Do mesmo modo que as criaturas vieram, elas se foram. Foram sendo sugadas por um moinho, como se fosse um buraco negro de pequeno porte. Então, eu me vi na mais pura escuridão. Eu estava flutuando, minhas asas não estavam abertas, na verdade, nem sentia suas presenças. Estava sozinha.

Depois de um longo tempo que mais parecia uma eternidade, uma luz apareceu diante dos meus olhos. Era branca e quase me segava. "É isso. Estou morta. Esta é minha luz no final do túnel. Afinal, eu me enganara." Pensei comigo. Mas me enganei, outra vez. Através da luz, apareceu uma espécie de cruz, pequena e dourada, flutuando em minha direção. Eu estiquei meu braço direito para pegá-la e quando meus dedos encostaram nela, foi ai que eu me lembrei de tudo. De quem eu era, como vim parar na terra, quem eram Nick e os outros, e acima de tudo, Andrew. "Oh, como pude esquecer do meu grande amor!" Fui carregada através de minhas lembranças.

Fui transportada para o dia da Decisão, o qual todos os anjos escolheriam seu lado. Escolheriam entre Deus e Lúcifer. Eu me senti indecisa, aflita mas quando vi Andrew ao meu lado, a uma distância de cinco anjos, eu me tranquilizei, apenas por um segundo. Era a vez dele escolher. E ele escolheu Lúcifer. Aquilo partiu meu coração de tal forma que comecei a chorar e me senti trêmula. Errado. Tudo estava tremendo. O céu inteiro. Andrew foi o último anjo a tomar uma decisão e Deus cansado disso, mandou 1/3 da parte do céu com a Estrela do Alvorecer. Mas só que, eu e mais mil anjos, não tinham escolhido ninguém. Pelo menos ainda.

Eu me vi caindo. Depois, me vi totalmente quebrada, sangrando, atordoada demais, na terra. Descobri que meus pesadelos não eram só sonhos, e sim lembranças. O anjo que foi me acolher era Andrew, mas outro anjo caiu em cima de nós. Nick. Ela caiu ainda mais ferida. Nem sequer com uma pena inteira, estavam todas queimadas. Quando ficamos totalmente recuperados, Nick e Andrew seguiram rumo ao Sheol, a dimensão escura, junto ás legiões de Lúcifer. Andy ainda não me amava, pelo menos era o que eu achava e nem sabia que eu o queria, até então. Eu fiquei vagando por milênios, sozinha, vendo tudo e nada ao mesmo tempo. Até que recebi uma mensagem do próprio Arcanjo Gabriel. Eu e ele, éramos o braço esquerdo de Deus, já que o direito era a Estrela Traidora. Ele me alertou que Lúcifer queria entrar no céu novamente, para roubar o trono de Deus, mas era preciso de uma chave pra isso. Uma chave para entrar no céu. E eu era a portadora dela. No começo, quando cai, eu achei que era somente um presente de Deus, uma cruz dourada á toa, já que eu não havia dito nada, mas me enganei. Ele me deu apenas um desafio.

E um tempo depois, comecei a ser perseguida por todos os demônios existentes. E o mais poderoso deles, um dia me alcançou. E logo o que eu amava. Andrew. No começo, ele não foi piedoso, então eu também não fui. Consegui aliados: Ashley, Jinxx, Danielly e Davi. E ele fez o mesmo: Nick, Jake, Gabriela e Christian, sempre ia aonde Nick fosse, os dois se amavam. Um dia, Andy e eu, lutamos sozinhos. Eu não conseguia parar de chorar toda vez que eu ia pra cima dele. Ele cansado disso, me perguntou o motivo. Eu disse que o amava.

_ Então, que se dane Lúcifer. Não vou mais lutar com o anjo que amo.

Nos beijamos pela primeira vez. Esquecemos de todas as batalhas e nos unimos. Avisamos aos outros sobre nossas decisões, mas Ashley e Jinxx, não aceitaram e foram embora. Andrew disse a Lúcifer e este quase o mutilou, senão fosse á mim, transportando-me para o Sheol e tirando Andy de lá. Tudo isso com a chave. Ela obedecia somente a mim.

Lembrei de todas as batalhas que travei com meus aliados , sempre ao meu lado. Todos queriam a segurança da chave. Ashley e Jinxx voltaram até mim e Ash revelou porque não ficou comigo antes. Ciúmes. Ele me amava, mas eu só retribuía ao Andy. Então, fiz dele meu braço direito, deixando claro que meu coração era só de Andy. Até que um dia, na batalha mais perversa, aquelas criaturas me cercaram. Andy e os outros estavam imersos em suas batalhas, não podiam me ajudar. Os pequenos demônios eram milhares pra cada anjo ou demônio.

Essas bestas agarraram-me, arrancando minhas penas, cortando-me, mutilando aonde conseguiam encostar no meu corpo. Eu perdi totalmente o controle, a última coisa que fiz foi pegar a chave de meu pescoço e fincá-la no meu coração. Fui transportada para outra dimensão, a mais vazia e completa escuridão. E depois, veio a luz, sirenes de bombeiros e quando acordei finalmente, me vi num hospital com uma senhora ao meu lado. Minha avó, atualmente.

Eu abri os olhos e vi que ainda estava na dimensão vazia. A pequena cruz, estava na palma da minha mão. Eu a apertei entre os dedos e tudo a minha volta ficou turvo, como se o buraco negro tivesse voltado para me sugar.

...

_ CAROLYN!! - uma voz grave e distante dizia meu nome. Eu á reconhecia, mas não sabia de onde vinha.

O vento estava forte demais, contra meu corpo. Quando consegui abrir os olhos, vi que havia carros e eles estavam se aproximando de mim cada vez mais rápido. Errado. Era eu que aproximava. Estava caindo e nem tinha percebido até agora. Então me lembrei. Eu tinha estado no prédio de Andy, ele me levou até o terraço e eu, pela primeira vez em milênios, alcei voo, mas eu perdi o controle quando fiquei cega pelas lembranças.

Desesperada, abri minhas asas na tentativa de planar, mas não deu certo. Eu estava totalmente sem controle. Eu as encolhi em volta do meu corpo e virei meu corpo para ter total visão do céu. Não queria ver minha queda, principalmente machucar meus olhos. Comecei a gritar de angústia esperando pelo baque.

Mas ele não veio. Alguma coisa me segurava. Coisa não, alguém.

_ Shhh... Tá tudo bem. Eu te peguei. Agora, saia da concha docinho. - Andy me pegou, no último segundo.

Retirei minhas asas do meu corpo e vi que ele me levava de volta ao terraço. Eu olhei-o nos olhos. Ele parecia um pai com um bebê no colo de tanto cuidado que estava tendo comigo. Andy aterrissou bem de mansinho e colocou suas asas ao nosso redor. Elas tocaram nas minhas e a onda de prazer foi igual pra nós dois. Fechamos os olhos e sorrimos como duas crianças que ganham doces na hora errada e dia errado.

_ Andrew...

Ele parou de sorrir e abriu os olhos. Olhou-me analisando-me, meio apreensivo. Parece que a maneira que o chamei era de um jeito especial.

_ Carolyn... Você se lembra de mim?

_ Claro que sim! Bem, agora sim... Me lembro de tudo. Gostaria de me lembrar somente das partes boas, mas vejo que minha vida na terra se resume apenas a batalhas. E Andy, me coloca no chão pelo amor de Deus! - eu ri e ele fez o mesmo. Ainda desorientado, me colocou no chão de maneira desajeitada. Se não fosse minhas asas dando equilíbrio, eu teria vazado chão a fora. - Eiii! Calma ai!

_ Desculpe-me amor... Espera ai. Você se lembra mesmo? Tudo? Tudinho?

_ Sim. Me lembro sim seu demônio bobo! - eu ria da cara de bobo que ele fazia.

_ Oras, então se lembra que beijo muito bem e que sou ótimo na cama também. Quer dizer, no ar. Não precisamos de cama, não é mesmo docinho? - eu ria de chorar. Me enrosquei em seu pescoço e beijei-o. Ele retribui me envolvendo em seus braços.

_ ARGH! Nem eu e Chris conseguimos ser tão nojentos quanto vocês! Aff! Parem com isso!

Era Nick. Ela vinha voando com os outros. Suas asas eram negras também, mas as pontas eram violeta. As de Chris eram negras com potas esverdeadas. As de Jake tinham as pontas alaranjadas, como se tivessem pegando fogo. As de Gabee tinham pontas rosa-escuro. As de Dani eram brancas com pontas douradas. Ashley tinha pontas prateadas e Jinxx tinha pontas cinza-azulado. Todas as asas eram lindas. Percebi que minha cor favorita era vermelho porque meu bem mais precioso tinham as pontas dessa cor. Agora muita coisa em minha vida faz sentido.

_ Cala a boca Nickolina! - eu disse, falando o nome que ela mais detesta. Seu nome era Nickolly, mas lembro-me que eu e Andy gozávamos dela assim. Eu estava chorando de tanto rir. Todos pousaram e suas caras era de puro espanto.

_ O que? V-você se lembra disso? - disse ela.

_ Eiii! Eu me lembro de tudo agora! - eu era apenas risos. E ainda estava segurando o pescoço de Andy. Ele também não parava de rir.

_ Vamos pro meu apartamento, assim Carolyn nos conta como ela se lembrou. - disse Andy.

_ T-tudo bem. - Nick ainda estava assustada.

Soltei ele e começamos a caminhar em direção a porta de acesso ao terraço. Andy recolheu suas asas e eu fiz o mesmo. Em seguida, os outros fizeram o mesmo. O engraçado é que Jinxx diminuía seu tamanho quando fazia isso. Ele era menor que eu e tinhas olhos azuis. Estava com uma blusa branca com a estampa do Ramones (ah, eu me lembrava de coisas terráqueas também), calça preta e botas de cano médio. Seu cabelo estava de um corte estranho, todo repicado. Mas era ele, meu pequeno e confiável amigo Jinxx. Ele só não era menor que Davi. Ah, Davi!

_ Jinxx!

_ Oi?

_ Onde está Davi?

Ele me olhou com atenção. Seus olhinhos encheram d'água. E logo eu sabia a resposta.

_ Na nossa última batalha, quando você partiu, Davi não resistiu e foi morto pelas bestas. Eu sinto muito Carol...

Eu comecei a chorar. Cambaleei um pouco e Andy me segurou, mas eu tirei seus braços e passei pela porta em direção ao apartamento. Perdi um grande amigo e companheiro por causa dessa maldita chave.

Só me resta agradecer ao "bom" Deus.

...