Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 12
O começo da queda


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo... Desejo a todos os meus leitores um Feliz Natal com altas comilanças marotas e diversos presentes daorudos =D



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Estava tão perdida nos meus pensamentos que quando me dei conta já estava em frente à casa da Ruby. Olhei para o céu para checar se o horário era aceitável para uma visita e ainda não havia escurecido, porém o Sol estava quase se pondo. Parei por alguns segundos para admirar a cor alaranjada que podia ser vista por algumas frestas nas inúmeras nuvens que coloriam o céu de cinza claro, quase branco. Para a alegria de apreciadores da natureza como eu, havia um grande “buraco” entre essas nuvens com o Sol dissipando seus raios alaranjados em seu centro, transmitindo uma sensação mista e contrastante de melancolia e alegria. Isso me fez refletir e notei que paisagens como aquela eram cada vez mais raras, mesmo na floresta. Isso deveria ser por causa da fumaça exalada por aquelas grandes fábricas da cidade. Tal pensamento foi decisivo na escolha entre as sensações proporcionadas pelo grande astro no céu... A melancolia. Senti um leve aperto no peito e voltei meu olhar para o portão da casa, virando as costas para aquela vista que já não me passava pensamentos bons.

Pensei em bater palmas para chamar a atenção de quem estivesse na casa, mas logo desisti porque isso poderia acabar incomodando os vizinhos. Eu não queria atrapalhar ninguém, então comecei a pensar em como faria para falar com a Ruby... Sem sucesso algum. Por algum motivo desconhecido, minha mente ficou vazia e não pude pensar em nenhuma solução decente. Quando algo me vinha à mente ou estava relacionado à experiência que acabara de ter como “professora” de história ou com os Fallen Ones. Isso foi extremamente frustrante e quase desisti. Mas, para a minha sorte, a porta se abriu e Jim saiu olhando concentrado para um pequeno objeto em sua mão. Ele abrir o portão e só me notou quando ia fechá-lo. O garoto se espantou e ficou me encarando em silêncio, então decidi me pronunciar:

– Boa tarde, jovem.

– O-oh... Tsuya? O que faz aqui?

– Apenas vim fazer uma visita à sua irmã.

– Ah... Ela realmente falou sobre ter te pedido algo do tipo. Mas eu pensei que nunca mais a veria de novo.

– Sou uma mulher de palavra. Pode ter demorado, mas aqui estou.

– Não foi bem isso o que eu quis dizer. É que você resolveu tretar com os Fallen Ones. Pensei que estaria ocupada com isso.

– Oh... Entendo. Desculpe-me por ter sido rude.

– Anh? Não foi nada de mais. Pode ficar tranquila.

– Entendo... Bem, voltando ao assunto eu realmente ando ocupada com isso. Mas apenas um dia por semana.

– Só isso? Achei que eles já estavam te incomodando. Aquele lance na igreja deu uma grande repercussão na TV.

– TV?

– Ah... Sempre que falo com você me esqueço de que não entende nada sobre a tecnologia atual. É aquela caixa preta com uma tela onde várias imagens em movimento passam.

– Ah! A televisão? Ruby me falou sobre isso quando dormi aqui.

– Exatamente. TV é apenas uma abreviação que usamos. É mais fácil falar assim.

– Entendo... É como um apelido.

– Sim. Enfim... A minha pequena e implicante irmã está lá dentro fazendo biscoitos com nossa mãe. Pode entrar.

– Oh... Obrigada.

Ele saiu da frente do portão e eu adentrei o terreno, mas quando coloquei a mão na maçaneta da porta, fui interrompida pelo garoto:

–Hey!

– O que foi? – disse virando meu rosto para ele.

– Você... Está naquela organização que o padre mencionou, não está?

– Talvez. Por que a pergunta?

– Eu... Também estou cansado do jeito como as coisas estão... Cansado de sofrer preconceito... Cansado de mentir sobre minha falta de crenças... Cansado de ser perseguido por causa disso... Cansado de tudo!

Jim pronunciou aquelas palavras com muito pesar e olhou para baixo o tempo todo enquanto cerrava seus punhos com força. Era a primeira vez que o via expondo seus sentimentos, o que considerei um avanço para o garoto. Eu podia entender que não era fácil para ele dizer tudo aquilo, ainda mais para uma pessoa tão diferente dele como eu, o que me fez mudar um pouco minha visão sobre o jovem e apenas o observei atenta e silenciosamente.

Depois daquilo, suas palavras cessaram e esperei por alguns segundos antes de pensar em dizer algo. Aquela pausa garantia que ele não diria mais nada e que eu estava liberada para mostrar minha opinião, então assim o fiz:

– Entendo como se sente. Afinal, passei por algo muito parecido durante a Reforma Cética. Mas não acredito que você simplesmente quis desabafar com uma estranha como eu. O que você almeja com este discurso?

Mais uma pausa foi estabelecida em nosso diálogo. Ele provavelmente precisava de tempo para conseguir colocar as palavras para fora. O pouco tempo que passei com ele foi o suficiente para saber que era uma pessoa orgulhosa. E como ele era um cético e eu uma sacerdotisa, aquela conversa requeria que ele sacrificasse boa parte de seu orgulho. No fim, ele acabou conseguindo forças e falou o que queria, porém sem me olhar nos olhos:

– Bem... Eu... Estava pensando... Se eu poderia me juntar a vocês.

– Antes de tudo, gostaria que prometesse que não interpretasse mal o que estou prestes a dizer.

– Anh? Como assim?

– Apenas prometa.

– Tudo bem... Eu prometo.

– Bem, eu entendo sua revolta, pois possuo um sentimento parecido em meu peito neste exato momento. Mas não posso concordar com seu envolvimento.

– O quê? Por quê?

– Você é muito jovem.

– Mas isso não quer dizer nada, droga!

– Claro que sim. Jim, você ainda tem muito o que viver e sabe muito bem que estamos fazendo algo muito perigoso.

– Eu sei, mas...

– Sem falar que... Como você acha que seus pais reagiriam ao saber disso?

– Eles... Não precisam saber...

– E quanto a sua irmã? Sem você, quem cuidará dela na ausência de seus pais?

– Ela... Sabe se virar sozinha...

– Não se esqueça de que seu envolvimento é perigoso não apenas para você, mas também para a sua família. Conseguiria viver se algo acontecesse a eles por causa disso?

– Eu... Não Sei... Eu... Apenas quero... Mudar isso...

– Então confie este trabalho para mim e o resto da organização. Tem a minha palavra que farei o possível e o impossível para mudar a situação atual.

– Eu...

– Entenda jovem. Eu sei que sei coração anseia a batalha, mas este nem sempre é o melhor caminho. Deixe a guerra para aqueles que não têm escolha a não ser lutar. Deixe isso para mim.

– Eu... Tudo bem...

Ele virou-se e saiu andando cabisbaixo. Meus olhos o acompanharam até ele sumir de minha vista. Fiquei parada por algum tempo refletindo sobre o que acabara de acontecer, mas logo voltei a mim, abri a porta e entrei. A pequena estava na cozinha com sua mãe comendo os tais biscoitos e, assim que me viu, largou tudo e veio correndo em minha direção. Firmei meus pés, abri meus braços e me preparei para o impacto:

– Tia Tsuya!

A garota pulou em mim, me abraçando com força e apenas pude retribuir o gesto de carinho. A mãe dela me olhou surpresa e coçou a cabeça. Provavelmente estava imaginando como eu tinha entrado no local. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Ruby voltou seu rosto para mim com um largo sorriso, olhos marejados e começou a falar:

– Como andam as coisas? Você entrou para a aquele grupo? Tem comido direitinho? Viu algum animal selvagem? Por que demorou tanto?

– Eu...

– O Jim falou que você não ia voltar, mas eu sabia que você viria!

– Com certeza, mas quanto às...

– Como você entrou aqui? Aposto que foi o meu irmão idiota que abriu pra você.

– Sim, eu o encontrei...

– Ele foi malvado com você? Idiota ele é naturalmente, mas... Ele te tratou mal?

– Não, na verdade ele...

– Ah! Eu vi você na Televisão! Aquele negócio eu você fez na igreja foi muito legal! Cortaram a parte dos tiros, mas e sei que aconteceu alguma coisa porque eu ouvi o barulho aquele dia.

– Bem, na verdade o que aconteceu foi...

– Você deve estar cansada! Quer comer alguma coisa? Nós acabamos de fazer biscoitos! Mamãe costuma fazer eles, mas como fui eu que fiz estão um pouco queimados. Ah! Esses dias...

A mãe dela tapou sua boca e a pequena me largou.

– Peço desculpas pela minha filha, mas ela estava tão ansiosa por sua visita que... Bem... Ela fica assim quando...

– Não precisa se desculpar nem explicar. Eu entendo.

– Ah! Que bom. Bem... Vou liberar a boca dela e... Bem... Sinta-se à vontade.

A mãe tirou a mão da boca da garota, que ficou em silêncio. Depois saiu da cozinha e deixou apenas Ruby e eu ali. Ficamos apenas nos encarando por algum tempo e depois começamos a conversar. Contei para ela que havia me juntado à organização sem nome, que estava sendo uma “professora”, que faria aquilo uma vez por semana e que aproveitaria a oportunidade para visita-la. Omiti minha conversa com Jim, pois imaginei que ele não gostaria que aquilo fosse revelado, ainda mais para sua família. Já ele me contou sobre coisas que aconteceram na escola, explicou como foi minha aparição na televisão e depois me mostrou uma “gravação” usando coisas estranhas como... Computador e uma tal de Rede de Conexão Global. Isso levou um bom tempo e acabei saindo depois do jantar. É claro que eu não comi nada. Apenas fiquei observando-os. A essa altura o pai dela já estava em casa e os três comeram juntos na mesa. Ao fim da refeição, esperei um pouco e saí de lá. Já era de noite e Jim não chegou enquanto eu estava lá.

Depois disso fui diretamente para o templo, tomei um belo banho e dormi. E com isso duas semanas muito parecidas se passaram. O transcorrer do tempo diminuiu um pouco, pois comecei a preparar o que iria contar para o povo durante meu tempo livre. Porém não foi nada muito significativo, pois dois dias eram o suficiente para acertar tudo. Enfim, acabei contando sobre como funcionava a relação entre os espíritos elevados e os humanos em uma semana e as consequências da Reforma Cética e a criação dos Fallen Ones na outra. Este último tópico foi extremamente polêmico e gerou uma grande discussão (já que a plateia aumentou consideravelmente desde a primeira “aula”) que acabou me impedindo de visitar Ruby. Eu o fiz no dia seguinte, pois não queria perder o hábito.

A terceira semana não foi muito diferente, tirando o fato de eu ter visitado a pequena no primeiro dia ao invés do último, e o dia da “reunião” chegou rapidamente. Eu havia preparado uma “aula” sobre como foram os primeiros contatos entre os espíritos e os humanos, algo que me fora ensinado por T’eemu. Desta vez cerca de cinquenta pessoas ou mais compunham a plateia, o que aumentava a responsabilidade sobre meus ombros. É claro que não deixei isto me abalar, pois já estava me acostumando a ser oradora. Então rapidamente comecei a introdução sobre o tema:

– Boa tarde a todos. Para aqueles que ainda não me conhecem, meu nome é Tsuya. Sou uma sacerdotisa e venho aqui todos os domingos contar como as coisas realmente aconteceram no passado. É claro que cabe a vocês acreditar ou não em mim. Uma vez que não tenho provas concretas de que o que falo é verdade. Apenas peço para que façam silêncio enquanto falo e deixem as perguntas e críticas para o final... Ou levantem o braço.

Como sempre, dei uma breve pausa antes de começar a falar. Notei que eles sempre comentavam algumas coisas no começo, então essa pausa evitava que me atrapalhassem. Naquele dia nem Roward ou Sayumi estavam presentes. Eles me disseram que tinha ido atrás de novos equipamentos para a organização. Enfim, quando todos se calaram e eu estava prestes a começar meu discurso... Ouvi um barulho muito alto vindo do meio da plateia, seguido de uma gritaria caótica. Todas as pessoas da plateia começaram a correr em diversas direções e eu senti uma familiar e leve queimação na barriga. Era óbvio que eu havia sido atingida por uma arma de fogo. Olhei ao redor e notei várias pessoas vestidas com “armaduras” brancas que não pareciam serem feitas de metal, mas sim de um tecido resistente. Eles usavam máscaras e havia vários símbolos vermelhos espalhados por suas vestes. Todos estavam armados e nos cercavam apontando tais armas para nós. Suspirei profundamente, retirei o projétil de minha barriga e olhei diretamente para a arquibancada, onde um homem com uma arma na mão esquerda me encarava com um sorriso sádico no rosto. Meus instintos que nunca me enganaram antes se pronunciavam... Estava na hora de matar.


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Notas finais do capítulo

Acabei me animando e achando um tempo livre e... Aqui está mais um capítulo que não poderia estar mais fresco =D
As coisas começaram a dar merda no finalzinho e no próximo capítulo... terá "sanguinho"! xD
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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