia, exibindo os seus cabelos coloridos e um vestido vermelho vaporoso- a Capital tinha um senso de moda muito estranho- ela sorria mostrando os dentes brancos enquanto dava risinhos animados para os jovens. Nenhuma das duas escutou o que ela disse, apenas ficaram olhando para o seu pai, que mantinha a cabeça baixa por algum motivo.

Ouviram o som do hino de Panem, o mesmo vídeo que mostravam todos os anos recomeçara mais uma vez, o burburinho aumentou, todos aproveitavam aquele momento para conversar ou dizer os seus medos aos amigos, e não era de se espantar. O distrito 8 era um distrito que não oferecia nenhuma vantagem natural aos jovens, ninguém ali estava realmente preparado para uma competição de combate até a morte. O que um distrito que vivia de costuras iria proporcionar? Agulhas e tesouras eram sim armas, mas como encontra-las na arena? E como sobreviver sendo um jovem fraco e desnutrido como a maioria deles era? Era algo quase que impossível.

Porque sorte não era algo hereditário de quem vivia no distrito 8, se bem que ninguém em Panem tinha sorte, a sorte era apenas uma lenda contada para iludir os pobres corações de que um dia tudo iria melhorar, o que era uma completa mentira. A sorte não existia, a sorte era uma lenda, a sorte era irreal, nenhum deles tinha sorte em nada. Nem elas, nem seu pai, nem ninguém, eram todos um bando de azarados.

– Vamos ver agora, quais serão as nossas heroínas, que vão representar o distrito 8 nesta nova edição dos Jogos Vorazes- a representante ergueu a mão direita mostrando dois pequenos papéis que continham o nome das jovens mais azaradas do distrito- e vamos ver, oh, minha nossa. Acho que já temos as duas tributas, porque a sorteada foi Noelia Rocco.

Ambas as irmãs estremeceram. Não teria como apenas Noelia ir para os jogos, as duas teriam de ir, elas começaram a andar involuntariamente em meio a multidão, enquanto os pacificadores as rodeavam, ninguém as salvaria, nenhum jovem no distrito estava disposto a salvar as duas. Elas olharam para o pai que apenas derramava algumas lágrimas discretas. Sem saber ao certo o destino de suas filhas. E naquele momento o distrito murmurava se a filha de duas cabeças do prefeito iria voltar ali mais uma vez ou se seria apenas mais um dos sacrifícios dados anualmente a Capital.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, beijos e até o próximo :3



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