Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 11
Reconstruindo a verdade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562780/chapter/11

Depois daquela curta reunião voltei para meu templo e comecei a me preparar para repousar enquanto um terrível conflito de ideais acontecia dentro de minha mente. Por um lado, eu deveria ser contra qualquer tipo de violência e apenas a utilizar quando for o último recurso. E era mais do que óbvio que eu acabaria quebrando tal doutrina ao me aliar à “organização sem nome de oposição à Igreja”. Mas por outro lado, deixar tudo do jeito que estava era contra tudo o que eu acreditava. Sabia que não conseguiria ficar em paz espiritual sabendo que uma versão invertida da Reforma Cética estava prestes a acontecer

Tal batalha de ideais me incomodou até o amanhecer e levou minha noite de sono como troféu. Aliás, seria um erro dizer que isto terminou ao amanhecer, pois levei esses pensamentos comigo até um banho matinal, no intuito de resolver de vez o que faria. Isso se deve ao fato de que sempre fiquei mais relaxada ao me banhar, principalmente em águas termais como aquelas. Tal “ritual” demorou bastante, pois o Sol indicava que já havia passado do meio dia quando voltei ao templo. Perdi momentos que poderia ter usado para limpar o local, mas pelo menos consegui me decidir: não havia como fingir que nada estava acontecendo e simplesmente abandonar a sociedade.

Foi uma decisão muito difícil de ser tomada, pois tive que desistir de alguns valores por ela. É claro que isso só foi possível, pois a outra opção sacrificaria mais valores ainda, o que não me parecia nada agradável. Enfim, o resto da semana foi normal... A não ser é claro, por alguns momentos de reflexão sobre o que eu diria no primeiro dia da operação “Reconstruindo a Verdade”. No final, o tempo passou e antes que eu notasse meu “guia” estava nas escadarias do templo. Desta vez suas roupas não estavam rasgadas, o que indica que ele utilizou o caminho ensinado por mim, mas isso não é importante. Fechei as instalações e segui com ele rumo ao local onde eu teria que me passar por “contadora de histórias”. Até então tudo bem, certo? Errado! Eu não tinha a mínima ideia do que dizer àqueles que viessem me escutar... Isso se realmente viesse alguém.

Meu coração acelerava à medida que o guia dizia que estávamos mais próximos. Sensação esta que me fazia lembrar das minhas antigas missões como assassina... Era a mesma tensão e o receio do desconhecido. É claro que, assim como nos velhos tempos, isso não era o suficiente para me fazer recuar. Então fiz o possível para manter a postura e segui de cabeça erguida até chegarmos ao nosso destino. O “guia” foi embora e me deixou lá, mais nervosa do que deveria estar. O local era uma praça, onde havia um pequeno palanque e algumas cadeiras à frente do mesmo. Roward e Sayumi me esperavam entre as cadeiras e o palanque e... Para minha infelicidade, todos os lugares (uns vinte e alguma coisa) estavam ocupados, em sua maioria por crianças. Um frio percorreu toda a minha coluna e fez com que minha postura se desestabilizasse um pouco, mas logo me recompus e fui até meus dois companheiros, que me esperavam sorrindo:

– Olá, jovens.

– Bom dia, senhorita sacerdotisa! – disse Roward com uma empolgação assustadora.

– Olá, Tsuya. – disse Sayumi. – E o correto seria “boa tarde”, afinal já passou das duas da tarde.

– Isso não importa. Pra mim, um “bom dia” é muito mais acolhedor do que qualquer outro cumprimento.

– Se é o que você diz...

– Bem... – disse. – O que acontecerá agora?

– Direta, não? – perguntou Roward. – Gosto do seu jeito.

– Obrigada... Eu acho...

– Será bastante simples: você sobe no palanque, diz o que tem que dizer, a plateia te ouve e... Pronto! Poderemos encerrar por hoje.

– Simples assim?

– Exatamente! Gosto da ideia de se trabalhar com planos simples, pois foi isso que alavancou os Fallen Ones quando tentaram derrubar a ditadura militar.

– Ditadura?

– Oh, me desculpe. A história é meio longa, então acho melhor deixar para uma outra ocasião.

– Bem... Por mim, tudo bem.

– Então o que estamos esperando? Faça seu show!

– E-está bem...

Suspirei profundamente, cerrei os punhos e subi no palanque. Vire-me para a plateia e apenas os encarei por alguns instantes. Os adultos me olhavam desinteressados, como se estivessem ali por obrigação. Os jovens ainda possuíam um pouco de curiosidade no olhar, mas também pareciam querer estar em outro lugar. As crianças eram as únicas que pareciam realmente interessadas e curiosas sobre o que eu tinha a dizer... E isso quase fez com que eu me desesperasse, já que não sabia bem o que iria falar. Então utilizei todas as minhas forças e pensei o mais rápido que pude, encontrando uma solução simples:

– B-boa tarde a todos, meu nome é Tsuya, sou uma sacerdotisa e estou aqui para contar um pouco sobre o passado... O verdadeiro passado.

– Isso me parece besteira! – gritou um dos homens levantando da cadeira enquanto apontava o dedo para mim.

– É um direito seu pensar assim, mas peço para que não atrapalhe aqueles que realmente querem ouvir.

Todos se voltaram para ele, que ficou visivelmente envergonhado e sentou-se em silêncio. Cocei minha garganta e prossegui:

– Para começar, eu gostaria de saber se existe algum tema sobre o qual vocês queriam detalhes. Ah! E este tema deve se limitar até o estabelecimento da Reforma Cética.

– Tia! – gritou um garotinho da primeira fileira. – Por que você não começa com a Reforma Cética?

– Isso... É uma boa ideia. Então, primeiramente, eu gostaria de saber o que vocês sabem sobre esse evento.

– Ah... É... Foi quando os céticos começaram seus planos de dominar o mundo? – disse o garotinho.

– Bem... Foi aquele lance de quando o pessoal da Ciência decidiu acabar com a religião? – disse um jovem da terceira fileira.

– Seus idiotas! A Reforma Cética foi o movimento onde os infiéis destruíram os monumentos de nossos Deuses para abalar a fé da humanidade. – exclamou o homem que tinha se exaltado.

Aquilo apenas confirmou o que eu já sabia: as informações passadas para o povo tinha sido manipuladas. É claro que a terceira resposta não foi a última, mas foi, definitivamente, a que mais me chocou. Foi uma boa evidência de que os Fallen Ones estavam plantando sementes de ódio nas mentes de seus fiéis... O que era extremamente preocupante.

Depois de algumas respostas insatisfatórias e... Algumas absurdas, o povo se silenciou novamente e eu percebi que era a hora de prosseguir:

– Bem... Pode ser um pouco chocante, mas nada do que vocês falaram é totalmente verdade.

A maioria da plateia me encarou curiosa e o resto simplesmente se retirou (cerca de nove pessoas). Nada imprevisível.

– A Reforma foi sim, em parte, um movimento onde os céticos tomaram o controle do mundo e quase extinguiram a religião. Porém não havia monumentos ou Deuses para serem depredados e ofendidos. Eles apenas destruíram os templos onde os espíritos elevados residiam. E isso não foi uma “rebelião” que ocorreu da noite para o dia. Na época, eles estavam fazendo vários ataques e pesquisas secretas para melhorar seu pessoal. Aliás, é bom deixar claro que as mentes por trás de tudo eram grandes pesquisadores que buscavam o progresso mesmo que, para isso, tivessem que passar por cima dos outros.

– Você está defendendo os céticos? – perguntou uma jovem da quinta fileira.

– Não. A única coisa que contem meu ódio por ele é a minha doutrina. Mas eu tenho que contar todos os detalhes... Mesmo que não me agrade. No fim, os participantes do evento forma totalmente manipulados por estes pesquisadores e acabaram conseguindo tomar o controle do mundo. É claro que não conseguiram acabar de vez com a religião, mas isso já era algo óbvio. O que me preocupa é que tudo começou exatamente como está acontecendo com os Fallen Ones... Espero que tomem cuidado para não acabarem sendo usados como marionetes no show particular dos líderes.

Esse meu último comentário foi responsável pela retirada de mais cinco pessoas. Porém, isso não importava. Afinal, se ainda havia pessoas sentadas, eu ainda tinha que falar.

– Tia! – exclamou uma garotinha da segunda fileira. – Como é que aconteceu esse... Negócio de pegar o poder.

– Ah. Bem... Como eu disse, eles começaram com pequenas greves, depois alguns ataques e assassinatos e... Depois seu número de seguidores ficou grande o suficiente para saírem destruindo tudo... E foi quase o que eles fizeram. Sua tecnologia era muito mais avançada do que a do povo comum, o que lhes garantiu uma vantagem imensa. Toda essa “operação” durou cerca de dez anos.

– Tia... – disse o garotinho da primeira fileira. – Você disse que não tinha Deuses e falou alguma coisa sobre espíritos...

– Elevados?

– Isso! Então... O que são essas coisas?

Passei o resto da tarde esclarecendo algumas dúvidas e explicando tudo o que já havia explicado a Ruby e ao Jim. Isso levou bastante tempo, pois tive que repetir algumas coisas devido à dificuldade do povo de aceitar tais informações. As crianças adoraram, mas o resto... Bem... Nem preciso comentar (apesar de que alguns jovens pareceram se interessar). No final eu me senti estranha... Uma mescla de tristeza, frustração e... Felicidade. Era meio... Bizarro. Enfim, todos se despediram de mim e foram embora. Suspirei aliviada, pois consegui sobreviver ao primeiro dia.

– Fez um ótimo trabalho, sacerdotisa! – exclamou Roward.

– Bem... Eu fiz o que pude.

– Sobraram mais pessoas do que imaginávamos. – disse Sayumi.

– Pois é... Ah! E não nos entenda mal. Não é que não confiemos em você... É só que achamos que o povo seria mais fechado, mas felizmente estávamos enganados.

– Foi só uma minúscula parcela da população. – disse. – Acho melhor não ficar tão confiante assim.

– Você pode até estar certa, mas isso não vai me impedir de arranjar uma plateia ainda maior na semana que vem!

– Tudo bem. Conto com você.

Depois daquilo, nos despedimos e eu comecei a voltar para casa, mas parei no meio do caminho quando me lembrei de algo importantíssimo: minha promessa com a Ruby. Ainda não estava escuro, então rapidamente mudei minha trajetória para a casa dela. Mais um pouco e eu teria uma garotinha fofa me odiando... Na semana anterior eu não a visitara, o que me fez sentir ainda mais culpada. Era algo complicado, mas eu estava disposta a correr atrás do prejuízo pelo bem de nossa amizade... Amizade... Está aí uma palavra que ainda me causava certa estranheza... Bem, mas isso não podia ser evitado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem... Sei que meu ritmo diminuiu bastante nessas férias, mas... Bem... Tem Diablo... E Vindictus... E eu tenho que ficar com minha irmã e talz... Mas meh... O que importa é que estou postando, certo? ='D
Enfim, mais um capítulo fresquinho pra vocês e... A tia Tsuya daria uma ótima professora de história 8D
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Paz Temporária - Chama Imortal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.