Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 15
Motivações




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Sentei-me em baixo de uma das diversas árvores que se compunham parte da decoração do templo e fiquei observando o trabalho dos membros. Não sei quanto tempo levaram ao certo, mas demorou um pouco, pois o Sol já estava se pondo ao término da organização. Apesar de ter usado tal palavra, havia diversas coisas que apenas haviam sido jogadas em um canto para não atrapalhar a passagem alheia. Como eu imaginava, aquele grupo tinha sérios problemas com trabalho em equipe. Chegaram a brigar duas vezes enquanto eu estava presente e aposto que o fizeram mais vezes antes que eu chegasse. O engraçado mesmo foi ver o padre tentando separar os encrenqueiros enquanto escondia (seria melhor dizer “tentava esconder”) sua vergonha por causa da situação. Não achei algo necessário, uma vez que isso não era nem um pouco inesperado vindo daquelas pessoas.

Enfim, quase tudo estava em seu devido lugar e já podíamos considerar o dia como encerrado. Alguns dos membros voltaram para suas casas, mas a maioria ficou por lá. Como o templo originalmente deveria abrigar vários sacerdotes havia muitos quartos disponíveis. Nunca pensei que eles seriam úteis algum dia e fiquei feliz de tê-los limpado durante todo esse tempo (na verdade eu estava feliz por não ter limpado em vão). Todos se recolheram devido ao cansaço com exceção dos líderes. Sentamos dentro do salão onde ficava a espada de T’eemu para discutir o nosso futuro. Meus três companheiros estavam estranhamente tranquilos. Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas Roward logo começou a falar num tom determinado:

– Terminamos mais uma operação! Agora só nos resta decidir qual será a próxima.

– Sugiro que o próximo passo seja “lapidar” nossos membros. – disse Sayumi. – Esses idiotas não conseguem fazer uma simples mudança sem brigar. Se continuarem assim, não há como fazermos nada.

– Concordo com você, Sayumi. – disse. – O máximo que esse desempenho poderia fazer é causar uma rápida distração cômica nos inimigos. Mas isso é inútil contra fanáticos que não pensam por si só.

– Agora que vocês disseram, realmente parece algo perigoso. – disse Roward. – Nesse caso, será que eu poderia contar com vocês duas para consertar isso para nós?

– Não será nada fácil, mas com a Tsuya ao meu lado acho que será possível.

– Esperem um pouco... Achei que ela fosse uma comerciante ou algo do tipo.

– Na verdade eu sou. Mas antes de vir para essa cidade, eu era uma coronel do exército de Drakhus. Como o país não entra em guerra há séculos, fugi de lá e... Bem, aqui estou.

– Entendo... Ah! Isso me lembra de uma coisa. Vocês conhecem o suficiente da minha história para entenderem minhas motivações, mas eu não sei praticamente nada sobre vocês.

– Sério? – indagou Roward. – Ainda não conversamos sobre isso?

– Agora que ela disse isso... É verdade, não conversamos. – disse o padre.

– Por Deus! Então vamos corrigir logo esse erro!

– Tudo bem então... – disse.

– Vejamos... A Sayumi já está na metade do caminho, então... Continue! Diga qual o motivo de estar conosco.

– Não precisa gritar, seu hiperativo estranho. Enfim, minhas razões não são tão profundas quanto as suas, sacerdotisa. Cresci em uma família que por tradição sempre serviu à polícia. Então apenas tenho raiva de coisas que considero imorais.

– Oh... Então não somos muito diferentes.

– Quem sabe... Eu não conseguiria fazer o mesmo que você e continuar sendo uma sacerdotisa mesmo depois da Reforma Cética.

– Isso foi apenas questão de... Paciência.

– Duvido que tenha sido só isso, mas é um direito seu manter segredos.

– Fico feliz que você entenda.

– Bem! – exclamou Roward. – Agora... Padre! Agora é contigo!

– Oh... Tudo bem. Não sei por onde começar... Ah! Eu cresci em uma família muito religiosa e... Pobre. Mesmo nos tempos da ditadura, meu pai manteve sua fé e sempre agiu conforme os livros antigos diziam. Ele era uma ótima pessoa. Então quando cresci e a Igreja foi fundada, decidi me unir a eles. E... Infelizmente não demorou muito para que eu descobrisse que não havia nada de puro dentro dos Fallen Ones. Por sorte, Roward era um velho amigo e me apresentou à organização antes que eu me corrompesse.

– Acho que eu já esperava uma história similar. Então... Você criou essa organização faz tempo, hein Roward?

– Sim, mas demorou para que as pessoas entrassem nela. Ronmanoth foi o primeiro membro fixo.

– Espera... Então você entrou pra um grupo de um homem só?

– Pois é. Pude me distrair enquanto tentava fazer o grupo crescer.

– Oh... Entendo...

– De qualquer jeito, chegou a minha vez. Está na hora de contar para você a minha história e o motivo por trás da organização sem nome!

– Pare de enrolar e diga de uma vez. – disse Sayumi levemente irritada.

– Oh... Desculpem-me, acabei me empolgando. Enfim, eu apenas nasci em uma família normal e... Fiquei fascinado pela história dos Fallen Ones... Os “verdadeiros”. Antes de ser uma seita, eles eram uma organização rebelde que se opunha à ditadura militar instaurada aqui em Harvyre. Depois de alguns anos de luta, conseguiram acabar não só com a ditadura daqui, mas também com a de Cherland, nosso país vizinho que estava em guerra conosco há muito tempo. Os líderes da época até ganharam uma estátua que costumava ficar aqui em Olgden Ville, mas o pessoal da Igreja levou para a sede deles. Como eu adorava aquele pessoal, passei a estudar sobre eles e... Admito que fiquei feliz com a criação da seita, mas... Como eu nunca parei de pesquisar, descobri rapidamente o que estava acontecendo e decidi criar esta organização. Infelizmente pouca gente acreditou no que eu dizia... Aliás, continua assim até hoje. Mas não desistirei! Se os Fallen Ones do passado conseguiram a paz em dois países, então nós conseguiremos reverter a nossa situação!

– Heh. Uma história digna de um ser estranho e inquieto como você. – disse. – Agora me sinto um pouco melhor. Sabia que estávamos nos esquecendo de algo, mas nem parei para pensar nisso direito.

– Eu que o diga. – disse Roward. – Esses últimos meses pode ser resumidos em uma palavra: correria. Principalmente depois que você se juntou ao “bando”.

– Se eu fosse você não reclamaria ainda. – disse Sayumi. – Não sei se entende a nossa situação atual, mas, indiferente de todo o nosso esforço no passado, o que virá será pior.

– Com certeza. Se eles foram ousados o suficiente para matar todas aquelas pessoas por causa de curtas “aulas de História”, então não há como prever a reação da Igreja ao descobrir sobre esta organização.

– É... Eu sei que as coisas vão complicar ainda mais a partir de agora. – disse Roward um pouco desanimado. – Só queria reclamar um pouco para descontrair.

– Bem, parece que ainda não descobriram nada sobre nós. – disse o padre. – Pelo o que ouvi na igreja, eles acham que você está trabalhando sozinha.

– Isso é, em parte, culpa deles. – disse. – Mataram todas as testemunhas que poderiam lhes dar alguma pista.

– Então parece que poderemos respirar um pouco... – disse Sayumi. – Mesmo assim não devemos baixar nossa guarda. Contaremos com você para nos manter informados Ronmanoth.

– Podem ficar tranquilos. A partir de amanhã tentarei me relacionar melhor com os outros padres e bispos.

– Ah! – exclamei. – O que o padre acabou de dizer me lembrou de algo muito importante. Todos deveriam voltar à viver normalmente por algum tempo antes de se mudarem de vez para cá.

– Não se preocupe! – disse Roward com sua determinação habitual. – Todos já estamos preparados para uma situação assim. Eu viajei há uma semana para visitar o túmulo dos meus avós e sofri um acidente no caminho.

– Eu não estava lucrando o suficiente há bastante tempo e venho me queixando disso com os clientes desde uns meses atrás. – disse Sayumi. – Logo, não seria uma surpresa que eu me mudasse repentinamente. O único que não tem um “álibi” é o Ronmanoth. Mas precisamos dele atrás das linhas inimigas.

– Oh... O resto do grupo é tão desorganizado que às vezes eu me esqueço do quanto vocês são aplicados. Desculpem-me.

– Não há motivo para um pedido de desculpas. – disse Roward. – Somos todos adultos e sabemos que é normal se enganar de vez em quando. Enfim, o que importa agora é nos concentrarmos em treinar esse pessoal. Quer dizer, vocês têm que se concentrar nisso. Amanhã mesmo sairei atrás de novos colaboradores e, quem sabe, equipamentos. Ronmanoth! Conto com você para extrair cada gota de informação que aqueles porcos tiverem para oferecer. E com isso declaro essa reunião como encerrada!

Todos foram para seus respectivos quartos no mesmo momento. Acredito que o cansaço, mesmo que apenas mental, vencera meus companheiros naquele dia. Não deve ter sido nada fácil fazer com que aqueles membros incompetentes ajeitassem tudo em apenas um dia. Tudo bem que nem tudo estava em seu lugar, como eu disse anteriormente. Mas mesmo a execução de um trabalho incompleto como esse era um grande feito. Enfim, deitei-me para poder descansar porque mesmo que eu não estivesse cansada física ou mentalmente, meu emocional estava terrivelmente abalado. Aquela era a primeira vez que decidi encarar uma despedida com alguém muito importante para mim e eu estava orgulhosa disso. É claro que havia certos “efeitos colaterais”, mas no fundo eu sabia que aquela era a melhor escolha a se fazer.

Demorei muito para pegar no sono e acabei acordando mais tarde do que estava acostumada. Levantei-me um pouco desnorteada e sai dos meus aposentos. Lá fora, encontrei Sayumi gritando com todos os outros membros presentes. Alguns pareciam estar vestindo pijamas, o que indicava que ela havia acordado eles. Notei também que os outros dois líderes já haviam saído e me senti envergonhada por não ter levantado cedo. Voltei rapidamente ao meu quarto e troquei minhas roupas. Coloquei novamente a fita em meu cabelo e me juntei a Sayumi no que aparentava ser um treino matinal. Aquela cena acabou virando uma rotina e felizmente aparentava estar funcionando. Assim foram as seguintes semanas. Cheias de gritos, suor, discussões e resultados razoavelmente satisfatórios. Porém, meus instintos me diziam que aquilo era apenas a calmaria antes da tempestade... E no fundo eu sabia que eles estavam certos, mesmo desejando o contrário com todas as minhas forças.


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Notas finais do capítulo

Acabei esse capítulo mais cedo do que eu imaginava (o que é uma boa coisa) =D
Sò tenho a dizer duas coisas sobre os próximos capítulos: tretas e sanguinho >:3
Enfim... Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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